Viajar para o Exterior deixou de ser um acontecimento incomum. Na época em que ainda era, lembro que nós, turistas tupiniquins, ficávamos encantados com a quantidade de músicos tocando dentro das estações de metrô, de mímicos atuando em praças públicas, de pintores expondo seu trabalho a céu aberto. Era uma amostra viva do que chamávamos Primeiro Mundo.
A tendência se alastrou, globalizou – hoje acontece em toda parte, inclusive aqui. Mas ainda havia entraves para essas manifestações artísticas se darem de forma plena, por isso é de se comemorar a lei sancionada pela prefeitura que, a partir de agora, dispensa qualquer burocracia para que os sem gravadora, sem editora, sem marchand, sem patrocínio, enfim, os sem contrato possam expor seu talento nas ruas, parques e largos da cidade, afinando a relação da população com sua “casa”.
Infelizmente, quase já não saímos a pé. Os deslocamentos são feitos de carro, ônibus ou táxi, numa ligeireza que limita nossa comunhão com as alamedas, esquinas e recantos do nosso bairro. Focamos no endereço a se direcionar (o restaurante combinado com as amigas, a clínica médica onde temos consulta, o local de uma reunião de trabalho), porém mal observamos o que existe no percurso entre cá e lá. Pressa, medo de assalto, sedentarismo, costume – fatores não faltam para justificar a razão de cruzarmos avenidas sem olhar para os lados, sem considerarmos a cidade como uma área pulsante e que é atrativa por si só, por sua atmosfera, por seu espírito.
Porto Alegre tem poucas atrações turísticas se comparada com outras metrópoles. Não temos cartões-postais significativos, de reconhecimento nacional. É uma cidade básica, com uma festividade acanhada – onde a celebramos? No Brique da Redenção, certamente, que não deixa de ser uma manifestação de rua à sua maneira, assim como as feiras livres. Afora isso, ainda somos muito parcimoniosos.
Por isso, a convocação: poetas, equilibristas, sapateadores, guitarristas, fandangueiros, estátuas vivas, retratistas, declamadores, gaiteiros, violinistas, mágicos, cantores, malabaristas, tradicionalistas, humoristas, percursionistas, invadam esse palco chamado cidade (assim como fizeram os estudantes de artes cênicas que sexta passada realizaram uma performance numa das pontes da Avenida Ipiranga, aliando arte e conscientização ecológica).
A cidade também é uma rede social e interativa. Quanto a nós, que estejamos preparados para retribuir. Como? Parando para assistir, aplaudindo, incentivando, mantendo os vidros dos carros abertos – e a mão aberta também. Sejamos uma plateia atenciosa. Façamos essa troca em prol de uma cidade mais moderna e mais alegre não só no nome, mas de fato.
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