quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Michel Temer coloca seu pacote de privatizações na vitrine chinesa

Presidente chega na quinta-feira em Pequim para uma visita de Estado e um encontro dos BRICS

Pequim envia sinal de que elo com Brasil é "coração" da relação do país com a América Latina

O presidente Temer no Palácio do Planalto.

Mais do que participar da cúpula dos chefes de Estado dos BRICS, o presidente brasileiro Michel Temer (PMDB) chega nesta quinta-feira à China em uma visita de Estado com a estratégica missão de vender parte de seu incerto programa de privatização de 57 empresas públicas do Brasil, o maior em 20 anos, que inclui a gigante Eletrobrás, o aeroporto de Congonhas e até a Casa da Moeda, além de várias obras de infraestrutura. As empresas serão expostas como em vitrines ao chineses, ávidos investidores no país, mas representantes dos outros países no encontro _Rússia, África, Índia e África do Sul_ não serão deixados de lado.
A China é o principal parceiro comercial brasileiro. No ano passado, a balança comercial entre os dois países atingiu a cifra de 58,4 bilhões de dólares – sendo 35,1 bilhões de exportação brasileira e 23,3 bilhões em importações. Além disso, O Brasil se transformou nos últimos dois anos no principal beneficiário das linhas de crédito dos bancos chineses. Essas instituições concederam no ano passado empréstimos no valor de 15 bilhões de dólares (47 bilhões de reais), máximo histórico que coincidiu com um dos anos mais conturbados em política e economia no Brasil.


Temer abordou os eventuais negócios entre Brasil e China em entrevista à emissora de TV estatal chinesa CCTV, nesta semana. “Esperamos que a China possa se interessar de participar desses eventos, dessas concessões que nós vamos fazer, para se trazer naturalmente capital para o Brasil”. O embaixador do Brasil no país asiático, Marcos Caramuru, acredita que os empresários chineses teriam interesse nas áreas de energia elétrica, rodovias, ferrovias e portos. “Tem ativos na área de infraestrutura que vão interessar aos chineses e fazer com que eles se posicionem para participar dos leilões. A China foi o país que mais investiu em infraestrutura no mundo. Por trás disso, eles têm uma capacidade de financiamento robusta”, disse Caramuru à Agência Brasil.
Do lado chinês, também não faltaram loas públicas ao Brasil, por meio da agência oficial Xinhua, controlada pelo Governo comunista. A agência, usada também para enviar mensagens diplomáticas, publicou entrevista na qual Wu Baiyi, diretor do Instituto de América Latina da Academia Chinesa de Ciências Sociais, diz que a relação bilateral entre Brasil e China tem um papel central tanto dentro dos Brics, que completa dez anos de formação, como nas relações de Pequim com o resto da América Latina. "Brasil, como coração da cooperação China-América Latina, pode compartilhar suas experiências com a China com outros países da região", diz o texto. O tom é bem mais positivo do que o usado logo que Temer assumiu o poder e sua diplomacia deu sinais contraditórios a respeito da prioridades do BRICS na agenda da política externa brasileira. O recebimento do mandatário brasileiro em visita de Estado, a mais solene da hierarquia diplomática, também é um sinal do melhor momento nas relações.
Temer deixou o Brasil na terça-feira e tem volta prevista para 6 de setembro. Entre os dias 31 agosto e 2 de setembro, encontrará com o presidente chinês, Xi Jinping, e o primeiro ministro Li Keqiang.  Participará também de um evento com empresários sino-brasileiros. Entre os dias 3 e 5, estará na cidade de Xiamen, onde ocorrerá o encontro dos BRICS. Nesse período, o presidente também se encontrará com os primeiros ministros da Tailândia, Prayut Chan-o-cha, e da Índia, Narendra Modi.

Legislativo à espera

O presidente levou consigo uma longa comitiva de políticos. São sete ministros e 11 deputados federais. Defensores de primeira hora do Planalto, como o trio de ferro na Câmara, Darcísio Perondi (PMDB-RS), Carlos Marun (PMDB-MS) e Beto Mansur (PRB-SP), ganharam uma espécie de prêmio pela lealdade: foram incluídos no avião presidencial.
Com a viagem de Temer, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), assumiu interinamente a presidência, o que deve atrapalhar o andamento da reforma política –já com dificuldades de tramitação, o tema ficou paralisado. Parte dos deputados de oposição tenta obstruir os trabalhos, que estão sendo conduzidos pelo inexperiente deputado André Fufuca (PP-MA). A expectativa é que as votações de projetos relevantes só ocorram depois que Maia retorne ao seu posto, o que só deve ocorrer na véspera de feriado em comemoração à independência do Brasil.Temer abordou os eventuais negócios entre Brasil e China em entrevista à emissora de TV estatal chinesa CCTV, nesta semana. “Esperamos que a China possa se interessar de participar desses eventos, dessas concessões que nós vamos fazer, para se trazer naturalmente capital para o Brasil”. O embaixador do Brasil no país asiático, Marcos Caramuru, acredita que os empresários chineses teriam interesse nas áreas de energia elétrica, rodovias, ferrovias e portos. “Tem ativos na área de infraestrutura que vão interessar aos chineses e fazer com que eles se posicionem para participar dos leilões. A China foi o país que mais investiu em infraestrutura no mundo. Por trás disso, eles têm uma capacidade de financiamento robusta”, disse Caramuru à Agência Brasil.
Do lado chinês, também não faltaram loas públicas ao Brasil, por meio da agência oficial Xinhua, controlada pelo Governo comunista. A agência, usada também para enviar mensagens diplomáticas, publicou entrevista na qual Wu Baiyi, diretor do Instituto de América Latina da Academia Chinesa de Ciências Sociais, diz que a relação bilateral entre Brasil e China tem um papel central tanto dentro dos Brics, que completa dez anos de formação, como nas relações de Pequim com o resto da América Latina. "Brasil, como coração da cooperação China-América Latina, pode compartilhar suas experiências com a China com outros países da região", diz o texto. O tom é bem mais positivo do que o usado logo que Temer assumiu o poder e sua diplomacia deu sinais contraditórios a respeito da prioridades do BRICS na agenda da política externa brasileira. O recebimento do mandatário brasileiro em visita de Estado, a mais solene da hierarquia diplomática, também é um sinal do melhor momento nas relações.
Temer deixou o Brasil na terça-feira e tem volta prevista para 6 de setembro. Entre os dias 31 agosto e 2 de setembro, encontrará com o presidente chinês, Xi Jinping, e o primeiro ministro Li Keqiang.  Participará também de um evento com empresários sino-brasileiros. Entre os dias 3 e 5, estará na cidade de Xiamen, onde ocorrerá o encontro dos BRICS. Nesse período, o presidente também se encontrará com os primeiros ministros da Tailândia, Prayut Chan-o-cha, e da Índia, Narendra Modi.

Legislativo à espera

O presidente levou consigo uma longa comitiva de políticos. São sete ministros e 11 deputados federais. Defensores de primeira hora do Planalto, como o trio de ferro na Câmara, Darcísio Perondi (PMDB-RS), Carlos Marun (PMDB-MS) e Beto Mansur (PRB-SP), ganharam uma espécie de prêmio pela lealdade: foram incluídos no avião presidencial.
Com a viagem de Temer, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), assumiu interinamente a presidência, o que deve atrapalhar o andamento da reforma política –já com dificuldades de tramitação, o tema ficou paralisado. Parte dos deputados de oposição tenta obstruir os trabalhos, que estão sendo conduzidos pelo inexperiente deputado André Fufuca (PP-MA). A expectativa é que as votações de projetos relevantes só ocorram depois que Maia retorne ao seu posto, o que só deve ocorrer na véspera de feriado em comemoração à independência do Brasil.


A educação como caminho para a tolerância

Resultado de imagem para educação como caminho para a tolerância Jornal do comércio

Em um país cujos principais debates giram em torno de questões políticas, seria de se esperar que a maioria dos cidadãos tivesse condições intelectuais de discuti-las com propriedade. No entanto, para deleite dos envolvidos, o investimento em educação é cada vez mais magro, e não seria ousado demais presumir que o objetivo é justamente manter boa parte da população alijada da verdadeira capacidade de discussão.
Inflados pelos acontecimentos cada vez mais surpreendentes, os brasileiros partem para um bate-boca infindável, que raramente traz algum resultado além de dores de cabeça e estresse, podendo, inclusive, acabar em violência. Uma opinião contrária se torna praticamente uma afronta pessoal e, com os ânimos cada vez mais aflorados, é difícil voltar à razão.
Sem educação - e educação de fato, com debate e reflexão, que vai além da mera transmissão de conteúdo -, não há avanço. Como diria o norte-americano John Dewey (1859-1952), um dos principais estudiosos do tema, "a educação é um processo social, é desenvolvimento. Não é a preparação para a vida, é a própria vida". Sem um processo educacional, o ser humano repete discursos que não entende e prega verdades que não conhece. Em um contexto de atitudes polêmicas e reações extremas, essa realidade se torna perigosa.
Na última reportagem da série Civilização extrema: o perigo de uma sociedade intolerante, publicada durante o mês de agosto no Jornal da Lei, especialistas apontam que a solução para esse cenário passa, obrigatoriamente, pela educação; e que, sem ela, a queda para um processo de total ruptura democrática ficará ainda mais inevitável.

Educação para o convívio é saída para extremismo

Não importa o tema - violência, corrupção, aumento na criminalidade -, a educação sempre surge como um possível remédio, capaz de curar uma população doente. Seja a educação de crianças e jovens, ou a de adultos para a conscientização em determinado tema, é notável que pouco se avança quando parte predominante da sociedade possui alto nível de ignorância. No caso do Brasil, o constante esquivo, por parte do governo, em investir em educação faz com que seja aventada a possibilidade de que, para o sistema político, a ignorância do povo, seja, de fato, uma dádiva. Sem educação, instrução e orientação, a população se vê votando às cegas, com base em conceitos de senso comum e em opiniões sem embasamento teórico.
Em um cenário polarizado, amplificado pelas redes sociais, nas quais discursos de ódio são proferidos sem qualquer responsabilização, a ausência de uma educação para a cidadania se torna ainda mais preocupante. O indivíduo, sem condição de argumentar, seja por falta de conhecimento ou interesse, parte para a agressão, esperando que sua opinião se sobressaia perante a de tantos outros que, da mesma forma que ele, fazem o mesmo. O cenário se torna um ciclo vicioso de difícil interrupção.
O Papel da escola
A cada nova geração, a sociedade precisa construir quase tudo de novo. E isso deve ser feito pelos meios mais rápidos, agregando ao indivíduo, que acaba de nascer, uma natureza capaz de vida moral e social. Esse pensamento do sociólogo, antropólogo e cientista político francês Émile Durkheim (1858-1917) resume o papel da educação em um instituto que não se limita a desenvolver o organismo, mas cria um ser novo.
E, para criar um ser novo, não basta transmissão de conhecimento, sem questionamentos ou debates. Na base curricular nacional, que determina os conteúdos que serão ensinados aos alunos dos ensinos Básico, Fundamental e Médio, não constam explicações e reflexões a respeito de uma formação política e social. Cresce, entre alguns professores, a ideia de que o papel da escola é ensinar conteúdos como Matemática, Ciências e Línguas. No Japão, por exemplo, em 2015, uma normativa do governo determinou que as universidades servissem "áreas que contemplem as necessidades da sociedade" e, assim, deixassem de oferecer cursos das áreas de humanas, focando as formações tecnológicas.
A visão da escola/academia como mera fonte de mão de obra é criticada pelo professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Marcelo Andrade de Souza. Para ele, que é autor do livro "Tolerar é pouco? Pluralismo, mínimos éticos e práticas pedagógicas" (Editora Mauad, 2009), a escola tem dupla função. Além de transmitir conteúdo, precisa ajudar a construir uma cidadania mais tolerante, aberta às diferenças. "Muitas vezes, os professores pensam que trabalhar com temas de preconceito, de racismo, de discriminação, seria função da família. É um engano frequente, pois não há ensino de conteúdo sem transmissão de valores", argumenta.
A consideração de Souza se sustenta na posição que Durkheim expressou há mais de um século. Segundo o acadêmico francês, a educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre as gerações que não se encontram ainda preparadas para a vida social. A ideia é destinar à criança certos estados físicos, intelectuais e morais reclamados pela sociedade política, desenvolvendo-os.
Um dos maiores expoentes da reflexão sobre educação, o filósofo e pedagogo norte-americano John Dewey (1859-1952), defende que, na medida em que a escola desempenha um papel decisivo na formação do caráter das crianças de uma sociedade, também pode transformá-la fundamentalmente. Ao encontro dessa ideia, o sociólogo Marcos Rolim acredita que, uma vez que o papel da família tem mais a ver com a formação psicológica do indivíduo, a escola tem muito a fazer. Embora não seja garantia de formação de um cidadão exemplar, a educação escolar facilita a leitura dos fatos, considerando pontos de vista. "Teria de desenvolver uma educação voltada para o pensamento, para a reflexão, que, por natureza, é crítica. O sujeito que pensa dificilmente aplaude sem sequer questionar", explica, destacando a importância da "habilidade de questionar", que vai de encontro a um alinhamento automático, que produz intolerância e, no limite, ódio.
Por isso, a discussão de ideologias e de valores se torna fundamental em uma sala de aula. Para o professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo Clóvis de Barros Filho, seria necessário insistir na discussão a respeito da pluralidade e do respeito às diversidades. Ele destaca que, ao mostrar que os valores são complexos, o professor dá ao aluno a lucidez necessária para, diante de uma manifestação ideológica exacerbada, problematizar sua pertinência por meio da análise dos valores combatidos e ausentes.
Há mais de 100 anos, Dewey já reconhecia sinais da necessidade de uma reforma educacional capaz de democratizar radicalmente a sociedade. O educador acreditava que, para transformar as escolas em agentes de reforma, seria preciso reconstruí-las por completo.
A percepção de que o papel do ensino escolar se limita à transmissão de conteúdo não é exclusividade brasileira. O professor catedrático do Instituto da Educação da Universidade do Minho, em Portugal, Licínio Lima explica que o entendimento de que a escola deve se concentrar apenas na transmissão de conhecimentos e competências, de forma a preparar para a vida, se perpetuou há muito tempo. Quem defende essa atuação restrita presume que a formação de cidadãos democráticos seria um fenômeno de doutrinação política que não cabe à escola.
"É uma posição inaceitável em termos democráticos, desde logo por confundir educação para e pela democracia com doutrinação política", argumenta. Para ele, o principal limite assumido por uma educação crítica é justamente a recusa de qualquer processo de doutrinação. "A democracia, muito mais do que um processo ou um método, é uma forma de vida que se prepara também por meio da contribuição da escola."
O processo educacional não se resume aos métodos pedagógicos. Educação é o resultado da interação de diversas áreas do conhecimento. A neurociência tem um papel fundamental, por exemplo, ao mostrar a quem ensina como o aluno aprende, quais são os processos cerebrais envolvidos na obtenção de conhecimento.
A psicologia também é profundamente relacionada com a educação. O psicanalista Alfredo Jerusalinsky corrobora a opinião dos educadores a respeito da guinada tecnicista que o ensino tem dado. Para ele, a escolaridade tem se tornado competitiva ao ponto de países eliminarem matérias sem relação com técnica e tecnologia, como Filosofia, Literatura e Artes. "A Matemática, a lógica pura, a Física, a Química, não fazem laços sociais. Permitem o domínio da natureza, mas não permitem estabelecer relações com o outro", pondera. Para ele, a tecnologia pode prestar um serviço quando aproxima os seres humanos, como no caso da comunicação, mas "essa aproximação não pode estar cingida meramente à informação", explica o estudioso, que é doutor em Desenvolvimento Humano e Educação.
Além de um possível despreparo por parte dos docentes e do ceticismo por parte da sociedade, o sistema educacional não trabalha questões de democracia e cidadania. Os colégios, ainda presos a um método de ensino que prioriza a acumulação de conhecimentos em larga escala, e que é indiferente às diferenças, não conseguem viabilizar projetos elaborados pelos poucos professores que decidem se aventurar por esse caminho.
O sociólogo Marcos Rolim teve experiência como docente no Centro Universitário Metodista (IPA) e como professor visitante da Universidade de Oxford, na Inglaterra. Ele conta que, mesmo em ambiente acadêmico, percebia que os alunos estavam programados para um tipo de aula que consistia exclusivamente na memorização para a prova. "Os alunos chegam à universidade sem essa prática de autonomia do pensamento. Nossa matriz educacional continua estimulando a memória e a reprodução de conteúdo, quando isso é o menos importante", considera.

Formação para a cidadania exige debates amplos em sala de aula

FREDY VIEIRA/JC

O receio de que uma doutrinação política tome conta do espaço escolar deu origem, no Brasil, a um conjunto de leis que incorporam o movimento Escola Sem Partido, encabeçado principalmente por representantes de partidos conservadores. Os apoiadores defendem a necessidade dessas leis como uma forma de evitar a ideologização do ensino em sala de aula. Críticos, no entanto, afirmam que a iniciativa é uma tentativa de "amordaçar" os professores e de impedir o debate político em âmbito escolar.
Para o doutor em Educação Marcelo Andrade de Souza, não há dúvidas de que o movimento serve de amparo a uma ideologia. "Não é uma escola sem partido, é uma escola com outro partido, o do conservadorismo e da postura retrógrada", enfatiza.
A discussão sobre a proposta da Escola Sem Partido encontra barreiras constitucionais, uma vez que a Constituição Federal diz que é função da escola formar um cidadão pleno para participar na cidadania. E, sem embate de opiniões, não existe participação. Do ponto de vista moral e ético, o indivíduo tem uma escala de valores e sempre escalona, tomando decisões com base nessa hierarquia. Por isso, uma neutralidade política seria impossível de ser alcançada. Considerando que o docente é, também, um indivíduo com uma trajetória própria, é difícil esperar neutralidade e isenção.
No prefácio do livro "Pedagogia do oprimido" (Editora Paz e Terra, 2002), de Paulo Freire, o professor gaúcho Ernani Maria Fiori (1914-1985) diz que o diálogo fomenta a essencial intersubjetividade humana, uma vez que é relacional e que, nele, ninguém tem iniciativa absoluta. Seu oposto, o monólogo, seria, então, o fechamento da consciência. Proibir o debate e o diálogo em sala de aula provoca, portanto, esse isolamento, dando lugar a razões absolutas. Cabe ao professor oferecer condições intelectivas de reflexão progressivamente autônomas, possibilitando que o aluno ganhe independência e maturidade intelectual para pensar por conta própria.
Apesar de reconhecer a participação da família na criação de um indivíduo comprometido com a cidadania, a professora de Filosofia da Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Dulce Critelli explica que as responsabilidades são diferentes. "Enquanto a família implica um pequeno número de pessoas, a escola abriga um número imenso de crianças vindas de famílias com credos, situações econômicas, informações, valores diversos e diferentes", observa. Mais do que a família, a escola precisa se vigiar nas posturas e nos ensinamentos, uma vez que tem de ser o lugar da pluralidade e da diversidade, e não de posturas dogmáticas e ideológicas. Nesse contexto, o professor deve expressar suas opiniões, mas precisa tomar cuidado para que não sejam apresentadas como verdades incontestáveis, e sim como mais uma opinião entre outras. A escola, portanto, não pode agir de forma extremista, separatista ou acusatória, abrindo-se à diversidade, de modo a acolher, refletir e estabelecer acordos a partir das diferenças.
Educação para o convívio
A educação é, em suma, responsável pela aquisição de tudo aquilo que o ser humano não tem ao nascer e de tudo que precisa para ser adulto. Isso quem diz é o filósofo e escritor suíço Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), que acreditava que o indivíduo nasce fraco, desprovido de tudo e necessitado de assistência. Cabe ao processo educacional, portanto, rechear de conhecimento e de valores aquele cidadão e ajudá-lo a construir bases para a vida adulta.
Em seu livro, Souza define o conceito de ética mínima como "o limite por baixo do qual só estaremos se ferirmos o ideal de dignidade humana, do ser humano como absolutamente valioso e como fim incondicionado". O ideal, para o professor, seria educar o cidadão a fim de que ocorra uma valorização das diferenças. A ética mínima seria, portanto, o ponto de partida, abaixo do qual o indivíduo não quer estar. "É o mínimo que devemos exigir para a convivência social. Quando tenho um caso de racismo, não estou só desrespeitando o outro como diferente, estou ferindo um mínimo ético", explica. Desta forma, a tolerância, como objetivo final, é pouco: não deve ser um ponto de chegada, nem um horizonte. 
O professor da Universidade de Minho, em Portugal, Licínio Lima também vê a tolerância como um fim insuficiente. Com o acirramento de ideias e ideologias cada vez mais forte, a tendência é a segregação, a separação entre aqueles que se consideram diferentes. No âmbito escolar, isso se reflete na retirada de alunos, pelas classes mais altas, das escolas públicas, fazendo com que estas sejam renegadas ao isolamento e ao empobrecimento. "É mais difícil educar para a diversidade em uma organização que é muito mais homogênea que a sociedade, por efeito de seleção social à entrada. O problema central não é o da promoção de tolerância e do pluralismo, mas, especialmente, o da falta de convivência entre diferentes que não se encontram, sequer, na mesma instituição educativa", pondera o doutor em Educação. O ideal de uma escola pública democrática é, portanto, uma escola interclassista, que inclua todos e sirva a todos com elevada qualidade.
A prática, ou seja, a exposição de alunos a experiências democráticas, é a única maneira de ensinar e de aprender democracia. Por meio de um sistema de valores e regras, construído com os alunos, e não apenas para eles, a convivência escolar se torna uma contribuição importante à autonomia democrática e à compreensão do que é uma cidadania ativa e responsável.

Política nacional pode estabelecer padrão de ensino

CADERNO DIA DA INDÚSTRIA 2009

LINHA DE MONTAGEM E PRODUTOS DA EMPRESA MERCUR DE SANTA CRUZ DO SUL.
CADERNO DIA DA INDÚSTRIA 2009 LINHA DE MONTAGEM E PRODUTOS DA EMPRESA 
MERCUR DE SANTA CRUZ DO SUL.

/FREDY VIEIRA/JC

Para solucionar esse vácuo, os especialistas propõem a instauração de uma política de âmbito nacional, que defina um projeto a ser aplicado no Brasil. No entanto, as diferenças e especificidades regionais devem ser contempladas. Afinal, como dizia Paulo Freire (1921-1997), se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco a sociedade muda.
Desde o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), diretrizes curriculares com parâmetros nacionais vinham se aprofundando no tema da diversidade. Existia, dentro do Ministério da Educação, a Secretaria Especial de Alfabetização e Diversidade, ligada à diversidade e à inclusão, descontinuada recentemente. Eram produzidas orientações nacionais, como educação de quilombolas e indígenas, com participação de pesquisadores renomados responsáveis pela produção de material didático. Houve casos como a aprovação da Lei nº 10.639/2003, que tornava obrigatório o ensino de História e Literatura Africana.
Para o professor Marcelo Andrade de Souza, é real a necessidade da criação de um projeto nacional que respeite a liberdade das escolas em adaptarem essas temáticas. "Avançamos na temática negra, pois havia maior consenso de que era preciso valorizar as reivindicações e a história negra. A temática de gênero e de sexualidade avançou menos, e o projeto Escola Sem Homofobia não foi adiante", lamenta.
Esse projeto, criado em 2004 pelo governo federal, tinha intenção de combater a violência e o preconceito contra a população LGBT. Parte da proposta continha uma atualização na formação de educadores, que estariam aptos a tratar questões relacionadas ao gênero e à sexualidade em sala de aula. A pressão de setores conservadores da sociedade causou a retirada de circulação, em 2011, do material da campanha, que ficou conhecido pejorativamente como "kit gay". O governo tratou de suspender a iniciativa, desperdiçando o cerca de R$ 1,9 milhão investido na elaboração dos materiais. "Perdemos uma batalha, mas precisamos continuar a guerra por uma sociedade que valorize as diferenças", acrescenta Souza.
Salvo exceções, o sistema educacional brasileiro não possui projetos ou iniciativas com força suficiente para que o cenário de alienação cidadã possa sofrer alguma alteração no ambiente escolar. "É fundamental que a escola se preocupe com esse tipo de exacerbação dos conflitos. O mais complicado é fazer com que o aluno pense por conta própria", reflete o professor Clóvis de Barros Filho, da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Ele acredita que, sem a implementação de uma nova política pedagógica, voltada para a pluralidade e para o respeito das diversidades, a educação se afasta da formação de cidadãos lúcidos, preparados para o debate e para a aceitação de ideias divergentes às suas.
A utopia da sociedade plural
O cenário de radicalismo social está posto e apresentado a todos. Não é preciso ser um pesquisador ou estudioso para percebê-lo e, mais do que isso, notar o quanto ele é perigoso. A história já mostrou até onde um indivíduo e uma sociedade intolerantes podem chegar. Seja por uma iniciativa individual, seja levado pela massa ou motivado por crenças religiosas, o extremismo é o sintoma mais grave de uma sociedade doente.
A cura não é simples. Ela sequer é certa e definitiva. O tratamento é longo, e os remédios são muitos, sendo a educação, possivelmente, o mais eficiente de todos. O paciente não irá sair da UTI e ir para casa em um estalar de dedos. É preciso ter paciência e perseverança. Recaídas podem ocorrer. Mas é preciso seguir. Desistir não pode ser um verbo conjugado nesse processo. Interesses terão de ser enfrentados; poderes, questionados. O caminho para uma sociedade plural, respeitadora e fomentadora das diferenças é longo e tortuoso.
O escritor uruguaio Eduardo Galeano (1940-2015) contou uma história que sintetiza perfeitamente a necessidade de avançar, a despeito de todas as dificuldades. Participando de uma palestra a estudantes na Colômbia junto com o diretor de cinema argentino Fernando Birri, lhes foi perguntado para que servia a utopia. A resposta poética de Birri foi a seguinte: "a utopia está no horizonte. Eu sei muito bem que não a alcançarei. Se eu caminho dez passos, ela se afasta dez passos. Quanto mais eu buscá-la, menos eu a encontrarei, pois ela vai se afastando na medida em que me aproximo. Então para que serve a utopia? Pois ela serve para isso, para nos fazer caminhar".
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Reportagem:Juliano Tatsch e Susy Scarton 
Arte: Thiago Machado. 
Edição: Daniel Sanes, Juliano Tatsch e Paula Sória Quedi 
Edição Para Internet: Paulo Serpa Antunes.
Fonte:
http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2017/08/cadernos/jornal_da_lei/578423-a-educacao-como-caminho-para-a-tolerancia.html

Bergoglio foi barbeiro de Jorge Luis Borges

 http://www.ihu.unisinos.br/images/ihu/2017/08/29_08_2017_franciscoborgessemana.jpg
 Bergoglio e Borges. A histórica foto entre o então professor e o escritor (Fonte: Semana)

A história da foto do Papa Francisco com Jorge Luis Borgesparece retirada de um conto borgiano. Assim ocorreu este curioso encontro entre dois dos argentinos 
mais importantes da história.

A reportagem é de Cristina Pérez, publicada por Semana, 24-08-2017. A tradução é do Cepat.

É impossível não se assombrar diante da fotografia do encontro entre Jorge Bergoglio e Jorge Luis Borges. Reconstruímos a história da imagem que contém, talvez, o que Borgeschamaria de “a memória do passado e a previsão do futuro, vale dizer, o tempo”.

A imagem, tomada em agosto de 1965, mostra o professor jesuíta Jorge Bergoglio – a quem seus alunos chamavam de Carucha, por sua “cara de bebê” – enquanto acolhe o já renomado Borges, na sala de visitas do Colégio Imaculada Conceição, da província argentina de Santa Fé. Seu rosto, com aspecto gentil, mostra-se comprazido ao dar as boas-vindas ao intelectual que aceitou dar algumas aulas de literatura gauchesca, convidado pelo religioso de 29 anos, que ainda não havia sido ordenado sacerdote.

No meio de ambos, outro professor de letras inclina a cabeça, evitando a câmera. “Eu tenho a cabeça inclinada por discrição. Escuta-me - ressalta -, esta foto faz 50 anos! Bergoglio era o professor de letras naquele momento... não era o papa! Eu não sabia que precisava recordar aquele momento para refrescá-lo tanto tempo depois”, responde Jorge González Manent, que chama a si próprio ‘o terceiro Jorge da foto’, enquanto tenta buscar em sua memória detalhes da única imagem existente conhecida até agora entre estes homens, tomada por um fotógrafo do jornal El Litoral.

A busca dos protagonistas de então nos leva às memórias profundas de alunos do quarto e quinto ano daquela época. Um deles é Rogelio Pfirter, diplomata argentino de vasta trajetória, nomeado em fins de 2015 embaixador do país no Vaticano. “Parece um jogo borgiano do azar se tornar o embaixador de um professor do secundário, que se tornou papa. Essa é uma simbologia que me emociona”, admite Pfirter. “O tempo nos fez andar por diferentes caminhos e nos unir ao final. Ter contado com estes dois homens juntos é uma experiência que meus companheiros e eu levamos gravada como algo excepcional”.

E o excepcional remonta àqueles dias, após o curso ditado por Borges, conforme relata o próprio Bergoglio, já como cardeal de Buenos Aires, ao escrever o prólogo do livro De la edad feliz, no qual outro dos alunos, o hoje jornalista Jorge Milia, evoca essas vivências. “Como exercício literário, pedia a eles para que escrevessem contos. Impressionou-me sua capacidade narrativa. Dos contos escritos, selecionei alguns e Borges os escutou. Ele também ficou impactado e incentivou a publicação. Além disso, quis escrever o prólogo”, recorda Bergoglio, no texto datado em 1º de maio de 2016, que parece dialogar com aquele prólogo de Borges ao introduzir o livro dos alunos, chamado Cuentos originales, que hoje adquire um indubitável tom profético.

“Este prólogo não somente pertence a este livro, mas a cada uma das ainda indefinidas séries possíveis de obras que os jovens aqui congregados podem, no futuro, redigir. É verossímil que algum dos oito escritores, que aqui se iniciam, chegue à fama e, então, os bibliófilos buscarão este breve volume à procura de tal ou qual assinatura, que não me atrevo a profetizar”, escreve Borges, no dia 7 de outubro de 1965.

Entre as joias daquelas lembranças, destaca-se uma anedota desconhecida que, entre sorrisos, Jorge González Manent nos apontou e que apresenta um inimaginável momento de intimidade entre o hoje papa e o escritor: “Lembro-me que íamos buscá-lo no hotel. Um dia, Bergoglio sobe para chamá-lo no quarto e demora mais do que se supõe para ir a um terceiro piso. Quando chegam, dissimuladamente, faço-lhe o gesto de ‘o que aconteceu?’ E, dissimuladamente, Jorge me diz: ‘O velho me pediu que o barbeasse’”. Em algum lugar, é possível que Borges sorri pensando que teve o papa como barbeiro.
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Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/571116-borges-teve-ao-papa-como-barbeiro

terça-feira, 29 de agosto de 2017

Apontado como infiltrado por manifestantes é capitão do Exército

Willian Botelho é militar da área de inteligência e se apresentava no Tinder e no Facebook como Balta Nunes* como na Venezuela... ficam a favor do comunismo,descaradamente !



Apontado como infiltrado num grupo de manifestantes anti-Temer que acabou preso em controversa ação da polícia no domingo, Willian Pina Botelho, que se apresentava nas redes com o nome de Balta Nunes, é capitão do Exército. "Estudamos juntos no Instituto Gammon, em Lavras (MG)", disse a este jornal um conhecido do militar, que não quis se identificar. Segundo ele, Botelho é "sério, estudioso" e iniciou sua carreira no Exército no setor de leilões. Ao menos desde 2013, está no serviço de inteligência do Exército.

Na segunda-feira, EL PAÍS adiantou que Balta, como até então era conhecido, fora apontado como o infiltrado por alguns dos manifestantes detidos e liberados por decisão da Justiça na segunda-feira, que considerou a prisão irregular. Além dos depoimentos, vários elementos do episódio chamaram atenção para ele, como a escolta para local diferente da que o grupo envolvido foi levado e comportamento suspeito nas redes sociais. A repercussão em torno do caso logo chegou a Lavras, onde seus conhecidos não duvidam ao identificá-lo.
Botelho é oficial do Exército, bacharel em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras e mestre em Operações Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais. Em novembro de 2013 publicou um artigo na revista A Lucerna, uma publicação da Escola de Inteligência Militar do Exército. Discorreu sobre A inteligência em apoio às operações no ambiente terroristaSegundo o portal da Transparência, o militar está na ativa desde 1998, o que significa que não se afastou das funções para se infiltrar entre os manifestantes.
Procuradas, as assessorias de imprensa do Exército e da secretaria de Segurança Pública não haviam se manifestado até o fechamento desta reportagem.


Imagem do perfil no Tinder de Wilian Botelho.
Na segunda-feira, EL PAÍS adiantou que Balta, como até então era conhecido, fora apontado como o infiltrado por alguns dos manifestantes detidos e liberados por decisão da Justiça na segunda-feira, que considerou a prisão irregular. Além dos depoimentos, vários elementos do episódio chamaram atenção para ele, como a escolta para local diferente da que o grupo envolvido foi levado e comportamento suspeito nas redes sociais. A repercussão em torno do caso logo chegou a Lavras, onde seus conhecidos não duvidam ao identificá-lo.
Botelho é oficial do Exército, bacharel em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras e mestre em Operações Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais. Em novembro de 2013 publicou um artigo na revista A Lucerna, uma publicação da Escola de Inteligência Militar do Exército. Discorreu sobre A inteligência em apoio às operações no ambiente terroristaSegundo o portal da Transparência, o militar está na ativa desde 1998, o que significa que não se afastou das funções para se infiltrar entre os manifestantes.
Procuradas, as assessorias de imprensa do Exército e da secretaria de Segurança Pública não haviam se manifestado até o fechamento desta reportagem.
De acordo com Bernardo Wahl, especialista em segurança internacional, embora não seja comum, não  seria uma surpresa se o Exército estivesse realizando uma operação de monitoramento de alguns grupos, levando-se em conta os últimos eventos ocorridos no Brasil, como a Copa e a Olimpíada. "O Exército fazer isso não seria uma prática comum", diz. "Em um contexto de manifestações, espera-se que a Polícia Militar tenha um papel de maior protagonismo. Mas num contexto onde os Jogos Olímpicos ocorreram, do aumento da percepção no Brasil sobre a força terrorista, pra mim não é estranho que o exercito atuasse."
Ainda assim, explica Wahl, se comprovada a versão dos manifestantes, para que uma operação dessa ocorresse, seria necessário mandado legal para fazê-la. "Também é preciso saber em que contexto de legalidade seguindo um Estado democrático de direito onde vivemos, essa operação aconteceu".
Wahl não acha que monitorar determinados grupos tenha como finalidade minar as manifestações, embora o especialista não descarte essa possibilidade. "Mas num contexto de levantar informações de grupos que podem ser ameaças como grupos de violência, isso é uma prática que acontece." Ele aponta as ações de adeptos da tática black bloc como possível justificativa para os supostos monitoramentos. Segundo a Lei de Garantia da Lei e da Ordem, de 2013, "indivíduos ou grupo que se utilizam de métodos violentos para a imposição da vontade própria em função da ausência das forças de segurança pública policial" podem ser considerados "agentes de forças oponentes".

Sem antecedentes e Tinder

Vários integrantes do grupo detido acreditam terem sido alvos de uma emboscada e apontam os passos do militar nas redes sociais e no próprio domingo da prisão para corroborar sua versão. Segundo publicou a Ponte Jornalismo, sob o codinome de Balta Nunes, o militar entrou no Tinder, aplicativo de relacionamentos, citando Karl Marx em sua descrição. Dizia para as meninas, de acordo com os depoimentos, que procurava “alguém de esquerda” para se relacionar. Começou a confirmar presença em eventos criados no Facebook que convocavam para as manifestações anti-Temer que ocorreram nas últimas semanas em São Paulo. No último domingo, formou parte de um grupo no WhatsApp chamado 13h Metro Consolação, criado para que as pessoas – que não se conheciam pessoalmente, apenas pelos grupos no Facebook – se encontrassem e fossem juntas ao ato contra Michel Temer na avenida Paulista.
Chegando no metrô Consolação no horário marcado, Balta convenceu o grupo a ir até o Centro Cultural Vergueiro, a alguns quilômetros de onde a manifestação seria realizada. O grupo foi, a pretexto de encontrar outras pessoas lá. Um helicóptero da polícia acompanhou o trajeto inteiro. O grupo de 22 pessoas, incluindo o militar, foi abordado pela Polícia Militar no centro cultural e levado para o Departamento Estadual de Investigações Criminosas (DEIC) posteriormente. O militar, porém, foi o único que não foi levado junto com o grupo.
O grupo de manifestantes que foi detido no domingo, supostamente com a ajuda do militar, não tinha passagem pela polícia, não se assumiu como adepto da tática black bloc e não fazia parte de alguma organização ou partido. "O Brasil como Estado Democrático de Direito não pode legitimar a atuação policial de praticar verdadeira ‘prisão para averiguação’ sob o pretexto de que estudantes reunidos poderiam, eventualmente, praticar atos de violência e vandalismo em manifestação ideológica. Esse tempo, felizmente, já passou”, disse o juiz Paulo Rodrigo Tellini de Aguirre Camargo ao liberá-los na segunda-feira.