Artigo|
A exclusão social
se confunde com
a história violenta
do país desde
a sua origem
se confunde com
a história violenta
do país desde
a sua origem
JUAN CARLOS DURÁN*
Sou mais um que se soma à indignação pela violência absurda existente no Brasil, e sobre a angústia para encontrar as chaves que expliquem tanta criminalidade e psicopatia. Claro que em décadas passadas procurava-se entender a criminalidade a partir da enorme diferença social e péssima distribuição de renda, enquanto hoje fica clara a diferença entre disparidade econômica e exclusão social, esta, sim, capaz de produzir criminalidade.
Como afirmou David Coimbra (ZH 28/02/2014), a violência não é consequência da miséria (“a miséria diminui a cada ano, a violência aumenta a cada dia”). Sentir-se excluído é não pertencer à comunidade, é ser um entre milhares de pessoas abandonadas por um Estado com uma “estrutura pervertida” com “segurança, educação e saúde precárias” e, sendo assim, sem motivo para respeitar as leis; daí o principal impulsionador da “quebra de códigos coletivos” (Ruggero Levy, ZH 8/3/2014),
ou seja, a presença de um contrato social corrompido.
a naturalidade com que convivemos com tudo isso,e sem governo. Governo falido,medíocre,que não consegue segurar as rédeas... Desordem e Desprogressão de uma Nação Nocauteada. N.Blogueira. |
Certo é que hoje no Brasil enaltecemos o crescimento do poder de consumo das classes mais desfavorecidas, festejamos o baixo ou quase inexistente desemprego, com a sensação de prosperidade e desenvolvimento econômico, mas seguimos perplexos com a violência diária.
Para o filósofo e psicanalista André Martins Vilar de Carvalho, o Brasil vive uma espécie de capitalismo desenvolvimentista selvagem, que no fundo não quer gastar dinheiro com o social, interessando-se pelo lucro a qualquer custo (Estado de S. Paulo, 6/4/2013).
modernização imperfeita, marca da escravidão e descuido reiterado com a primeira infância _ estudos demonstram que a desestruturação familiar tem papel preponderante no comportamento futuro dos filhos delinquentes _ (Revista Brasileira de Segurança Pública, nº 2). E James Gilligan, professor de psiquiatria em Harvard (Shame, Guilt and Violence, Social Research, vol. 70, nº 4, 2003), que por mais de 35 anos trabalhou em prisões e hospitais psiquiátricos como laboratórios, tratou da vergonha que exclui, demonstrando que os sentimentos de humilhação conduzem à maioria dos crimes, tendo ouvido de muitos delinquentes que nunca tiveram tanto respeito em suas vidas como quando apontaram uma arma no rosto de alguém. Para ele, a miséria nunca causa violência se não está acompanhada de exclusão social.
No Brasil, a exclusão social se confunde com a história violenta do país desde a sua origem: população indígena escravizada, seguida da exploração e crueldade com a população negra, abandonada na miséria e impossibilitada de ter uma educação formal após a abolição da escravatura, descaso com os primeiros imigrantes, colonos europeus que chegaram para suprir a falta de mão de obra pela proibição do tráfico de escravos.
Hoje, a violência se perpetua na cultura do privilégio, na corrupção política, e no descaso da coisa pública, ou seja, não há um sentimento de união nacional que faça prevalecer o bem comum, um pensamento coletivo, prevalecendo o interesse individual, um salve-se quem puder e um tirar vantagem em tudo.
*Procurador de Justiça
Nenhum comentário:
Postar um comentário