quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Todos Juntos, de Antonio Prata



Acho que já contei aqui a história, mas a ocasião me permite repeti-la. Eu tinha 18 anos e estava em minha primeira aula de filosofia, na USP. O professor, Renato Janine Ribeiro, nos explicava que no fim do semestre seríamos avaliados por um trabalho individual, cujo limite deveria ser de 8.000 caracteres.

Levantei a mão: "Se estourar um pouquinho esse limite, tudo bem, né?". Janine sorriu e disse algo mais ou menos assim: "O que é 'limite'? É aquilo que não se pode transpor. Mas vejam como são as coisas no Brasil: entre nós, o limite não limita! Repito: o limite é de 8.000 caracteres".
Peço perdão ao filósofo se as palavras não foram exatamente essas. Assim, porém, é que ficaram gravadas na minha memória e é assim que me voltam, quase todo dia, quando me deparo com a nossa ilimitada necessidade de burlar a lei.

Há uma altura máxima para prédios na rota do aeroporto, mas o empreiteiro constrói um "puxadinho", alguns metros acima. A construtora precisa botar de tantos em tantos metros, sob o concreto da rodovia, umas ripas de metal, mas economiza dinheiro aumentando a distância entre elas. Quantas pessoas que compraram a carta de motorista você conhece?


Que têm gato de TV a cabo? Que já subornaram um guarda de trânsito para não ser multado? O avião vai decolar, o comissário de bordo pede para desligarem os celulares, mas o sujeito o ignora solenemente. O avião pousa, o comissário pede aos passageiros para que aguardem sentados até o "apagar do aviso luminoso de atar cintos", mas todo mundo levanta. Não um, não dois: todo mundo --como se respeitar aquele simples sinal luminoso equivalesse a ter a palavra otário escrita na testa.
Um sinal luminoso também piscou na cabine do Fokker 100 da TAM, que taxiava na pista de Congonhas na manhã de 31 de outubro de 1996, alertando sobre um problema no reverso da turbina. O piloto o desligou. O luminoso piscou novamente, novamente foi desligado. Segundo o depoimento de outro piloto, dias mais tarde, esse era o costume: se fossem dar atenção a todo alarme que soava na cabine, nenhuma aeronave saía do chão. Às vezes, ao que parece, alarmes soam à toa. Às vezes, não: 24 segundos depois de decolar, o avião caiu, matando 99 pessoas.

Eu estava saindo para a USP, naquela manhã, quando o telefone tocou. Uma amiga do meu pai queria saber se era verdade que meu tio Duda, irmão da minha mãe e meu padrinho, estava entre os passageiros. Liguei a televisão. Vi a lista. Era verdade.

Nas próximas semanas, o Brasil concentrará suas energias em encontrar os culpados pela tragédia de Santa Maria. É fundamental, se houver culpados (como parece ser o caso), que eles sejam punidos.
É fundamental que as casas de show passem por reavaliações, como já estão passando. Mas se não mudarmos a nossa mentalidade, se não entendermos que as leis são universais, que há procedimentos que precisam ser executados conforme as regras, sem jeitinho, sem gambiarra, em TODAS as esferas, por TODAS as pessoas, as tragédias continuarão acontecendo --e a morte é um limite que nós, brasileiros, por mais espertos que nos julguemos, não somos capazes de transgredir.

antonioprata.folha@uol.com.br

Compromisso com o Futuro, de Pedro Westphalen *



Dentre as convicções que formei na vida pública, a maior e a mais profunda é a de que o parlamento expressa a diversidade de uma sociedade e a maturidade política de um povo.

É no Legislativo, dos debates nas comissões; do exercício do diálogo nos gabinetes e em plenário; das vozes alçadas da tribuna, que se manifestam, permanentemente, os anseios de uma sociedade. O Poder Legislativo é, em essência, a dinâmica do diverso. Um mosaico de ideias que cumpre seu destino ao rechaçar rupturas insuperáveis, resultando na garantia aos diretos individuais e coletivos. Assim é que tal poder deve ser preservado.

Penso que o parlamento gaúcho tem avançado neste sentido. Nele temos aprofundado as relações democráticas, sem calar diversidades. E isso se demonstra no simbolismo de minha posse, quando assume uma Mesa que contempla todas as correntes políticas, fato que vem se repetindo nas últimas legislaturas.

Sem descuidarmos da independência dos três poderes – porque acreditamos na harmonia da representação e da participação democráticas – queremos contribuir para que o nosso Estado encontre o seu verdadeiro tamanho. Nem um Estado máximo, centralizador de iniciativas; nem um Estado mínimo, omisso em suas responsabilidades constitucionais.

Sei que esta missão exigirá de mim novas e redobradas responsabilidades. Pretendo desempenhá-las, todas, sem, entretanto, esquecer os compromissos assumidos como deputado. Notadamente a bandeira da saúde.

Por saber que o tema da saúde não se encerra na necessidade da reformulação na dinâmica do SUS, é que iremos contribuir para o resgate do passivo da desassistência. Que vai desde uma simples consulta, passando por internações, cirurgias eletivas, e até mesmo as de urgência, às quais o povo tem direito, mas não está tendo acesso.

Outra área que terá atenção especial será a educação. Por ser, cada vez mais, a maior, a mais moderna e a mais poderosa arma na defesa de um povo. Que nossos corações e mentes estejam abertos para resgatar o papel honorável dos nossos educadores e a excelência dos espaços de saber.

Queremos a modernidade da técnica aliada a profissionais bem remunerados, perseguindo a qualidade do ensino. Por isso, assumimos o compromisso de trabalhar incansavelmente para que iniciativas e projetos na área da educação recebam a atenção que lhes é devida.

No âmbito da parceria que desejamos entre poder público e sociedade civil, iremos considerar os debates e os diagnósticos relativos aos desafios do nosso Estado, tais como a Agenda 2020, o Pacto pelo Rio Grande, a Convergência e o Pacto pela Saúde. Destas iniciativas resultaram documentos coletivos que, com exatidão matemática, apontaram desafios e alternativas para o nosso desenvolvimento.

Não são documentos de governo. Constituem-se, sim, em documentos de Estado, cujo objetivo maior é garantir um crescimento continuado para o Rio Grande.

Por isto, e por sermos líderes políticos transitórios no exercício do poder, precisamos dar continuidade a um plano de futuro. Precisamos criar a cultura do futuro, pois ele já bate à porta. Um futuro do qual nossos filhos, e os filhos dos nossos filhos, são os legítimos credores.

                                Essa é a nossa maior e mais importante missão.
                       *PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO RS

Editorial ZH , Conjunto de Omissões


Estão reunidas as principais evidências de que a tragédia de Santa Maria resultou de um conjunto de negligências. Também é inquestionável que as omissões e transgressões constatadas até aqui caracterizam crimes graves. Resta apenas, a partir das investigações, tipificar os delitos cometidos e apontar seus responsáveis, para que o inquérito seja encaminhado à Justiça e se faça a reparação possível. Até lá, tudo o que não deveria ocorrer já está acontecendo, que é o jogo de empurra entre autoridades municipais e estaduais e a tentativa de politização do caso.

É evidente que os proprietários da boate, os artistas, a prefeitura e os bombeiros terão de se submeter a avaliações da polícia e do Ministério Público, com a decisiva colaboração da imprensa. Negar-se a admitir falhas, tentar transferi-las a outras instituições ou adotar atitudes diversionistas, como vem ocorrendo desde o início das investigações, são posturas que apenas tumultuam as sindicâncias.

É óbvio que os proprietários da boate devem ser os primeiros a responder por seus atos. A responsabilidade empresarial, por princípio, independe de ações fiscalizadoras. Qualquer atividade deve se submeter às leis e normas civilizatórias que regulam negócios, relações humanas e todas as formas de convivência coletiva.

A origem da tragédia está, portanto, na conduta inescrupulosa dos que pensaram em obter lucros a qualquer custo. Já está provado que a boate tinha um teto com revestimento de espuma instalado à revelia das normas de segurança e depois da última vistoria pelos bombeiros e que nem mesmo os extintores funcionavam – fora outras sérias deficiências de segurança.

Se essas falhas combinadas criaram o ambiente que provocou a tragédia, os órgãos responsáveis pela fiscalização falharam em suas atribuições. É aqui que o setor público aparece, não como investigador, mas agora como investigado. A prefeitura de Santa Maria e os bombeiros, os principais envolvidos nas suspeitas de omissão, não podem, sob o argumento de que defendem os pontos de vista corretos, retardar ou fornecer informações pela metade e tentar ocultar documentos.

Nesse contexto, Ministério Público, imprensa e cidadãos têm que continuar pressionando para que os relapsos e gananciosos sejam responsabilizados e também para que o natural sentimento de revolta da população não derive para linchamentos e injustiças.

Uma investigação rigorosa e transparente é o único caminho para evitar mal-entendidos e, na sequência dos desdobramentos da tragédia, contribuir para que se esclareçam outros casos. É no mínimo inusitada, por exemplo, a situação de seis casas noturnas de Porto Alegre que, segundo a prefeitura, funcionam com liminar da Justiça, depois de terem sido interditadas pela fiscalização. A situação das boates deve ser reavaliada, e com urgência, para que nenhuma instituição corra o risco de ser avalista de imprudências como as que levaram à tragédia de domingo

Jesus , politicamente incorreto

 



Gianfranco Ravasi*
Consideramos Cristo apenas como "manso e humilde de coração" e, portanto, doce, terno, calmo, e a considerar o "evangelho" apenas como uma "boa notícia". Isso é verdade, mas o amor não suprime a justiça, a bondade deve se conjugar com a verdade, a delicadeza não é sinônimo de ingenuidade, a suavidade não pode beirar o despreparo, e o bem não é ingenuidade.

A opinião é de Gianfranco Ravasi, cardeal presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, em artigo publicado no jornal Il Sole 24 Ore, 27-01-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Quando atracam com o barco em Cafarnaum, na margem norte do lago de Tiberíades, os peregrinos logo vislumbram as colunas e as paredes que ficaram de pé da antiga sinagoga do século IV, sinal da importância dessa cidadezinha de trânsito para a Síria, agora porém reduzida apenas a um campo arqueológico administrado pelos franciscanos.

Nessa área sinagogal, em um edifício pré-existente agora desaparecido, Cristo proferiu um discurso longo e desconcertante sobre a sua carne como alimento e sobre o seu sangue como bebida.

Se pensarmos que, naquela cultura, era proibido até mesmo tocar em um corpo dilacerado e sanguinolento, porque o sangue, sinal da vida intangível, contaminava aqueles que o manipulavam, conseguimos compreender a reação de muitos discípulos de Jesus registrada pelo evangelista João: "Este discurso é sklerós", ou seja, "duro", inaceitável (6, 60).

O próprio Cristo é consciente disso e responde: "Isso escandaliza vocês?", e em grego skándalon é a pedra de tropeço que faz com que uma pessoa que avança por um caminho acidentado tropece e caia. Não é por nada que, dirigido aos 12, os apóstolos por ele escolhidos, ele havia interpelado com uma pergunta clara e radical: "Vocês também querem ir embora?" (6, 67).

Diante dos muitos outros discípulos que voltaram atrás e não andavam mais com Jesus, seria o apóstolo Pedro que reagiria: "A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna" (6, 68). Essa promessa tão clara, no entanto, estava destinada não raramente a se ofuscar diante de outras palavras e comportamentos "duros" do Mestre.

Quisemos evocar essa cena evangélica para apresentar um livro que um monge da Comunidade de Bose, do Piemonte, Ludwig Monti (Le parole dure di Gesù [As palavras duras de Jesus], Ed. Qiqajon, Bose, Biella, 172 páginas), dedicou justamente às "palavras duras de Jesus", um livro que na capa tem o impressionante rosto de Cristo in opus sectile da Domus de Porta Marina em Ostia (século IV), de olhos aterradores e arrepiantes.

Eu mesmo, há muito tempo, consagrei uma coluna semanal da revista Famiglia Cristiana, a um contagem sistemática não só de "palavras duras" de Jesus, mas também de todas as passagens do Evangelho que são verdadeiras "pedras de tropeço" (skándalon) do leitor. Este, de fato, é propenso a considerar Cristo apenas como "manso e humilde de coração" e, portanto, doce, terno, calmo, e a considerar o "evangelho" apenas como uma "boa notícia".

Isso é verdade, mas o amor não suprime a justiça, a bondade deve se conjugar com a verdade, a delicadeza não é sinônimo de ingenuidade, a suavidade não pode beirar o despreparo, e o bem não é ingenuidade.

O biblista de Bose coleta 34 passagens evangélicas articulando-as segundo os destinatários (ao menos de acordo com a redação dos evangelistas), isto é, os 12 ou os discípulos, as pessoas religiosas da época (pensamos nos escribas e nos fariseus), a multidão judaica e outros, para acabar com uma frase dirigida a Deus e aparentemente problemática: "Eu peço por eles, não peço pelo mundo" (João 17, 9).

O que cria dificuldades interpretativas ou embaraço, na realidade, são muitas outras palavras de Jesus, e talvez é por isso que Monti acrescenta, no fim, uma bibliografia "para ir além...". Certamente, muitos leitores dos Evangelhos não raramente se confrontam com frases chocantes (hard sayings, as definia, em um artigo de 1983, o estudioso norte-americano Frederick F. Bruce), como por exemplo, este convite impressionante dirigido por Jesus a um aspirante a discípulo que recém havia perdido o pai e devia participar do funeral: "Siga-me, e deixe que os mortos sepultem seus próprios mortos" (Mateus 8, 22).

Ou ainda, de modo igualmente provocativo e "escandaloso": "Se alguém vem a mim, e não odeia o seu pai, a sua mãe, a mulher, os filhos, os irmãos, as irmãs, e até mesmo a sua própria vida, não pode ser meu discípulo" (Lucas 14, 26). Na realidade, aqui, o desconcerto (Jesus que impõe o ódio, depois de ter sempre exaltado o amor e a não violência!) é mais de índole linguística, sendo as línguas semíticas – como o aramaico subjacente ao grego dos Evangelhos – desprovidas do comparativo relativo, pelo qual "amar menos" se torna "odiar". Nesse caso, então, a perturbação diante de tal apelo se dissolve, pensando que Jesus queria dizer: "Se alguém vem a mim, e me ama menos do que o seu pai...". Mas por que Lucas, que lidava bem com o grego, não adotou logo essa forma?

Responde adequadamente Monti: "Ao custo de ofender os seus leitores de língua grega, Lucas mantém o verbo 'odiar' para ressaltar a paradoxalidade do pedido de Jesus". Em outras palavras, Jesus não é um político que, ao custo de agregar votos para si e de conservar o poder, está pronto para qualquer compromisso. Melhor poucos discípulos (o "pequeno rebanho") conscientes das exigências da escolha a ser feita, do que uma massa de seguidores aproximativos e propensos à fuga diante de um compromisso sério e severo.

Poderíamos continuar essa lista, citando mais um exemplo, como esta embaraçosa declaração de Cristo: "Qualquer pecado ou blasfêmia será perdoado; mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada" (Mateus 12, 31). Santo Agostinho já confessava a sua impotência para decifrar a afirmação, reconhecendo que "nas Sagradas Escrituras não há, talvez, nenhuma questão mais comprometedora e não se encontra outra mais difícil". O nosso autor propõe uma solução sugestiva, levando-se em conta o contexto em que está em cena a luta contra Satanás e o pecado. Lá, tem-se a afirmação de Jesus que declara que "expulsa os demônios através do Espírito de Deus" (12, 28).

Então, "se o Espírito é a remissão dos pecados, blasfemar contra ele é fechar-se ipso facto ao perdão dado por Deus e recusar a se deixar converter por ele. Jesus não pronuncia uma palavra de castigo, limita-se a uma triste constatação dessa realidade de fato", que revela, dentre outras coisas, o destaque da liberdade humana.

Paremos por aqui, deixando que os leitores descubram outras "palavras duras" de Cristo, sem falar daquelas passagens evangélicas problemáticas ou complicadas, que aqui não são abordadas e às quais penso em dedicar, eu mesmo, no futuro, uma análise essencial, destinada a quem não tem uma preparação exegética específica.

Gostaríamos, de fato, que todos pudessem dar razão dos textos e da sua dificuldade, conscientes de uma frase do historiador inglês do século XVII Thomas Fuller, que, na sua Gnomologia, defendia: "Tudo é difícil antes de se tornar simples".
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Fonte: IHU on line, 30/01/2013

A educação precisa ser readaptada segundo o pesquisador Marc Prensky

 

 
"Educamos para um contexto que não existe mais", afirmou o especialista Marc Prensky.
Mais do que mudar a forma como a tecnologia é usada na educação, a proposta de Marc Prensky é mudar toda a educação, pois ela é "terrível" em todos os lugares do mundo. O especialista em educação e tecnologia, convidado da Fundação Telefônica na Campus Party Brasil deste ano, explicou em palestra na noite desta terça-feira sobre como os "nativos digitais" precisam ter de seus professores.

O termo "nativos digitais" refere-se às pessoas que já nasceram na era digital, e se opõe aos "imigrantes digitais", ou aqueles que conheceram o mundo antes da internet. O palestrante americano mostrou uma foto sua em 1970, com um violão, e depois outra atual, com um tablet. Na sua percepção, os nativos digitais têm mais facilidade de adaptação.

"O mundo todo está em uma má situação em termos de educação", diz, "não são só países como o Brasil, só países em desenvolvimento". "E por que digo que a educação é terrível? Porque educamos para um contexto que não existe mais", afirmou, explicando que hoje em dia não se precisa de matemática, ciência e física como na época em que essas temáticas foram incluídas no currículo. "E ninguém ouve quando alguém diz, 'vamos fazer isso diferente'", completou.

Na visão de Prensky, o foco da educação deveria estar nos "verbos" e não nos "substantivos". "Questionamos se as crianças deveriam usar o PowerPoint, a Wikipédia em sala. Mas isso são 'substantivos'. O que realmente queremos é os 'verbos': apresentar, aprender, ler", explicou. "Os verbos não mudam, queremos os mesmos 'verbos' há mil anos", resumiu, citando pensamento crítico, lógica, criatividade. "E há muitos desses verbos, mas temos que nos perguntar: quais são os 'verbos'-chave? E só depois que soubermos disso, nos perguntamos quais 'substantivos' vamos usar", definiu.

Cérebro estendido

Para responder a essas perguntas, o especialista apresentou o conceito do cérebro estendido, uma soma do cérebro de cada um com as possibilidades oferecidas pela tecnologia. Para o pesquisador, o cérebro é bom em algumas atividades, mas pode se beneficiar das máquinas para, por exemplo, "lembrar tudo ou processar três milhões de dados". Em um dos slides, Prensky resumiu a ideia com uma citação de uma criança de 10 anos: "antigamente as pessoas precisavam saber de cor os números de telefone".

A forma de lidar com esse cérebro estendido seria, pois, combinar as potencialidades das máquinas e dos cérebros. "E acho que é isso que vocês estão fazendo aqui. Vocês são as pessoas que vão criar a inovação", afirmou à audiência do palco principal do Anhembi Parque.
Para falar sobre suas ideias aplicadas à educação, o pesquisador citou um estudante que disse "a coisa mais inteligente que já ouviu": que professores entendem a tecnologia como ferramentas, enquanto estudantes a entendem como uma fundação, uma base que se estende sob o restante.

Trivial x poderoso

Prensky também falou de como vê a tecnologia envolvida na educação de duas formas, uma "trivial" e a outra "poderosa". "A primeira é fazer as mesmas coisas que sempre fizemos, em novas formas - sempre escrevemos, agora temos um blog ou usamos teclado. Eu chamo de trivial, não porque não é importante, mas porque já fazíamos antes. E há as coisas que não podíamos fazer, que chamo de poderosas", explicou citando chamadas de voz por IP, tweets, impressão 3D, inteligência artificial, jogos, simulações e robótica entre as formas "poderosas" de a tecnologia influenciar a educação.

"Mas por mais que gostemos de tecnologia, é preciso lembrar que há coisas muito importantes na educação que a ela não faz", destacou, citando empatia, escolha e paixão. Para ele, essas são as coisas que o cérebro faz melhor, e que é nisso que os professores devem se focar, adaptando o 'como' ensinam.

E é preciso adaptar também, segundo Prensky, mudar o "o quê" se ensina. Ele defende que no novo modelo de educar os jovens sejam "nós da rede", que possam se conectar o máximo possível e que os professores orientem o percurso, fazendo, de acordo com o pesquisador, o que cada um faz melhor: os estudantes, se conectar e achar os conteúdos, e os professores: questionar, orientar e avaliar.

"Muito se diz que a escola precisa ensinar 'o básico' para as crianças, mas 'o básico' também está mudando" - defendeu - apresentando sua proposta do que seria o novo "básico" da educação formal, que ele chamada de eTARA, sigla em inglês para o conjunto de pensamento, ação, relacionamento e conquista efetivos. Programar, na lista de Prensky, é parte de pensamento efetivo, assim como ética de relacionamento, e empreendedorismo de ação.
O pesquisador finalizou incentivando os empreendedores e geeks que o ouviam a criar aplicativos, programas e outras ferramentas para mudar a forma do ensino usando a tecnologia.
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Campus Party Brasil 2013
Fonte: http://rcristo.com.br/2013/01/30/a-educacao-precisa-ser-readaptada-segundo-o-pesquisador-marc-prensky/

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Contra o Medo

 

                      Entrevista com Marc Augé

A realidade em que vivemos é muitas vezes reduzida a um "emaranhado indistinto e confuso de medos". Um emaranhado que ameaça nos paralisar e nos impedir de viver, mas que Marc Augé tenta pacientemente desenrolar no seu novo livro, Les Nouvelles Peurs (Ed. Payot, 92 páginas).

A reportagem é de Fabio Gambaro, publicada no jornal La Repubblica, 28-01-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Para o antropólogo francês, que há anos se concentra nas análises das transformações e das contradições do mundo contemporâneo, os medos econômicos e as discriminações sociais, as violências políticas e os desvios tecnológicos, os cataclismos naturais e as ameaças criminosas acabam muitas vezes se sobrepondo e se confundindo, amplificando-se mutuamente, produzindo pânico e angústia nos indivíduos.

"Naturalmente, todos esses medos não estão diretamente relacionados uns com os outros, mas na vida cotidiana, muitas vezes, eles nos parecem exatamente isso", explica o autor de Um etnólogo no metrô, Não lugares e Où est passé l'avenir? [O que aconteceu com o futuro?].

"As mídias evocam, sem solução de continuidade, o risco de um cataclismo, um atentado terrorista, o aumento do desemprego e o massacre inexplicável de um louco. São realidades independentes, mas todas juntas, em um telejornal, ganham corpo. A justaposição cria um efeito de contaminação que as amplifica e as simplifica ao mesmo tempo, dando origem a um único medo global, difuso e indistinto. Consequentemente, quando evocamos uma delas, de fato, é como se evocássemos todas as outras, o que é indubitavelmente um elemento de novidade".

                                                              Eis a entrevista.
No passado, os medos eram mais isolados, definíveis e locais?
Provavelmente, sim. Nos séculos passados, não faltaram os grandes medos, mas que muitas vezes estavam ligados a fatores e a contextos bem específicos. Ou eram medos muito mais universais, como por exemplo o medo da morte. No passado, além disso, não se sabia nada do que acontecia longe de nós, enquanto hoje sabemos tudo o que acontece em todos os cantos do planeta. Se um louco mata crianças em uma escola norte-americana, somos imediatamente informados como se tivesse acontecido na nossa casa. Consequentemente, tememos pelos nossos filhos.

Em suma, tudo o que acontece longe diz respeito a nós e nos aterroriza como se fosse perto. O sistema de informação cria uma forma de medo nova, mais evasiva e mais abstrata. Portanto, mais difícil de combater. No entanto, o fato de ser mais abstrata não significa que não tenha efeitos concretos, produzindo nos indivíduos um terror paralisante. Como acontece com as novas inquietações planetárias, que são a dimensão obscura e ameaçadora da globalização. Dominadas pela ideia de que o que diz respeito a alguns acaba, mais cedo ou mais tarde, envolvendo todos os outros, as catástrofes nucleares, as epidemias, mas também o terrorismo ou as ameaças do sistema financeiro assumem os contornos quase apocalípticos.

"No fundo, se nos séculos passados tinha-se
medo da morte, sobretudo,
hoje tem-se mais medo da vida."


Esse emaranhado de medos heterogêneos é o pano de fundo permanente das nossas vidas?

Em certo sentido, sim. O medo desceu novamente sobre a terra e ao mesmo tempo se generalizou. Um sinal desse temor difuso é o sucesso de um livro como Indignai-vos!, de Stéphane Hessel. A indignação, de fato, é a forma sublime do medo. Nesse caso, as palavras de um velho sábio – uma figura bastante tradicional e, portanto, tranquilizadora – conseguem dar um conteúdo preciso em termos sociopolíticos aos medos indistintos de um grande número de pessoas. É por isso que o livro tem tanto sucesso. A nostalgia por certos valores do passado, que ganha forma nas páginas de Hessel, deve ser interpretada como um grito de revolta com relação ao presente. No fundo, se nos séculos passados tinha-se medo da morte, sobretudo, hoje tem-se mais medo da vida.
Por quê?

Os alertas econômicos, ecológicos e sanitários, mas também a violência ou o terrorismo estão aqui e agora. Geram uma angústia cotidiana e imediata que ocupa todo o nosso horizonte, impedindo-nos de nos projetarmos mais à frente. Na época clássica, justamente porque as pessoas tinham medo da morte, estoicismo e epicurismo tentavam elaborar reflexões capazes de nos consolar. Hoje, essas formas de consolação filosófica não funcionam mais. Muitos dos medos que nos assombram não são novos em si mesmos. Novo, porém, é o seu modo de fazer sistema e a sua percepção. No passado, uma vez que os medos eram percebidos como locais e concretos, tinha-se a impressão de poder fazer algo para preveni-los. Hoje, ao invés, quanto mais os medos se tornam um emaranhado inextrincável, mais tem-se a impressão de que é impossível intervir sobre as problemáticas que os alimentam. A sensação de impotência é um dos elementos constitutivos dos novos medos.

"Uma vez, sonhava-se em derrubar o sistema;
hoje, espera-se apenas que ele
não desmorone definitivamente
para não ser suas vítimas."

Isso vale, por exemplo, para a percepção da crise econômica. É isso?

Com efeito, diante da crise econômica, parece-nos que não há soluções eficazes. A crise é percebida como inevitável e irrefreável. Daí os medos do desemprego, do rebaixamento social e da pobreza, que, por outro lado, caminham lado a lado com o terror de um sistema que parece avançar de maneira inercial e fora de qualquer controle. No fundo, teme-se a incompetência e a inconsistência daqueles que deveriam governar o sistema. E, naturalmente, tudo isso implica um certo fatalismo, que produz batalhas apenas defensivas. Uma vez, sonhava-se em derrubar o sistema; hoje, espera-se apenas que ele não desmorone definitivamente para não ser suas vítimas.
Também há os medos produzidos pela ciência e pela tecnologia...

Tradicionalmente, os medos nascem da ignorância. Às vezes, porém, o conhecimento também pode nos angustiar, como ocorre às vezes com a inovação técnico-científica. Diversas descobertas da ciência nos dão medo, do nuclear à clonagem. Hoje, apesar do entusiasmo pelas novas tecnologias, o futuro parece prefigurar um mundo de incógnitas, razão pela qual preferimos não nos projetar demais em um futuro percebido mais como ameaça do que como esperança. Esse desaparecimento do amanhã como horizonte operável aumenta inevitavelmente a ansiedade no presente.
Há um modo para evitar esse conjunto de medos?

Mais do que as ameaças concretas, estamos paralisados pela superstição de que elas estão presentes na nossa vida todas ao mesmo tempo, misturadas e confusas. Portanto, é preciso sermos capaz de desenrolar o emaranhado, isolando-as e analisando-as singularmente. Só assim será possível desativá-las. Assim, é preciso uma atitude ativa. O medo global que foge do controle da razão, de fato, parece agir mais sobre aqueles que se colocam em uma posição de passividade diante da realidade. Quem age e intervém têm cada vez menos temor do que quem sofre passivamente.

"Esse desaparecimento do amanhã como horizonte operável aumenta inevitavelmente
a ansiedade no presente."

Nesse sentido, a educação e a instrução podem nos ajudar. O conhecimento pode transformar a angústia em curiosidade, o que, a meu ver, é o primeiro passo para se livrar dela. Sem esquecer que, se é verdade que o medo produz regressão, ela também pode se tornar um fator de progresso, já que, uma vez superada a paralisia, ele nos leva a buscar soluções para seguir em frente.
Podemos nos acostumar com o medo e conviver com ele?

Isso ocorre frequentemente, pois o temor faz parte da nossa paisagem cotidiana, modificando as nossas vidas e os nossos comportamentos. Mas a vida deve continuar, por isso sempre acabamos nos adaptando. Mas é uma vida mutilada. Por isso, acredito que é sempre melhor tentar nos desfazer dos medos, desmontando os seus mecanismos. E esse é o motivo pelo qual escrevi esse livro.
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Fonte: IHU on line, 29/01/2013

A dor definitiva, de Clóvis Rossi *

 

 

Mas, atenção, tragédias como a de Santa Maria não são inerentes ao terceiro-mundismo

Tentei, juro que tentei, escrever sobre temas internacionais, como é a norma nesta seção. Até havia dois ou três assuntos pré-selecionados, mas não dá. A tragédia de Santa Maria chama poderosamente.

Tal como contou ontem o santa-mariense Álvaro Fagundes, eu também fiquei hipnotizado quando pipocaram na tela de meu iPad os primeiros "flashes" sobre o incêndio. Mas, tal como ele, hesitei em aceitar que era no Brasil. Não podia ser.

Nas duas horas e meia do percurso de trem entre Davos e Zurique, sem internet para ver mais "flashes", decretei que não era no Brasil. Só podia ser mais uma tragédia africana ou asiática.

Sei que elas acontecem também no mundo rico, mas são mais usuais em países subdesenvolvidos, nos quais todas as instituições são precárias, da prevenção ao socorro, da obediência aos regulamentos à responsabilização dos proprietários e governantes.

Liguei a TV no hotel. Aí, não dava para escapar: era Brasil, Brazil, Brasile, Brésil.

Não dava também para escapar à sensação de que havia alguma coisa em comum entre as vítimas e a minha família, embora remota. Nessas horas, é fatal traduzir o que acontece em termos pessoais.

Meu neto Tiago tem a mesma idade da maioria das vítimas, 21 para 22 anos. É "baladeiro", como todas as vítimas. Estuda no interior (no caso dele em São Carlos, São Paulo), como praticamente todas as vítimas.

Não é nem mais nem menos responsável que qualquer um dos jovens que estavam no inferno.

Mais: sou capaz de apostar que frequenta locais com os mesmos problemas de segurança que foram encontrados na boate Kiss. Sou também capaz de apostar que incentivaria qualquer banda que estivesse se apresentando num desses locais a soltar alguma "bengala".

Os jovens se sentem imortais. E é natural e até conveniente que seja assim. O problema é que seus pais e seus avôs achamos que os jovens são "morríveis" demais.

No Brasil, até são mesmo, vítimas de uma violência que supera qualquer padrão civilizatório mínimo.

Talvez por isso surja a tentação fácil de atribuir ao nosso subdesenvolvimento institucional a tragédia santa-mariense. Que ele existe, é óbvio. Que possa ter contribuído para a tragédia, é bem possível.

Mas a TV espanhola incumbiu-se na noite de domingo de desfazer qualquer hipótese de exclusividade "terceiro-mundista" na história, ao rememorar tragédias similares na própria Espanha, nos EUA e no Reino Unido, para não falar da Argentina.

Ao mostrar cenas de Dilma Rousseff visitando Santa Maria e chorando, desfez também os comentários -inevitáveis em situações do gênero- de que era demagogia, hipocrisia ou algo parecido. A presidente fez o que tinha que fazer, com digna sobriedade.
 
 

A tragédia de Santa Maria me trouxe à memória a frase que ouvi de José Aníbal, hoje secretário de Energia do governo paulista, quando perdeu o filho em um acidente no litoral: "A perda de um filho é a dor definitiva".
 
 

É essa dor que devem estar sentindo os pais das vítimas. Não há nada que possa diminuí-la.
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* Colunista da Folha
       Fonte: Folha on line, 29/01/2013

Luto ensina que as pessoas que morrem fazem parte


da nossa vida para sempre
CLÁUDIA COLLUCCIDE
SÃO PAULO

Aceitar e elaborar o luto. Essa é a difícil tarefa que familiares e amigos dos jovens mortos em Santa Maria terão pela frente a partir de agora.
Estudiosos do assunto consideram difícil precisar a duração "normal" para o luto. Em geral, o processo pode levar de um a três anos.

Há pelo menos quatro etapas a serem percorridas: aceitar a realidade da perda, elaborar a dor da perda, ajustar-se a um ambiente onde está faltando a pessoa que morreu e, finalmente, continuar vivendo sem a pessoa amada.

Para um dos maiores especialistas em luto, o psiquiatra inglês Colin Murray Parkes, o luto é o preço que se paga pelo amor, por uma vida feliz. É assim que ele impulsiona seus pacientes a não esquecer o ente querido que morreu, mas seguir com a boa lembrança.

Segundo Parkes, uma das coisas que o luto ensina é que as pessoas que amamos nunca perdemos. Elas são parte da nossa vida para sempre.

O problema é que, no primeiro momento em que se perde alguém, sente-se que todas as coisas boas que vieram com essa pessoa se perderam também.

Só quando a pessoa para de tentar recuperar é que percebe que nunca perdeu, diz o psiquiatra na obra "Luto, Estudos sobre a Perda na Vida Adulta" (editora Summus).

O luto por um filho jovem é tido como um dos mais complicados, que pode demorar décadas para ser elaborado.


Atualmente, até eventos cardíacos estão associados a lutos mal elaborados. Nessas situações, há uma liberação excessiva de hormônios relacionados ao estresse, como a adrenalina e a cortisona, que provocam fraqueza do músculo cardíaco.

Por isso, recomenda-se que os sistemas de saúde tenham planos de emergência que ofereçam suporte psicológico às vítimas de tragédias.

de Martha Medeiros, " Empatia "


As pessoas se preocupam em ser simpáticas, mas pouco se esforçam para ser empáticas, e algumas talvez nem saibam direito o que o termo significa. Empatia é a capacidade de se colocar no lugar do outro, de compreendê-lo emocionalmente. Vai muito além da identificação. Podemos até não sintonizar com alguém, mas nada impede que entendamos as razões pelas quais ele se comporta de determinado jeito, o que o faz sofrer, os direitos que ele tem.
                                                  Nada impede?

Foi força de expressão. O narcisismo, por exemplo, impede a empatia. A pessoa é tão autofocada, que para ela só existem dois tipos de gente: os seus iguais e o resto, sendo que o resto não merece um segundo olhar. Narciso acha feio o que não é espelho.
Ele se retroalimenta de aplausos, elogios e concordâncias, e assim vai erguendo uma parede que o blinda contra qualquer sentimento que não lhe diga respeito. Se pisam no seu pé, reclama e exige que os holofotes se voltem para essa agressão gravíssima. Se pisarem no pé do outro, é porque o outro fez por merecer.

Afora o narcisismo, existe outro impedimento para a empatia: a ignorância. Pessoas que não circulam, não possuem amigos, não se informam, não leem, enfim, pessoas que não abrem seus horizontes tornam-se preconceituosas e mantêm-se na estreiteza da sua existência. Qualquer estranho que possua hábitos diferentes será criticado em vez de respeitado. Os ignorantes têm medo do desconhecido.

 


E afora o narcisismo e a ignorância, há o mau-caratismo daqueles que, mesmo tendo o dever de pensar no bem público, colocam seus próprios interesses acima do de todos, e aí os exemplos se empilham: políticos corruptos, empresários que só visam ao lucro sem respeitar a legislação, pessoas que “compram” vagas de emprego e de estudo que deveriam ser conquistadas através dos trâmites usuais, sem falar em atitudes prosaicas como furar fila, estacionar em vaga para deficientes, terminar namoros pelo Facebook, faltar compromissos sem avisar antes, enfim, aquelas “coisinhas” que se faz no automático sem pensar que há alguém do outro lado do balcão que irá se sentir prejudicado ou magoado.

É um assunto recorrente: precisamos de mais gentileza etc. e tal. Para muitos, puxar uma cadeira para a moça sentar ou juntar um pacote que alguém deixou cair, basta. Sim, somos todos gentis, mas colocar-se no lugar do outro vai muito além da polidez e é o que realmente pode melhorar o mundo em que vivemos. A cada pequeno gesto diário, a cada decisão que tomamos, estamos interferindo na vida alheia. Logo, sejamos mais empáticos do que simpáticos.
 


Ninguém espera que você e eu passemos a agir como heróis ou santos, apenas que tenhamos consciência de que só desenvolvendo a empatia é que se cria uma corrente de acertos e de responsabilidade – colocar-se no lugar do outro não é uma simples gentileza que se faz, é a solução para sairmos dessa barbárie disfarçada e sermos uma sociedade civilizada de fato.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Educação de qualidade, obrigatória , desde a base

 

Isaac Roitman*

Os tributos obrigatórios fazem parte da nossa história. No Brasil colônia, era obrigatório o pagamento de tributos à Coroa Portuguesa para financiar as expedições colonizadoras e proteger a costa brasileira contra saqueadores. Os impostos da metrópole recaíam sobre a comercialização do pau-brasil, das especiarias, do pescado, do ouro, da prata e das pedras preciosas.

Ao longo dos anos, dezenas de inúmeros tributos foram introduzidos. Cito alguns muito conhecidos: IR (Imposto de Renda), IE (Imposto de Exportação), IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), Cofins (Contribuição para Financiamento da Seguridade Social), PIS (Programa de Integração Social), IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores) e IPTU (Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana).

A imensa lista de tributos foi idealizada por diferentes governos, que utilizariam a arrecadação para beneficiar toda a sociedade. Infelizmente, isso quase nunca acontece. Os benefícios e serviços públicos nas áreas da saúde, da educação, da segurança, das moradias, da mobilidade urbana etc. são de baixa qualidade, devido à ineficiência administrativa ou por desvios de recursos públicos em um cenário cultural em que se dá mais importância aos interesses pessoais que ao coletivo.

A ideia que tentarei introduzir neste artigo é a de uma cobrança feita pela sociedade ao Estado para que possamos ter, no Brasil, uma educação de qualidade em todos os níveis de ensino (infantil, fundamental, médio e superior). Seria um tributo invertido, que não envolveria nenhum pagamento em moeda e no qual a sociedade cobraria do Estado o cumprimento de uma imposição constitucional.

O artigo 205 da Constituição diz que a educação é direito de todos e dever do Estado e da família. O item VII do artigo 206 garante ao ensino um padrão de qualidade. Em vez disso, o que predomina é um ensino de massa, com número excessivo de alunos em sala de aula e professores com formação deficiente, com salários vergonhosos e desmotivados. As escolas carecem de infraestrutura mínima e são desprovidas de condições para aproveitar as tecnologias modernas de informação e de comunicação.

O que é preciso é a conquista da garantia, para todos os brasileiros, de uma educação que permita progressos dentro do contexto social, econômico e político, não um discurso teórico apregoado em nossas leis. Assim, a escola deveria assumir valores que estimulem a autonomia dos alunos e os oriente para o respeito a si mesmos e aos demais e para a solidariedade. Além disso, que os prepare para respeitar a natureza, compreender e conviver com a diversidade cultural e fazer o que estiver ao seu alcance para trabalhar pela paz e pela igualdade de seus semelhantes.

Os professores que só repetem o que leem seriam substituídos pelas tecnologias avançadas de informação e deveriam atuar como facilitadores e mediadores, estimulando a formação cultural e humanista dos estudantes. Como prega Edgar Morin, a educação deve favorecer a aptidão natural da mente de formular e resolver problemas essenciais e, de forma correlata, estimular o uso total da inteligência. Esse uso total pede o livre exercício da curiosidade, a faculdade mais expandida e mais viva durante a infância e a adolescência, que, com frequência, a instrução extingue e que, ao contrário, se trata de estimular ou, caso esteja adormecida, de despertar.

O não cumprimento dos preceitos constitucionais deveria resultar em penalidades a todos os responsáveis pelo insucesso educacional. É pertinente a construção de indicadores que possam avaliar a qualidade da educação como instrumento para punir os gestores públicos responsáveis por sua inadequação no nível federal, estadual e municipal. Assim como a população é punida quando não cumpre as regras dos tributos obrigatórios, os gestores deveriam ser também punidos quando cúmplices de um sistema educacional sem qualidade. O tribunal para julgar a improbidade administrativa seria a sociedade, por intermédio das entidades organizadas da sociedade civil, em um processo permanente de acompanhamento e a avaliação da qualidade do ensino.

É importante lembrar que a qualidade da educação do presente modelará o futuro do Brasil. É também importante lembrar o pensamento de Immanuel Kant: "O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele".
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*Isaac Roitman é professor emérito da Universidade de Brasília e membro titular da Academia Brasileira de Ciências) publicado no Correio Braziliense.
Fonte: http://www.jornaldaciencia.org.br/28/01/2013

Financial Times ; " Idiotia & Progresso "

 


“Idiotia e Progresso”. É esse o título de um artigo publicado hoje em um blog do Financial Times em relação ao drama de Santa Maria. As mortes no Sul do Brasil repercutiram em todo o mundo e artigos em diversos jornais passaram a questionar os progressos de fato realizados pelo País nos últimos anos.

 
Mas, para o jornal que serve de referência nas finanças internacionais, está claro que o incidente irá aumentar a pressão sobre o Brasil no que se refere a sua capacidade de realizar grandes eventos esportivos, como a Copa em 2014.

Assinado pelo jornalista Jonathan Wheatley, o artigo não poupa críticas ao Brasil. “Para um país que sobe em termos econômicos e está se preparando para mostrar seus progressos com a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, a lista de erros e fracassos que levaram ao incêndio de sábado promove a pior das publicidades”.

O artigo chega a questionar se é justo culpar a administração de um país por conta de um ato de um “idiota isolado”. O FT também admite que outros países vivem a mesma sitação.
O artigo cita os diversos fatores da tragédia, inclusive o fato de que muitos morreram no banheiro, achando que era uma das portas de saída. “Regulamentos dos mais básicos, propriamente aplicados, teriam evitado a tragência e salvo a vida de 231 jovens. As autoridades enfrentarão questionamentos”, escreveu.

Descrevendo o membro da banda de “idiota” por ter usado pirotecnia dentro do local, o FT deixa claro que idiotas não existem apenas no Brasil e aponta para um desastre similar nos EUA em 2003. “Idiotas existem em todo o mundo e é muito difícil de legislar contra eles. Até sábado, o Brasil não teve uma tragédia dessa escala por mais de meio século. Se o evento horroroso do fim de semana resultar em aplicações mais duras da lei, o Brasil terá feito mais progresso”, conclui.
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Fonte: http://blogs.estadao.com.br/jamil-chade/2013/01/28/financial-times-idiotia-e-progresso/
Imagem da Internet

Se a tecnologia é um vício, quais são os efeitos colaterais ?

 



Alexandre Matias*
Uma voz monótona repete frases sem emoção: "Viva mais. Conecte-se mais. Viaje mais. Compartilhe mais. Procure mais". Pessoas sorriem em situações cotidianas com seus tablets ou celulares. A iluminação é perfeita, a fotografia é de publicidade. Todos são lindos.

De relance, um outdoor eletrônico transforma empolgação em ameaça - "O futuro que você merece" - e seguem os imperativos: "Consuma mais. Pense mais. Experimente mais. Lembre mais. Veja mais. Compartilhe mais. Aprenda mais. Faça mais. Lute mais. Faça mais. Conecte-se mais". As imagens mudam, os sorrisos tornam-se falsos e celulares filmam cenas violentas - confrontos, espacamentos - vistas por uma criança debaixo de seu cobertor.

"Deixe de ser você", diz a voz robótica antes de surgir uma avenida tomada por pedestres que filmam, sem reação e com seus celulares, uma enorme nuvem de poeira que vem em sua direção. É inevitável a associação com a mórbida nuvem que tomou as ruas de Nova York depois da queda do WTC.

"O futuro está quebrado." É o trailer da nova temporada de Black Mirror (espelho preto), do jornalista inglês Charlie Brooker, anunciada semana passada. Eu já havia comentado sobre a série em uma Impressão Digital no fim de 2012, mas comentei mais a força de seu título do que seu tema.

Black Mirror não é um seriado, mas três pequenos filmes exibidos pela Canal 4 da BBC inglesa. Seu autor, Charlie Brooker, é um notável crítico de mídia conhecido por sua abordagem nada sutil e pela franqueza agressiva que usa para expor suas opiniões, uma espécie de Michael Moore menos bonachão. É um inglês cínico cujo sotaque é tão pesado quanto a forma como ele trata os temas que escolhe. Ele explora como burrice, vaidade, ganância e banalidade derretem nossa civilização ao tratar inteligência como excentricidade e aparência como lastro de confiança.

O que une os três primeiros episódios de Black Mirror, exibidos no fim de 2011, é um dos principais alvos das críticas de Brooker - a tecnologia. Sua abordagem é simples: a tecnologia é a droga mais consumida do mundo hoje e estamos todos viciados nela. Todo o ecossistema criado pela internet e novos aparelhos não apenas nos permite consumir conteúdo em qualquer lugar como também faz com que nossas vidas possam ser transformadas em conteúdo para ser consumido. A partir desta constatação, Brooker quer descobrir quais são os efeitos colaterais desse vício.

Em três episódios, três choques: no primeiro (Hino Nacional) o primeiro-ministro inglês é chantageado para fazer sexo com um porco em cadeia nacional. No segundo (15 Milhões de Méritos), um operário de uma fábrica do futuro - que parece uma academia de ginástica - tenta ajudar uma desconhecida a comprar sua vaga em um programa de reality show. No terceiro (Toda a História de Você), uma tecnologia permite que você grave e reveja as próprias lembranças e isso pode ser catastrófico para as nossas relações.

Black Mirror ainda é inédita no Brasil e o canal BBC HD, recém-lançado no País, poderia nos presentear com sua exibição (como já fez com a excelente série Sherlock, adaptada pelo bamba Steven Moffat), antes de os três episódios da próxima temporada - que começam a ser filmados no mês que vem e ainda não têm data de exibição - irem ao ar no Reino Unido.

Do pouco que se sabe dos próximos episódios, num deles o namorado de uma viciada em redes sociais consegue voltar a ter contato com ela depois de sua morte graças à internet; no outro, um personagem de programa infantil concorre a um cargo político e começa a soar menos estúpido que seus concorrentes; e no último, uma mulher acorda numa casa que não conhece para descobrir que as pessoas se tornaram voyeurs sem motivo, filmando os outros o tempo todo e não fazem mais nada.

                         Não parece tããããão diferente da nossa própria realidade...
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* ALEXANDRE MATIAS É DIRETOR DE REDAÇÃO DA REVISTA GALILEU - GALILEU.GLOBO.COM
matias@edglobo.com.br - http://blogs.estadao.com.br/alexandre-matias
Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,28/01/2013
Imagem da Internet

A pior dor, J.J.Camargo *

 


As grandes tragédias nos comovem porque nos transportam para dentro delas. E ficamos lá, durante dias, embalados pela discussão dos detalhes, pela tentativa infrutífera de reparar e, quando nos convencemos por exaustão de que nada mais é remediável, nos vemos a discutir os culpados, a criminosa falta de responsabilidade na emissão dos alvarás e as penas que deveriam receber. E ficamos indignados porque nada muda e, quando se repetir, sairemos outra vez atrás de novos culpados.

Mas nada disso passa nem perto dos sentimentos dos que perderam, porque a dor da perda é única e indescritível. A perda verdadeira e definitiva.
No máximo, podemos imaginar a partir de retalhos capturados nas declarações, o tamanho do sofrimento, mas não o sofrimento coletivo, porque este é sempre passageiro, mas o sofrimento individual, de cada pai e de cada mãe, que foram despertados com o relato de uma tragédia e descobriram petrificados que as luzes embaixo das portas continuavam acesas, porque seus filhos amados não retornaram da noitada.

Imaginem a saída para a rua depois de dezenas de telefonemas inúteis e a descoberta de que havia três possibilidades: mortos estendidos no piso de ginásio municipal, feridos hospitalizados em Santa Maria, feridos mais graves encaminhados para Porto Alegre.

Por onde começar a investigar, no meio de um tumulto, onde estariam a Bruna, o Rafael ou o Eduardo, se todas as pessoas gritavam e ninguém tinha uma informação confiável?

Quando a imprensa acessou o ginásio, reportou que corpos acomodados na lona preta pareciam intactos, visto que a maioria morreu asfixiada e não por queimaduras. Mas o que mais impressionou foi o relato de que os celulares seguiam tocando incansavelmente nos bolsos dos mortos.

E, quando um repórter tomou um deles, havia um registro a documentar todo o desespero, a perseverança e a incredulidade: “103 chamadas não atendidas”.
 E no alto da tela o nome mais previsível: MÃE.
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* Médico
Fonte: ZH on line, 29/01/2013

É possível um relativismo absoluto ???

 

Pe. Anderson Alves*
                                                                               Reflexões sobre o atual ateísmo relativista
Em um texto anterior[i], nos perguntávamos se fosse possível conciliar o relativismo e o ateísmo. E víamos que, segundo três famosos ateus (Nietzsche, Adorno e Horkheimer) o ateísmo, ao negar a origem do conhecimento e ao tomar como verdade a inexistência de Deus, cai numa contradição insuperável[ii]. De fato, quem nega a existência da verdade, não poderia coerentemente afirmar que Deus não existe. Entretanto, sabemos que há quem se esforce muito por conciliar relativismo e ateísmo, colocando um ateísmo indiscutível e dogmático como fundamento do relativismo e construindo um sistema de pensamento no qual se parte da negação de Deus e, a partir dessa verdade quase “divina”, afirma-se um relativismo moral e cognitivo radical.

Um pensador que colocou em íntima relação o ateísmo com o tema da verdade foi F. Nietzsche, autor que se considerava «ateu por instinto». De fato, seu ateísmo voluntarista tinha como consequência a afirmação de um forte relativismo e a verdade era considerada como «um exército de metáforas, metonímias», «ilusões das quais se esqueceu a sua natureza ilusória», «moedas nas quais as imagens foram consumidas»[iii]. Em outro texto famoso, ele fazia uma interessante observação: «receio que não possamos nunca afastar-nos de Deus porque ainda acreditamos na Gramática»[iv]. Desse modo, o ateísmo radical deveria conduzir a uma sociedade sem ciências, sem explicações últimas, na qual o homem só seria capaz de conhecer seus próprios estados de ânimo. Porém, tudo isso parte de uma afirmação com valor de verdade absoluta: «Deus morreu, Deus continua morto, nós o matamos»[v]. O “teomicídio” seria, pois, o ato supremo de uma vontade que busca uma autonomia absoluta, e não de uma demonstração racional. E aquele gesto traria consigo um relativismo radical, mas não certamente absoluto.

É certo que hoje muitos pensam que o relativismo seja o fundamento do ateísmo, mas isso se deve a um modo superficial de examinar o problema. Se o relativismo é total, se não há nenhuma verdade, jamais pode ser verdade que Deus não exista. De modo que, surpreendentemente, o ateísmo mesmo coloca limites ao relativismo. Em outras palavras, pode existir um ateísmo relativista, ou seja, um ateísmo a partir do qual se deduz o relativismo, mas não um relativismo ateu.

Então, é impossível um relativismo absoluto? Coloquemos de outro modo a questão: pode ser verdade que não existe nenhuma verdade? Só há duas respostas possíveis: “sim, é verdade que não existe nenhuma verdade”. Ora, quem diz isso, assume, talvez inconscientemente, que há alguma verdade; e se alguém disser “não, não pode ser verdade que não exista a verdade”, certamente estaria usando melhor a sua razão e teria encontrado a resposta lógica. De modo que, com uma resposta ou outra, a conclusão é sempre a mesma: não pode existir um “relativismo absoluto”, a verdade sempre faz parte do nosso pensamento e discurso.

A consequência disso é, que por incrível que pareça, o relativismo só pode ser relativo, uma vez que só pode ser parcial. Isso porque é sempre necessário aceitar que há alguma verdade, que algo pode ser conhecido. Certo tipo de relativismo pode ser aceito para as opiniões, que são afirmações de algo pouco fundamentado, de modo quando se opina se há receio de que a afirmação contrária seja a verdadeira. Mas nem tudo na nossa comunicação é simples opinião.

Aristóteles dizia que como a verdade é uma realidade primeira do nosso pensamento, quem nega a verdade, afirma a verdade. Ou seja, quem nega que ela exista, sabe já o que ela seja e supõe que é verdade a sua não existência, o que é uma contradição em termos. Outro modo de fugir ao compromisso com a verdade seria assumir a posição cética, ou seja, aquela postura de certos pensadores que dizem não ser possível nem afirmar, nem negar a verdade. Quem assume essa posição, certamente se livra da linguagem e da “Gramática”, mas isso traz consigo uma consequência nefasta: não negar nem afirmar algo, faz o ser humano se tornar semelhante a uma planta, com quem não é educado discutir.

O relativismo só pode, pois, ser relativo, ou seja, só pode ser aplicado a algumas afirmações e nunca a todas. A verdade não pode jamais ser excluída da vida e da linguagem humana, a menos que alguém se conforme em viver como uma planta. F. Nietzsche só pôde dizer que a verdade é «um exército de metáforas», uma «ilusão», uma moeda sem valor porque sabia perfeitamente o que é uma metáfora, uma ilusão, uma moeda com valor. Negar a verdade implica sempre aceitar a verdade, assim como negar Deus implica pressupor a sua existência.

Então, temos que colocar agora a incômoda questão: afinal de contas, o que é a verdade? Platão dizia que «verdadeiro é o discurso que diz as coisas como são, falso o que diz como as coisas não são»[vi]. E Aristóteles afirmou algo tão simples quanto essencial: «Negar aquilo que é, e afirmar aquilo que não é, é falso, enquanto afirmar o que é e negar o que não é, é a verdade»[vii]. A verdade se dá quando o nosso discurso expressa o que as coisas realmente são.

Em que sentido então pode ser aceito o relativismo? Já iniciamos aqui a resposta, mas a aprofundaremos numa outra ocasião. O que importa agora é deixar clara a conclusão a que chegamos: o relativismo não pode ser absoluto, só pode ser, por incrível que pareça, relativo.
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* Pe. Anderson Alves, sacerdote da diocese de Petrópolis – Brasil. Doutorando em Filosofia na Pontificia Università della Santa Croce em Roma.


[ii] M. HORKHEIMER e Th.ADORNO, Dialettica dell’illuminismo, Einaudi, Torino 1966, p. 125: «Percebemos “que também os não conhecedores de hoje, nós, ateus e antimetafísicos, alimentamos ainda o nosso fogo no incêndio de uma fé antiga dois milênios, aquela fé cristã que era já a fé de Platão: ser Deus a verdade e a verdade divina”. Sendo assim, a ciência cai na crítica feita à metafísica. A negação de Deus implica em si uma contradição insuperável, enquanto nega o saber mesmo».

[iii] Cfr. F. NIETZSCHE, Sobre verdade e mentira no sentido extra-moral, ed. Hedra, São Paulo 2007.

[iv] Cfr. Idem, Crepúsculo dos Ídolos, ed. Companhia das Letras, São Paulo 2006.

[v] Idem, A Gaia ciência, ed. Hemus, Curitiba 2002, p. 134.

[vi] PLATÃO, Crátilo 385 b; cfr. também Sofista, 262 e

[vii] ARISTÓTELES, Metafísica, IV, 7, 1011 b 26 e segs.

Fonte: ROMA, 28 de Janeiro de 2013 (Zenit.org)
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