domingo, 29 de julho de 2012

De Diana Corso -" Voyeur de Leituras "

No ônibus, tal era meu empenho em descobrir a identidade do livro que uma moça estava lendo que pegou mal. Num solavanco, quase caí sobre ela. Imagine a posição esdrúxula que a missão requeria. A pobre vítima da ostensiva curiosidade fechou o livro, colocando a mão sobre a capa, e proferiu um ofendido "Com licença!". Apesar da resistência, o nome do livro acabou sendo descoberto: era evangélico. Foi um banho de água fria. Senti como se tivesse sido expulso de uma comunhão imaginária, composta pelos que navegam no mesmo universo de fantasias. As escritas religiosas não me tocam, a empatia com aquela leitura era impossível. Uma tristeza, meus esforços haviam sido inúteis.

Sou capaz de ridículos estratagemas para descobrir qual é o livro que alguém esteja lendo. A capa contém a chave deste mistério, desvela a alma do leitor. Quem lê um livro que conhecemos deixa de ser um desconhecido. Porém, essa curiosidade abusada é uma imperdoável profanação da intimidade.

Meter-se no livro alheio é voyeurismo, do tipo clássico. O mesmo que leva a criança a espiar os pais, ou alimenta a pornografia. O prazer alheio, observado imaginado, revela e ensina, o voyeur viaja na cena, imagina-se parte dela. de forma segura, já que o espião se protege no anonimato. Olhando, aprendemos os caminhos que o desejo almeja percorrer. Da mesma forma, descobrir a obra que alguém lê é participar de sua cena imaginária, de sua fantasia. Não passa de uma devassidão pueril, mas a moça tinha razão de ficar furiosa: è uma desagradável invasão de privacidade. Incontrolável, no meu caso
Um livro pode livrar-nos do ambiente tenso de uma sala de espera ou da imobilidade angustiante de uma viagem.Na cafeteria ,mantém afastados os conversadores indesejáveis.Livro é o antônimo de um cachorro,quem sai à tua com seu animal de estimação tem papo garantido.Ao contrário,leitura é refúgio,defensora da solidão aprazível.Por que então,essa deselegante intromissão na leitura alheia ?


Diana Corso "Vida Simples" Agosto 2012.
  

" As tatuagens" - J.J.Camargo

A tentativa de mudar o aspecto original é milenar, seja por modismo ou inconformidade com a própria figura. E isso desde tempos remotos, quando gerações primitivas praticavam verdadeiras automutilações para lograrem uma imagem que era tão mais festejada quanto mais bizarra e chocante.

A moda da tatuagem atingiu na atualidade tons de obrigatoriedade, como se o não tatuado fosse um ser inferior, sem noção da importância de fazer parte dessa tribo de gosto, no mínimo, duvidoso.

Algumas mulheres, lindas e solenes como devem ser as lindas, batem o ponto com uma florzinha discreta na nuca, só visível quando, cheias de charme, enrolam os cabelos sob a aparente alegação, sempre falsa, de calor no pescoço.

Outras implantam um coraçãozinho colorido na virilha, onde só será visto por quem tenha tanta intimidade que ajude a remover o biquíni.

Até aqui, é pelo menos tolerável. Mais do que isso: é discutível. A propósito, qualquer tatuagem no dorso do pé parece sujeira.

Logo depois desfilam os ingênuos e os imprudentes, que tatuam declarações definitivas ao amor, esse sentimento marcado pela efemeridade. Como manter o entusiasmo sexual do Raul se logo acima do cóccix há uma jura de amor pelo Duda?

E a fé precisa ser assumida com frases nas costas? Desculpe, mas aquela espalda maravilhosamente linda que estava no elevador não merecia o “E livrai-nos de todo o mal. Amém!” Essa devoção estaria bem guardada em algum escaninho secreto da alma.

Claro que todos têm o inviolável direito de dar o destino que lhes agradar a sua própria aparência. Até os que praticam a aberração de tatuar o corpo inteiro, que dá aquele aspecto grotesco e repulsivo, e que desafiam os psiquiatras de plantão a tratar uma falência tão absoluta da autoestima. Não saberia como ajudá-los, e, assim, me limito a assistir, sem compreender.

O que é certo é que todo o tatuado ignora uma verdade absoluta e irrevogável: ele vai envelhecer!

Pensei nisso observando na fila de um banco. Um velho hippie que provavelmente na flor da juventude, lá pelos anos 70, tatuou um jaguar nas costas e uma declaração de amor no peito. Triste ver o bichano acocorado pelo enrugamento da pele. E quando ele se virou, me dei conta que a sua musa vai ter que se contentar com uma mensagem cifrada. Várias letras sumiram nas pregas da velhice. Tomara que a amada ainda seja a mesma – e que tenha boa memória.

Todos Dizem " eu te amo "- Cláudia Laitano *



No tempo em que instantâneo era só o Nescafé, visitar um país pela primeira vez era como... visitar um país pela primeira vez. Novidades tecnológicas eram assimiladas em ritmos diferentes, e o intercâmbio de hábitos e gostos, quando acontecia, processava-se de forma muito mais lenta e irregular. Hoje é possível viajar boa parte do mundo comendo sempre os mesmos sanduíches, frequentando os mesmos shoppings e ouvindo as mesmas músicas nos mesmos aparelhinhos – como se morássemos todos na mesma gigantesca aldeia fofoqueira e previsível.

Eu tinha 19 anos e não conhecia nem São Paulo quando, em 1986, fui passar uma temporada estudando inglês e trabalhando como babá em San Francisco, na Califórnia. Meu saco de espantos transbordou já na primeira semana. Traquitanas que quase ninguém tinha por aqui já eram acessíveis para a classe média de lá (CD player, videocassete, computador...) e havia no ar um último sopro de guerra fria que dava a todos a sensação de que o mundo poderia acabar a qualquer momento – perigo que por aqui nunca tirou o sono de ninguém.

Como babá, meu primeiro estranhamento foi descobrir que as crianças americanas sentavam-se sempre no banco de trás do carro – presas, vejam só, por cintos de segurança. No Brasil, cinto de segurança era aquele negócio que todos os carros tinham e ninguém usava – e crianças não só sentavam no banco da frente do carro como, durante o veraneio, costumavam ocupar também o porta-malas, de preferência dividindo espaço com mais 12 primos.

Outra coisa que me chamava a atenção é que pais e filhos diziam-se “eu te amo” o tempo todo: antes de dormir, na hora de ir para a escola, ao telefone ou mesmo por motivo nenhum. Venho de uma família de origem italiana, barulhenta e afetuosa, e desfrutei de todos os mimos reservados para a única menina da casa, mas não lembro de ter ouvido sequer um “eu te amo” do meu pai ou da minha mãe enquanto eles viveram, nem nos momentos mais sagrados e solenes. Nunca me ocorreu que eles me amassem mais ou menos por isso – provavelmente porque qualquer tipo de amor, e o de pais e filhos mais do que todos, aparece antes em gestos, pequenos cuidados e carinhos do que propriamente nas palavras. O “eu te amo” é um pleonasmo ou não é nada.

Mais de 25 anos se passaram desde aquela minha primeira e inesquecível viagem rumo à idade adulta. Nesse período, usar cinto de segurança e colocar as crianças no banco de trás virou hábito, o videocassete entrou e saiu das casas e até os brasileiros começaram a se preocupar com o fim do mundo (ainda que por outros motivos). Mas uma das mudanças mais sutis de comportamento talvez tenha sido essa de, no intervalo de apenas uma geração, o “eu te amo” ter saltado dos filmes românticos para o dia a dia da maioria das famílias brasileiras. Crianças que passam o dia com babás ou em creches, falando ao celular com a mãe ou o pai no trabalho, são amadas com a urgência da confissão diária – e muitas delas crescem achando que o “eu te amo” é tão banal quanto um “bom-dia” ou um “obrigado”.

É bonitinho e não faz mal a ninguém, e talvez alivie mesmo um pouco a culpa e a saudade dos pais, mas continua valendo o que sempre valeu: o amor que se sente não é necessariamente aquele que se ouve.
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* Jornalista. Escritora. Cronista da ZH

O Menino Que carregava água na peneira,Manoel de Barros


by Jean dos Anjos

Tenho um livro sobre águas e meninos.Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e
sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.
A mãe disse que era o mesmo
que catar espinhos na água.
O mesmo que criar peixes no bolso.

O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces
de uma casa sobre orvalhos.


A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio, do que do cheio.
Falava que vazios são maiores e até infinitos.


Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito,
porque gostava de carregar água na peneira.
Com o tempo descobriu que
escrever seria o mesmo
que carregar água na peneira.


No escrever o menino viu
que era capaz de ser noviça,
monge ou mendigo ao mesmo tempo.
O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.
Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.


O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor.
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta!
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os vazios
com as suas peraltagens,
e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos!

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* Manoel Wenceslau Leite de Barros (Cuiabá, 19 de dezembro de 1916) é um poeta brasileiro do século XX, pertencente, cronologicamente à Geração de 45, mas formalmente ao Modernismo brasileiro, se situando mais próximo das vanguardas européias do início do século e da Poesia Pau-Brasil e da Antropofagia de Oswald de Andrade. Recebeu vários prêmios literários, entre eles, dois Prêmios Jabutis. É o mais aclamado poeta brasileiro da contemporaneidade nos meios literários. Enquanto ainda escrevia, Carlos Drummond de Andrade recusou o epíteto de maior poeta vivo do Brasil em favor de Manoel de Barros [1]. Sua obra mais conhecida é o "Livro sobre Nada" de 1996.

sábado, 28 de julho de 2012

Sustento Feminino, de Martha Medeiros


Participando de um seminário sobre comportamento, foi dito que as mulheres estão de tal forma cansadas de suas múltiplas tarefas e do esforço para manter a independência que começam a ratear: andam sonhando de novo com um provedor, um homem que as sustente financeiramente.

Não acreditei. Outro dia discuti com uma amiga porque duvidei quando ela disse estar percebendo a mesma coisa, que as mulheres estão selecionando seus parceiros pelo poder aquisitivo não só as maduras e pragmáticas, mas também as adolescentes, que ainda deveriam cultivar algum romantismo.

Então é verdade? Pois me parece um retrocesso. A independência nos torna disponíveis para viver a vida da forma que sonhamos, sem ter que “negociar” nossa felicidade com ninguém, e são poucos os casos em que se pode ser independente sem ter a própria fonte de renda (que não precisa obrigatoriamente ser igual ou superior a do marido). Não é nenhum pecado o homem pagar uma viagem, dar presentes, segurar as pontas em despesas maiores, caso ele ganhe mais – é distribuição de renda.

Mas se é ela que ganha mais, a madame também pode assumir o posto de provedora sênior, até que as coisas se equalizem. Parceria é uma relação bilateral. É importante que ambos sejam autossuficientes para que não haja distorções sobre o que significa “amor” com aspas e amor sem aspas.

As mulheres precisam muito dos homens, mas por razões mais profundas. Estamos realmente com sobrecarga de funções – pressão auto-imposta, diga-se –, o que faz com que percamos nossa conexão com a feminilidade: para ser mulher não basta usar saia e pintar as unhas, essa é a parte fácil.

A questão é ancestral: temos, sim, necessidade de um olhar protetor e amoroso, de um parceiro que nos deseje por nossa delicadeza, nossa sensualidade, nosso mistério. O homem nos confirma como mulher, e nós a eles. Essa é a verdadeira troca, que está difícil de acontecer porque viramos generais da banda sem direito a vacilações, e eles, assustados com essa senhora que fala grosso, acabam por se infantilizar ainda mais.

Podemos ser independentes e ternas, independentes e fêmeas – não há contradição. Estamos mais solitárias porque queremos ter a última palavra em tudo, ser nota 10 em tudo, a superpoderosa que não delega, não ouve ninguém e que está ficando biruta sem perceber.

Garotas, não desistam da sua independência. Façam o que estiver ao seu alcance, seja através do trabalho ou do estudo, em busca de realização e amor próprio. Escolher parceiros pelo saldo bancário é triste e antigo, os tempos são outros. É plausível que se procure alguém com o mesmo nível intelectual e social, com um projeto de vida parecido e com potencial de crescimento – mas para crescerem juntos, não para garantir um tutor.

A solidão, como contingência da vida, não é trágica, podemos dar conta de nós mesmas. Mas, ainda que eu pareça obsoleta, ainda acredito que se sentir amada é que nos sustenta de fato.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

A arte de viver- você a conhece?com Paulo Ghiraldelli Jr


O filósofo italiano Giorgio Agamben escreve: “a arte de viver é (…) a capacidade de nos mantermos numa relação harmoniosa com aquilo que nos escapa”.[1] À primeira vista, trata-se de uma fórmula enigmática. Mas não é. Agamben explica que o conhecimento parece ter necessidade de um pressuposto, que é a existência de um campo no qual reina o que não é conhecido, um centro do qual emana a ignorância. Sem esse lugar da ignorância, como poderíamos falar de um espaço preenchido de conhecimento. O conhecimento então é conhecimento do conhecido e concomitantemente um saber do que se pode pressupor como existente, embora um campo cheio do que nada sabemos ou ainda não sabemos.
Ah! Mas como é difícil rapidamente deixar a harmonia de lado e acreditar que o campo do conhecimento, sozinho, é o que importa, e o que nos escapa é algo de menos valor. Podemos escapar disso e encontrar a harmonia entre ambos os campos, em favor da “arte de viver” de Agamben?
Na história da filosofia a relação entre Platão e Sócrates faz-me entender Agamben, mesmo que por uma via não indicada por ele.
Sócrates passou uma vida fazendo questões que não foram respondidas. As respostas, como não vinham, alimentavam o campo da ignorância. Ele perguntava, por exemplo, “o que é a coragem?”, e o que se pedia não vinha. Os interlocutores davam exemplos, relatando atos corajosos. Falam historicamente e não filosoficamente. A “natureza mesma da coragem”, pedida por Sócrates literalmente, definia um campo de ignorância. Poder-se-ia saber muitas coisas e ter como alguma coisa conhecida à medida que se soubesse o que era não saber alguma coisa, por exemplo, não saber o que é a coragem. Ora, talvez temeroso de ver seu mestre igualado aos sofistas pela consciência popular, em determinado momento Platão quis romper com esse limite de Sócrates. Em uma dada altura de seus escritos quis um Sócrates que dissesse que a coragem era a Coragem, a forma Coragem, o eidos existente em um campo que já não era o da ignorância, mas o campo em que a forma Coragem sempre compartilhou com as outras formas – matrizes epistemológicas e ontológicas supra-sensíveis do existente no mundo sensível.
Platão quebrou com a harmonia necessária à “arte de viver”. Platão destituiu de seu status relativamente igualitário o campo do qual emanava a ignorância, transformando-o em um lugar de fonte do saber real, justamente o lugar em que, o que não se poderia ter mesmo era um tiquinho de produção de ignorância. A ignorância, então, ganhou o caráter de falta, carência, defeito ou mesmo produto do erro ou da ilusão – a opinião, então oposta ao conhecimento.
Enquanto Sócrates reinou em Atenas, o erro não era uma falta em si (ainda que o desconhecimento intelectual fosse responsável pela falta moral), mas a indicação de que de um lado havia o conhecimento e de outro um campo em relação aos quais vários emudeciam, o campo produtor da ignorância. A “arte do viver” era equilibrar-se entre saber e não saber. Sócrates não separava filosofia e vida, ou seja, ele inquiria todos procurando o saber que viria das respostas, isso era sua arte de viver e seu filosofar. Era o todo de sua vida. Sócrates nunca disse que só sabia que nada sabia. Ele disse que em relação às perguntas que fazia, ele não sabia a resposta. Mas sabia muito bem o que não sabia, então, sabia algo: sabia o tanto que era necessário para continuar a perguntar, a filosofar, a exercer a “arte do viver”. Ele tinha uma relação altamente inquietante entre saber e não-saber, mas jamais uma relação não harmoniosa.
Sócrates era pobre, feio e plebeu, no entanto, espalhava harmonia em sua “arte de viver”. Platão era rico, nobre e belo, mas, durante um tempo, não conseguiu viver harmoniosamente e, segundo o que se pode inferir de alguns historiadores helenistas e filósofos (de certo modo, a tese Vlastos-Davidson à frente), ao final da vida se arrependeu e tentou voltar a ser socrático.[2] Tentou voltar a acreditar que manter-se com o elenkhós, o método da refutação, e suportar as aporias, não era um negócio ruim, ao contrário, era bom à medida que era o possível dentro de uma razoável “arte de viver”. Arrisco dizer que Platão chegou a perceber que aí cabia uma harmonia que ele havia perdido ou havia desprezado. Ao fim e ao cabo, Platão teria, ao final da vida, abandonado o platonismo, se tomamos este como a confiança no Mundo da Formas como mecanismo para dar respostas às perguntas socráticas. Uma vez mais velho, ele teria, então, se voltado para a retomada de diálogos problematizadores e refutadores, até de si mesmo.
A “arte de viver”, no lema de Agamben, não é aceitar a ignorância. Longe dele a resignação do tipo “há ali um campo misterioso” e inexpugnável que deve ser idolatrado ou mistificado. A “arte de viver” não é isso, pois a harmonia de duas coisas não é simplesmente o aceitar de uma ou das duas. Harmonia é ter certo que dois campos podem se relacionar e devem se relacionar sem que um elimine o outro com bofetadas ou até mesmo com beijos sedutores ou o subsuma com discursos laudatórios. Sócrates não voltava para casa contente por não ter obtido respostas ao que perguntava, dizendo então que o campo da ignorância havia sido aceito. Ele voltava para casa contente, às vezes, quando via que ao não ter conseguido resposta, também não havia perdido as respostas que já possuía e nem se via impedido de colocar as mesmas perguntas, ou semelhantes, novamente.
Hannah Arendt nos lembra da necessidade que Sócrates sempre teve de concordar com aquele que vivia consigo, lá na sua casa. Este “aquele” nada seria senão alguém que nós, do nosso ponto de vista moderno, dizemos que seria ele próprio, Sócrates. O problema que Sócrates se punha era o da impossibilidade de viver com alguém, ele próprio, que não concordava com o que ele pensava e fazia. Manter-se assim, de modo possível e harmonioso no “dois em um”[3], era uma forma de harmonia e, de certo modo, de exercer uma boa “arte de viver”. O “dois em um” aparecia nos momentos em que o diálogo já não era com alguém exterior, mas aquilo que Platão chamava de uma “conversa silenciosa” interior à alma. Nesse sentido, Sócrates dizia mais ou menos assim: o que sei é, então, o que procuro refutar em mim para ver se sei mesmo e para me certificar que se sustenta como crença, ou se, diante de mecanismos de negação, vão me escapar. Essa é a regra da atividade do “dois em um”. Não posso falhar nisso, porque o que sei e acredito não pode ser desprezado como mera opinião, uma vez que moral é conhecimento. Quando não sei, erro, e erro moralmente; ora, como conviver com alguém, em nossa própria casa (nossa alma), que comete erros que não suportamos. Dormir sob o mesmo teto, por exemplo, com um assassino, não é algo bem incômodo?
Talvez essa atividade tão corriqueira que nos é exigida por estarmos vivos seja uma das mais difíceis: ter uma “arte de viver”. Como ter uma “arte de viver” e exercê-la se isso depende cotidianamente de mantermos os campos do saber e da ignorância sem que um colonize o outro? Fazer isso pressupõe não tomarmos o conhecimento como rei absoluto e absolutista e o não-conhecimento como pobre e pecador. O não saber não é plebeu, alguém pobre que, não raro, vai acabar fazendo alguma oposição ao rei ou à ordem (o que dá no mesmo) e, então, ser decapitado. O não saber não é pecador, alguém insensato que vai errar sabendo que assim o rei o punirá com a pena de morte e a própria sociedade salgará suas terras e amaldiçoará sua família até sei lá quantas gerações. Nada disso! O campo do não-saber pode muito bem ser apenas pressuposto para que o campo do saber seja o campo do saber. Uma educação baseada nesse tipo de ética ou de “arte do viver” pararia de fazer a apologia do acerto pelo acerto nas salas de aula, mas o tomaria, de modo melhor, como o que só tem sua existência pelo não-acerto, o erro, o desconhecimento, o que nos escapa.
Se a sala de aula quer ter alguma coisa a ver com a vida, no sentido da vida que quem a vive é quem precisa de uma “arte do viver”, ela tem de dar um estatuto ao não saber, ao que nos escapa, ao erro inclusive.
 
 Ghiraldelli Jr., filósofo, escritor e professor da UFRRJ.

 

 

 

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Sobre a paranóia nossa de cada dia,de Diana Corso

Sobre a paranóia nossa de cada dia, essa que nos cega para a solidariedade e os bons encontros!

Um sujeito dirige de madrugada por uma estrada erma quando descobre que está com o pneu furado. Pior, está sem macaco. Desesperado, enxerga uma luz ao longe. Deve ser uma casa, pode pedir ajuda. Começa a caminhada rumo à salvação, quando lhe ocorre que o julgarão inconveniente por acordá-los àquela hora, sendo um estranho e pedindo um macaco. Talvez atirem pensando ser um ladrão. Pode estar interrompendo um casal que namora e irão odiá-lo. Segue seu rumo imaginando cenários terríveis e que irão lhe negar o pedido, mas mesmo assim bate na porta. Quando ela se abre, nosso viajante já está furioso com os moradores e convicto que irão maltratá-lo. A primeira coisa que ele diz é: “Quer saber de uma coisa, pegue esse seu macaco e enfia…..!”.
Esta é uma anedota antiga, mas muito bem nos ilustra. Quantas vezes ocorre estarmos precisando de uma mão amiga e supomos antecipadamente que nos será negada. Ao invés de pedir ajuda, agredimos a quem nos quer bem, mal interpretamos seus atos, convictos de que traduzem rejeição ou má vontade.
Quando infelizes, olhamos tudo e todos com as lentes do mau humor e do ressentimento. Alguém deve ser culpado pela tristeza que sentimos. Sem perceber, odiamos todo mundo. Por que, então, não haveriam eles de sentir o mesmo em relação a nós? Melhor ainda, preferimos pensar que são os outros que odeiam. Aos próprios olhos, somos anjos que só querem o bem do próximo. Atribuir seus sentimentos ao outro é uma “projeção” – sentir que vem de fora o que está dentro – é assim que os psicanalistas chamam esse mecanismo. Considerar-se alvo de intenções ruins por parte dos outros não deixa de ser uma paranóia, forma da loucura que se serve fartamente da projeção.
Paranóico é o sujeito que acha que o mundo conspira contra ele. Nessa visão delirante, tudo gira em torno de si. Ele possui a certeza de ser o umbigo do universo. Alguém tão importante só pode ser a reencarnação de Jesus, John Lennon, Joana D’Arc ou Napoleão, conforme o gosto do freguês e o momento histórico. Dizemos que ele tem delírio de perseguição, pois de fato trata-se de alguém sempre alerta, que precisa ficar esperto para não sucumbir.
Mais triste é dar-se conta da paranóia cotidiana entre aqueles ditos normais. Na maior parte do tempo os outros não querem nosso mal, tampouco nosso bem, simplesmente estão ocupados com outra coisa que não nossa digníssima pessoa. Os outros são como os moradores sonolentos daquela casa, até abrir a porta e escutar o que queremos, não estão nem aí para nós. Mas, uma vez informados dos nossos pedidos, necessidades e queixas, em geral há em volta gente boa com quem contar.

" Para os que ficam..., de Cláudia Tajes


Alguém me falou de uma senhora que costumava usar as melhores louças, cozinhar os melhores pratos e servir os melhores doces não para as visitas, mas para a própria família. As visitas eram sempre muito bem tratadas pela anfitriã, mas a nata ficava reservada para os moradores da casa.

Sempre lembro disso quando ouço os candidatos à prefeitura projetando uma Porto Alegre mais moderna e mais eficiente para receber a Copa. O trânsito, a saúde, as comunicações, a segurança, os transportes, o atendimento ao público, a infraestrutura inteirinha, tudo será diferente quando a Copa chegar. Nesses dois anos que ainda faltam, parece que resta aos nativos esperar pela cidade ideal que os visitantes ganharão de presente. Se a senhora aquela que priorizava os moradores concorresse à prefeita, era nela que eu iria votar.

Para quem nasce em Porto Alegre, o bairrismo não é um risco, é um carma. O que mais explicaria a gente considerar que tudo aqui é o máximo, mesmo quando não é? Nosso eterno pôr do sol mais bonito do planeta conta até com argumentação científica, algo a ver com a angulação dos raios, as partículas de poeira, a água do Guaíba – tem que ser a água do Guaíba para se conseguir o efeito – e outras felizes conjunções. Não encontrei no Google a tese que um dia li sobre isso.

Em compensação, achei vários xingamentos de outros povos, todos brasileiros, inconformados por apregoarmos como maior atração algo que não foi feito por nós. Como se fosse culpa nossa vir ao mundo em condições quase ideais. Pessoalmente, não sou muito bairrista, mas ando sentimental. Pela primeira vez na vida, vou passar um tempo fora, enxergar Porto Alegre pelos relatos alheios e pelas notícias na internet.

Estudando e trabalhando de longe, sei que vai dar saudade até do que não é bom, menos da minha operadora de celular. Os amigos prometeram não esquecer, os chefes prometeram guardar o lugar, o Sarau Elétrico prometeu não me substituir, o namorado prometeu visitar, o editor prometeu publicar e tomara que os leitores não desistam de ler, porque, daqui a pouco, eu volto. Talvez não muito melhor, como a Porto Alegre do futuro. Mas um pouquinho menos pior.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

de Martha Medeiros," Os Solitários "...


Mateus Meira, que disparou contra a plateia de um cinema de São Paulo, em 1999, era um cara sem amigos, não frequentava grupos. Wellington Moreira, que matou alunos de um colégio em Realengo, não tinha namorada e quase nunca saía de casa. Anders Breivik, o norueguês que matou 77 jovens na Ilha de Utoya, só se relacionava com alguns poucos fanáticos como ele, pela internet. James Holmes, que semana passada matou 12 pessoas durante a exibição do novo filme do Batman, nos Estados Unidos, era considerado um sujeito recluso.
Não significa que cada garoto trancado em seu quarto vá amanhã ter seu dia de psicopata, mas coincidência não é. Estudos revelam que grande parte dos que cometem essas atrocidades são depressivos e, por consequência, se isolam da sociedade. Muitos não buscam tratamento, consideram-se apenas “na deles”.
E os pais acabam por respeitar seu jeito de ser. E os colegas não os chamam para as festas. E as garotas os rejeitam e namoram meninos mais populares. Apartados de todos, eles vão se confinando num cativeiro mental e social, passando a levar mais em conta a fantasia do que a realidade. Mas sofrem com a exclusão, ou não desenvolveriam uma personalidade tão vingadora.
Não se mata para brincar. Quem atira está atirando em inimigos imaginários, oriundos da conhecida “oficina do diabo”.

São tragédias de exceção, não acontecem todo dia, mas há solitários que, em grau bem menor de maluquice, também se transferem para universos paralelos e alimentam ideias absurdas que, por não serem discutidas com amigos e parentes, acabam fermentando e levando a desastres. No máximo, buscam na internet pessoas tão isoladas quanto eles, que confirmam suas sandices.

Se discutissem com quem realmente os conhece, com quem os ama, seriam questionados e viveriam a experiência da troca de ideias e da orientação. Mas sozinhos, entre quatro paredes, correm atrás da veneração garantida de outros outsiders.

Sempre que um filho nosso está com algum problema (ou sofrendo porque uma garota não quis sentar a seu lado na aula, ou com notas baixas, ou com espinhas, sei lá), é preciso se perguntar: ele tem amigos? Ele é convidado para aniversários, viagens, churrascos, jogos esportivos? Ou ele é um esquisitão que não quer saber de ninguém e ninguém dele? Porque se ele tem amigos de fato, os problemas provavelmente são típicos da idade, e não sintomas de uma desadaptação crônica.

Ter um ídolo não é ter um amigo. Conhecidos virtuais tampouco formam uma turma de amigos. Dizer “oi, tudo bom?” é só um cumprimento. Relacionar-se é outra coisa: exige tempo, dedicação e abertura para conviver com pessoas variadas e diversas, o que ajuda a formar uma identidade saudável.

Quem não se relaciona com os outros, pensa que se basta sozinho, mas não se basta: dentro da cabeça, dá trela a seus demônios, os únicos a quem escuta.
os solitários...

Culpa do Homer,de José Pedro Goulart


Na TV Globo, Pedro Cardoso reclama da perseguição dos paparazzi aos artistas que, como ele, não deveriam ser alvo da curiosidade, “afinal são iguais aos outros, apenas com um ofício público”. Pedro elege o satã: o empresário que compra o material e depois o dispara em sites e revistas, pondo fogo no circo das notícias bizarras.

O fotógrafo, segundo ele, é somente alguém que faz o trabalho sujo. Ao lado de Pedro, no mesmo programa, um paparazzo diz que “a situação vai piorar”, pois esse é um mercado em expansão no mundo todo: o público “quer”, os “artistas”estimulam. Nem todos são discretos como Pedro Cardoso.

Há algum tempo, William Bonner disse que, quando pensa na edição do Jornal Nacional, procura fazer a cabeça do Homer (Simpson), o cara que, segundo ele, simboliza o cidadão médio. Segundo Bonner, não adianta sofisticar as matérias, o Homer não iria entender, o que terminaria em rejeição.

O sucesso de Os Simpsons – há mais de 20 anos em cartaz – não é porque o desenho se posiciona contra o sistema, ou emite uma lenga-lenga crítica contra a sociedade – embora pareça, e muito, que é isso que a série faz. A sacada mordaz dos realizadores é a de justamente mostrar como vive um sujeito comum; tirar dele qualquer pretensão ou culpa (culpa e pretensão são sinônimos) e devolvê-lo enredado por questões cotidianas as quais todos conhecemos. Homer Simpson é um simpático idiota.

O Woody Allen, neste filme que se passa em Roma, traz um personagem comum, um Homer, que subitamente é incensado à celebridade. Isso acontece do nada, como do nada a fama desaparece, sem explicação.

A gente ri, claro. Mas, assim como do Homer, rimos pela distância que acreditamos estar. Embora não seja bem assim. Poucos resistem à fama – dar opinião no que não entendem, tentar ser visto como importante, postar no Facebook frases ou citações de livros que nunca foram lidos, exibir fotos da família como se fosse um elenco, mostrar o que se come, se bebe, se consome. Somos os paparazzi da nossa própria vida, exibindo-nos compulsivamente.

Ainda sobre a entrevista do Pedro Cardoso, o paparazzo acaba revelando que o maior cliente das fotos, que bate espiando artistas contra a vontade, é o portal Globo.com, das Organizações Globo, em cuja emissora de TV o ator trabalha. A resposta causou um certo desconforto nos dois Pedros, o Cardoso, e o Bial, que conduzia a entrevista.

Vale destacar que a entrevista continuou e, mesmo não sendo ao vivo, mas gravada, foi exibida. O sistema dita as regras, produz e reproduz. E as regras são claras, vale até falar mal de si de vez em quando, desde que, no final, tudo permaneça como está. A gostosa pagando calcinha, uma declaração ordinária mas picante em destaque, o Pedro na novela. E o Homer no sofá.

terça-feira, 24 de julho de 2012

filosofia budista,seu sentido e significado,prof.Michel Aires de Souza


Farei uma reflexão sobre o budismo inspirada no texto “Simbolismo Budista” de Daisetz Suzuki ao interpretar um haiku (haikai) de Basho. Basho é um dos grandes poetas haiku do Japão setecentista, ele produziu este poema guando “seus olhos se abriram pela primeira vez para o significado poético e filosófico de haiku” (Suzuki, 1980, p. 56).
Oh, velho tanque!
Uma rã salta para dentro
O som da água!

O que pensava o velho Basho? Basho teve uma experiência filosófica, de espanto e perplexidade, uma experiência que está na raiz de todas as grandes filosofias. A partir de minha própria experiência explicarei a intuição de Basho e tentarei expor qual o sentido e significado do budismo.
Estava eu num paraíso natural, em plena serra do mar, numa praia deserta. Havia ali um tanque de água formando uma piscina natural. Estava sentado numa pedra absorvido pela beleza daquele ambiente. O sol penetrava entre as árvores, a beleza de tudo era uma promessa de felicidade. Estava tão absorvido, que me sentia como o próprio tanque ou como uma daquelas pedras submersas na água. A água era tão límpida e imperturbada, o ambiente era tão calmo e silencioso, que eu me esqueci de mim mesmo. De repente um peixe pula na superfície da água. O pulo do peixe criou uma série de pequenas ondas em formas de círculos concêntricos. Ele produziu um ruído leve. Num ambiente calmo e silencioso, o ruído mesmo tênue, fez-me despertar de minha meditação. Eu não pensava em nada de tão absorvido que estava no tanque bordejante de arbustos e plantas aquáticas. A vida parecia inexistente naquele ambiente. Foi preciso um ruído de um peixe para mostrar que ali havia dinamismo, força, movimento, vida. O tanque d’água passou a ter interesse, vitalismo, valor. Senti espanto diante de tudo aquilo. O meu espanto foi existencial, percebi que realmente existo.
Quando o peixe pulou do tanque, foi o momento de intuição intelectual, de percepção suprema de que a vida existe e de que eu existo. Antes eu estava tão absorvido pela contemplação, que não existia diferença entre mim e aquele ambiente, eu era o tanque e o tanque era eu. Existia uma identificação entre mim e o tanque. Quando despertei do meu torpor, o tanque passou a ter realidade, dinamismo. Aí estava todo seu valor. Antes disso não existia nada, não existia um mundo objetivo. Foi no momento em que eu escutei o ruído do peixe que as coisas passaram a ter um significado. A realidade não tinha existência até aquele momento. O peixe pulou da água e o mundo surgiu do Nada – ex nihilo. É o sentimento de exaltação espiritual. O mundo existe! É um milagre!
Basho teve essa mesma experiência. Sentiu perplexidade diante da existência. Foi o momento do despertar, ele se assustou e exclamou - Oh, velho tanque! A experiência de Basho é filosófica, pois ele sentiu espanto, perplexidade, se maravilhou com a possibilidade de algo existir. É esse sentimento que está na raiz de toda filosofia.
Segundo Daisetz Suzuki, a filosofia budista nos ensina que tudo é um. Eu o tanque, as plantas aquáticas, as árvores, a luz do sol, o peixe, somos um. O todo em um, o um no todo. Quando eu olhei o peixe no tanque, eu era o peixe e também o tanque. O peixe e o tanque era eu. Mas eu permaneci sendo eu, o peixe o peixe, o tanque o tanque, as árvores as árvores. Mas todos nós somos uma totalidade absoluta, uma identidade. O universo inteiro está naquele tanque, ele representa a totalidade infinita das coisas. Na filosofia budista nada existe além do tanque d”água, ele é completo em si mesmo. Ele é toda a realidade cósmica.

"O sofrimento surge, portanto dos desejos,
afetos e paixões num mundo inconstante
e instável. Por se apegar
aos objetos do mundo,
sendo estes contingentes e
impermanentes, o homem só
experimenta o sofrimento
(Dukka)."

Suzuki explica-nos que para a filosofia budista ser é significar. Tudo o que existe é um símbolo. “O simbolismo budista declararia, portanto, que tudo é simbólico, comporta uma significação em si, tem valores próprios, existe por direito próprio e não aponta para qualquer outra realidade senão a que é intrínseca a cada coisa” (Suzuki, 1980, p. 60). O peixe, o tanque, as árvores e eu somos um símbolo. Tudo que existe têm um significado. Tudo é, porque existe em si mesmo, tem valor em si mesmo e não aponta para uma realidade diferente, não existe nada fora da própria realidade. As coisas não existem por causa de Deus. Não existe uma realidade diferente das coisas.
A filosofia budista não é uma religião, nem um sistema ético, não é uma crença ou uma adoração, ela é antes de tudo uma prática voltada para a interioridade humana. É uma prática de autoconhecimento que busca a libertação. Mas libertação do quê? Libertação do sofrimento. O sentido mais próximo e imediato da vida é o sofrimento, pois compreender a vida em sua totalidade é compreendê-la em meio dor. O filósofo Arthur Schopenhauer, influenciado pelo budismo, compreendeu muito bem essa verdade. Segundo ele, “se o sentido mais próximo e imediato de nossa vida não é o sofrimento, nossa existência é o maior contra-senso do mundo. Pois constitui um absurdo supor que a dor infinita, originária da necessidade essencial à vida, de que o mundo está pleno, é sem sentido e puramente acidental. Nossa receptividade para a dor é quase infinita, aquela para o prazer possui limites estreitos. Embora toda infelicidade individual apareça como exceção, a infelicidade em geral constitui a regra” (Schopenhauer, 1974, p.122).
O budismo é, portanto, o caminho para a libertação da dor inerente ao mundo, pois ela desperta o indivíduo para o conhecimento da verdadeira natureza dos seres e das coisas. O budismo nos leva a ver a realidade como ela é, e não como parece ser. No universo não há nada permanente, o mundo é contingência, com isso o homem experimenta uma realidade inconstante que lhe traz inquietação (Dukka). Da mesma forma, não existe Eu, não existe uma natureza humana acabada, fixa, permanente. O que existe de fato são sensações, percepções e memória. Eu tenho a experiência de que tenho um corpo, um cérebro, que sinto esse talher, sinto certas texturas, tenho a intuição do amarelo, azul, branco, vejo o horizonte. Tenho muitas impressões, eu vivencio muitas coisas, tenho a impressão de minhas mãos, meu pés, meu coração, mas quando procuro analisar meu eu, não o encontro. Sou levado a concluir que não há nenhuma vivência que me demonstre ser o eu. O eu não corresponde a nenhuma impressão. O eu parece ser uma ficção.
Para o budismo o eu é uma ilusão da nossa consciência. A consciência nos possibilita a idéia de um mundo permanente, estável, onde ele possa prever o curso das coisas e dos acontecimentos. Para que isso seja possível o homem cria através da linguagem palavras para se comunicar, dando permanência, existência e realidade a coisas que não existem: Eu, Alma, Deus, Essência, Mal, Bem. Nada disso existe. O mundo é como é. O homem usa palavras procurando dar sentido ao mundo. Para o budismo não existe Ser, o mundo é vir-a-ser. A noção de Ser é a pedra angular que deu origem ao pensamento filosófico ocidental. Para o budismo este é um falso problema. O que existe de fato é a impermanência de todas as coisas. Buda nos ensinou que “a natureza de todo o fenômeno, de toda aparência, é semelhante ao reflexo da lua na água”.
Num mundo onde tudo é impermanente, onde o Eu é uma ficção da nossa consciência, não podemos nos apegar a nada. A maioria dos homens buscam engrandecer o “Eu” buscando a fama, a glória, o dinheiro, os prazeres e não percebem que o motivo de seus sofrimentos está nessa inquietação. O sofrimento surge, portanto dos desejos, afetos e paixões num mundo inconstante e instável. Por se apegar aos objetos do mundo, sendo estes contingentes e impermanentes, o homem só experimenta o sofrimento (Dukka). Dessa forma, é só pela libertação dos desejos e paixões, ou seja pelo desapego, que atingimos a libertação, a paz, a quietude. É o que Buda entende por Nirvana. A palavra Nirvana só pode ser compreendida intuitivamente, como quase tudo no budismo. Se apegar a conceitos é uma característica do mundo ocidental, algo que é um grave erro, uma vez que os conceitos servem para dar permanência a algo impermanente. Os orientais são mais intuitivos, mais poéticos, souberam captar melhor o devir de todas as coisas. Se tivermos que necessariamente dar uma definição para a palavra Nirvana, devemos dizer que é a felicidade, a liberdade e a quietude.
Para o budismo, portanto, conhecer significa compreender que tudo no universo está conectado, que o “eu”, nem os fenômenos possui qualquer autonomia, que tudo é interdependente, tudo é impermanente. O universo com seu espaços infinitos é um vazio eterno, assim como toda realidade. O mundo não tem um sentido, todo sentido está no homem, somente ele pode colocar sentido nas coisas. Como afirmou buda “somos o que pensamos. Tudo o que somos surge com nossos pensamentos. Com nossos pensamentos, fazemos o nosso mundo”.

Bibliografia
SCHOPENHAUER, Arthur. Parerga e Paraliponema. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1974.
SUZUKI, Daisets T. Simbolismo Budista. In: Revolução na Comunicação, Org. Edmund Carpenter e Marshall Mcluham, Rio de Janeiro: Zahar, 1980, p. 56-63.
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* Professor.
Fonte: http://filosofonet.wordpress.com/author/filosofonet/

... como gastamos para comprar a felicidade?

                                            Como gastamos para comprar a felicidade

Você prefere gastar US$ 1.800 em um vestido Prada ou em um fim de semana na Itália? Se você escolheu o vestido, é provável que seja menos feliz e menos ousada do que uma pessoa que gastaria esse dinheiro em comida, viagens e outras experiências.
Um estudo recente da Universidade Estadual de San Francisco examinou o tipo de personalidade e os hábitos de compras de quase 100 mil pessoas e calculou que cerca de seis em cada dez gastadores "experienciais" tinham satisfação geral na vida, contra cerca de quatro em cada dez gastadores "materiais", relatou o "Times". Os gastadores experienciais também tendiam a se dar melhor com os outros e sentir menos ansiedade em situações sociais.
"As tendências típicas de gastos -comprar mais e para nós mesmos- são ineficazes para transformar dinheiro em felicidade", escreveram no "Times" Elizabeth Dunn e Michael Norton, autores do livro "Happy Money: The Science of Spending" ["Dinheiro Feliz: a Ciência do Gastar"]. "Se você insiste em gastar dinheiro consigo mesmo, deveria passar de comprar coisas (TVs e carros) para experiências (viagens e saídas especiais à noite)."
A "experiência" pode ser o que mais recompensa, mas ainda vamos querer nossas "coisas". Apenas esperamos mais delas.
Sempre houve artigos de luxo nas casas de leilões Christie's e Sotheby's. Mas aparentemente as obras-primas não são mais suficientes para atrair os compradores, por isso comida e bebida tornaram-se centrais para a experiência. Antes de um leilão de obras-primas italianas de Fra Bartolommeo e Simone Martini, a Sotheby's serviu "guanciale in vinaigrette" importado. E para uma prévia da venda de "O Grito", de Edvard Munch, houve um "smorgasbord" -banquete de especialidades norueguesa.
"Não se pode mais ter uma tigela com castanhas na mesa -tem de ser comida de primeira classe", disse Lydia Fenet, vice-presidente sênior da Christie's. "As pessoas querem o que é novo e diferente."
A Christie's gastou mais de US$ 1 milhão em comida e vinho em Nova York no ano passado, relatou o "Times". Ela importou chefs como Thomas Keller e Mario Batali para cozinhar em ocasiões especiais. A Sotheby's, que disse que teve gastos semelhantes, convidou Daniel Boulud e Nobu Matsuhisa, segundo o "Times".
"Comida e bebida transformam o leilão em um evento, e não apenas uma venda", disse ao "Times" Arlan Ettinger, da casa de leilões Guernsey's em Nova York.
Hoje, esperamos que tudo seja um "evento" quando gastamos dinheiro, mesmo que seja apenas em uma cadeira. Não é mais suficiente que nossos móveis sejam funcionais e bonitos; também devem ser emocionalmente satisfatórios. A cadeira Hosu desenhada por Patricia Urquiola para a Coalesse é amarelo-vivo e fica perto do chão. Ela evoluiu de uma pesquisa que descobriu que quando as pessoas entram em comunhão com seus dispositivos digitais portáteis gostam de se reclinar perto do chão, relatou o "Times". Urquiola descreveu a Hosu, que custa a partir de US$ 2 mil, como "um pequeno ninho". A ergonomia não é uma experiência, mas uma "zona de conforto" é.
Às vezes, são as menores coisas, objetos sem valor, que podem ter o maior impacto. O escritor e analista de marcas Joshua Glenn colecionou objetos de mercados de pulgas e lojas de pechinchas e pediu que escritores como Luc Sante e Curtis Sittenfeld criassem contos ao redor deles. Suas narrativas agregaram valor a objetos insignificantes, e alguns foram vendidos por até 2.700% de seu valor no eBay.
Molly Peck, uma artista de Nova York, gastou mais de US$ 100 em um bonequinho, um botão, um grampo de cabelo e uma bandeja gaúcha, todas com histórias adicionadas. Ela acabou dando essas coisas de presente. "Mas eu tenho a memória da experiência", disse ela. "É isso que importa. Em vez de comprar coisas, você compra uma série de eventos intangíveis." ANITA PATIL-------------------
Fonte: Folha on line, 23/07/2012 - http://www1.folha.uol.com.br/fsp/newyorktimes/55968-como-gastamos-para-comprar-a-felicidade.shtml Imagem da Internet

" estudar ou não estudar - eis a questão "! de Mustafá Ali Kanso

                    ESTUDAR OU NÃO ESTUDAR – EIS A QUESTÃO!

Mustafá Ali Kanso*
http://hypescience.com/wp-content/uploads/2012/07/pura_matematica-600x425.jpg
Muitos de meus alunos e mesmos meus colegas de profissão me questionam, quanto ao desenvolvimento do hábito de estudar. Principalmente quando sou flagrado nessa afronta inacreditável de estudar todos os dias, seja preparando minhas aulas ou aprendendo algo novo.
Estudar é um conceito chave e caracteriza o ato mais frutífero no processo de ensino-aprendizagem. Quando alguém está estudando, está criando uma oportunidade de aprender. Está hierarquizando procedimentos que proporcionam os elementos essenciais para a construção do conhecimento. O estudar e o aprender estão intimamente relacionados.
Daí o óbvio que muitos querem ignorar:
Para realmente aprender é preciso estudar.
É imperativo que tanto estudantes e professores, sejam capazes de construir ambientes de aprendizagem. Em síntese um ambiente que proporciona as condições mais favoráveis para o estudo, o que não se resume obviamente na concepção de modelos puramente instrucionais, onde a informação é simplesmente disponibilizada com certo didatismo, em via única, indo do instrutor ao aprendiz. Supondo-se na maioria das vezes que este último seja tábula rasa. Um mero recipiente a ser preenchido.
Do ponto de vista filosófico, um ambiente de aprendizagem deve ser antes de tudo um ambiente de estudo dentro de um mundo de instrução capaz de envolver a atividade hermenêutica de construir interpretações.
Em outras palavras a informação só pode ser útil, se dela, se obtém a capacidade de elaborar uma nova concepção da própria realidade. A descoberta deste saber que se tornará alavanca da evolução individual e possibilitará a sua nova leitura de mundo.
Consistente com estes argumentos filosóficos, por exemplo, o estudo de determinada lei natural, não deve limitar-se à simples memorização do enunciado da lei, ou ao estabelecimento de algoritmos de aplicações de sua formalização matemática.
Estudar, em seu pressuposto hermenêutico, caracteriza um conjunto de operações mentais, que possibilitem a formulação de hipóteses, a modelagem de ensaios, o exame dessas hipóteses e a construção de interpretações e previsões de resultados, como reflexo desse modelo, dentro de um determinado contexto prático.
Do aprendizado desse novo conteúdo, o aprendiz terá evoluído o seu discurso, sua forma de pensar e evidentemente sua conduta no mundo do fazer. Nesse ponto o processo ensino-aprendizagem torna-se, a meu ver, algo mais abrangente que denominamos “educação”.
Aliás, é justamente esse elemento de contextualização, que apresenta um papel preponderante, como elemento que desperta a atenção, na construção de um aprendizado pleno de significado que prepara o indivíduo para o mundo e o torna efetivo. O torna cidadão.
O modelo deve ser projetado para ajudar o aprendiz a construir um conhecimento útil em lugar de informação inerte, que simplesmente ilustra.
Deve ser dada ênfase num determinado enfoque que gere interesse e permita que o aprendiz se identifique com o problema e passe a prestar atenção à sua própria percepção e na forma que se dá a construção dessa compreensão e da solução do problema.
Assim o aprendiz, hierarquizado a estudante, pode ser apresentado à informação pertinente a essas percepções, de forma que seu aprendizado seja efetivo e possibilite, a posteriori, aplicar analogamente esse know how desenvolvido na construção de soluções para novos problemas, tornando-se autônomo.
A meta principal de um ambiente de aprendizado é possibilitar ao estudante a percepção das características críticas da situação problema, experimentar as mudanças em sua percepção e entender como se pode analisar a situação por pontos de vistas inovadores.
Porém, a questão determinadora, que tange a meta principal, até no pressuposto de torná-la viável ou não, seria a que se resume no “como” se deve projetar um ambiente de aprendizagem? Ou, em outras palavras, quais são os atributos essenciais que caracterizam um ambiente de estudo?
Do ponto de vista do educador, se inicia simplesmente pelo ato de encantar. De mostrar que o universo a ser aprendido é a cada dia um brinquedo novo.
Do ponto de vista do educando, se inicia com a sua coragem. Coragem de aceitar desafios. De colocar o seu esforço como prioridade. Descobrindo que existem brinquedos muito trabalhosos e que nem por isso deixam de ser divertidos.
Quando o educando aceita a sua parte na responsabilidade de aprender e tornar-se parte da solução ele naturalmente se transforma em educador. Primeiro de si mesmo. E a posteriori dos demais.
O êxito do aprendiz é quando naturalmente ele se transforma também em professor.
O êxito do professor é quando ele descobre humildemente que nunca deixará de ser aprendiz – pois existem neste mundo muitas coisas a se conhecer – e neste ponto ele transcende sua condição de instrutor e se transforma em educador. Estudando sempre e inspirando seus alunos com suas ações a estudarem com alegria e aprenderem com prazer:
Pois, nas palavras do poeta inglês William Yeats:

“Educar não é encher um cântaro,
mas sim, acender uma chama”.
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*Mustafa Ali Kanso é escritor, professor, engenheiro químico, empresário da mídia educacional e divulgador científico em programas culturais da TV.
Fonte: http://hypescience.com/23/07/2012

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Arnaldo Jabor,o brasileiro...

Leia, antes que a Dilma proíba o e-mail. Imperdível
Estou fazendo minha parte < Arnaldo Jabor >


- Brasileiro é um povo solidário. Mentira. Brasileiro é babaca. Eleger para o cargo mais importante do Estado um sujeito que não tem escolaridade e preparo nem para ser gari, só porque tem uma história de vida sofrida; Pagar 40% de sua renda em tributos e ainda dar esmola para pobre na rua ao invés de cobrar do governo uma solução para pobreza; Aceitar que ONG's de direitos humanos fiquem dando pitaco na forma como tratamos nossa criminalidade. .. Não protestar cada vez que o governo compra colchões para presidiários que queimaram os deles de propósito, não é coisa de gente solidária.É coisa de gente otária. - Brasileiro é um povo alegre. Mentira. Brasileiro é bobalhão.

Fazer piadinha com as imundices que acompanhamos todo dia é o mesmo que tomar bofetada na cara e dar risada.
Depois de um massacre que durou quatro dias em São Paulo, ouvir o José Simão fazer piadinha a respeito e achar graça, é o mesmo que contar piada no enterro do pai.Brasileiro tem um sério problema.Quando surge um escândalo, ao invés de protestar e tomar providências como cidadão, ri feito bobo.

-
Brasileiro é um povo trabalhador. Mentira.

Brasileiro é vagabundo por excelência.O brasileiro tenta se enganar, fingindo que os políticos que ocupam cargos públicos no país, surgiram de Marte e pousaram em seus cargos, quando na verdade, são oriundos do povo.
O brasileiro, ao mesmo tempo em que fica indignado ao ver um deputado receber 20 mil por mês, para trabalhar 3 dias e coçar o saco o resto da semana, também sente inveja e sabe lá no fundo que se estivesse no lugar dele faria o mesmo. Um povo que se conforma em receber uma esmola do governo de 90 reais mensais para não fazer nada e não aproveita isso para alavancar sua vida (realidade da brutal maioria dos beneficiários do bolsa família) não pode ser adjetivado de outra coisa que não de vagabundo.
- Brasileiro é um povo honesto. Mentira.Já foi; hoje é uma qualidade em baixa.
Se você oferecer 50 Euros a um policial europeu para ele não te autuar, provavelmente irá preso.Não por medo de ser pego, mas porque ele sabe ser errado aceitar propinas. O brasileiro, ao mesmo tempo em que fica indignado com o mensalão, pensa intimamente o que faria se arrumasse uma boquinha dessas, quando na realidade isso sequer deveria passar por sua cabeça.
- 90% de quem vive na favela é gente honesta e trabalhadora. Mentira..Já foi.Historicamente, as favelas se iniciaram nos morros cariocas quando os negros e mulatos retornando daGuerra do Paraguai ali se instalaram.Naquela época quem morava lá era gente honesta, que não tinha outra alternativa e não concordava com o crime.Hoje a realidade é diferente.Muito pai de família sonha que o filho seja aceito como 'aviãozinho' do tráfico para ganhar uma grana legal.Se a maioria da favela fosse honesta, já teriam existido condições de se tocar os bandidos de lá para fora, porque podem matar 2 ou 3 mas não milhares de pessoas.Além disso, cooperariam com a polícia na identificação de criminosos, inibindo-os de montar suas bases de operação nas favelas.- O Brasil é um pais democrático.. Mentira.Num país democrático a vontade da maioria é Lei.A maioria do povo acha que bandido bom é bandido morto, mas sucumbe a uma minoria barulhenta que se apressa em dizer que um bandido que foi morto numa troca de tiros, foi executado friamente. Num país onde todos têm direitos mas ninguém tem obrigações, não existe democracia e sim, anarquia.Num país em que a maioria sucumbe bovinamente ante uma minoria barulhenta, não existe democracia, mas um simulacro hipócrita.Se tirarmos o pano do politicamente correto, veremos que vivemos numa sociedade feudal: um rei que detém o poder central (presidente e suas MPs), seguido de duques, condes, arquiduques e senhores feudais (ministros, senadores, deputados, prefeitos, vereadores).Todos sustentados pelo povo que paga tributos que têm como único fim, o pagamento dos privilégios do poder. E ainda somos obrigados a votar. Democracia isso? Pense !

O famoso jeitinho brasileiro.Na minha opinião
, um dos maiores responsáveis pelo caos que se tornou a política brasileira.Brasileiro se acha malandro, muito esperto.Faz um 'gato' puxando a TV a cabo do vizinho e acha que está botando pra quebrar. No outro dia o caixa da padaria erra no troco e devolve 6 reais a mais, caramba, silenciosamente ele sai de lá com a felicidade de ter ganhado na loto.... malandrões, esquecem que pagam a maior taxa de juros do planeta e o retorno é zero. Zero saúde, zero emprego, zero educação, mas e daí?Afinal somos penta campeões do mundo né?? ?Grande coisa...

O Brasil é o país do futuro. Caramba , meu avô dizia isso em 1950. Muitas vezes cheguei a imaginar em como seria a indignação e revolta dos meus avôs se ainda estivessem vivos.Dessa vergonha eles se safaram...Brasil, o país do futuro !?
Deus é brasileiro.Puxa, essa eu não vou nem comentar...

O que me deixa mais triste e inconformado é ver todos os dias nos jornais a manchete da vitória do governo mais sujo já visto em toda a história brasileira.
Para finalizar tiro minha conclusão: O brasileiro merece! Como diz o ditado popular, é igual mulher de malandro, gosta de apanhar. Se você não é como o exemplo de brasileiro citado nesse e-mail, meus sentimentos amigo, continue fazendo sua parte, e que um dia pessoas de bem assumam o controle do país novamente.Aí sim, teremos todas as chances de ser a maior potência do planeta.Afinal aqui não tem terremoto, tsunami nem furacão.Temos petróleo, álcool, bio-diesel, e sem dúvida nenhuma o mais importante: Água doce!

Só falta boa vontade, será que é tão difícil assim?

sábado, 21 de julho de 2012

" Pequenas Felicidades " - Martha Medeiros

MARTHA MEDEIROS

Pequenas felicidades


- Cachorro-quente.

- Na esteira de bagagens do aeroporto, sua mala estar entre as primeiras a aparecer.

- Receber notícias de um amigo de que você gosta muito e que andava sumido.

- Ter recebido de presente a série inteira de Mad Men para assistir atirada no sofá.

- Numa loja de CDs usados, por um preço irrisório, encontrar discos de Keith Jarret, Tom Waits, Chet Baker e Miles Davis que você já teve em vinil e estupidamente se desfez.

- Livros. Encantar-se por um autor que você não conhecia.

- Num restaurante com os amigos, a última rodada ser brinde da casa.

- Dentro do cinema, não haver ninguém conversando e fazendo barulho com papel de bala e saco de pipoca.

- Revistas TPM, Lola, Bravo, Elle, Vogue, Joyce Pascowitch – revistas de moda, cultura, entretenimento e decoração são sempre um luxo acessível, uma fantasia necessária.

- Lareira.

- Sair bem na foto.

- Passar um fim de semana no Rio.

- Um bom programa de entrevistas na tevê.

- Uma consulta altamente proveitosa na terapia.

- Flores, folhagens, jardins, árvores, montanha.

- Acertarem no presente.

- Taxista que não corre.

- Prazos de validade bem visíveis nos produtos perecíveis.

- Banho quente. Sem pressa pra sair.

- Declaração de amor de filho.

- Declaração de amor do seu amor.

- Conversar longamente com sua melhor amiga. Tomando um vinho tinto, melhor ainda.

- Alguém encontrou e devolveu a carteira que você havia perdido com todos os documentos dentro.

- Barulho de chuva antes de dormir.

- Dia de sol ao acordar.

- Massagem.

- Receber um elogio profissional de alguém que você admira muito.

- Subir na balança e descobrir que emagreceu.

- Check-up que não acusa nenhum distúrbio de saúde.

- Lembrar detalhes de um sonho bom.

- A vibrante pulsação de um show ao vivo.

- Biografias bem escritas de personalidades interessantes.

- Praia com mar de cartão postal.

- Festa boa.

- A luz voltar.

- Um dinheiro extra que você não estava esperando.

- Beijo.

- n Sair do dentista ouvindo a recomendação de voltar só dali a um ano.

- Uma noite bem dormida.

- Ter concluído satisfatoriamente todas as pendências da semana.

- Seu time fazer o gol decisivo no último minuto do jogo – é preciso sofrer um pouquinho na vida.

- Coca-Cola. Bombom. Pão com manteiga. Queijo.

- Chorar de rir.

- Quitar uma dívida.

- Rever as obras de um pintor de que você gosta muito.

- Seu cachorro de estimação. Seu gato aninhado em seu colo.

- Identificar suas próprias pequenas felicidades e, mesmo nem tudo dando certo, gostar da vida que leva.