Luis Fernando Veríssimo*
Um dia você se olhará no espelho e terá uma revelação estarrecedora. Sua mulher está dormindo com outro homem! Depois descobrirá que o que vê no espelho não é outro, é você mesmo. Só que, por uma razão inexplicável, você está mais velho.
Os espelhos são de uma franqueza brutal. Na era das relações públicas, é inadmissível que a sua imagem trate você com tanta crueza. É inaceitável que o espelho lhe diga “você está com 50 (ou 60, ou, meu Deus, 70) anos assim, na cara, mesmo que quem diga seja a sua própria cara. E de manhã, na hora em que, ainda amarrotado pelo sono e antes de botar o rosto que usará durante o dia, você está mais vulnerável.
Se a cena pudesse ser confiada a um profissional da comunicação, seria diferente. Infelizmente, as piores notícias são sempre dadas por amadores. Num mundo mais justo, sua imagem no espelho poderia ser apresentada por um especialista em marketing, e em vez da sua cara no espelho revelador, você veria, por exemplo, a Patrícia Poeta.
– Patrícia! Você por aqui?
– Vim para lhe dizer que você ficará muito bem, com cabelo grisalho. Aumentará sua credibilidade. Será ótimo para os negócios.
– Eu acho que estou perdendo cabelos.
– E daí? Cabelo demais é desperdício. Os fios que ficam são os melhores.
– Será?
– As rugas realçarão seu caráter. E se um queixo já enfatiza sua masculinidade, imagine dois.
– Patrícia. Cabelos grisalhos, rugas, queixo duplo... Você quer me dizer que eu estou ficando... Velho?
– Maduro.
Ou então você deveria poder mergulhar de ponta-cabeça no espelho para descobrir como seria sua vida do outro lado dos 50 (ou 60, ou, meu Deus, 70). E se consolar com o fato de que ela não será muito diferente da vida que você leva hoje – com alguns reajustes. Você terá que evitar carnes brancas, morenas e mulatas, principalmente depois das refeições. E deixar de frequentar motéis com escadaria. Fora isso... Que venham as rugas!
Os espelhos são de uma franqueza brutal. Na era das relações públicas, é inadmissível que a sua imagem trate você com tanta crueza. É inaceitável que o espelho lhe diga “você está com 50 (ou 60, ou, meu Deus, 70) anos assim, na cara, mesmo que quem diga seja a sua própria cara. E de manhã, na hora em que, ainda amarrotado pelo sono e antes de botar o rosto que usará durante o dia, você está mais vulnerável.
Se a cena pudesse ser confiada a um profissional da comunicação, seria diferente. Infelizmente, as piores notícias são sempre dadas por amadores. Num mundo mais justo, sua imagem no espelho poderia ser apresentada por um especialista em marketing, e em vez da sua cara no espelho revelador, você veria, por exemplo, a Patrícia Poeta.
– Patrícia! Você por aqui?
– Vim para lhe dizer que você ficará muito bem, com cabelo grisalho. Aumentará sua credibilidade. Será ótimo para os negócios.
– Eu acho que estou perdendo cabelos.
– E daí? Cabelo demais é desperdício. Os fios que ficam são os melhores.
– Será?
– As rugas realçarão seu caráter. E se um queixo já enfatiza sua masculinidade, imagine dois.
– Patrícia. Cabelos grisalhos, rugas, queixo duplo... Você quer me dizer que eu estou ficando... Velho?
– Maduro.
Ou então você deveria poder mergulhar de ponta-cabeça no espelho para descobrir como seria sua vida do outro lado dos 50 (ou 60, ou, meu Deus, 70). E se consolar com o fato de que ela não será muito diferente da vida que você leva hoje – com alguns reajustes. Você terá que evitar carnes brancas, morenas e mulatas, principalmente depois das refeições. E deixar de frequentar motéis com escadaria. Fora isso... Que venham as rugas!
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* Escritor. Colunista da ZH
Fonte: ZH online, 31/03/2014
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