terça-feira, 30 de agosto de 2011

Os mais velhos advertem: aproveite mais a vida











Eu sou você amanhã
Os mais velhos advertem: aproveite mais a vida, não leve tudo tão a sério e busque mais o prazer. Eles sabem o que falam!
< Eduardo Petta,autor do texto.>
Em alguns países da África, costuma-se dizer que cada ancião que morre é uma biblioteca que se perde. É bem possível mesmo. Os mais velhos são uma fonte de experiência e saber acumulado ao longo dos anos ¿ prova disso é que, quando ainda não existia a escrita, todo o conhecimento de uma determinada cultura era transmitido boca a boca a partir dos antigos. Era como se eles encarnassem uma espécie de enciclopédia viva.

Com mais tempo de estrada, os idosos realmente têm propriedade para falar. Já tropeçaram, levantaram e quase sempre descobriram a duras penas o que deveriam ou não ter feito. Prova disso é que aquelas frases feitas que a gente cansou de ouvir das nossas avós tinham algum fundo de verdade :_ vai dizer que nunca se lembrou do famoso "saco vazio não pára em pé"! depois de morrer de dor de estômago por ter ficado horas sem comer... Grande sabedoria ainda que de bolso que poderia ter sido usada a tempo.







Mais do que rápidas lições, os mais velhos têm muito a nos ensinar sobre a vida e a forma como nos relacionamos com ela. O filósofo e educador chinês Confúcio (551-479 a.C.), cujas idéias foram importantes a ponto de moldar a sociedade oriental, costumava dizer que buscava na sabedoria dos antigos sua fonte de inspiração. ¿É por retomar o antigo que se aprende o novo. E assim nos tornamos mestres¿, dizia. Pensando nisso, pinçamos alguns conselhos preciosos de quem já passou dos 70. Para guardar e ir usando devagar, durante os muitos anos que você ainda tem pela frente.

Navega-se como um veleiro, ao sabor do vento, dando bordos para se chegar de um ponto ao outro. E nem sempre se chega no porto programado. Aceitar essas imprevisões é uma lição para encarar o futuro.A vida não é uma corrida em linha reta. Quando se começa a correr na direção errada, quanto mais rápido for o corredor, mais longe ele ficará do ponto de chegada.Para o escritor, deixar-se levar é a melhor maneira de encontrarmos a nós mesmos. Colha o dia como se fosse um fruto maduro que amanhã estará podre. A vida não pode ser economizada para amanhã. Acontece sempre no presente.

O Morto Escuta



O Morto Escuta

< Fabrício Carpinejar>




Sou místico, acredito no sobrenatural, em Deus,em anjos,fantasmas,em duendes,rezo ao entrar no carro,faço sinal da cruz ao passar por igreja,enxergo coincidências e sigo rituais.

Quando pequeno, queria ser santo.

Hoje,percebo que é difícil ser apenas um homem honesto.

Fiquei abalado pela história real de uma Enfermeira Mineira. Foi a descoberta espiritual mais importante de minha vida.Não dormi por duas noites seguidas relembrando as verdades ditas por aqueles olhos azuis enormes.

Ela trabalhou por 30( trinta anos ) na Santa Casa de Misericórdia, cuidando e socorrendo pacientes terminais.



Confessou que a pessoa morre como viveu.

Os mais alegres têm despedida leve, tranquila, independente da enfermidade.

Vão daqui para o outro lado sonhando. Não,realizam drama,tampouco articulam chantagem.Tamanha a suacidade,não dá para identificar o último suspiro.Aceitam o destino,agradecidos pelo amor recebido.



Já os que estavam acostumados a reclamar de qualquer coisa também definham contrariados.Atolados de culpas e dívidas,esbanjam esgares de sofrimento,protestam pelas dificuldades adquiridas na doença,gritam a cada arrepio,lamentam ausência de atenção; o hospital nunca é bom , a dor sempre é insuportável.



Eles falecem com o rosto contraído,fechado,apunhalado.De quem apanhou da morte.

Uma feição tensa,de escultura inacabada.

Mas,então,a Enfermeira revelou um hábito surpreendente de sua equipe: conversar com o defunto.

Diante do morte sofrido,refratário,e penoso,ela cochichava conselhos em sua orelha.Pedia para que ele reconsiderasse sua raiva,que desistisse da cara amarrada e emburrada,que se arrumasse para o velório e abandonasse o ressentimento.

Explicava que os familiares esperavam com ansiedade para vê-lo,que ele precisava se despedir bonito,que os parentes mereciam seu perdão e não valia a

pena comprar briga por orgulho e teimosia.

Com as palavras delicadas de incentivo,não é que o morto ia soltando os traços e transformava a aparência na hora: libertava as bochechas,alforriava a boca ,relaxava por completo.

O morto incrivelmente escutava.Entendia a súplica da Enfermeira,e sua equipe.Mesmo depois do seu fim.Atendia ao pedido e desinchava a amargura e serenava o espírito.



Nossos ouvidos não terminam com a morte.Continuam ouvindo onde quer que estejamos.




sábado, 27 de agosto de 2011

deixe conhecer sua emoção







Não desperdice a oportunidade de conhecer melhor suas emoções negativas.
Tenho um amigo que é totalmente zen. Ninguém tira o moço do sério. Foi despedido por causa de uma sacanagem feita por um colega de trabalho (e ele não conseguiu balbuciar uma frase sequer em sua própria defesa), vez por outra recebe em sua casa amigos que aparecem para ficar uma semana e estendem o prazo para longos três meses e já vi gente pegar alguns bons CDs da sua estante com um cínico e deslavado depois eu devolvo sem que ele esboçasse um único gesto para impedir. Meu amigo não consegue expressar sua agressividade. Num mundo onde a maioria não tem a menor cerimônia em arreganhar os dentes e abrir seus caminhos com os cotovelos, ele tem horror em ver nele mesmo essa reação primitiva que solapa a vida dos outros mortais (ele não, ele não...). Até que um dia, na minha casa, depois de umas três ou quatro caipirinhas, meu amigo começou a despejar ódios e fúrias que provavelmente tinha guardado desde a infância. A minha mesa da cozinha, que já não é essa fortaleza, tremia a cada soco seu, por causa da prepotência de um, da falsidade do outro. Cada gozação recebida, cada injustiça passada estava registrada em sua memória. Tive a impressão de que, se o rapaz dos CDs passasse por ali, teria sua mão decepada, e o colega de trabalho, os dentes moídos. Os hóspedes inconvenientes seriam postos para fora a sopapos. Depois de socar e socar, terminou chorando pelo verdadeiro motivo de sua ira: a incapacidade de entrar em contato com as emoções negativas.

Bem, minha cozinha está longe de ser um set terapêutico, mas, ao encontrar o moço alguns dias depois, vi um sorriso em seus lábios que não estava ali antes. Ele se sentia um pouco envergonhado, sim, mas feliz. Um peso enorme havia saído de seu coração, me garantiu. Um alívio. Estava supercontente por ter descoberto que era capaz de expressar sua agressividade. Claro, ele reconhecia que ainda tinha de aprender a saber como aplicá-la na hora certa, a regular seu volume, e que isso custaria tempo e trabalho. Tinha encontrado cara a cara seu lado negro, sua sombra, de quem tinha tanto pavor (a ponto de negar sua existência). A partir daquele momento, me assegurou, tudo era uma questão de calibragem. Pode ser imaginação minha, mas a partir desse dia passei a ver muito mais cor e vida em seu rosto.
< Liane Alves>

A Palavra,Martha Medeiros

Freud,costumava dizer que poetas e escritores precederam os psicanalistas na descoberta do insconsciente.Tudo porque literatura e psicanálise possuem um profundo elo em comum: " a palavra"!

Já me perguntei algumas vezes como é que uma pessoa que tem dificuldade com a palavra consegue externar suas fantasias e carências durante uma terapia. Consultas são um refinado exercício de comunicação.Se relacionamentos amorosos fracassam por falhas na comunicação,creio que a relação terapêutica também naufragará diante da impossibilidade de se fazer entender.

Estou lendo um belo livro de uma autora que,além de poeta,é psicanalista,Sandra Niskier Flander.E o livro chama-se,justamente a " pa - lavra ",assim minúsculas e salientando o verbo contido no substantivo, LAVRAR:revolver e sulcar a terra,prepará-la para o cultivo.

Se eu tenho um Deus,e tenho alguns,a palavra é certamente um deles.Um Deus feminino,porém não menos dominador.Ela,a palavra,foi determinante na minha trajetória não só profissional,mas existencial.Só cheguei a algum lugar nessa vida por me expressar com clareza,algo que muitos consideram fácil,mas fácil é escrever com afetação.

A clareza existe simplicidade,foco,precisão e generosidade.A pessoa que nos ouve e que nos lê não é obrigada a ter bola de cristal para descobrir o que queremos dizer.Falar e escrever sem necessidade de tradução ou legenda:eis um dom que é preciso desenvolver todos os dias por aqueles que apreciam viver num mundo com nmenos obstáculos.

A palavra ,que ferramenta.

É pena que haja tamanha displicência em relação ao seu uso.Poucos se dão conta de que ela é a chave que abre as portas mais emperradas ,que ela facilita negociações,encurta caminhos,cria laços,aproxima as pessoas.Tanta gente nasce e morre sem dialogar com a vida.Contam coisas,falam por falar,mas não conversam,não usam a palavra como elemento de troca.Encantam-se pelo som da própria voz e, nessa onda narcísica,qualquer palavra lhes serve.

Mas,não.Não serve qualquer uma.

A palavra exata é um pequeno diamante.
Embeleza tudo : o convívio,o poema,o amor.Quando a palavra não tem serventia alguma,o silêncio mantém-se,no posto daquele que melhor fala por nós.

Em terapia- voltemos ao assunto inicial - , temos que nos apresentar sem defesas,relatar impressões do passado,tornar públicas nossas aflições mais secretas,perder o pudor diante das nossas fraquezas,ser honestos de uma forma quase violenta,tudo em busca de uma " absolvição",que nos permita viver sem arrastar tantas correntes.Como atingir o ponto nevrálgico das nossas dores sem o bisturi certeiro das palavras?

É através dela que a gente se cura.

superação da circunferência,a sabedoria





Superação da circunferência
" é a sabedoria que nos ajuda a encontrar o bom caminho... "
Liane Alves

Ao traçar num papel o círculo que representa um buraco, vemos que ele tem limite: a própria circunferência. O que nos separa da integração com um todo é justamente essa fronteira. "Nas antigas civilizações, como as do Oriente, o indivíduo sentia-se mais integrado a sua cultura, a seu universo. A noção de falta era menos presente e sentida porque toda uma estrutura o amparava em suas decisões, comportamentos e objetivos. Mas hoje, na modernidade, essa integralidade não mais existe. Vivemos uma cultura fragmentária e individualista", diz a psicanalista paulista Andrea Naccache, de formação lacaniana. "Por isso recorremos tanto ao Oriente: para tentar resgatar esse sentimento de integração de corpo, mente e espírito com o universo", diz ela. Mas o caminho também pode ser outro. "O que nos leva a ultrapassar a circunferência e transcendê-la é o outro. É ele que nos estimula a ultrapassar nossos limites e a fazer essa passagem. É dessa maneira que podemos ir além de tudo o que achamos que somos, ou do que acreditamos que podemos", diz a psicóloga.

Isso mesmo: a falta nos guia em direção a quem está em nossa volta. Porque é justamente entre as pessoas que está aquela que nos vai impulsionar. Seja um amigo (ou um inimigo...), seja o ser amado, um mestre, um livro escrito por alguém. "Assisti a um filme ontem, Homens de Honra, que conta a historia do primeiro mergulhador negro do Exército americano. Ele teve que superar limites fortes para conseguir fazer isso. E quem o estimulou a vencer essa luta foi o pai", conta Andrea. "Freud falou da falta como a perda de um objeto de amor primordial. Ele se concentrou na dinâmica do desejo, e em sua possível frustração. Hoje, a psicanálise se orienta para analisar formas de satisfação presentes. E o encontro com o outro nessa dinâmica é fundamental", diz ela. Não é à toa que num dos poemas mais intensos de Fernando Pessoa ("A Tabacaria"), o simples aceno do dono de uma loja consegue tirar do autor o sofrimento diante do vazio da vida. A salvação é motivada pela ação do outro.

Na metafísica, a resposta é semelhante. É a união com o Divino, ou com o estado primordial de amor e compaixão, que nos vai fazer superar a falta. É isso o que nos diz, por exemplo, Meister Eckhart, o grande místico medieval alemão: "Vede! Este homem permanece numa única e mesma luz com Deus: é por isso que não há nele nem sofrimento nem sucessão, mas uma igual eternidade (...) Ele permanece num agora que, em todo o tempo e sem cessar, é novo". Para Eckhart, nossa falta primordial é ontológica: é o desejo da alma de se unir a Deus, que, nesse caso, é um outro divino. "Essa semente (na alma) pode estar encoberta ou oculta, mas jamais aniquilada ou extinta. Ela é ardente, brilha, ilumina e queima, e tende sem cessar para Deus."

Assim, não precisamos de mais nada. Pois a falta primordial deixa de existir. "O sábio não tem mais nada a esperar ou a exigir", diz o filósofo André Comte-Sponville. "Como não precisa de nada, é inteiramente feliz." E o escritor francês Matthieu Ricard, em seu livro Felicidade (Editora Palas Athena), complementa a ideia: "Somos responsáveis pela escassez que nos aflige. Não nascemos sábios, nos tornamos". É a sabedoria, portanto, que nos ajuda a encontrar o bom caminho para transcender aquilo que nos falta.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

que vazio é esse?


volta e meia deparamos com o sentimento de que falta alguma coisa em nossa vida


Numa entrevista recente, a atriz Isis Valverde desabafou: "Tenho um buraco enorme dentro de mim, uma falta que não consigo explicar ou preencher, e que está sempre presente em tudo o que faço". Como um pano de fundo, esse sentimento a acompanha em suas conquistas, projetos, relacionamentos. Às vezes fica encoberto, mas se há um pouco de silêncio interior, ele pode se manifestar claramente. E isso não acontece só com ela. O que Isis descreveu tão bem é algo que habita o coração de todos.

Essa quase indefinível sensação de necessidade e carência foi descrita pela filosofia, pela psicologia, pela literatura. Para alguns ela é intensa, para outros se apresenta menos profundamente e com mais raridade. Porém, uma vez ou outra na vida, nos encontramos com esse sentimento inequívoco de falta de algo que nem conseguimos definir direito o que é. "Na mitologia grega, a mãe de Eros, o desejo, é a Penúria, a falta. Sabiamente, os gregos colocavam a carência como a origem de tudo que desejamos na vida. Para eles, esse gosto de escassez, de insuficiência, de insatisfação é a grande faísca que dá partida às nossas ações, planos e sonhos", diz a professora de mitologia Helenice Hartmann.

Saber disso gera alívio. Muita gente não consegue identificar esse aperto no peito que nos angustia, e mal percebe que ele está ali presente, ou que sequer existe. Ao dar um nome para esse sentimento difuso, mas insistente, a vida pode se reorganizar de uma maneira diferente. Podemos reconhecer o que nos incomoda e, mais que isso, observar como essa falta primordial é capaz de conduzir, nem sempre de uma maneira mais sábia, a maioria dos nossos movimentos existenciais. Com base nessa nova consciência, é possível, então, uma regulação mais equilibrada de nossos desejos: já sabemos o que os origina, e assim podemos administrá-los melhor. Se admitimos que essa falta jamais será preenchida com as ilusões do universo material, ou mesmo emocional, vamos abrandar a fome com que nos atiramos às pessoas e às coisas. Dessa maneira, é possível nos contentarmos mais com a vida, e até nos alegrarmos e nos sentirmos gratos com o que já temos, pois atendemos a essa necessidade de outra forma. "Não se trata de suprimir o desejo, mas de transformá- lo: de desejar um pouco menos aquilo que nos falta e um pouco mais aquilo que temos; de desejar um pouco menos o que não depende de nós e um pouco mais aquilo que de fato depende", sugere o filósofo francês contemporâneo André Comte-Sponville. Sem dúvida, isso já é um ótimo começo.

atreve-te...um pouco




se nós nem sequer nos atrevemos a chegar ao acesso,menos ainda ao portal de entrada.Como poderemos experimentar o que está apenas esperando por nós?

Se nós sempre nos recusarmos a entrar por medo,e por precaução ,nosso destino será sempre ficar de fora!

Aquilo que está constantemente em ação e é muito exigido forçosamente,acaba se desgastando,com o tempo.

Algumas coisas podemos consertar ou renovaroutras são irreparáveis ,é importante conhecer essa diferença.


É o desafio do tempo,é apenas a nossa própria sombra,que nos segura,e nos impede de caminhar,ativamente,em direção a novas condições,a novos desafios.

Nenhum fardo é tão pesado,nenhum perigo tão grande,nenhum esforço é demais,nenhum momento difícil,quando o motor que nos move é suficientemente,forte,como o amor,por exemplo.

E,em todos os desejos,em todos os esforços,esperanças e atividades,precisamos de uma compesação que nos dê o descanso merecido.E,às vezes,parece demorar uma eternidade,conseguir finalmente,fazer valer nossos esforços e sacrifícios.Porém,depois da prática disciplinada,estes esforços,serão sonoso por muito tempo e muito tempo.

As lembranças...

esperanças...








às vezes precisamos


deixar que todas as esperanças


se percam pelo caminho.





Porém ,isso não significa que devemos desistir..de todas as esperanças,pois


sempre há outros caminhos para o qual nosso olhar está temporariamente fechado.
< Kristiane Wybranietz>









quem dera a vida fosse assim passível de controle...



" Fezinha "
Diana Corso


Viver é perigoso e mesmo depois de crescidos ainda nos sentimos desamparados frente às arbitrariedades do destino.Por isso ,restos de um pensamento mágico infantil ajudam a recuperar um poder que sempre nos escapa: o de prever catástrofes para melhor evitá-las.Podemos tomar cuidados,mas não nos iludirmos ,há

um forte elemento de imprevisibilidade,a morte e o sofrimento podem simplesmente aparecer.Tomada nessa idéia ,e sem perceber,criamos uma brincadeira,um oráculo portátil,que nos ajuda a diminuir a sensação de impotência.Acredite se quiser: são os sachês de adoçante!


Há uma marca de adoçante em pó que vem em doses individuais,em envelopes coloridos.O ritual é o seguinte: no café da manhã,pego um envelope sem olhar( a fé é cega ) e sua cor é prognóstico do dia que me espera.

Há cinco cores: roxo,azul,verde,amarelo e cinza.Sem pensar ,montei um sistema no qual tendo ao bom prognóstico: o roxo significa um dia " excelente ",todos meus desejos serão viabilizados ,não seremos vítima de acidente ou de violência,nem uma doença se revelará. Já os azuis e verdes,nessa ordem,são dias respectivamente " muito bom " e " bom ".

O amarelo significa um prognóstico " regular " e somente o cinza revela necessidade de cautela,perigo no ar,frustrações ou tristeza à vista.

Como se pode observar,em cinco possibilidades só uma é ruim.De posse desse pequeno prognóstico,junto mais coragem para enfrentar a assustadora jornada diária.

Embora não fosse consciente,sei que a brincadeira não é sem sentido: não se trata de uma aposta cega na sorte!Talvez no fundo ela não exista.Toda fé,superstição ou crença inclui seus ritos.Reverenciam-se homens

santos ,reza-se ,fazem-se oferendas,pensamentos positivos,rituais.Sempre é uma revolta ativa contra a passividade à qual a morte nos condena.Ela vem quando quer,mas não morremos sem lutar.Graças a isso pude desenvolver esse otimismo infundado,em que ,de cinco possibilidades,tenho quatro bons prognósticos.

Quem dera a vida fosse assim ,passível de controle!

Ainda bem que algo de magia da infância sobrevive para que possamos brincar de esperanças,nem que se tenha de recorrer a pequenos truques !!!

...conhecer o outro



"Só me conhecerão quando eu morrer "

Gustavo Gitti


Nós estaremos todos mortos em breve.Lembretes diários assim ajudam a sustentar a perspectiva da morte e direcionar a vida ao essencial.Afinal ,não é muito inteligente esperar para nos lembrar do que vale a pena!

Do mesmo modo que destila a vida,o olho da morte pode melhorar os relacionamentos.Para abri-lo,vamos observar o que acontece em um velório caricato.Todos começam a conversar sobre sua conexão com o falecido ( a ) .O Filho fala do pai,para o sócio,da mãe.Que descreve o que ele via.

A namorada surpreende a ex - mulher com histórias que não parecem vir de seu ex - marido.O amigo do judô dá risada com o amigo da dança de salão.A diretora de uma ONG revela como ele a ajudou secretamente por décadas.

Só conhecemos uma pessoa quando ela morre.

Mas talvez possamos antecipar o processo.


O que vemos quando olhamos para esposas,namorados,amigos,filhas,funcionários?????

O outro surge cem por cento ( 100%) como a identidade que foi construída pela relação.

Começamos a enxergá-lo de um jeito e,em pouco tempo,não mais desconfiamos de que ele seja muito mais do que nos aparece,de que outros o ativem de outro modo,de que ele encarne diferentes risadas,olhares,gestos.

A cegueira se evidencia quando o flagramos em outro mundo,reencontrando um amigo de infância ou palestrando.É como se fosse outra pessoa!


Nunca abraçamos alguém por inteiro - e nem deveríamos tentar.Conectar-se com essa pessoa livre,não apenas com suas identidades,é o melhor jeito de aprofundar a relação.


Conhecer o outro muitas vezes significa congelar o outro.Para conhecer alguém é preciso desconhecê-lo,relacionar-se,com o espaço onde surgem suas faces e suas histórias.Liberar o outro de quem ele é.


Impedimos as pequenas mortes,e renascimentos,quando silenciosamente,sem saber exigimos que o outro encarne de novo e de novo o personagem com o qual estamos acostumados.Desejamos surpresas ao mesmo tempo q ue as dificultamos.Ao controlar,tentamos garantir que a relação dure,que não sejamos abandonados,que o outro não seja assim tão livre:

" mude ,mas somente dentro das mudanças que eu espero "...

Podemos deixar os outros morrerem mais antes da última morte,conhecê-los é alimentar sua imprevisibilidade,descobrir não tanto quem a pessoa foi ou é,mas quem não é,quem pode ser!!!



domingo, 14 de agosto de 2011

Dia dos Paipaisss









A Pedra
O distraído nela tropeçou...
O bruto a usou como projétil.
O empreendedor, usando-a, construiu.
O camponês, cansado da lida, dela fez assento.
Para meninos, foi brinquedo.
Já, David matou Golias, e Michelangelo extraiu-lhe a mais
bela escultura...
E em todos esses casos, a diferença não esteve na pedra, mas no homem !
Não existe "pedra" no seu caminho que você não
possa aproveitá-la para o seu próprio crescimento.
Cada instante que passa é uma gota de vida que nunca mais
torna a caír,

Aproveite cada gota para evoluir...
Das oportunidades saiba tirar o melhor proveito, talvez
não tenhamos outra chance.


Aproveito para desejar muita saúde e paz, à todos os papais.
Parabéns pelo dia tão especial!!!!

sábado, 13 de agosto de 2011

" Tudo é o que é por uma razão "

Há muito tempo eu havia descoberto que tudo é o que é por uma razão.O farelo de massa em cima da mesa não é apenas um lembrete do biscoito desta manhã: está ali porque resolvemos não tirá-lo de lá! Nenhuma excessão neste particular.Tudo tem uma razão de ser e o menor dos detalhes constitui uma pista.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

assim são as palavras conjunções da vida!






Assim é a vida, cheia de conjunções: coordenadas por acontecimentos, subordinadas por amores, aditivas de conhecimentos, explicativas com muitos argumentos, pouco conclusivas, confusas e adversativas, mas sempre recheadas de alternativas...














Já dizia Lulu Santos " Tudo muda o tempo todo no mundo".
E eu passei por uma fase de grandes mudanças. Perdas,também são mudanças.E as perdas são necessárias dizia ," Judith Viorst"!

Mudança da rotina, mudança nos caminhos, mudanças, mudanças e mudanças.
Gosto delas, sempre estou pronta para mudar, ainda mais quando é para melhor.
A mudança traz duas sensações: insegurança e ansiedade.
Insegurança porque não sabemos o que nos espera lá, do outro lado, nessa nova fase. Então, dá aquele friozinho na barriga.
Ansiedade porque queremos logo mudar, queremos logo nos adaptar e logo conhecer tudo que essa mudança irá nos proporcionar.
E eu mudei tudo e escolhi isso.
Confesso, estou curtindo, mas mesmo assim dá uma saudade daquilo que éramos antes da mudança, daquela outra rotina, daquelas pessoas que faziam parte do nosso dia a dia.
Sempre temos que abrir de mão de alguma coisa, mesmo quando queremos abraçar o mundo com as duas mãos, se mudamos, tudo muda ou vice versa!"


então saudades...

então a saudade,





Vejo a saudade como uma fonte de alimento para quando se estar longe de algo ou alguém, é como se ela fosse um modo de saciar a falta que nosso coração sente! Isso porque ela traz lembranças, ocupa os pensamentos, libera os desejos mais ocultos, serve de ponte entre corações apaixonados... Na maioria das vezes a saudade dói e ela só dói porque saudade implica em ausência, a falta daquilo que nos faz feliz, a falta do perfume que é uma parte do nosso oxigênio, da pele do outro, das frases feitas que digam mentiras inocentes, do olhar que grita a verdade, das atitudes que surpreende nas horas e nos momentos mais inesperados, sente falta a te de ficar contemplando a beleza mágica do outro que enche a vida e tudo ao seu redor de cores...

Continuando a saudade não está só em relações amorosas pois saudade é tudo aquilo do qual sentimos falta como por exemplo falta da comida da mamãe, do jogo de final de semana com os amigos, do colo da vovó, daquela amizade de infância, do cheiro de terra molhada no inverno, de alguém que não está mais presente em corpo, do vento no rosto numa tarde de domingo... Isso é saudade! E reconhecer esse sentimento é uma questão de maturidade sentimental, sentir saudade é bom; aliás é maravilhoso; porque é na saudade que você conhece pedacinhos do seu coração que antes você não sabia que existia, mas que sempre esteve ali esperando o tal do sentimento de sentir falta pra poder gritar pra você eu existo e estou aqui pra te ajudar a dar mais valor as pequenas coisas da vida! E,na simplicidade,das lembranças saudosas,as histórias reais,são ensinamentos básicos,e práticos,para continuarmos a felicidade interior...proclamar,recordações!

Relato de Saudades






Na vida a gente ouve relatos de diversos tipos, diferentes assuntos e situações, sobre raça, política, religião, meio ambiente e outros assuntos dessas e de outras natureza," mas eu nunca vi nem ouvi um relato sobre uma saudade".

Segundo o dicionário Aurélio saudade é: "Lembrança nostálgica e, ao mesmo tempo, suave, de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo de tornar a vê-las ou possuí-las; nostalgia".

Lembrança nostálgica e, ao mesmo tempo, suave, de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo de tornar a vê-las ou possuí-las; nostalgia




que a luz ilumine os nossos caminhos







Gira em céu
um anseio ardente
por uma atração estrelada:
nasce assim o Eclipse...



Um sol Com A Cabeça Na Lua ...


Gira em céu
um anseio ardente
por uma atração estrelada:
nasce assim o Eclipse...


Aurora Em Vertigens
< de Thomas Albuquerque>

Naveguei em meu deserto
ao som do concerto do crepúsculo.
Um sonho voava no abismo,
cinismo a me acompanhar.


Pisei em vãs e secas folhas
como se dançasse em espinhos.
Devorei horizontes e caminhos
e clamei em gritos por meu pesar.


E depois de tantos delírios,
de todos os brilhos perdidos,
dormi aceso no tempo
e amanheci imortal.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

tudo passa

tudo passa




O mundo gira, o tempo passa.
E tudo muda de lugar.
Não vejo mais as flores da minha janela,
Não acordo ouvindo os pássaros,
Os meus amigos mudaram quase todos,
Minhas convicções já não estão tão firmes,
A canção não é mais minha, apenas minha...
As mudanças trazem o adeus.
E cada adeus traz tanta dor!
E é aí, quando parece que tudo acabou,
Que eu ouço a parte mais forte de mim.
Quando eu penso que não sou mais capaz.
Ela me diz:
Que eu não sou de cristal,
Nem uma pétala de flor,
Que eu não sou aquela princesa,
Que espera o príncipe pra resgata-la!
Eu venço meus dragões, lidero minhas batalhas.
Levanto-me do chão e me liberto!
Eu SEMPRE sigo adiante...






Peregrina...
"Não somos seres humanos passando
Por uma experiência espiritual.
Somos seres espirituais passando
Por uma experiência humana..."




Andava como quem sonha,
Um sonho de lua cheia.
Como quem tece uma teia
Andava feito aranha!

Cada passo era um flutuar.
Fazendo sair à velha lasca
Que prende a alma nessa casca.
Era um desprender e voar...

E no voo encontrar com o divino,
Nos passos que me punha a andar.
Um saber qual era o meu lugar,
Mesmo sendo peregrino...

Andava como quem bebe da vida:
Com borboletas no estômago,
A felicidade no âmago,
E a estrada florida.

Andava...

Mas não parei o caminhar...
Tem flores no meu caminho.
Eu ainda sei tirar espinho.
E as borboletas?... Vão voltar!

Vou também pela estrada.
Da aranha sou o inverso.
Hoje mais prosa que verso.
Até que eu parta em revoada*...

< escrito por Juliana C.de Lira >

escutando,e ouvindo






Escutar


Escutar é uma profunda participação entre o corpo e a alma. E é por isso que tem sido utilizado como um dos métodos de maior potencial para a meditação... porque interliga os dois infinitos: o material e o espiritual.

Quando você estiver sentado, apenas escute o que quer que esteja acontecendo; é um mercado e há muito barulho e tráfego, o trem, o avião — escute-os sem nenhuma rejeição na mente para o que é barulhento.

Escute como se você estivesse ouvindo música, com simpatia, e subitamente você verá que a qualidade do barulho mudou. Não está mais distraindo, não está mais perturbando; pelo contrário, se torna muito agradável. Se escutado corretamente, até mesmo o mercado se torna uma melodia.

Assim, o que você está escutando não é o importante — o importante é que você está escutando, não apenas ouvindo .

Mesmo se você estiver escutando algo que você nunca pensou que valesse a pena escutar, escute-o com muita alegria — como se você estivesse escutando uma sonata de Beethoven — e de repente você verá que você transformou a qualidade disso. Isso se torna belo. E nesse escutar seu ego irá desaparecer.


< Osho>







Virtude
As pessoas se tornam boazinhas. Essa não é a verdadeira virtude – é uma camuflagem.

Fazer boas coisas traz respeitabilidade, dá a você uma boa sensação no ego, faz com que você sinta que é importante, significativo – não somente aos olhos do mundo, mas também aos olhos de Deus –, que você pode ficar de pé e até mesmo encontrar Deus e mostrar todos os seus bons feitos. Isso é exaltar o ego, e a religiosidade não pode exaltar o ego.

Não que uma pessoa religiosa seja imoral, mas ela não é moral – ela é amoral. Ela não tem caráter fixo. Seu caráter é líquido, vivo, movendo-se momento a momento.

Ela responde às situações não de acordo com uma atitude, ideia ou ideologia fixa; ela simplesmente responde a partir de sua consciência. Sua consciência é seu único caráter, e não há outro caráter.


" Osho, em "Osho Todos os Dias – 365 Meditações Diárias"

brilho da vida

Brilho da Vida

de Iyanla Vanzant



A verdadeira nobreza não diz respeito a ser melhor que outra pessoa.
Diz respeito a ser melhor do que você costumava ser.
Tenha consciência de ninguém neste planeta é melhor do que ninguém.
Todos nós emanamos da grande força criativa da vida.
Todos temos a missão de cumprir a nossa essência pretendida; tudo o que precisamos para realizar o nosso destino está disponível para nós.
Nada disso é possível quando você se vê como superior a outros.
No ordem cósmica todos somos iguais.
Não avalie os outros com base em suas aparências, realizações, posses e outras referências do ego.
Quando você projeta sentimentos de superioridade, é isso que recebe de volta, levando a ressentimentos e finalmente a sentimentos hostis.
Pense nisso e transforme sua vida positivamente. "

contemplação do belo

Descobertas
Contemplar o belo é fazer das pequenas coisas um espetáculo aos nossos olhos.
É dialogar com os amigos,elogiar as pessoas,amar os desafios da vida.
É admirar as crianças,ouvir as histórias dos idosos.


É descobrir as coisas lindas e ocultas que nos rodeiam.É admirar as nuvens,o canto dos pássaros,o baile das folhas sob a orquestra do vento.É perceber além das imagens e das palavras.


Creio que menos de dez por cento das pessoas sabem contemplar o belo.Quem despreza essa lei tem uma alegria fugaz,uma emoção superficial.


Autoria : Augusto Cury,do livro " leis para ser feliz "











Dois parágrafos e um país.

De: _Paulo Fernando Fontana


Ao lembrar-me de um trecho de Júlio Wener, "'Atribulações de um Chinês na
China'' que diz: "quando as enxadas estão polidas e os sabres enferrujados,
quando os degraus dos templos estão gastos pelo caminhar dos fieis, e as
escadarias dos tribunais, cobertas de relva, quando os padeiros andam a
cavalo e os médicos a pé, então o império é bem governado!"



E este outro de uma Filósofa americana (russa de nascimento) AYN RAND
(1905-1982):



"Quando você perceber que, para produzir, precisa obter autorização de quem
não produz nada, quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não
com bens, mas com favores, quando perceber que muitos ficam ricos pelo
suborno e influência, mais do que pelo trabalho, e que as leis não nos
protegem deles, mas pelo contrario, são eles que estão protegidos de você,
quando perceber que a corrupção é recompensada e a honestidade se converte
em autossacrifício, então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua
sociedade esta condenada''.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Deixe-se em paz,silente...







Deixe-se em paz
O mundo não vai parar para você ter tranqüilidade. A tão sonhada paz é você que produz e espalha por aí.


Imagine-se numa quietude inabalável, sem problemas e decisões difíceis a serem tomadas. Imagine que o mundo não tem mais injustiças de nenhum tipo e nada para abalar sua tranqüilidade. Enfim, imagine uma harmonia estável, constante e ininterrupta. Parece impossível? E é.

A paz, que é o assunto deste texto, não tem nada a ver com um mundo perfeito, sem conflitos. Ainda bem, aliás, porque os conflitos são a matéria-prima da realidade, são a trama da vida. Paz, dizem as pessoas que a estudam e a conhecem, é o que se ganha quando se aprende a lidar com eles. E é sobre isso que trata este texto: sobre como construir sua paz e transmiti-la ao redor de si, nas suas relações. Convenhamos, o mundo anda carente disso.

Quando se fala em conflito, é comum a gente pensar em um confronto com outra pessoa. Mas os conflitos, dizem os especialistas, moram dentro da gente. Já ouviu falar que ¿quando um não quer, dois não brigam¿? É isso. Em geral, entramos em conflito quando nossas necessidades não estão sendo atendidas. Sim, necessidades, aquelas coisas essenciais à vida, como comer, dormir e ser amado. Acontece que dificilmente dizemos claramente nossas necessidades, porque mesmo as mais básicas vêm ricamente embaladas em desejos e gostos pessoais. Necessitamos, por exemplo, de nutrição e saúde, por isso queremos comida. Sentimos necessidade de diversão, por isso queremos ver TV. Precisamos de segurança e intimidade, por isso queremos companhia. Quando a gestante decide que ¿precisa¿ comer cuscuz com queijo coalho, na verdade ela está com fome. Mas, em meio àquela tempestade hormonal típica da gravidez, o cuscuz é a única coisa em que ela consegue pensar sem sentir que vai virar do avesso. Pronto. Está armada a confusão entre necessidade e desejo. E tome conflito para convencer o marido a sair à caça de um cuscuz.
Moral da história: o primeiro passo para quem quer viver numa boa é conhecer os próprios desejos e necessidades. E não confundi-los.

Atirando-se,nas letras da vida

Roda das letras da Vida





Numa roda de amigos, a conversa é sobre literatura. Cada um revela ao outro o que está lendo. Num misto de esnobismo e insegurança, alguém diz que está “relendo” determinado livrão clássico. Mentira. Receoso de colocar em questão sua reputação intelectual, a pessoa dificilmente assumiria que lê pela primeira vez alguma obra conhecida, como um Hamlet, do inglês William Shakespeare, ou um Crime e Castigo, do russo Fiódor Dostoiévski.

O escritor italiano Italo Calvino começou sua obra Por Que Ler os Clássicos, um pertinente ensaio sobre a importância da leitura desses livros, tratando justamente dessa atitude que recende a hipocrisia. De acordo com Calvino, não há idade para começar a ler um livro considerado famoso e respeitado pela crítica. E complementa com um recado consolador aos que temem assumir em público sua incipiente capacidade literária: “Por maiores que possam ser as leituras de formação de um indivíduo, resta sempre um número enorme de obras que ele não leu.”
Letras da Vida


A frase de Calvino destoa dos inúmeros preconceitos que cercam a literatura considerada clássica pela crítica especializada – ou canônica, numa classificação mais acadêmica. Graças aos inúmeros estudos sobre essas obras, elas podem passar a falsa impressão de serem leituras destinadas apenas a seletos (e eruditos) especialistas.

Isso não é uma verdade. Livros, sejam eles respeitados ou não, foram feitos por seus autores para serem lidos. Na verdade, quem teme ou apenas usa os livros clássicos como grife intelectual tenta se proteger. Ao evitar suas páginas, ficam livres de uma experiência que quase sempre questiona nossas certezas e sugere um mundo mais complexo. Trata-se de uma proteção revestida do mais ignorante dos medos. Aquele alimentado por ideias ditas pelos outros, não por uma experiência individual de leitura.

Pirando na batatinha...



Uma folga mental.


Perder o foco às vezes é importante. Precisamos disso para criar, inventar ou simplesmente viver bem.
Era um dia qualquer e o matemático foi tomar banho. Ao entrar na banheira, percebeu que o volume de seu corpo imerso movimentava um volume igual de água. Naquele momento ele não se conteve. Saiu da banheira, atravessou a porta em direção à rua e, completamente nu, gritou “Eureca! Eureca!” (“Descobri”, em grego). Foi desse jeito, íntimo e inesperado, que o grego Arquimedes (287-212 a.C.) resolveu um problema que o atormentava havia tempo: descobrir se a coroa encomendada pelo rei de Siracusa era totalmente de ouro ou se o artesão contratado havia misturado prata (metal mais barato) à joia. Essa história – contada pela primeira vez pelo arquiteto romano Vitrúvio cerca de 200 anos mais tarde, e que acabou se tornando lenda – mostra que a partir de observações simples Arquimedes teria desenvolvido parte de sua importante teoria sobre a lei do empuxo

Talvez ele nem estivesse pensando na coroa naquele momento. Quem sabe se preparava para participar de um banquete, ou estava simplesmente tomando um relaxante banho. O fato é que Arquimedes teve o impulso de observar o movimento da água na banheira – igual a um gato que fica “viajando” enquanto vê o líquido indo para lá e para cá em seu pote de água – e disso veio o insight para a solução do problema. Mesmo que não se saiba até que ponto essa história é verídica ou lenda urbana da Grécia antiga, ela revela que a mente despreocupada, divagante, é matériaprima para o pensamento, a existência e a evolução humana. Devanear, portanto, é importante para a vida
.

domingo, 7 de agosto de 2011

nossa criança interior,brincaderias de pátio



Iuuuuuupiiiiii!!!



A VIDA ESTÁ BOA?

ESTÁ COM VONTADE DE SAIR PULANDO FEITO UM POTRINHO NO CAMPO?
ENTÃO SUA CRIANÇA INTERIOR ESTÁ NO AUGE DA FELICIDADE. MAS, SE NÃO ESTIVER, TEM JEITO DE DESPERTÁ-LA, MESMO SEM PRECISAR EMPINAR PIPA, TOMAR SORVETE OU PUXAR O CAVANHAQUE DO CHEFE

texto Liane Alves Banho de mangueira no quintal pode terminar em guerra de esguicho e festa - é só começar

Se um marciano recém-chegado à Terra perguntasse a você o que é felicidade, que cena você escolheria para mostrar esse sentimento em seu mais puro estado? Um casal se unindo numa igreja? Um jovem recebendo seu diploma? Uma mãe amparando seu bebê pela primeira vez? Todas essas imagens expressam diferentes formas de realização, mas eu preferiria levá-lo para a beira de um rio para ver crianças brincando de pular na água, naquele tchibum sem igual na vida, correndo pela pedra para tomar impulso e mergulhar de pé com as pernas balançando para tudo que é lado. Tem alegria maior, mais pura que essa? Só a de cenas comparáveis: a menina escorregando na grama a mil por hora na chapa improvisada de madeira, o garoto pegando jacaré... Todas versões da mesma coisa: inocência e frescor, brincadeira e leveza, corpo e emoção, curiosidade e criatividade, senso de aventura e liberdade.

Se a gente reparar bem, ao nomear essas qualidades estaremos falando exatamente dos componentes básicos que garantem a felicidade. Não tem dinheiro no meio, tem? Também não tem segurança e estabilidade, tem? Esses momentos, ora veja, também não dependem nem de nada nem de ninguém. Muito menos de condições especiais, de pré-requisitos, ou de como a coisa deve ou não deve ser, essa mania de gente adulta. Porém, vamos ter de admitir: todo mundo sabe que não é mais criança. Temos outras necessidades, compromissos e responsabilidades. Criamos vínculos, travas, mordaças. Mas, hummm, será que não dá mesmo para conciliar as duas coisas? Será que não dá para buscar mais leveza e frescor, espontaneidade e alegria ou aventura e irreverência em nossas vidas? O mais legal dessa história é que dá, sim.

Você, como eu, também torcia o nariz quando ouvia falar da criança interior? E de como era importante expressá-la no dia-a-dia? Irônica, cheguei até a imaginar a cena: as crianças interiores do adultos saindo para fora das pessoas com estilingue no bolso ou com o coelho da Mônica pela mão, prontas para atingir o primeiro desavisado que aparecesse. Por isso, quando alguém vinha com essa conversa, assobiava, olhava para os lados e saltava fora. Até que um dia resolvi me aprofundar no assunto.

O criador da psicologia analítica, o suiço Carl Gustav Jung, por exemplo, passou um bom tempo de sua vida a estudar o tema. Um de seus mais brilhantes discípulos, James Hillman, também. Isso queria dizer que essa história de criança interna não era só coisa de livro de auto-ajuda. Reconheci: estava mais que na hora de saber como o contato com meu lado criança poderia ajudar a me dar mais vigor e alegria na vida.

Sob o quentinho do sol
Existem várias maneiras de contatar sua criança interna, e uma das melhores é a mais direta. Isto é, sempre que tiver chance, torne-se uma criança, desperte em você mesmo o menino ou menina que já foi um dia. Um grande mestre nos ensina como fazer isso: Se estiver na praia, comece a catar conchinhas ou a fazer desenhos na areia; se estiver no jardim, brinque com o cachorro, observe com atenção formigas, passarinhos e borboletas. Sempre que puder estar com crianças de verdade, misture-se a elas e deixe de ser adulto. Deite-se no gramado, como uma criança pequena aproveitando o quentinho do sol. Corra pelado, como a meninada faria. No banheiro, em frente ao espelho, faça careta, ou, quando estiver na banheira, jogue água para cima, brinque com patos de plásticos ou barquinhos. As possibilidades são infinitas. O mais importante é esquecer-se da sua idade. Essas palavras são do mestre indiano Osho. Ele nos ensinou a nos tornarmos crianças como um tipo especial e muito importante de meditação. E explica por que ela nos faz bem: Tudo isso é necessário para conectá-lo outra vez com sua infância. Você tem que regredir, chegar ao fundo das memórias, porque as coisas só podem ser mudadas se atingirmos suas raízes.

É isso: quando entramos em contato com a criança que já fomos, acessamos a energia e a criatividade do mundo infantil e somos rejuvenescidos pelo influxo dessa nova seiva. A gente se sente renovado, disposto. É por esse motivo que, quando estamos relaxados e felizes, inconscientemente já fazemos isso. As férias, por exemplo, favorecem o aparecimento de várias crianças interiores. Flagrei algumas com seus 40 e poucos anos empinando pipa na praia, jogando peladas na areia, disputando campeonatos de pebolim no bar ou tomando sorvete com cobertura de pastilhas de chocolate coloridas, jujuba, damasco e cereja, tudo ao mesmo tempo.

Ok, essa é uma das maneiras de arejar essa criança presa dentro do armário do peito e convidá-la para passear. Mas será a única?

completar, escreveu uma tese onde explica a enorme importância de acessar o mundo interno infantil e regredir voluntariamente como uma maneira de acessar uma fonte insuspeitada de vitalidade, intuição e abertura.

Seu discípulo James Hillman também dá força a essa idéia da brincadeira: O que a psicologia profunda passou a denominar regressão é apenas o retorno à criança interna, disse ele. É um processo de interiorização na busca de energia criativa, inovadora, que nos possibilita ampliar e desenvolver nossa jornada na busca de um sentimento de totalidade e plenitude. Por isso é que, depois de jogar pelada, furar onda ou andar de bicicleta, não há marmanjo que chegue em casa sem aquele sorrisão no rosto. Mesmo fisicamente exaustos, a vida nos parece tão boa e generosa que nos dá muita vontade de realizar coisas, amar as pessoas e ser feliz.

Realizar sonhos é outra maneira insuspeitada de expressar o que pede sua alma infantil

A criança ferida
A maioria das pessoas continua tendo contato com sua criança interior mesmo adulta, por meio de hábitos, desejos e condutas infantis. E essa criança interior que habita a alma de cada um pode vir à tona de várias formas, tanto positivas quanto negativas. Ela pode ser alegre, divertida, viva, quando expressa o arquétipo em seu lado positivo, ou melancólica, mal-humorada, teimosa ou birrenta, quando se mostra em seu lado negativo. Nesse último caso, essa exteriorização quase sempre vai revelar uma criança ferida e até hoje magoada. O primeiro lugar em que vamos encontrar essa criança abandonada é nos sonhos, em que nós mesmos, um filho nosso ou uma criança desconhecida é negligenciada, esquecida, deixada para trás, diz James Hillman. Acalentar, cuidar e dar segurança a essa criança ferida, seja com visualizações, seja com terapia, pode ser um passo muito importante para sua cura, segundo os parâmetros da psicologia analítica.

E Jung dizia mais ainda. Ele afirmava que toda vez que temos vontade de expressar os aspectos positivos da criança interna estamos dando claros sinais de que podemos estar a um passo de um grande evento: a obtenção da totalidade psíquica ou, em outras palavras, de atingir aquele estado de plenitude, alegria e felicidade tão bem representado pela criança quando tem todas as suas necessidade atendidas. Lembra a linda imagem usada pela compositora Dolores Duran que fala da paz de criança dormindo, na canção Para Enfeitar a Noite do meu Bem? O mestre da psicanálise diria que ela retrata com poesia e precisão o arquétipo da Criança Divina, que é a expressão maior e mais profunda da criança interior. É como se fosse a dimensão mais pura de nós mesmos, que pode ser atingida em alguns raros momentos durante a vida, quando temos a maravilhosa sensação de estar plenos, felizes e absolutamente integrados ao universo.

Você tinha idéia do quanto é importante travar contato com sua criança? Eu não.

Os egoistinhas
E aqueles adultos-crianças que não amadurecem nunca, chatinhos, mimados, egoístas e teimosos? Bom, eles estão em contato com o aspecto negativo de sua criança interior e tão identificados com ele que não conseguem amadurecer. É muito diferente de um adulto maduro que trava contato com seus aspectos infantis (tanto positivos quanto negativos, pois a tentativa é justamente conhecer-se melhor). Um é uma criança grande que não alcançou a saudável contrapartida da maturidade. O outro, um ser maduro que tem a sabedoria de não asfixiar a criança que já foi um dia.



Então, tá combinado: toda vez que você apostar em realizar um sonho (mesmo os atuais), tiver certeza de que o futuro vai ser benéfico e se sentir radiante e feliz, já vai saber que estará expressando sua criança interior. Também vai lembrar que as brincadeiras de infância e os exercícios de imaginação ativa, as ocasiões em que você se imagina quando pequeno, podem acessar um manancial imenso de criatividade e energia. Isso só para começar o jogo, porque tem muito mais coisas interessantes a respeito desse assunto, se a gente quiser se aprofundar. Da próxima vez que passar por uma seção de livros que falem da criança interior, juro que dou mais uma olhadinha e conto.

Clarice Lispector,em Felicidade Clandestina,1998






Clarice Lispector - Perdoando Deus




Eu ia andando pela Avenida Copacabana e olhava distraída edifícios, nesga de mar, pessoas, sem pensar em nada. Ainda não percebera que na verdade não estava distraída, estava era de uma atenção sem esforço, estava sendo uma coisa muito rara: livre. Via tudo, e à toa. Pouco a pouco é que fui percebendo que estava percebendo as coisas. Minha liberdade então se intensificou um pouco mais, sem deixar de ser liberdade.
Tive então um sentimento de que nunca ouvi falar. Por puro carinho, eu me senti a mãe de Deus, que era a Terra, o mundo. Por puro carinho mesmo, sem nenhuma prepotência ou glória, sem o menor senso de superioridade ou igualdade, eu era por carinho a mãe do que existe. Soube também que se tudo isso "fosse mesmo" o que eu sentia - e não possivelmente um equívoco de sentimento - que Deus sem nenhum orgulho e nenhuma pequenez se deixaria acarinhar, e sem nenhum compromisso comigo. Ser-Lhe-ia aceitável a intimidade com que eu fazia carinho. O sentimento era novo para mim, mas muito certo, e não ocorrera antes apenas porque não tinha podido ser. Sei que se ama ao que é Deus. Com amor grave, amor solene, respeito, medo e reverência. Mas nunca tinham me falado de carinho maternal por Ele. E assim como meu carinho por um filho não o reduz, até o alarga, assim ser mãe do mundo era o meu amor apenas livre.

E foi quando quase pisei num enorme rato morto. Em menos de um segundo estava eu eriçada pelo terror de viver, em menos de um segundo estilhaçava-me toda em pânico, e controlava como podia o meu mais profundo grito. Quase correndo de medo, cega entre as pessoas, terminei no outro quarteirão encostada a um poste, cerrando violentamente os olhos, que não queriam mais ver. Mas a imagem colava-se às pálpebras: um grande rato ruivo, de cauda enorme, com os pés esmagados, e morto, quieto, ruivo. O meu medo desmesurado de ratos.

Toda trêmula, consegui continuar a viver. Toda perplexa continuei a andar, com a boca infantilizada pela surpresa. Tentei cortar a conexão entre os dois fatos: o que eu sentira minutos antes e o rato. Mas era inútil. Pelo menos a contigüidade ligava-os. Os dois fatos tinham ilogicamente um nexo. Espantava-me que um rato tivesse sido o meu contraponto. E a revolta de súbito me tomou: então não podia eu me entregar desprevenida ao amor? De que estava Deus querendo me lembrar? Não sou pessoa que precise ser lembrada de que dentro de tudo há o sangue. Não só não esqueço o sangue de dentro como eu o admiro e o quero, sou demais o sangue para esquecer o sangue, e para mim a palavra espiritual não tem sentido, e nem a palavra terrena tem sentido. Não era preciso ter jogado na minha cara tão nua um rato. Não naquele instante. Bem poderia ter sido levado em conta o pavor que desde pequena me alucina e persegue, os ratos já riram de mim, no passado do mundo os ratos já me devoraram com pressa e raiva. Então era assim?, eu andando pelo mundo sem pedir nada, sem precisar de nada, amando de puro amor inocente, e Deus a me mostrar o seu rato? A grosseria de Deus me feria e insultava-me. Deus era bruto. Andando com o coração fechado, minha decepção era tão inconsolável como só em criança fui decepcionada. Continuei andando, procurava esquecer. Mas só me ocorria a vingança. Mas que vingança poderia eu contra um Deus Todo-Poderoso, contra um Deus que até com um rato esmagado poderia me esmagar? Minha vulnerabilidade de criatura só. Na minha vontade de vingança nem ao menos eu podia encará-Lo, pois eu não sabia onde é que Ele mais estava, qual seria a coisa onde Ele mais estava e que eu, olhando com raiva essa coisa, eu O visse? no rato? naquela janela? nas pedras do chão? Em mim é que Ele não estava mais. Em mim é que eu não O via mais.

Então a vingança dos fracos me ocorreu: ah, é assim? pois então não guardarei segredo, e vou contar. Sei que é ignóbil ter entrado na intimidade de Alguém, e depois contar os segredos, mas vou contar - não conte, só por carinho não conte, guarde para você mesma as vergonhas Dele - mas vou contar, sim, vou espalhar isso que me aconteceu, dessa vez não vai ficar por isso mesmo, vou contar o que Ele fez, vou estragar a Sua reputação.

... mas quem sabe, foi porque o mundo também é rato, e eu tinha pensado que já estava pronta para o rato também. Porque eu me imaginava mais forte. Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil. É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda. E é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria - e não o que é. É porque ainda não sou eu mesma, e então o castigo é amar um mundo que não é ele. É também porque eu me ofendo à toa. É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa. É porque sou muito possessiva e então me foi perguntado com alguma ironia se eu também queria o rato para mim. É porque só poderei ser mãe das coisas quando puder pegar um rato na mão. Sei que nunca poderei pegar num rato sem morrer de minha pior morte. Então, pois, que eu use o magnificat que entoa às cegas sobre o que não se sabe nem vê. E que eu use o formalismo que me afasta. Porque o formalismo não tem ferido a minha simplicidade, e sim o meu orgulho, pois é pelo orgulho de ter nascido que me sinto tão íntima do mundo, mas este mundo que eu ainda extraí de mim de um grito mudo. Porque o rato existe tanto quanto eu, e talvez nem eu nem o rato sejamos para ser vistos por nós mesmos, a distância nos iguala. Talvez eu tenha que aceitar antes de mais nada esta minha natureza que quer a morte de um rato. Talvez eu me ache delicada demais apenas porque não cometi os meus crimes. Só porque contive os meus crimes, eu me acho de amor inocente. Talvez eu não possa olhar o rato enquanto não olhar sem lividez esta minha alma que é apenas contida. Talvez eu tenha que chamar de "mundo" esse meu modo de ser um pouco de tudo. Como posso amar a grandeza do mundo se não posso amar o tamanho de minha natureza? Enquanto eu imaginar que "Deus" é bom só porque eu sou ruim, não estarei amando a nada: será apenas o meu modo de me acusar. Eu, que sem nem ao menos ter me percorrido toda, já escolhi amar o meu contrário, e ao meu contrário quero chamar de Deus. Eu, que jamais me habituarei a mim, estava querendo que o mundo não me escandalizasse. Porque eu, que de mim só consegui foi me submeter a mim mesma, pois sou tão mais inexorável do que eu, eu estava querendo me compensar de mim mesma com uma terra menos violenta que eu. Porque enquanto eu amar a um Deus só porque não me quero, serei um dado marcado, e o jogo de minha vida maior não se fará. Enquanto eu inventar Deus, Ele não existe.

Clarice Lispector: Felicidade Clandestina, 1998.

nós é que seremos a ameaça...






Martha Medeiros sobre:

Viajandões

Violência urbana nunca foi novidade. Aumentou, mas sempre existiu. Porém, até ela já teve dias mais românticos. Podemos quase sentir saudades de uma época em que os crimes eram protagonizados por uma turma que queria apenas enriquecer sem trabalhar, e para isso invadiam sua casa, levavam seu carro ou afanavam sua bolsa, mas sempre tendo a delicadeza de avisar antes: “Mãos ao alto, isso é um assalto”. Eles sabiam o que estavam fazendo. E uma vez com o objeto do desejo em mãos, iam embora apressados assim que ouviam as sirenes da polícia, não sem antes fazer uma mesura de despedida. Quase posso ver George Clooney no papel.

Hoje os meliantes chegam agressivamente comunicando “Perdeu! Perdeu!”, a polícia não aparece e ninguém sabe direito o está fazendo: se antes éramos surpreendidos por um pessoal que, a seu modo, tentava evitar confusões desnecessárias, hoje nos atacam completamente chapados, alucinados e sem a menor condição de distinguir um assalto de um assassinato. Não se pode mais escolher entre a vida ou a bolsa: eles levam ambos.

A recomendação sempre foi a de não reagir. Eles têm uma arma, você não. Obedeça. Porém, até um tempo atrás, contávamos com um mínimo de discernimento a nosso favor. Quem te assaltava sabia que estava cometendo um crime, sabia que deveria agir rápido e fazer o menor estrago possível, sem chamar atenção. Havia esperança de eles serem minimamente lúcidos e fazerem um serviço limpo.

Hoje, o cara que te ataca pensa que é Jesus Cristo.

Tem delírio de todos os tipos. Se você ousar piscar os olhos, ele poderá interpretar como um sinal feito para o carro da frente. Se você estiver de camiseta verde, isso pode ser considerado uma provocação, já que a grama também é verde, você por acaso o está mandando pastar? Em sua infinita doideira, nós é que somos a ameaça.

sábado, 6 de agosto de 2011

Uma Mulher entre parênteses

Uma Mulher entre parênteses
Martha Medeiros






Tinha algo a dizer, mas jamais aos gritos, jamais com ênfase, jamais invocando uma reação

Era como ela catalogava as pessoas: através dos sinais de pontuação. Irritava-se com as amigas que terminavam as frases com reticências... Eram mulheres que nunca definiam suas opiniões, que davam a entender que poderiam mudar de ideia dali a dois segundos e que abusavam da melancolia.

Por outro lado, tampouco se sentia à vontade com as mulheres em estado constante de exclamação. Extra, extra! Tudo nelas causava impacto! Consideravam-se mais importantes do que as outras! Ela, não. Ela era mais discreta. A mais discreta de todas.

Também não era do tipo mulher dois pontos: aquela que está sempre prestes a dizer uma verdade inquestionável, que merece destaque. Também não era daquelas perguntadeiras xaropes que não acreditam no que ouvem, não acreditam no que veem e estão sempre querendo conferir se os outros possuem as mesmas dúvidas: será, será, será? Ela possuía suas interrogações, claro, mas não as expunha.

Era uma mulher entre parênteses.

Fazia parte do universo, mas vivia isolada em seus próprios pensamentos e emoções.

Era como se ela fosse um sussurro, um segredo. Como uma amante que não pode ser exibida à luz do dia. Às vezes, sentia um certo incômodo com a situação, parecia que estava sendo discriminada, que não deveria interagir com o restante das pessoas por possuir algum vírus contagioso.

Outras vezes, avaliava sua situação com olhos mais românticos e concluía que tudo não passava de proteção. Ela era tão especial que seria uma temeridade misturar-se com mulheres óbvias e transparentes em excesso. A mulher entre parênteses tinha algo a dizer, mas jamais aos gritos, jamais com ênfase, jamais invocando uma reação. Ela havia sido adestrada para falar para dentro, apenas consigo mesma.

Tudo muito elegante.

Aos poucos, no entanto, ela passou a perceber que viver entre parênteses começava a sufocá-la. Ela mantinha suas verdades (e suas fantasias) numa redoma, e isso a livrava de uma existência vulgar, mas que graça tinha?

Resolveu um dia comentar sobre o assunto com o marido, que achou muito estranho ela reivindicar mais liberdade de expressão. Ora, manter-se entre parênteses era um charmoso confinamento. “Minha linda, você é uma mulher que guarda a sua alma.”

Um dia ela acordou e descobriu que não queria mais guardar a sua alma. Não queria mais ser um esclarecimento oculto. Ela queria fazer parte da confusão.

“Mas, minha linda...” E não quis mais, também, aquele homem" entre aspas.