quarta-feira, 31 de outubro de 2012

" Poesia e Cerveja "

 

Martha Medeiros*
Inspirada pelos ares que sopram da Praça da Alfândega, lembrei de um e-mail que recebi. Um rapaz contou que estava num churrasco com amigos quando acabou a cerveja. Foi escalado para ir ao supermercado buscar mais. Meia hora depois, retornou sem nenhuma latinha, mas com um livro de poemas meu. “Fui quase linchado.” Pô, trocar cerveja por poesia, até eu lhe daria uns beliscões.

Mas não posso negar que fiquei toda boba por meus versos terem seduzido um garoto de 20 anos em plena sexta à noite num corredor do Zaffari. Na verdade, não sei se ele tinha 20 anos, se era uma sexta e se foi no Zaffari, mas não resisti em formatar aqui um cenário mais completo. A cena é boa demais para ficar sem detalhes.

Aproveitando a Feira, uma dica: abrace os poetas. A começar pelo nosso patrono, Luiz Coronel, e mais Ferreira Gullar, Alice Ruiz, Antonio Cícero, Fabrício Carpinejar, Adélia Prado, Armindo Trevisan, Celso Gutfreind, Elisa Lucinda, Affonso Romano de Sant’Ana, Thiago de Mello, Viviane Mosé, todos em atividade. Não, Stella Artois não é uma poeta. Querendo prestigiar um talento novo, anote: Gatos Bravos Morrem pelo Chute, do gaúcho Tiago Ferrari.

Afora a poesia, selecionei 11 títulos entre os muitos que li este ano, entre romances, crônicas e ensaios:

Por Favor, Cuide da Mamãe, de Kyung-Sook Chin. Os segredos e sentimentos de uma família sul-coreana, numa história universal e belamente escrita.

O Caderno de Maya, de Isabel Allende. A autora escreveu uma história contemporânea e impressionante, inspirada na barra-pesada vivida por seus enteados.

Sunset Park, de Paul Auster. Após um acidente familiar ocorrido na adolescência, um garoto procura colar seus cacos junto a outros desgarrados que moram em uma casa abandonada. Excelente.

A Borra do Café, de Mario Benedetti. Relançamento de uma de suas obras mais tocantes. O autor uruguaio mescla memória e invenção ao narrar sua infância em Montevidéu.

Resposta Certa, de David Nicholls. Diálogos ótimos, do mesmo autor de Um Dia. O título poderia ser Diversão Certa.

Tempo é Dinheiro, de Lionel Shriver. Suicídio, câncer terminal, mortalidade, humor negro. Só mesmo a autora de Precisamos Falar sobre Kevin para transitar sobre esses assuntos sem nenhuma condescendência e arrebatar o leitor.

A Vida Gritando nos Cantos, de Caio Fernando Abreu. Crônicas publicadas no jornal O Estado de S. Paulo entre 1986 e 1996. O mesmo texto charmoso e provocativo que deixa saudade até hoje.

A Queda, de Diogo Mainardi. Impossível ficar indiferente. A secura convivendo com a docilidade de uma forma única e emocionante.

Como Ficar Sozinho, de Jonathan Franzen. Do mesmo autor do aclamado Liberdade. Ensaios sobre a solidão, a nicotina, a literatura, a invasão de privacidade e outros temas que ganham uma nova perspectiva sob o olhar astuto desse mestre da prosa.

Alta Ajuda, de Francisco Bosco. Ensaios de um jovem filósofo que tem o talento no DNA. Filho do músico João Bosco, é articulista do jornal O Globo, no qual escreve sobre cinema, futebol, amizade, sexo, política.

Pequenos Contos para Começar o Dia, de Leonardo Sakamoto. Breve e belo, até parece livro de poesia – olha ela, de novo. Uma palhinha: “Os professores de matemática dizem que a menor distância entre dois pontos é uma reta. Menos pro meu avô: ‘Besteira! A menor distância é aquela em que a gente se diverte mais’”.
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* Escritora. Cronista da ZH
Fonte: ZH on line, 31/10/2012

" Internet:_ em ritmo mais lento" segundo estudo



ESTUDO REDUZ ESTIMATIVA DE AUMENTO DO NÚMERO DE USUÁRIOSDE REDES SOCIAIS NA AMÉRICA LATINA
A empresa de consultoria eMarketer revisou para baixo o número de usuários de redes sociais na América Latina em razão do menor acesso dos internautas brasileiros. A empresa estima que 175 milhões de internautas da região farão uso de redes sociais este ano, ante uma expectativa anterior de 191 milhões.

A previsão do número de usuários das redes sociais no Brasil foi reduzida pela companhia em cerca de 12 milhões de pessoas. Estima-se que 63 milhões de internautas usarão as redes sociais no país em 2012. A eMarketer também prevê crescimento da base de usuários do Brasil mais lenta do que anteriormente, passando de um ganho de 14,4% neste ano para 13,5%.

De acordo com o estudo, uma proporção de mais de dois em cada três usuários de internet na América Latina terá acessado as redes sociais neste ano. No caso específico do Facebook, a companhia também afirma que o crescimento tem sido menor do que o esperado na região, também por conta da influência do Brasil.

A eMarketer projeta uma base de 41,5 milhões de usuários da rede de Zuckerberg no país em 2012, ante 45,4 milhões na estimativa anterior. Os motivos da expansão menor do Facebook no país, porém, não foram apontadas pela consultoria.

A pesquisa afirma, porém, que o Facebook continuará a ser uma rede social forte nos próximos anos e que, em 2014, uma pessoa em cada três na América Latina estará conectada à rede social.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

" A fome: desafio ético e desafio político "

 

Leonardo Boff*

Por causa da retração econômica provocada pela atual crise financeira, o número de famintos, segundo a FAO, saltou de 860 milhões para um bilhão e duzentos milhões. Talfato perverso impõe um desafio ético e político. Como atender as necessidades vitais destes milhões e milhões?

Historicamente este desafio sempre foi grande, pois a necessidade de satisfazer demandas por alimento nunca pôde ser plenamente atendida, seja por razões de clima, de fertilidade dos solos ou de desorganização social. À exceção da primeira fase do paleolítico quando havia pouca população e superabundância de meios de vida, sempre houve fome na história. A distribuição dos alimentos foi quase sempre desigual.

O flagelo da fome não constitui, propriamente, um problema técnico. Existem técnicas de produção de extraordinária eficácia. A produção de alimentos é superior ao crescimento da população mundial. Mas eles estão pessimamente distribuídos. 20% da humanidade dispõe para seu desfrute 80% dos meios de vida. 80% da humanidade deve se contentar com apenas 20% deles. Aqui reside a injustiça.

O que ocasiona esta situação perversa é a falta de sensibilidade ética dos seres humanos para com seus coiguais. É como se tivéssemos esquecido totalmente nossas origens ancestrais, aquela da cooperação originária que nos permitiu sermos humanos.

Esse déficit em humanidade resulta de um tipo de sociedade que privilegia o indivíduo sobre a sociedade, valoriza mais a apropriação privada do que a coparticipação solidária, mais a competição do que a cooperação, dá mais centralidade aos valores ligados ao masculino (no homem e na mulher) como a racionalidade, o poder, o uso da força do que os valores ligados ao feminino (também no homem e na mulher) como a sensibilidade aos processos da vida, o cuidado e a disposição à cooperação.

Como se depreende, a ética vigente é egoísta e excludente. Não se coloca a serviço da vida de todos e de seu necessário cuidado. Mas está a serviço dos interesses de indivíduos ou de grupos com exclusão de outros.

Uma desumanidade básica se encontra na raiz do flagelo da fome. Se não vigorar uma ética da solidariedade, do cuidado de uns para com os outros não haverá superação nenhuma.

Importa considerar que o desastre humano da fome é também de ordem política. A política tem a ver com a organização da sociedade, com o exercício do poder e com o bem comum. Já há séculos, no Ocidente, e hoje de forma globalizada, o poder político é refém do poder econômico, articulado na forma capitalista de produção. O ganho não é democratizado em benefício de todos, mas privatizado por aqueles que detém o ter, o poder e o saber; só secundariamente beneficia os demais. Portanto, o poder político não serve ao bem comum. Cria desigualdades que representam real injustiça social e hoje mundial. Em consequência disso, para milhões e milhões de pessoas, sobram apenas migalhas sem poder atender suasnecessidades vitais. Ou simplesmente morrem em consequência das doenças da fome, em maior número, inocentes crianças.

Se não houver uma inversão de valores, se não se instaurar uma economia submetida à política e uma política orientada pela ética e uma ética inspirada numa solidariedade básica não haverá possibilidade de solução para a fome e subnutrição mundial. Gritos caninos de milhões de famintos sobem continuamente aos céus sem que respostas eficazes lhes venham de algum lugar e façam calar este clamor.

Por fim, cabe reconhecer que a fome resulta também do desconhecimento da função das mulheres na agricultura. Segundo a avaliação da FAO são elas que produzem grande parte do que é consumido no mundo: de 80% – 98% na África subsaariana, de 50%-80% na Ásia e 30% na Europa central e do leste. Não haverá seguridade alimentar sem as mulheres agricultoras, caso não lhes for conferido mais poder de decisão sobre os destinos da vida na Terra. Elas representam 60% da humanidade. Por sua natureza de mulheres são as mais ligadas à vida e à sua reprodução.

É absolutamente inaceitável que, a pretexto de serem mulheres, se lhes neguem os títulos depropriedade de terras e o acesso aos créditos e a outros bens culturais. Seus direitos reprodutivos não são reconhecidos e se lhes impede o acesso aos conhecimentos técnicos concernentes à melhoria da produção alimentar.

Sem estas medidas continua válida a crítica de Gandhi: ”a fome é um insulto; ela avilta, desumaniza e destrói o corpo e o espírito…senão a própria alma; é a forma de violência mais assassina que existe”.
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* Educador. Teólogo. Conferencista. Escritor.
Veja do autor o livro: Comer e beber juntos e viver em paz, Vozes 2006.

" Estudar, contemplar, trabalhar.Um ato alimenta o outro,e os três formam o Espírito "

A Filosofia de Lavar a Louça
*Luis Felipe Pondé




Fala-se muito de como o "Primeiro Mundo é isso e aquilo". Acho isso papo de vira-lata. Toda vez que você ouvir alguém falando que a Europa "é outra coisa", você está diante de um vira-lata rondando a lata de lixo dos outros. A mesma coisa vale para os EUA, ainda que, nesse caso, vira-latas de esquerda jamais elogiem os EUA, mesmo que comprem iPads lá.



Mas independentemente dessa breguice de vira-lata querendo fingir que entende de vinhos, há um detalhe na vida europeia e norte-americana que vale a pena discutir: a vida doméstica e suas tarefas.



Mas, sintomaticamente, os vira-latas nunca falam disso, porque a própria condição de vira-lata os impede de entender ou mesmo enxergar esse detalhe. O sonho do vira-lata é fingir que é llhasa apso e por isso acha que ser um llhasa é desfilar bolsa Prada no JK Iguatemi.



O Brasil é terra de atrasado, corrupto, esculhambado, inculto, novo rico e por aí vai. Tudo isso é verdade. A prova disso é que aqui luxo é ostentação. Suspeito que grande parte do que há de fato de bom na Europa e nos EUA em termos de hábitos e costumes (portanto, estamos falando de moral) se deve ao fato de que nesses lugares as pessoas se movimentam de modo diferente no cotidiano das suas tarefas.



Sempre ouvi os mais velhos dizerem que "o costume de casa vai à praça" e isso é a mais pura verdade. Além de fazerem sexo melhor, suspeito também que os mais velhos entendiam bem melhor do que é essencial, principalmente porque não tinham essa parafernália de ideologia e outros quebrantos bobos como ferramenta de análise do mundo.

Eles observavam a vida sem a presunção de ter descoberto a chave do mundo, como nossos contemporâneos viciados em "teorias de gabinete", como dizia Edmund Burke.



Lembro-me bem que minha filha, chegada à França com cerca de dois anos de idade, chorava porque não podia lavar louça como meu filho, seu irmão, mais velho do que ela nove anos. Isso é sintomático de muitos outros pequenos detalhes: para ela, lavar a louça era parte de ser da família. Meu filho, minha mulher e eu partilhávamos todo o cuidado com a vida cotidiana, inclusive o cuidado com a caçulinha.



Em países como a França, Alemanha, Israel, EUA e outros semelhantes, você é responsável por tudo que acontece na sua casa. Roupa, comida, limpeza, compras, resolução de pequenos problemas logísticos, enfim, da sustentação da vida.



As casas (menos nos EUA, mas ainda assim a ocupação de espaço é diferente da nossa) são menores e mais simples, mesmo que com mais parafernália tecnológica, quando você tem condição de tê-la.



O que me chama atenção em relação às casas não é só seu tamanho, mas a ocupação do espaço. No Brasil temos a famosa sala de visita que, se você "está bem de vida", deve ser completamente inútil e parecer desocupada. Por isso, sempre suspeito que manter uma parte da casa sem uso é signo de vira-lata.



As aristocracias antiga e medieval, as únicas verdadeiras, também não tinham castelos sem uso. Burguês, e aristocracia falida, com "castelo" na zona leste ou nos Jardins é coisa de "wannabe", como dizem meus alunos.



Goethe, em seu maravilhoso "Os Anos de Aprendizado de Wilhelm Meister", descreve o que é a casa de um burguês: ter mais coisas do que precisa e não ter uma relação de uso e necessidade real com os objetos da casa.



Este é o caso. Uma sala de visitas imaculada faz você parecer rico o bastante para manter parte da sua casa sem uso e, com isso, você trai sua breguice burguesa. Acho que grande parte de nossas agruras vem do fato de que não lavamos louça com frequência e de que temos cômodos dissociados de nosso cotidiano e necessidades.



Basílio Magno (século 4) criou a regra da vida monástica: estudar, contemplar, trabalhar. Uma atividade alimenta a outra, e as três formam o espírito. A sabedoria monástica é uma das maiores criações do espírito humano.



Entre nós, dar "tudo" para os filhos até os 40 anos de idade é signo de sermos bons pais. E com isso preparamos adultos retardados e com futuras salas de visita cheias de fantasmas de nossa pobreza de espírito.
* Filósofo. Prof. Universitário. Escritor.

" Tiro os outros " ,embasamento de Francisco Daudt *

 



 
É da natureza humana tirar os outros por si; todos os deuses, por exemplo, tiveram formas humanas

"Você vai deixar os arrozinhos e feijõezinhos aí no prato, separados dos irmãos deles que já estão na sua barriga?", disse a minha babá. Chantageado pela culpa, raspei o prato. Naquela época os adultos faziam seu prato e você era obrigado a limpá-lo. Será que isto tem alguma relação com meu combate à obesidade pelo resto da vida? O que sei é que nenhuma dúvida tive sobre a antropomorfização da comida. (Sinto pelo nome, mas significa atribuir humanidade a coisas e animais). Eu tirava o arroz e feijão por mim. Se fosse separado de meus seis irmãos, ficaria muito triste, logo...

Achamos perfeitamente natural que os personagens da Disney ajam como humanos. Nunca nos ocorre que Mickey é um rato, Pateta um cachorro, Clarabela uma vaca, Horácio um jumento, Donald um pato (vocês já viram o Donald nu? Ele só usa um colete, mas quando o tira para o banho, cobre com as "mãos" as partes baixas por pudor!). O próprio Pluto, apesar de ser o mais bicho de todos, exibe uma bela dentadura humana, sem um único "canino".

É da natureza humana tirar os outros por si. Pense nos vários E. T. São homenzinhos levemente diferentes sempre. Os psicólogos evolucionistas sugerem que nossa consciência nasceu com este tosco ato de reflexão: "Ele está fazendo aquela cara que eu faço quando quero trapacear alguém, logo, deve ser um trapaceiro". Não pense que nossos ancestrais formulavam com tal complexidade, senão estaríamos tirando eles por nós. Era, a princípio, apenas uma sensação. Foi a aquisição da palavra que produziu o pensamento complexo.

Mas continuamos a tirar os outros por nós. Rigorosamente todos os deuses inventados pelo homem tiveram formas humanas, inclusive Iavé (o deus-pai judaico-cristão), de barbas brancas, sentado na nuvem.

Mas é no terreno da compreensão do outro que a coisa pega. "Honi soit qui mal y pense" (amaldiçoado seja quem pensar mal disto), disse o rei inglês Eduardo 3º nos anos 1300, sugerindo que a maldade estava na cabeça de quem julgava seu gesto cavalheiro de pegar a liga que caíra da perna da moça no baile. Aliás, falando na riqueza que a palavra traz ao pensamento, que sorte deram os ingleses pela invasão normanda. O anglo-saxão que falavam era tosco. O latim dos franceses abriu-lhes as mentes para sempre. Por isto as armas britânicas trazem duas frases em francês. "Dieu et mon droit" é a outra.

Sim, a maldade pode estar na cabeça de quem julga. O problema é que a bondade também. O Tufão não era burro, só era muito bom, incapaz de conceber que alguém pudesse ser tão mau. Precisou de muitos dados para se convencer que não podia tirar sua mulher por ele.

É, os outros podem ser diferentes de nós! Anos de prática psicanalítica me ensinaram isto. Sempre aparece o velho cacoete natural, só que hoje ele conversa com o aprendizado.

Este é meu ponto: quem for rápido no julgamento deixará de contemplar a imensa complexidade humana, tirará o outro por si, será rasteiro. Por isto um tribunal ouve a defesa do mais escancarado malfeitor, como temos assistido.
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* Colunista da Folha.
Fonte: Folha on line, 30/10/2012

" O Tamanho não conta " escreve João Pereira Coutinho *

 



João Pereira Coutinho*
A democracia estaria melhor servida com dois grandes partidos -um de esquerda, outro de direita

Sérgio Dávila escreveu nesta Folha a favor da polarização em política. Será que o sistema brasileiro, com seus 30 partidos, é mais desejável do que o sistema bipartidário norte-americano, onde republicanos e democratas se alternam no poder? Dávila pensa que não -e pensa muito bem.

Há anos que, em Portugal, travo a mesma batalha: a democracia lusa estaria melhor servida se existissem dois grandes partidos -um de esquerda, outro de direita- capazes de deterem maiorias sólidas e de serem solidamente responsabilizados por seus atos.

Não é uma batalha fácil: sempre que alguém levanta a bandeira do bipartidarismo, chovem acusações de fechamento democrático e de horror ao pluralismo. Em minha defesa, só posso invocar o nome de um dos maiores apologistas da "sociedade aberta": o filósofo Karl Popper.

Em 1987, Popper, então com 85 anos, esteve em Lisboa para uma notável conferência sobre a sua vida e, em especial, a sua teoria da democracia.

Sobre a vida, os fatos são conhecidos: nascido em Viena em 1902, Popper atravessou a Primeira Guerra Mundial; encantou-se com o comunismo; desencantou-se logo a seguir; assistiu, horrorizado, à ascensão do nazismo; e construiu uma impressionante obra filosófica no exílio.

Mas nesse encontro em Lisboa, o velho filósofo concentrou-se sobretudo na sua teoria da democracia. Para Popper, a democracia é um problema eminentemente prático e técnico. Ela procura saber como remover os maus governantes sem derramamento de sangue.

Naturalmente que cabe ao povo, pela força do voto, essa punição exemplar. Mas Popper sublinhava que essa punição só é verdadeiramente exemplar -um "dia do juízo final", dizia ele- em sistemas tendencialmente bipartidários.

A afirmação pode soar bizarra: o aumento do número de partidos deveria significar mais escolha, mais ideias em circulação, melhor distribuição de poder e influência.

Um erro, avisava Popper. Para começar, a existência de muitos partidos traz dificuldades acrescidas à formação de governos coesos -para não falar do funcionamento e da duração desses governos.

Em Portugal, esse aviso é uma evidência empírica: desde a instauração da democracia, há mais de 35 anos, o país teve oito governos de coalização. Nenhum deles -repito: nem um- chegou ao fim do seu mandato. Só governos de um único partido o conseguiram.

Aliás, o atual governo de coalização ilustra o ponto: eleito há pouco mais de um ano, as fissuras são já gritantes. Poucos creem na sua sobrevivência a curto prazo.

Mas há mais: sistemas pluripartidários tendem a conceder aos pequenos partidos um poder que pode revelar-se, ironicamente, antidemocrático. Se a democracia significa a escolha da maioria, não cabe a uma minoria determinar a vontade livremente expressa das maiorias.

Os pequenos partidos, explicava Popper, acabam por adquirir um poder desproporcionado na formação de governos e no processo decisório desses governos.

Finalmente, o argumento de peso: enganam-se os que pensam que sistemas bipartidários têm menor flexibilidade ideológica. Os dois grandes partidos americanos, por exemplo, apresentam uma capacidade de reforma e autocrítica internas sem paralelo com qualquer outro sistema pluripartidário.

Essa capacidade -mais: esse imperativo de reforma e autocrítica- está diretamente ligada com a dimensão e o significado das derrotas eleitorais.

Nos Estados Unidos, quem perde, perde a sério. A derrota não é apenas um prejuízo facilmente dissolúvel em dezenas de pequenos partidos. É uma derrota clara que exige uma resposta clara de explicação para essa derrota; e de busca de novas ideias para regressar ao poder.

Como dizia Popper, nas democracias bipartidárias os partidos vivem "em alerta permanente". O que significa uma atenção redobrada (e permanente) às necessidades reais do país e, claro, ao comportamento do partido rival na forma como governa e nas decisões que toma enquanto está no poder.

Bipartidarismo é maturidade, escrevia Dávila. Acrescento: maturidade e qualidade. Quem disse que o tamanho não conta estava só a pensar na quantidade das siglas partidárias.
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                                       * Jornalista português. Colunista da Folha

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

" A avenida Brasil " de Ferreira Gullar


Pretenderia o autor nos convencer de que quem não se torna bandido é babaca? Seria uma péssima lição

Faz muitos anos que uma novela de televisão não desperta tanto interesse do público noveleiro quanto esta "Avenida Brasil", cujo derradeiro capítulo foi ao ar na noite de sexta-feira, 19 deste mês.

De fato, a novela conquistou não apenas os aficionados do gênero, como muito mais gente, até mesmo quem nunca assiste a novelas. A coisa chegou a tal ponto que, segundo foi noticiado, a presidente Dilma determinou o adiamento do comício pela eleição de Haddad, em São Paulo, que deveria realizar-se na noite daquela sexta-feira, temendo que não fosse quase ninguém.

Outro indício, jamais registrado antes, desse interesse pela novela de João Emanuel Carneiro foi o pique de consumo de energia elétrica, logo após a exibição dos capítulos finais. É que o pessoal deixava de fazer qualquer coisa -desde cozinhar até tomar banho ou ligar o computador- para só fazê-lo após o fim do capítulo. A novela interrompia o curso da vida. Isso foi o que ouvi de um repórter

de televisão.

Qual a razão de tanto sucesso, admito não saber ao certo. Imagino muitas explicações mas, se arrisco uma delas, diria que é o tipo de dramaturgia adotado pelo autor. Uma das características do gênero é a morosidade da ação dramática, que resulta numa série de outras consequências.

A razão disso é que a novela tem que durar meses, o que obriga a um número fantástico de capítulos -esta, de que falamos aqui, teve nada menos que 179, transmitidos durante sete meses.

Defendo a tese de que toda dramaturgia não dura mais que uma hora e meia a duas horas. Essa é a duração de quase todos os filmes e peças teatrais. Não existe dramaturgia para durar sete meses.

Em função disso, os nossos telenovelistas são obrigados a criar histórias paralelas, que se mesclam à história principal, tudo com o propósito de fazer com que a novela dure tanto. Isso, como já disse, faz com que a ação dramática se torne prolixa e lenta.

Essa lentidão não houve na "Avenida Brasil". Pelo contrário, nela, a ação dramática era sempre intensa, e isso se deveu ao fato de que, a cada capítulo, inesperados conflitos surgiam envolvendo os diferentes núcleos e os muitos personagens.

O preço pago pelo autor, por lançar mão de tais recursos, foi a implausibilidade de certas situações e a incoerência de atitude dos personagens, mas que João Emanuel, com sua competência, conseguiu muitas vezes superar, ganhando pelo menos a tolerância do telespectador.

É certo que, apesar dessa originalidade, em comparação com a forma dramatúrgica comumente adotada nas telenovelas, João Emanuel também se valeu de um recurso usado por todos os teledramaturgos desde o sucesso obtido pela vilã Odete Roitman (1988). Não por acaso, a execrável Carminha se tornou a principal agente da ação dramática de "Avenida Brasil".

Neste ponto, esta novela só difere das demais pelo grau de vilania e crueldade que atribuiu à personagem. Aliás, nisto, ela é quase imbatível, já que quase todos os personagens são de uma sordidez sem limites. Com a agravante de que os que escapam disso -que não matam, não traem, não subornam nem se deixam subornar- são idiotas ou tolos, como Tufão, marido de Carminha, o corno manso por excelência.

Para minha surpresa, ouvi num debate de televisão que o êxito de "Avenida Brasil" se deve ao fato de ser ela o retrato verdadeiro da nossa sociedade. Se isso é correto, moro em outro país sem o saber, já que as pessoas com quem convivo e as famílias que conheci ao longo de minha vida -e bota vida nisso- nem de longe se parecem com os personagens criados por nosso brilhante teledramaturgo.

Certamente li nos jornais e ouvi contarem histórias escabrosas, implicando traições, homicídios e falcatruas, mas nunca na escala em que nos mostrou a novela, onde todo mundo é bandido ou babaca. Pretenderia o autor nos convencer de que quem não se torna bandido é babaca? Seria uma péssima lição.

Mas não se trata disso. Novela é ficção, não é a realidade, nem poderia ser. Como se sabe, a arte existe porque a vida não basta. E os bons sentimentos não dão boa dramaturgia. Haja vista o último capítulo da novela.

" A vida muda quando você muda ... "

FALECEU ,ontem a pessoa que atrapalhava a sua vida

Um dia, quando os funcionários chegaram para trabalhar, encontraram na portaria um cartaz enorme, no qual estava escrito:
"Faleceu ontem a pessoa que atrapalhava sua vida na Empresa. Você está convidado para o velório na quadra de esportes".
No início, todos se entristeceram com a morte de alguém, mas depois de algum tempo, ficaram curiosos para saber quem estava atrapalhando sua vida e bloqueando seu crescimento na empresa. A agitação na quadra de esportes era tão grande, que foi preciso chamar os seguranças para organizar a fila do velório. Conforme as pessoas iam se aproximando do caixão, a excitação aumentava:

- Quem será que estava atrapalhando o meu progresso ?
- Ainda bem que esse infeliz morreu !

Um a um, os funcionários, agitados, se aproximavam do caixão, olhavam pelo visor do caixão a fim de reconhecer o defunto, engoliam em seco e saiam de cabeça abaixada, sem nada falar uns com os outros. Ficavam no mais absoluto silêncio, como se tivessem sido atingidos no fundo da alma e dirigiam-se para suas salas. Todos, muito curiosos mantinham-se na fila até chegar a sua vez de verificar quem estava no caixão e que tinha atrapalhado tanto a cada um deles.

A pergunta ecoava na mente de todos: "Quem está nesse caixão"?
No visor do caixão havia um espelho e cada um via a si mesmo... Só existe uma pessoa capaz de limitar seu crescimento: VOCÊ MESMO!
Você é a única pessoa que pode fazer a revolução de sua vida.
Você é a única pessoa que pode prejudicar a sua vida.
Você é a única pessoa que pode ajudar a si mesmo.
"SUA VIDA NÃO MUDA QUANDO SEU CHEFE MUDA, QUANDO SUA EMPRESA MUDA, QUANDO SEUS PAIS MUDAM, QUANDO SEU(SUA) NAMORADO(A) MUDA. SUA VIDA MUDA... QUANDO VOCÊ MUDA!
VOCÊ É O ÚNICO RESPONSÁVEL POR ELA."

O mundo é como um espelho que devolve a cada pessoa o reflexo de seus próprios pensamentos e seus atos.
A maneira como você encara a vida é que faz toda diferença.
A vida muda, quando "você muda".


Luís Fernando Veríssimo

domingo, 28 de outubro de 2012

" Refrigerante " Diet " pode nos tornar gordos"

 



Photo: Thinkstock
Photo: Thinkstock
Posted: Wed, Jun 29, 2011
Achando que estamos fazendo uma opção saudável quando escolhemos uma bebida ‘diet’ em vez de uma outra açucarada? Vamos pensar de novo. http://shine.yahoo.com/healthy-living/diet-soda-may-be-making-you-fat-2504019.html

Bebidas ‘Diet’ podem ter o mínimo de calorias, mas elas podem conter o maior impacto sobre as gorduras de nossa cintura, de acordo com dois estudos apresentados em encontro da American Diabetes Association, em San Diego (nt.: link oficial do trabalho – http://www.uthscsa.edu/hscnews/singleformat2.asp?newID=3861 ).

Pesquisadores do Centro da Ciência da Saúde do Texas, em San Antonio, rastrearam 474 pessoas, todas entre 65 e 74 anos, por quase uma década, medindo suas alturas, pesos e circunferência de suas cinturas e a ingestão de bebida ‘diet’ a cada 3,6 anos. As cinturas daqueles que ingeriam bebidas ‘diet’ cresceram 70% mais do que aqueles que evitavam esta bebida adoçada artificialmente. As pessoas que bebiam duas ou mais porções por dia tinham a circunferência de suas barrigas aumentadas que eram cinco vezes maiores do aqueles que não consumiam este tipo de bebida.

As descobertas estão na mesma linha daquelas do estudo de 2005 que também concluiu, através dos pesquisadores do mesmo Centro, que a chance de uma pessoa ter sobrepeso ou tornar-se obesa aumentava em cada refrigerante consumido (nt.: abaixo está este texto aqui citado e traduzido).

Mas como alguma coisa sem calorias pode causar ganho de peso? Acontece que mesmo que nossas papilas gustativas não possam reconhecer a diferença entre um açúcar verdadeiro e um falso, nosso cérebro pode. Outro estudo, também apresentado no encontro deste ano de 2011, na American Diabetes Association, detectou que depois de três meses se alimentando com comida contagiada com aspartame (que é encontrado em muitas bebidas ‘diet’), ratos tinham maiores quantidades de açúcar no sangue do que outros roedores que estavam sendo alimentados normalmente. De acordo com a pesquisadora Sharon Fowler, que trabalhou nos três estudos aqui mencionados e que agora está como pesquisadora junto ao UT Health Science Center em San Diego, o aspartame pode estimular o apetite, mas nada o satisfaz. Ele pode interferir com a nossa habilidade do organismo quando se está satisfeito, podendo assim nos levar a que nos alimentemos mais ainda.

Isto acontece com humanos também. Um estudo de 2008, detectou que mulheres que bebiam água açucarada com açúcar e água adoçada com o adoçante artificial Splenda, não conseguiam perceber a diferença, mas a ressonância magnética funcional mostrava que o centro de recompensa de seus cérebros respondiam ao açúcar verdadeiro “mais completamente” do que ao adoçante artificial.

“Nossos sentidos nos informam que há alguma doce que estamos provando, mas nosso cérebro informa-nos, ‘na verdade’, que não está tendo tanta recompensa quanto estamos esperando’”, diz o Dr. Martin P. Paulus, professor de psiquiatria da University of California, em San Diego, ao Huffington Post (nt.:http://www.huffingtonpost.com/), e um dos autores do estudo. Assim passamos a ir deste refrigerante sem calorias associado com algo mais calórico, como um ‘snack’ salgado. O sabor doce também poderia desencadear em nosso organismo a produção de insulina, o que acaba bloqueando nossa habilidade de queimar gorduras.

À parte dos problemas de saúde que estão junto com a expansão da cintura, as bebidas ‘diet’ foram conectadas a uma aumento de diabetes, ataques do coração e derrames cerebral. Um estudo com mais de 2.500 pessoas, detectou que aqueles “que bebiam bebidas ‘diet’ diariamente tinham 61% de aumento de riscos de acidentes cardiovasculares comparados àqueles que não ingeriam refrigerantes, mesmo quando se contabilizava para tabagismo, atividades físicas e consumo de álcool, por dia”, relatou a rede ABC dos EUA no início deste ano em curso (nt.: http://abcnews.go.com/Health/HeartHealth/diet-soda-linked-heart-attack-stroke-risk/story?id=12868269#.UIgwcoaCth4 ). E num estudo de 2008, da Universidade de Minnesota, perto de 10 mil pessoas com idade entre 45 e 64 anos, detectou que bebendo uma simples lata de refrigerante ‘diet’ por dia, levava o risco 34% mais alto de desenvolver uma síndrome metabólica, ou seja, uma coleção de problemas de saúde que inclui de alta concentração de açúcar no sangue, alto colesterol a altos níveis de gordura abdominal (nt.: em inglês conhecida como ‘belly fat’ ou a ‘pança’ em português).

“Bebendo uma quantidade plausível de refrigerante ‘diet’ por dia, como uma ou duas latas, isso possivelmente não te agredirá”, escreve Katherine Zeratsky, uma nutricionista da Clínica Mayo (nt.: ver qual a posição desta nutricionista quanto às bebidas ‘diet’ – http://www.mayoclinic.com/health/diet-soda/AN01732). “Os adoçantes artificiais e outras substâncias químicas usadas correntemente em bebidas ‘diet’ são seguras para a maioria das pessoas e não há evidências críveis que estes ingredientes causem câncer”.

“É difícil dar uma determinação coletiva sobre se devemos ou não beber refrigerantes ‘diet’ “, diz Brierley Wright, M.S., R.D., editor em nutrição do periódico EatingWell Magazine (nt.: http://www.eatingwell.com/). “No final do dia sempre me vem à mente se aquele que está preferindo uma bebida ‘diet’ está fazendo isso para substituir de uma outra mais calórica ou é como desculpa para continuar comendo batatas fritas, hambúrguer ou algum docinho de sobremesa? Se for o primeiro caso, tudo bem. Mas se for o segundo, é bom pensar duas vezes”.

Mas não importa como o refrigerante foi adoçado, é nulo em calorias, aponta Wright. “Ele não libera qualquer valor nutricional e assim deve ser consumido com moderação”.
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Novas análises sugerem um ‘paradoxo com os refrigerantes diet’ – menos açúcar, mais peso.

                                          


FOWLER
Pesquisadora Sharon Fowler

As bebidas ‘diet’ são certamente tão populares como as versões com açúcar em nossos dias, mas estão as pessoas que as bebem ficando mais magras? Bo entanto, pode estar acontecendo exatamente o contrário.

Estatísticas do Estudo do Coração de San Antonio, de um estudo epidemiológico com a comunidade feito por um quarto de século e conduzido pelo Health Science Center da Universidade do Texas, na cidade de San Antonio, paradoxicamente sugere que, quando mais bebidas ‘diet’ uma pessoa ingere, maior a chance de que ela ou ele venham se tornar pessoas com sobrepeso ou mesmo obesas. Peso extra é um forte fator de risco para o desenvolvimento da diabetes tipo 2.

“Em média, para cada bebida ‘diet’ que os participantes ingeriam por dia, ficavam com 65% mais possibilidades de adquirem sobrepeso durante os próximos sete a oito dias e 41% mais de se tornarem obesos”, disse Sharon Fowler, M.P.H., colaboradora associada na Divisão de Clínica Epidemiológica junto ao Departamento de Medicina do Health Science Center da Universidade. Ela apresentou esta descoberta em 12 de junho, nas Sessões Científicas Anuais da Associação Norte Americana de Diabetes, em San Diego.

Can diet soft drinks increase your risk of becoming overweight?
Podem bebidas ‘diet’ aumentar os riscos de sobrepeso?
O colega de Fowler, Ken Williams, M.S., professor assistente de clínica epidemiológica, analisou questionários e resultados de saúde dos dados de participantes neste estudo em San Antonio. Ele iniciou, em 1979, para chegar às conclusões apresentadas neste encontro científico. Michael P. Stern, M.D., professor e chefe clínico epidemiológico junto ao Health Science Center, é o principal investigador do estudo e seu coautor, juntamente com Kelly Hunt, Ph.D, Helen Hazuda, Ph.D. e Roy Resendez, M.A.

Três anos antes, Fowler e Williams começaram analisando os dados de um grupo de 1.177 participantes que apresentavam tanto peso normal como sobrepeso (mas não obeso) no ponto de partida. Ao começarem, a cada um dos indivíduos era perguntado quantas latas ou garrafas de refrigerantes ele usualmente bebia durante a semana e se ele normalmente escolhia bebidas isentas de açúcar, refrigerantes normais ou meio a meio de cada um. Os resultados preliminares destes dados foram surpreendentes.

“Esperava ver que os que ingeriam bebidas convencionais teriam aumentados os riscos de se tornarem pessoas com sobrepeso ou obesas – e que parecia ser o caso, no início”, disse Fowler. “Mas não importa se as pessoas estão bebendo refrigerantes convencionais ou ‘diet’: beber refrigerantes de qualquer tipo parece aumentar o risco de ganho de peso. Na verdade, beber refrigerantes ‘diet’ mostrou estar muito mais próximo de tornar as pessoas com sobrepeso ou obesas. Isso não fazia sentido para mim, naquele momento, e deixei os resultados de lado”.

Mas esta descoberta inesperada foi intrigante e os investigadores revisaram suas análises neste ano. Desta vez, Williams detectou um efeito “dose-resposta”: aqueles que ingerem bebidas ‘diet’ apresentavam alta incidência de ganho de peso. Esta foi uma descoberta particularmente interessante. Depois de ajustar a questão da idade, sexo e etnia, Williams descobre que as bebidas convencionais não foram conectadas significativamente, por muito tempo, à incidência das pessoas terem sobrepeso ou tornarem-se obesas. No entanto, com as bebidas ‘diet’ acontecia isso.

O trabalho da pesquisadora Fowler é tentar interpretar estes resultados.

“Poderia ser que as pessoas, em nosso estudo, cujo peso tenha sido aumentado, tenham migrado para bebidas ‘diet’ numa tentativa de pararem de ganhar peso”, disse ela. “Isto era uma possibilidade bem real. Outra é que beber refrigerantes, fossem convencionais ou ‘diet’, faz parte de um padrão nutricional muito antigo que diz: ‘Obedece tua sede’ e que leva uma pessoa a, mais tarde na vida, ter ganho de peso. Não importa o caso, nossos resultados definitivamente levantaram mais perguntas do que respostas”.

Mas Fowler apontou de que seja qual for a razão, no momento em que alguém está tomando uma bebida ‘diet’ está fazendo isso com o único propósito de ser uma alternativa saudável como é com o leite, a água ou um suco. “Pode-se imaginar que uma coisa boa que vem de uma bebida ‘diet’ possa estar trazendo para o corpo? Estamos fornecendo a nós mesmos um alimento com um sabor determinado, mas sem existir na verdade. Assim podemos então ir em busca de outros alimentos para compensarmos este desvio como sobremesas com alto valor calórico”, disse ela. “Mesmo que estejamos tentando enganar nossas papilas gustativas, não conseguimos enganar nosso cérebro. Ele não está satisfeito. Vi pessoas se refestelando com um doce bem açucarado e um refrigerante ‘diet’, no balcão de uma loja de conveniência. O que as nossos análises indicam com certeza é que ingerir bebidas ‘diet’ não protege uma pessoa dos efeitos sobre a saúde para o resto de sua vida”.
Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, outubro de 2012.-----------------
Fonte: http://www.nossofuturoroubado.com.br/27/10/2012

sábado, 27 de outubro de 2012

" Maduros , não caindo ...

                                                          Diana Lichtenstein Corso *
Manchetes aleatórias de jornal: “Idoso(a) é atacado por ladrões”, ou “Idoso morre num acidente”, “Idoso é suspeito de assassinato”. Para minha surpresa, lendo a matéria descubro que o idoso em questão tem ao redor de 60 anos! Não estou pronta para me considerar uma idosa em 10 anos.
Para um jovem repórter de 20 anos, tudo depois dos 50 é a antecâmara do fim, então tanto faz. Não o recrimino, todos ficamos confusos para entender o que é mesmo um velho. Há o preconceito social, velhice é aquilo cujo nome não se deve mencionar, como se invocasse um mal.

Mas também a confusão é propiciada porque a fase considerada “terceira idade” (quais são mesmo as duas primeiras, não há muito mais?) tornou-se muito longa e as pessoas amadurecem e fenecem de formas díspares.

É similar ao que ocorre na infância. Existem crianças de todos os tamanhos e diferentes graus de amadurecimento respondendo pela mesma idade. O crescimento passa por épocas de aceleração, outras de estagnação. Uns funcionam aos trancos, por arranques, outros numa linha contínua, há ainda os que desabrocham do dia para a noite.

A juventude e a idade adulta são as épocas mais uniformes da vida em termos de imagem corporal. Desde que se “bota corpo” até que os “enta” começam a se empilhar, somos muito parecidos. É difícil saber se alguém tem 20 ou 30 e tantos. Depois disso, ficamos desiguais como as crianças.

Existem sexagenários, septuagenários e octogenários de todos os matizes. Tirando um que outro achaque e alguns médicos a mais na rotina, há hoje nessa fase muita gente produtiva, independente, bonita. De mesma idade, há os que cedo se acovardam, se isolam, comem e dormem frente à televisão, vivem para a doença e esperam a morte.

Em respeito a esses cidadãos vividos e vivazes, e a nós mesmos, talvez devêssemos criar uma nomenclatura mais complexa para a dita terceira idade. Gostaria do direito às etapas. Começaria, aos 60, por “adultos tardios” (assim como existem os “jovens adultos”, em inglês usam “older adults”). “Maduros” também é bacana, dá ideia de finalmente estar no ponto.

Depois, talvez “septuagenários”, ou “idosos principiantes”? Aos 80, finalmente aceitaria ser considerada idosa, para que as limitações do meu corpo fossem respeitadas com direito à acessibilidade e uma rotina mais pausada. Os argentinos têm palavras simpáticas: “maduros” para os que recém começam a sentir o pior da idade, “gente grande” para os que já chegaram lá. Aceito sugestões.

A infância, cuja valorização social tem poucas centenas de anos, já possui uma série de palavras para descrever seus processos. O mundo nunca esteve tão velho, mas a maturidade ainda não recebeu a mesma consideração. Viver mirando-se numa patética juventude eterna nos impede de usufruir da experiência. Nomear, classificar, estudar, servem para aceitar e, quem sabe, usufruir da sabedoria daqueles que talvez tenham aprendido algo com a vida.
* Psicanalista

" Sem medo de amadurecer "

                                                               MARTHA MEDEIROS
Estará chegando em breve às livrarias a nova obra do filósofo argentino Sergio Sinay, cujo título é A Sociedade que Não Quer Crescer. Tema bastante atual e que merece atenção. Não há alarmismo em afirmar que viramos uma sociedade de adolescentes vitalícios, todos preocupados em manter a juventude até os 80 anos.

Uma coisa é praticar esportes e exercícios físicos, proteger a pele, se alimentar bem, manter cuidados para garantir a saúde, investir em lazer. Outra bem diferente é se comportar de forma irresponsável, não assumir autoridade, não dar um rumo à própria vida, viver encostado nos parentes. Há quem considere mais cômodo ser criança para sempre.

De fato, é. Temos por aí uma quantidade absurda de crianções e criançonas de 40 anos, de 50 anos, até mais. O que esperar de seus descendentes?

Não é fácil lidar com desejos, fazer escolhas, sustentar decisões. Nos momentos de aperto, gostaríamos de não precisar enfrentar coisa alguma e chamar um “adulto” para resolver as questões sérias em nosso lugar. Porém, não temos mais cinco anos.

Nem 15. Não há mais justificativa para desrespeitar as leis, dirigir de forma inconsequente, se embebedar, fugir aos compromissos. Essa rebeldia juvenil até possui um certo romantismo, é a porção James Dean de cada um. Só que o ator não viveu o suficiente para virar um homem, mas você, sim.

Amadurecer é respeitar os ciclos da vida e deixar a adolescência para trás a fim de assumir seu lugar no mundo. O que não significa virar um adulto chato e prepotente. É permitido divertir-se na maturidade. Muito, inclusive. Adultos curtem a vida mais do que a garotada justamente porque não estão mais testando limites, já viraram essa página. O que fragiliza a sociedade são pessoas que, uma vez crescidas em estatura, não cresceram emocionalmente.

Um adulto de verdade é aquele que não age em busca de uma recompensa – ele faz o que tem que fazer porque é o certo.

Pra chegar a esse encontro saudável com o dever moral, é preciso que ele tenha consciência de quem é, de tudo o que viveu, de como suas experiências o moldaram, e adote uma atitude firme diante de seus filhos, de seus pares, da sociedade toda. Se considerar que isso significa “envelhecer”, que pena: seguirá sendo um garoto mimado, uma garota bobinha, sem brio para herdar o bastão de seus pais e sem consistência para passar o bastão adiante.

Pessoas maduras também têm incertezas, vacilam, fraquejam. Porém sabem a hora de cortar o laço com suas carências infantis e de interagir com o mundo a fim de torná-lo melhor, mais digno.


São agentes de transformação, e não de estagnação. Quando se tornarem idosos, poderão olhar pra trás com a consciência de ter dado um sentido à sua vida, em vez de terem percorrido anos e anos inúteis, acreditando que poderiam ser jovens para sempre só pelo fato de andarem com a aba do boné virada pra trás.

" A Alienação "


                                                                                       CLÁUDIA LAITANO

Eu deveria ter uns 11 ou 12 anos quando o acaso – sempre ele – me jogou para dentro do trem da história sem apito prévio. Eram os anos 70, e até as pedras da Praça da Alfândega sabiam que pessoas eram torturadas e mortas pela ditadura militar no Brasil. As pedras sabiam, mas eu ainda não.

Talvez essa breve era da inocência tivesse durado mais algum tempo se em uma viagem da escola eu não tivesse sentado ao lado de uma colega, com quem nunca havia conversado antes, que sabia tudo o que se podia saber aos 12 anos sobre ditadura, presos políticos, tortura. Tinha visto fotos, tinha ouvido conversas.

Enquanto Geisel propunha uma abertura “lenta, gradual e segura”, a descoberta daquilo que, afinal, eles estavam abrindo para mim foi súbita, inesperada e vertiginosa. Havia alguma condescendência naqueles tempos pré-internet em relação à capacidade de engajamento das meninas de 12 anos, mas segundo o vocabulário da época minha inaceitável ignorância política tinha nome: alienação.

No limite, todos somos alienados em relação a alguma coisa: política, ciência, cultura, economia, esportes, religião... A lista de assuntos sobre os quais escolhemos não saber nada é infinita. Segundo a cartilha marxista clássica, porém, alienado é o sujeito que não controla sua atividade essencial (o trabalho), pois a mercadoria que produz existe independentemente do seu poder e de seus interesses. Por extensão, alienadas são as pessoas indiferentes aos problemas políticos e sociais do lugar e da época em que vivem.

Em tempos de superabundância e descentralização da informação, o termo “alienado” ganhou um ar ligeiramente retrô. Ainda será possível ignorar um assunto de interesse público tão redondamente quanto eu ignorava a tortura?

É possível, mas em boa parte dos casos talvez se trate de uma “alienação eletiva”, ou seja, já não é tão fácil culpar os outros (“o sistema”, “a mídia”, “os interésses”...) pela nossa ignorância ou preguiça. Jovens e adultos, operários e seus patrões, a dona de casa e o jogador de futebol, todos escolhemos as causas nas quais não queremos nos engajar, os problemas que não queremos resolver, os pepinos que preferimos varrer para debaixo do tapete.

Na semana passada, quando o último capítulo de Avenida Brasil mobilizou a atenção e o coração de milhões de brasileiros, muitos sacaram da gaveta o velho xingamento de passeata para pespegar nos fãs de Carminha e Tufão. Devagar com o andor. Pode-se, obviamente, gostar ou não de novelas, mas o curioso (assustador seria o termo mais correto) nesses comentários é a dificuldade para compreender e aceitar a ancestral necessidade humana de contar e ouvir histórias – e de fugir da realidade de vez em quando também.

 


Não é a arte, mesmo uma arte popular ou o mero entretenimento, que aliena as pessoas do que elas deveriam saber/fazer/ser, mas as diferentes escolhas que realizamos todos os dias na vida real: em casa, no trabalho, no espaço público e agora nas redes sociais também. Assistindo novela ou um jogo de futebol, jogando videogame ou namorando, não somos alienados ou politizados. Somos apenas humanos.

                                         Aliás, já ouviu falar dos índios guaranis-kaiowás?

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

" Outro por Dentro "

                                                      Martha Medeiros



                         "Aquele ali tem outro por dentro."
Ela disse isso com tanta amargura na voz que o ambiente tornou-se gélido. Não era um comentário, era uma sentença. O cara tinha outro por dentro. Quem estaria escondido em seu corpo? Um alien? O demo? Sem dúvida, algum cafajeste.
Certas expressões nascem carregadas de preconceito, e só levamos em conta seu lado pejorativo. Se alguém diz que você tem outro por dentro, está dizendo que você é mascarado, desonesto, que representa um papel que não é totalmente verdadeiro. Porém, pra variar, acho que a questão merece ser encarada com mais flexibilidade. Você, eu e a população mundial - bilhões no planeta - também temos outros por dentro, e não somos mascarados nem desonestos: somos humanos.
Onde foi parar nossa autenticidade? Segue exatamente onde está. Somos autênticos batalhadores, autênticos cidadãos do bem, porém essa é a versão oficial, é a propaganda que divulgamos para o mercado externo, o nosso melhor. Somos verdadeiramente pessoas maravilhosas - ou, ao menos, pessoas muito bem intencionadas. Pagamos os impostos em dia, somos cordiais, damos passagem no trânsito, não compactuamos com a brutalidade dos dias e telefonamos para nossas avós para lhes aliviar a solidão. Mas há outros em nós. Há vários. Há todos aqueles que foras abafados, que não servem aos nossos objetivos, todos aqueles com quem, muitas vezes, nem simpatizamos, mas que existem. Seguem sendos nós, ainda que não batizados e sem firma reconhecida em cartório.

Há em mim um Woody Allen, uma Marília Gabriela, uma Lya Luft, um Nélson Motta, uma Madre Tereza e uma Rita Cadilac, e sou eu mesma, íntegra e inteira. Quantos rapazes cordiais não se transformam em homens das cavernas quando calçam uma chuteira e entram em campo? Quantas mulheres singelas não viram competitivas e agressivas numa mesa de canastra? Hitler tinha um músico sensível dentro dele. Pinochet traz um pai de família guardado no peito. Nenhum prejuízo para a nossa avaliação: seguimos sabendo quem eles são.                                                                 E quem somos.

" Ser frugal, mas ser abundante " ...

 



Kátia Marko*

O que eu preciso pra viver? Este tem sido um questionamento constante desde que resolvi morar em uma comunidade. Confesso que ainda consumo mais do que preciso. Como dizia Antônio Gramsci, “o velho não acaba de morrer e o novo custa a nascer”. Não se desmonta uma cultura de um dia para o outro. Mas criar no meu dia a dia as condições para a mudança de hábitos foi fundamental.

Na Comunidade Osho Rachana nós dividimos casa, carro, alimento, trabalho, bens materiais, emoções e sonhos. Organizamos caronas para ninguém sair sozinho no carro. Cultivamos nossa horta e pomar. Criamos galinhas soltas no quintal. Produzimos nosso próprio pão, além do queijo e iogurte com leite de produtor da região. Nossa cozinha é coletiva. Levamos marmitas para o trabalho. Raramente assistimos TV, a não ser quando queremos ver um bom filme ou jogos de futebol. Mas ninguém está interessado no último capítulo da novela.

Não temos uma vida modesta. Pelo contrário, somos abundantes. Mas nossos sonhos de consumo não são o carro do ano ou uma tela de plasma de última geração. Nem todos os moradores têm, como eu, um histórico de militância na esquerda ou acreditam que o socialismo é o único caminho para salvar o planeta. Mas sabem que repartir é fundamental e que se quisermos mudar a sociedade, temos que começar por nós. Por isso, não abrimos mão da meditação e do trabalho terapêutico. Buscamos consciência e autoconhecimento. “Conhecer a si mesmo é a coisa mais difícil”, dizia Osho.

Pra escrever esta coluna, busquei alguns autores que gosto muito como Leonardo Boff. Considero o livro Cuidar da terra, Proteger a vida – Como evitar o fim do mundo essencial para pensarmos alternativas. “Não temos tempo para acobertamentos, meias-verdades ou simplesmente negação daquilo que está à vista de todos. O fato é que assim como está a humanidade não pode continuar. Caso contrário, vai de encontro a um colapso coletivo da espécie”, diz ele. Também consultei A revolução sexual de Wilhelm Reich, onde o autor, entre outras questões, analisa os motivos do fracasso das comunas na revolução russa. Trata especialmente da instituição do casamento e da vida familiar. Mas sempre acabo voltando ao Osho. Ele conseguiu abordar toda a complexidade do ser humano com uma clareza incrível.
Segundo Osho, toda a nossa vida, como é aprovada pela sociedade, pelo estado e pela igreja, está baseada na auto-ignorância. “Você vive sem se conhecer porque a sociedade não quer que você se conheça. Isso é perigoso. Uma pessoa que conhece a si mesma fatalmente será rebelde”. Mas as barreiras também são internas. Não basta não querer ser escravizado, explorado, oprimido. Tem que parar de dominar, oprimir, explorar. “Observe e perceba essas duas barreiras e comece abandonando a sua própria. Primeiro, pare de dominar, de possuir, de explorar e, subitamente, será capaz de sair da armadilha da sociedade”, alerta o mestre indiano.
Para ele, o ego é o problema e por isso não conseguimos conhecer a nós mesmos. “O ego lhe dá imagens falsas de si mesmo. Se você carregar por muito tempo essas imagens, ficará com medo. O medo acontece porque, se a sua imagem cair por terra, a sua identidade será despedaçada. Quem você será? Você enlouquecerá, pois investiu muito nela. E todos pensam sobre si mesmos em termos muito grandiosos, em termos muito falsos. Ninguém concorda com você, ninguém o aprova, mas seu ego acha que todos estão errados. Se você deseja se conhecer, precisa abandonar suas falsas auto-imagens. E aí está o problema, pois isso não é muito bonito. Você se considera uma pessoa repleta de amor, mas existe também ciúme, possessividade, ódio, raiva e todos os tipos de negatividade. Para conhecer a si mesmo é preciso se deparar com fenômenos feios. Eles estão ali e cada um precisa atravessá-los. Você tem um belo ser dentro de você, mas não está na periferia, ele está no centro.”

Como diz Boff, somos passageiros de um avião em vôo cego. Viver com menos bens materiais e com mais riqueza emocional em harmonia com a natureza. Talvez esta seja uma boa equação. Se a consciência muda, então a estrutura da sociedade obrigatoriamente acompanhará. Mas o oposto não é correto.
 
* Katia Marko é jornalista, terapeuta bioenergética e uma pessoa em busca de si mesma.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

" O poder das palavras "

 

Sílvia Araújo*

                                Para que servem as palavras?

Uma, de tantas as respostas que podem ser dadas, é que as palavras servem para a comunicação entre pessoas. Portanto, quanto mais clara for a forma do falar, melhor será seu o resultado. A palavra comunicação tem sua raiz no latim communicatio, ideia de tornar comum, que deriva de communis, dos sufixos-ica que indica estar em relação, e - ção que indica ação. Logo, comunicação é a ação que tem como objetivo tornar comum uma ideia ou mensagem.

Para a Programação Neurolinguistica (PNL), considerada a ciência da excelência, as palavras são como programas que rodam na mente e geram resultados. O cérebro é o hardware e as palavras são os softwares. O sociólogo e jornalista Ciro Marcondes Filho, através de sua citação, ilustra com maestria uma das habilidades mais extraordinárias do ser humano: "Comunicação é antes um processo, um acontecimento, um encontro feliz, o momento mágico entre duas intencionalidades".

Quando as palavras comunicam a intenção, a magia acontece. É maravilhoso, ver, ouvir e sentir esta mágica em contextos profissionais, familiares, amorosos ou sociais. Por outro lado, o uso inadequado das palavras enfraquece, distorce ou até mesmo destrói esta arte.
Quantas vezes você já viu ou ouviu alguém dizer:

- Na verdade, o que eu queria dizer era... Você não entendeu o que eu disse...
Muitas vezes o conflito já se instalou e é tarde demais para manter a harmonia do objetivo original.

A responsabilidade da comunicação é de quem comunica. O como falar é o que faz a diferença para tornar a comunicação conflitante ou eficaz. Compartilho aqui sugestões no uso de duas palavras muito comuns: "Gostaria" e "Não", elas podem mudar o rumo de muitas histórias.

Por exemplo, a palavra "gostaria", pressupõe um impedimento.
Imagina alguém dizendo a seguinte frase: - Eu gostaria de lhe agradecer por ler este texto. Instantaneamente surge um diálogo interno: - Então, agradeça. Ou perguntas internas como: - O que te impede de agradecer? - Quando vai agradecer? Experimente, então, imaginar o som da frase: - Agradeço a sua atenção em ler este texto.

A experiência interna é diferente, pois acontece o processamento neurológico do agradecimento e a mensagem torna-se mais eficaz.
Vejamos alguns exemplos com a palavra "Não". Não pense em um elefante rosa de bolinhas lilases. Pronto! É suficiente para imaginar o elefante rosa e de bolinhas lilases. Isso acontece porque o "Não" funciona como um comando hipnótico que direciona o cérebro a pensar justamente naquilo que está sendo negado. É como se fosse uma programação para o que vem depois do não, ou um processamento adicional para buscar o sim.
Já imaginou dirigir num lugar desconhecido e se direcionar por um GPS com os seguintes comandos: "Não vire à direita, não vire à esquerda, não siga em frente..." Seria uma confusão, não é mesmo? Ainda bem que os GPS costumam ter uma linguagem assertiva: Vire à direita, vire à esquerda e siga em frente.
Muitas pessoas estão acostumadas a dizer o que não querem e isso pode limitar o alcance de seus objetivos. Uma forma interessante para gerar foco e ações é se perguntar: quando digo "não" para isso, quero dizer "sim" para quê?
Por exemplo:
- Não se atrase para a reunião. Troque por: - Chegue no horário.
- Não quero me irritar! Substitua por: - Quero gerenciar minha inteligência emocional.
- Não vamos perder negócios, por: - Queremos fazer negócios.
- Não quero sofrer, por: - Quero ser feliz!
Lembre-se de que quando encontrar um "não" numa experiência, busque o "sim" ou os "sins".
Quando um profissional desempregado ao passar por um processo seletivo recebe um "não", a pessoa continua sem trabalho. Nada mudou. Nada? Claro que sim, basta buscá-los. Normalmente existem novas percepções e aprendizados para o "sim" que estar por vir. O "não" nada tira de você, pense nisso!

O que afinal faz muitas pessoas frustrarem-se com o "não"? As representações internas dos milhares de "nãos" registrados e suas cargas emocionais acumuladas ao longo da vida. Então, diante de um "não", inconscientemente somos remetidos a significados de rejeições passadas.

Somente na infância recebemos mais de um milhão de "nãos" e registramos sentimentos primários como medo, tristeza ou raiva pelo simples fato de desconhecer os "sins".

Vale comparar o registro de Moisés no Antigo Testamento da Bíblia ao comunicar os mandamentos das Leis de Deus com o Novo Testamento de Jesus.

Moisés: - Não matarás, não furtarás, não... não... não... não... não... não... não... não!!!

Jesus: Amarás a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo.
Pelos ensinamentos deixados pelo maior líder de todos os tempos, pelas descobertas da ciência, pela arte de viver e pelos mistérios da vida. Vale a pena focar naquilo que se deseja para facilitar a beleza da vida.

Foco é como a mais bela flor que encanta o jardim do seu bem-estar e daqueles que compartilham da vida com você.
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* Administradora, trainer em neurolinguista, docente em cursos de pós-graduação, coaching executiva e pessoal, diretora do Instituto 3 pilares.