ARTIGOS - Paulo Brossard*
Há uma variedade de aspectos relacionados com a aquisição da Refinaria de Pasadena pela Petrobras, que tem feito correr rios de tinta e ainda fará correr outros. A respeito deste assunto, espero aqui dar apenas uma ideia breve e clara. Em 2005, empresa belga adquiriu a refinaria em causa por US$ 42,5 milhões. Em 2006, a Petrobras veio a adquirir 50% das ações, por US$ 360 milhões.
Depois de vários insucessos forenses, à Petrobras foi
determinado comprasse os restantes 50%, o que ocorreu incluindo honorários e
outros benefícios mediante pagamento de US$ 820,5 milhões. Ao cabo, a Petrobras
desembolsou mais de US$ 1 bilhão, cerca de US$ 1,2 bilhão.
Este é o caso que deixou na sombra acontecimentos nacionais e internacionais relevantes, como a mudança de fronteiras pela Rússia e a redução da credibilidade do Brasil. Esse o resumo do resumo de uma refinaria obsoleta, que nunca chegara a funcionar, a história de uma entidade que haveria de transformar-se em monumental e malcheiroso elefante branco.
Isto posto, dizendo o que é notório, estava armado com pompa e circunstância o maior dos escândalos administrativos e políticos da empresa que, em ordem de grandeza, chegou a ser a 12ª em termos mundiais, caindo para o 120º lugar em cinco anos, segundo o jornal Financial Times. Esse dado completa de uma forma visível o perfil daquilo que se poderia chamar de forma melíflua uma insensatez; em verdade, talvez não fosse o maior escândalo, mas adquiriu tais dimensões, que, certa ou erradamente, veio a ser proclamado como o maior. Nem foi apenas uma sandice.
Esses números, desidratados, mas objetivos, são de tal significação, que não é necessário ser douto para compreender a enormidade do que foi sendo feito com a Petrobras.
Se eu tivesse de definir o quadro instaurado, poderia dizer que o chão está resvaladio, mas prefiro dizer movediço. Basta registrar que a senhora presidente da República, que é candidata à reeleição, em dias, caiu sete pontos em sua popularidade. Fato a assinalar, se não estou em erro, resulta na progressiva inserção do partido na administração, não apenas em sua vida administrativa, mas em suas entranhas, com a tendência de chegar à intimidade da mancebia; o fenômeno não é bom, nem para a administração nem para o partido.
Talvez seja por tratar-se de uma sociedade anônima, ela vem sendo a presa mais cobiçada do apetite dos amigos do governo e dos que o governo quer fazer amigos. A evolução natural no plano dos partidos sempre foi em outro sentido. A verdade é que, hoje, a questão da refinaria se confunde com a Petrobras, e a Petrobras se confunde com a refinaria. Aliás, esse dado não é de ser estranhado, uma vez que a refinaria desde seu nascimento está ligada à pessoa, nem mais nem menos, que exerce a presidência da República, sem ela a refinaria não teria nascido, sem ela não teria continuado a viver, ainda que viver morrendo e, sem ela, talvez a Petrobras pudesse continuar a ser a 12ª empresa no âmbito mundial.
No período eleitoral, a então candidata ameaçava que seu adversário iria privatizar a Petrobras. Seus companheiros de partido, alguns dos quais hoje estão na penitenciária, criaram o pejorativo de privatização na palavra privataria.
Pois bem, o que o partido da presidente está fazendo na Petrobras enseja a criação de outro neologismo: a PeTerização da empresa, que já foi orgulho nacional.
*JURISTA, MINISTRO APOSENTADO DO STF
Este é o caso que deixou na sombra acontecimentos nacionais e internacionais relevantes, como a mudança de fronteiras pela Rússia e a redução da credibilidade do Brasil. Esse o resumo do resumo de uma refinaria obsoleta, que nunca chegara a funcionar, a história de uma entidade que haveria de transformar-se em monumental e malcheiroso elefante branco.
Isto posto, dizendo o que é notório, estava armado com pompa e circunstância o maior dos escândalos administrativos e políticos da empresa que, em ordem de grandeza, chegou a ser a 12ª em termos mundiais, caindo para o 120º lugar em cinco anos, segundo o jornal Financial Times. Esse dado completa de uma forma visível o perfil daquilo que se poderia chamar de forma melíflua uma insensatez; em verdade, talvez não fosse o maior escândalo, mas adquiriu tais dimensões, que, certa ou erradamente, veio a ser proclamado como o maior. Nem foi apenas uma sandice.
Esses números, desidratados, mas objetivos, são de tal significação, que não é necessário ser douto para compreender a enormidade do que foi sendo feito com a Petrobras.
Se eu tivesse de definir o quadro instaurado, poderia dizer que o chão está resvaladio, mas prefiro dizer movediço. Basta registrar que a senhora presidente da República, que é candidata à reeleição, em dias, caiu sete pontos em sua popularidade. Fato a assinalar, se não estou em erro, resulta na progressiva inserção do partido na administração, não apenas em sua vida administrativa, mas em suas entranhas, com a tendência de chegar à intimidade da mancebia; o fenômeno não é bom, nem para a administração nem para o partido.
Talvez seja por tratar-se de uma sociedade anônima, ela vem sendo a presa mais cobiçada do apetite dos amigos do governo e dos que o governo quer fazer amigos. A evolução natural no plano dos partidos sempre foi em outro sentido. A verdade é que, hoje, a questão da refinaria se confunde com a Petrobras, e a Petrobras se confunde com a refinaria. Aliás, esse dado não é de ser estranhado, uma vez que a refinaria desde seu nascimento está ligada à pessoa, nem mais nem menos, que exerce a presidência da República, sem ela a refinaria não teria nascido, sem ela não teria continuado a viver, ainda que viver morrendo e, sem ela, talvez a Petrobras pudesse continuar a ser a 12ª empresa no âmbito mundial.
No período eleitoral, a então candidata ameaçava que seu adversário iria privatizar a Petrobras. Seus companheiros de partido, alguns dos quais hoje estão na penitenciária, criaram o pejorativo de privatização na palavra privataria.
Pois bem, o que o partido da presidente está fazendo na Petrobras enseja a criação de outro neologismo: a PeTerização da empresa, que já foi orgulho nacional.
*JURISTA, MINISTRO APOSENTADO DO STF
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