segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Obrigada ,leitores.


e a vocês que prestigiam o blog,agradecimentos,e votos de um ano revigorado,e energias com saúde.
Abraço.
Feliz 2013 - Editora Escala

- Desejos -


O grande barato da vida é olhar pra trás e sentir orgulho da nossa história.

O grande lance , é viver cada momento como se a receita da felicidade fosse o AQUI e AGORA! Claro que a vida prega peças. É lógico que, por vezes, o bolo sola, o pneu fura, chove demais...


Mas pensa só: Tem graça viver sem rir de gargalhar pelo menos uma vez ao dia? Tem sentido ficar chateado durante o dia todo por causa de uma discussão na ida pro trabalho?

Tá certo, eu sei, Polyanna é personagem de ficção, hiena come porcaria e ri, eu sei. Não quero ser cega, burra ou dissimulada. Quero viver bem. 2012 foi um ano cheio. Foi cheio de coisas boas e realizações, mas também cheio de probleminhas...

Normal. Às vezes se espera demais dos outros e da vida, mas...Normal.... A grana que é curta, o amigo que decepcionou, o amor que acabou...Normal.

2013 não vai ser diferente. Muda o século, o milênio , o ano, mas o homem é cheio de imperfeições, a natureza tem sua personalidade que nem sempre é a que a gente deseja, mas e aí? Fazer o que? Acabar com o seu dia? Com seu bom humor? Com sua esperança?

O que eu desejo pra todos nós é sabedoria, é que todos nós saibamos transformar tudo em uma boa experiência! Que todos consigamos perdoar o desconhecido, o mal educado. Ele passou na sua vida.

Não pode ser responsável por um dia ruim. Entender o amigo que não merece nossa melhor parte. Se ele decepcionou, passa ela pra categoria 3, a dos conhecidos. Ou muda de classe, vira colega. Além do mais, a gente, provavelmente, também já decepcionou alguém.

O nosso desejo não se realizou? Beleza, não tava na hora, não deveria ser a melhor coisa pra esse momento (me lembro sempre de uma frase que adoro: 'Cuidado com seus desejos, eles podem se tornar realidade'). Chorar de dor, de solidão, de tristeza, faz parte do ser humano. Não adianta lutar contra isso.

Mas se a gente se entende e permite olhar o outro e o mundo com generosidade, as coisas ficam diferentes...... Desejo pra todo mundo esse olhar especial......

2013 pode ser um ano especial se nosso olhar for diferente. Pode ser muito legal, se entendermos nossas fragilidades e egoísmos, e dermos a volta nisso. Somos fracos, mas podemos melhorar. Somos egoístas, mas podemos entender o outro.

Eu desejo que 2013 seja o máximo para todos nós, maravilhoso, lindo, maneiro, especial... Depende de mim! De você! De Nós!

"Que a virada do ano não seja somente uma data, mas um momento para repensar tudo o que fizemos e que desejamos, afinal sonhos e desejos podem se tornar realidade somente se fizermos jus e acreditarmos neles!"

                        UM FELIZ ANO NOVO E OLHAR NOVO PARA TODOS NÓS!!!

 

domingo, 30 de dezembro de 2012

Phone home ! Diana L.Corso

 



Diana Lichtenstein Corso*
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Para entender as crianças, pense como você se sente em viagem a um país novo, uma cultura exótica, diferente, onde cada minuto é desconcertante. Ao final de um único dia, parece que transcorreu uma semana e só o que você quer é um banho e o quarto de hotel, sua casa nesse planeta distante. Quanto menores, mais estrangeiras ao nosso mundo elas são. Os pais terão que ser guias pacientes, saber a hora de recolher seus turistas confusos e estressados à bem-vinda rotina familiar.

Conviver com os pequenos exige atenção, sensibilidade de funcionar dentro de um ritmo que eles possam acompanhar, algo que poucos adultos e pais estão dispostos a fazer. É preciso manter-se falando com eles, diagnosticar seu desconforto. Crianças demandam tradução. Tudo lhes soa incompreensível, cansam fácil, precisam refugiar-se em seu mundo lúdico privado, em geral na hora em que o adulto gostaria de continuar na festa. São de tiro curto e, se forem forçadas a ir além de suas forças, vão acabar criando algum tipo de birra, litígio ou bagunça.


Crescemos, mas seguimos para sempre alienígenas às novidades do destino. Pelo resto da vida, as mudanças fascinam e assustam. Ao chegar, juventude, adultez e velhice sempre nos encontram contrariados, recalcitrantes e confusos. Somos como um computador superado, ficamos sobrecarregados e damos tilt a cada desafio. Nossa visão de mundo é como um sistema operacional condenado à defasagem.

Um bom exemplo disso está no filme E.T., de Spielberg, que completou três décadas neste ano que finda. Nessa história, só as crianças entendem o desamparo e o desterro do simpático extraterrestre, embora esse seja um sentimento universal. Todos temos nossa criança interior, essa que nos assombra para sempre. Ela também se confunde com o desconhecido e quer ligar para casa, precisa contato com a nave-mãe.

Ano novo é como lugar novo. A sensação de caderno virgem é a expressão otimista dos balanços de fim de ano. Prometemos que desta vez não haverá folhas incompletas, amassadas, em branco! Fazemos listas de boas intenções, votos depositários da insaciável cobiça de perfeição. Graças a isso, o primeiro dia do ano marca o início de uma jornada fadada à frustração. Meus cadernos continuam caóticos, em sentido figurado, mas, como todo mundo, tenho fé na renovação, ela abre a porta da esperança. Reincidentes, voltamos a acreditar na aposta em que “desta vez vou fazer tudo certo”, mas e se não? A cada recomeço reencontro a criança acuada que nunca me deixou. “Phone home, phone home!”, pedia o E.T.
 
 


Para o ano que entra e tantos outros, lembre-se de que dependemos de encontrar um equilíbrio instável entre o conhecido e o estranho. Precisamos seguir em frente, mas de tanto em tanto, repousar em território conhecido, mesmo que ele pareça um caderno rabiscado, com orelhas. Seja um adulto compreensivo consigo mesmo. Ao longo do trajeto, se agache, olhe sua criança interior nos olhos e a conforte. Seja um bom pai para você mesmo e feliz ano novo!
* Psicanalista

Herói do Ano

 

Flávio Tavares*

Nunca foi tão fácil ser feliz no fim de ano quanto agora. O prêmio da Mega Sena está aí, ao alcance da mão, tornando hipermilionários em poucos minutos alguns milhões de brasileiros. Sim, pois nada acende tanta certeza no futuro quanto a oferta fácil de milhões em dinheiro vivo, que irá ao nosso bolso sem suor ou neurônios gastos, apenas com seis marquinhas num cartão. Na espera da fila do sorteio da “virada”, a esperança vira certeza de fé. Cada qual é um milionário por antecipação e planeja o que fazer com tanto dinheiro. Entre o momento da aposta e o instante do sorteio, nos sentimos ganhadores e usufruímos da fortuna, no paroxismo da felicidade, como se os milhões já estivessem no bolso.

Diz-se que o prêmio de agora superará os R$ 200 milhões, menos do que os subornos do mensalão para alugar partidos, mas bela soma, enfim. Quem não saiba o que seja agarrar tanto dinheiro assim, pergunte à Rosemary Noronha. A protegida do ex-presidente Lula da Silva intermediou negócios por cifras 10 ou 20 vezes maiores quando chefiou o gabinete da Presidência da República em São Paulo. Estas coisas se perguntam a quem sabe. Nunca, por exemplo, a uma professora no Rio Grande do Sul, que (com R$ 900 ao mês) não conseguiria sequer 0,1% disto se vivesse pela eternidade absoluta dos séculos, desde o Big Bang da Criação até o fim do mundo.

Até porque destruímos a natureza de forma tão abrupta, que os descendentes dos maias, no México e na Guatemala, já recalculam (para valer) que a data do fim do mundo vai se abreviar.

Fim de ano é tempo de pensar. Todo pensamento é uma indagação, ou dúvida, e só indagando e duvidando chegamos à verdade. Nietzsche advertia que “devemos idolatrar a dúvida” e assim é! Só um sistema de contrapesos, que vá do “sim” ao “não”, nos leva à realidade. Se nos contentamos com as aparências, fugimos do real e optamos por algo postiço. Pela ilusão! Nosso Lupicínio Rodrigues já perguntava numa canção dos idos 1950: “O pensamento parece uma coisa à toa, mas como é que a gente voa quando começa a pensar?”.

O que fizemos ou desfizemos no ano? O que nos negamos a fazer? Fomos solidários? Onde ficou a bondade, esta coisa que a competição da sociedade de consumo tornou “fora de moda”, cafona e piegas? Até onde fomos cúmplices do crime e, na prática, optamos por ele, fingindo que pedíamos justiça sem nada fazer pelo justo? Até onde nos deixamos subornar ou subornamos? Ou mentimos em nome da verdade, inventando situações ou cifras? Até onde?

Talvez os brasileiros festejem 2012 como “o ano do fim da impunidade” e as condenações do processo do “mensalão” levam, até, a pensar assim. Mas não será ilusão? Bastou o Supremo concluir o julgamento, ditar as penas e declarar cassados os mandatos dos três deputados condenados naquele vendaval de corrupção, para que o presidente da Câmara Federal, Marco Maia, protestasse, defendendo os colegas em nome “da dignidade do Parlamento”. O que é indigno? O envolvimento na corrupção ou a condenação dos corruptos?

Como se manejasse o esmeril ou o torno elétrico dos tempos de metalúrgico em Canoas, Marco Maia lembrou que os ministros do Supremo “têm o nome aprovado” pelo Parlamento, que até pode julgá-los por seus atos. Essa linguagem ameaçadora significará que os parlamentares estão acima da Justiça? Os réus tiveram ampla defesa, tudo foi público, nada iníquo ou em surdina. Por que, então, a reação do presidente da Câmara dos Deputados em defesa dos três condenados, comprovadamente envolvidos na trama corrupta
?

Por tudo isto, o herói do ano, no fim, é o povo, que aguenta tudo, vive ilusões e festeja a fortuna da Mega Sena.
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*Jornalista e escritor

sábado, 29 de dezembro de 2012

O Fim e o Começo ,de Martha Medeiros

O fim e o começo
Como era de se esperar, não teve fim de mundo. Mas 2012 não foi um ano qualquer. Muitas pessoas a minha volta sentiram algo parecido com o que senti: que este foi um ano de intensidade única, com uma energia capaz de encerrar etapas. Um ano de despedidas, algumas concretas, outras mais sutis.

Houve quem tenha terminado casos mal resolvidos, quem tenha se conscientizado de um problema que não queria ver, quem se deu conta da fragilidade de uma situação, quem tenha aceitado um desafio que exigiu coragem, quem tenha enfrentado uma situação transformadora, quem tenha se jogado num estilo de vida diferente. Olho para os lados e vejo que 2012 não passou em branco para quase ninguém. Pelo menos não para mim, nem para pessoas próximas.

Meu microcosmo não revela o universo inteiro, lógico. Você talvez não tenha percebido nada de incomum no ano que passou, mas ainda assim seria interessante promover um fim categórico, encerrar o ano colocando uma pedra em algo que não lhe convém mais. Geralmente chegamos ao final de dezembro focados apenas no recomeço, na renovação, nos planos, sem nos darmos conta de que, para que nossas resoluções sejam cumpridas mais adiante, não basta pular sete ondas, comer lentilhas e outras mandingas. É preciso que haja, sim, o fim do mundo. O fim de um mundo seu, particular.

Qual o mundo que você precisa exterminar da sua vida?


Sugestão: o mundo do bullying cibernético. Ninguém é autêntico por esculhambar o trabalho dos outros, sendo agressivo e mal-educado só porque tem a seu favor o anonimato na internet. Perder horas na frente do computador demonstra sua total incapacidade de convívio. Bum! Fim desse mundo estreito.

O mundo da prepotência, aquele que faz você pensar que todos lhe estenderão um tapete vermelho sem você precisar dar nada em troca. Qualquer um pode ser profético quanto a seu futuro: passará o resto da vida achando que ninguém lhe dá o devido valor, isolado em sua torre de marfim.

O mundo obcecado do amor doentio, aquele amor que só persiste pelo medo da solidão, e que de frustração em frustração vai minando sua possibilidade de ser feliz de outro modo.

O mundo das coisas sem importância. Quanta dedicação ao sobrenome do fulano, à conta bancária do sicrano, à vida amorosa da beltrana, o quanto ela pagou, o quanto ele deveu, quem reatou. Por cinco minutos, vá lá. Os neurônios precisam descansar. Mas esse trelelé o dia inteiro, socorro.


O mundo do imobilismo. Do aguardar sem se mover. Da espera passiva pelo momento certo que nunca chega.

2012 prenunciou um cataclismo, só que não era global, e sim individual. Impôs que cada um desse um fim à vida como era antes e que promovesse uma mudança interna, profunda e renovadora. Feito?
                              Então que venha um 2013 do outro mundo para todos nós.

O apocalipse em banho - maria




 








 Alberto Dines*

Os ingleses são decididamente diferentes. Assim é que na véspera da passagem do ano, quando todos tentam se embalar com champanhe e esperanças, o “Economist”, seu mais importante semanário e um dos mais lidos em todo o mundo, circula com uma capa mefistofélica. O “Breve Guia para o Inferno” é uma engraçada e elaborada charge onde diabinhos, diabos e asquerosas criaturas exibem os pecados capitais interpretados pelos players da cena mundial.
Ninguém escapa: a Luxúria é representada pelo general Petraeus e Berlusconi, banqueiros são engolidos pelo monstro da Cobiça, Satanás, diabo-mor, maneja um painel denominado “mudanças climáticas” enquanto segura a própria capa da revista. O único risonho, Barack Obama, não obstante ostentar o pecado do Orgulho parece inebriado pela autoestima, sem reparar no abismo fiscal. Ao fundo, atolado no lodaçal, um camburão designado como “jornalismo inglês’. A auto-flagelação faz sentido: os editores preferiram poupar o premiê britânico a brigar com o governo. Ninguém é de ferro.
A virada da ampulheta na próxima segunda, 31, será iluminada pelos fogos de artifício, artificiosos e enganosos, pois o Dia Seguinte já se prenuncia comprometido. Como numa tela do nosso conhecido Caravaggio, o claro-escuro está mais escuro do que claro. O apocalipse esquenta em banho-maria - devagar, infalível.
A crise econômica deixou de ser notícia de jornal, é realidade palpável, concreta, brutal. Uma generalizada sensação de década perdida está tirando dos jovens o gosto de começar e, dos velhos, o prazer de contemplar.
O mundo enrolou — evaporaram-se edens e eldorados, sumiram as doutrinas messiânicas, as utopias estão aposentadas, emergentes e submergentes empacaram. A democracia está em crise, a prova é o tremendo aumento das manifestações de rua.
O capitalismo está em crise, a prova é a sua incapacidade para medicar-se, o socialismo está em crise, a prova é a sua canibalização pelo corporativismo, o liberalismo está enfezado, a prova é a submetralhadora debaixo do braço, a religião está em crise, a prova é o seu apego ao poder temporal.Isso é grave: os escritores avisam que vão parar de escrever porque nada mais merece ser contado. Mais grave ainda é o embaçamento do espelho da crise — a mídia — desconectada pelo excesso de conexões.
A Europa, mostruário da paz, derrubou fronteiras e agora está às voltas com secessões na Bélgica e Espanha (a fome espanta qualquer disposição para a fraternidade). Venezuela, Argentina e Paraguai estão matando a pauladas o Mercosul sonhado por Bolívar.
Brics não são exceção: o estupro de uma jovem na Índia e as gigantescas manifestações de protesto exibem a enorme distância entre crescimento e real desenvolvimento. O terror político entranhado na Rússia é um remake tenebroso e gelado do fascismo mediterrâneo. Agarrados à doida locomotiva chinesa voamos em direção de monumental incógnita que chinês algum é capaz de deslindar.
E nós, privilegiados brasilianos, entre apagões e ilusões, mas sempre abençoados pelos deuses, vamos enfim desfrutar o gosto de viver sob o manto da lei. Sensação nova, estranha, complicada, penosa, com um travo do ceticismo no tocante a crimes e castigos. Sem alternativas.--------------------------
* Documentarista, argumentista, jornalista e escritor.
adines@uol.com.br

2013 e um passo atrás, de Cecílio Elias Netto *

 



Não haverá quem possa me chamar de pessimista. Nem de otimista. Carrego, dentro de mim, algo que me parece da sabedoria de Gramsci: esperança no coração, ceticismo na razão. Isso me leva a acreditar, cada vez mais, no eterno retorno. Que não é retrocesso, mas retomada do que foi perdido. Não há outra saída quando se está diante da derrocada e da decadência: retornar ao princípio esquecido. Ou propositalmente escondido.
Já há alguns anos, não costumo mais desejar — nem a filhos, amigos, irmãos — felicidade e paz para cada ano que surge. Apenas lhes digo que cada um tenha aquilo que merece. Desejo-o, também, a mim mesmo. Se mal semeei, mal colherei. Se bem espalhei, bem receberei. Para a vida, também vale a terceira lei de Newton, da ação e reação: “Toda ação provoca uma reação igual mas em sentido contrário.” Isso, com sabedoria espiritual — que é a mais verdadeira — já havia sido entendido por Francisco de Assis: “É dando que se recebe.” E, finalmente, sabido e conhecido do e pelo povo: “Quem semeia ventos colhe tempestades.”

No Renascimento — um dos mais belos momentos da humanidade — houve a consciência de o único caminho de renovação radical da vida pessoal e social do ser humano estar no retorno aos princípios. E estes, na realidade, nada mais são do que raízes. Observemos as árvores: com raízes fortemente fincadas no chão, elas resistem a todos os temporais. Vergam, mas não caem. Raízes frágeis, porém, a nada sustentam, como se apenas servissem para revelar a superfície, a epiderme — que podem ser até belas, mas frágeis.

Neste final de ano, não quero desejar a ninguém nem mesmo que cada qual tenha o que merece. Pois tenho medo de estar desejando o pior. Pois, se refletirmos com seriedade e honesta convicção, concluiremos que nada nos irá esperar senão a mesma perplexidade, as mesmas angústias, medos e inseguranças vividos até aqui. Estamos vivendo para quê, por quê? Esse estouro da manada humana tem-nos levado a quais satisfações realmente dignas do dom da vida? É uma guerra para sobreviver e não a luta decente pelo direito de viver. Viver é participar do concerto universal, com seus ritmos, plenitudes, deslumbramentos, descobertas, sustos, alegrias, dores e conhecimento. Viver é ser. Ter é, apenas, parte disso.
 
 
 


No século 19, um dos mais brilhantes estadistas do mundo — o primeiro ministro Benjamin Disraeli — deixou-nos um pensamento-síntese: “A vida é muito curta para ser pequena.” Reduzir a vida a esse consumismo desenfreado, a apegos desvairados a bens materiais — muitos deles quase sempre inúteis — é não ter consciência da finitude de nós mesmos. E, portanto, apequenar a bem-aventurança de viver. Cabe, pois, a cada um descobrir, por si mesmo, qual sentido tem dado ao milagre da vida.
e é a vida é muito curta para ser pequena...
 
 
 
Neste início de século, tem prevalecido a razão científica, o poder da ciência. Ela se dedica — e de maneira verdadeiramente espetacular — aos “comos” da vida: como isso funciona, como aquilo começou, como s
e pode fazer? Mas há outros caminhos: o das artes, da filosofia, da religião. Estes são ainda mais instigantes, mais inquietantes, pois buscam os “porquês”. Ora, convenhamos: vivemos um tempo de conhecer muitos “comos” e de não mais nos preocuparmos com os “porquês”. E são estes que dão o verdadeiro sentido da vida: a reflexão, a espiritualidade, a verdadeira dimensão humana, os princípios humanísticos de convivência, fraternidade, agradecimento, compaixão.

Há um símbolo que me acompanha permanentemente e sobre o qual sempre reflito: a encruzilhada. É um espaço ao mesmo tempo misterioso, decisivo e de perigos. Numa encruzilhada, o homem fica em sua mais completa solidão. Para onde ir: em frente, à direita, à esquerda, retornar? É um cruzamento de caminhos que exige, do caminhante, a reflexão e, em seguida, a capacidade de decidir. De sua escolha, dependerá o destino a que chegará.

Nas admiráveis conquistas do mundo atual, as transformações deixam poeira e ruínas. Estamos numa transição que, na realidade, é uma encruzilhada. Os “comos” da vida, já os estamos conhecendo e realizando. Os “porquês”, no entanto, são cada vez mais angustiantes. Nessa encruzilhada, eu me nego a ir para frente. E me recuso a escapar por atalhos, à direita ou à esquerda. Sinto, dentro de mim, a necessidade imperiosa e imperativa de dar um passo atrás, de fazer um retorno. Em busca, pelo menos, da lembrança de render graças pela explosão de belezas da vida. Nesse retorno, sou esperançoso de reencontrar a humanização esquecida. Com um passo atrás, sei que 2013 será antecipadamente visto e esperado com outros olhos. Os da alegria. Por que não tentar?
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* Colunista do Correio Popular

O ano que não terminou, de Mario Corso *

 

 
A temática apocalíptica aciona um temor de raízes místicas que opera fora da lógica da razão. A questão é: por que discursos assim têm tanta ressonância?

E o fim do mundo não aconteceu. Confesso uma ponta de decepção, o fim, ou ao menos uma catástrofe, engrandeceria o homem, nos restituiria a condição de protagonistas num universo indiferente ao nosso destino. O cosmos foi mais uma vez indiferente aos rogos dos humanos e às suas previsões, o universo e o planeta continuam na sua imperturbável mecânica celeste, independente e ignorantes das nossas malfadadas conjecturas.
Diga-se, em favor dos Maias, os pretensos profetas do apocalipse em questão, que isso não foi uma ideia deles, e sim uma leitura apressada nossa, a partir de informações incompletas sobre sua cultura e calendário. Se não foi dessa vez, não se preocupe, cedo ou tarde vão anunciar outro fim, e de novo vamos vacilar se acreditamos ou não. A temática apocalíptica é uma velha conhecida e parece que não sai de cartaz. Não faz muitos anos, em 2000, era o mesmo temor, o mundo iria acabar, e cá estamos nós, lampeiros como sempre.
Inútil reclamar da imbecilidade, invocar racionalidades de todos os matizes, acusar os crentes apocalípticos de passar atestado de ignorância científica. Até procede, mas a questão é outra: esse temor tem raízes míticas, e esse sistema de crenças e medos não funciona com a lógica da razão. Quando se opera com o sistema mítico, a ciência e o bom senso não têm entrada. Qualquer sistema mitológico clássico, quando conseguimos captá-lo em sua forma mais articulada e completa, pensa o cosmos com os mesmos termos: o nascimento (ou renascimento), um período de auge glorioso, um declínio sofrido e, finalmente, a destruição com o retorno ao caos. Portanto, o apocalipse faz parte desse esquema, dessa visão do mundo. Quando se raciocina miticamente, mais dia menos dia, desemboca-se nesse vórtice.

A questão que muitos se colocam é: por que discursos assim, tão disparatados, ainda têm pregnância? Por que, contra todas as evidências possíveis, ainda há quem acredite nisso? Creio que a questão está mal posta, poderíamos pensar o contrário, por que não seria assim? Goste-se disso ou não, o tempo do mito não acabou. O avanço da ciência e seu método, se por um lado combate a religião, a superstição, a magia, deixa muitas questões sem respostas e é onde se abre a brecha para o retorno do pensamento mítico. Os homens podem viver com pouco, mas raramente abrem mão de um sentido para o mundo e para sua vida. Qual a razão da existência? Para onde vamos? De onde viemos? Se o futuro promete tanto, por que me tocou viver esta época tão menor? Que diferença fiz, farei, nada mudaria se eu jamais tivesse nascido?
 


A ciência explica o mundo, mas quanto aos anseios de sentido de que padecemos, fornece mais dúvidas do que certezas. São poucos que aguentam a vida segurando-se no pouco que ela nos dá e encaram o sem sentido da existência. Já o pensamento mítico é um gerador de sentidos, ele capta o horror humano ao vazio e o preenche de qualquer maneira, com o que estiver mais à mão. Melhor um universo de conto de fadas, com entidades benignas ou malignas nos controlando, que o nada. Nosso narcisismo não suporta que não haja transcendência, que sejamos um acaso na imensidão cósmica, um mero macaco melhorado.

O erro mais banal, mais primário, em que nosso pensamento cai, e como cai, é o de confundir-se com o objeto a ser examinado. Se alguém acredita que estamos no fim dos tempos, é possível que ele tenha razão, algum fim se aproxima, mas é mais provável que seja o fim dele, ou o fim de um mundo que reconhece como seu. Todos constatamos a velocidade com que a história anda e atropela tudo: costumes, formas de pensar, de viver. São tantas as novidades que perdemos as referências. A revolução da semana passada está velha, a tecnologia de ontem virou sucata.

A sensação é que o ritmo vem se acelerando. O fato é que nos sentimos ultrapassados a cada dia e, se não estamos em constante adaptação, corremos o risco de não entender o mundo em que vivemos. Nesse constante recriar-se para o novo, alguns se cansam e se perdem pelo caminho, ou ainda, simplesmente desistem. São esses os que vivem o fim do seu mundo, afinal, os valores que lhe ensinaram na infância já não servem, a paisagem não é a mesma, os anseios são outros. Não fica claro que o mundo está acabando? Quando chega a notícia do fim dos tempos, apenas confirma algo que já sentimos.

Sinceramente não desgosto de ondas apocalípticas, me sinto mais humano, mais completo, reencontro minhas desativadas ramificações religiosas que por momentos entram em alerta. Uso para fazer um exercício, que sugiro a todos: perguntar-se qual parte nossa está morrendo? Qual dos horizontes em vias de desaparecimento vamos sentir falta?
 
 

O homem não tem uma inclinação nostálgica por vocação mórbida, nossa substância é fornecida pelo tempo em que vivermos, que nos fez ser o que nos tornamos, isso é tudo de que dispomos. É duro pensar que tantos seguirão sem nós, por um tempo indefinido. Parece injusto, jamais saberemos da história que está por vir. Pensar que seríamos o último capítulo nos deixaria no admirável papel de ponto final, protagonistas essenciais, o que infelizmente não somos. Uma velha e saudosa senhora que conheci sempre dizia: “O cemitério está lotado de insubstituíveis”. Somos todos datados. A questão é quando expira o prazo. Viveremos um apocalipse privado, está é a única certeza.
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* Psicanalista

O que os olhos não podem ver ,Dr J.J.Camargo *

 



Jose Saramago, no seu Ensaio sobre a Cegueira, observou que ela afasta a pessoa das coisas, mas que a surdez é pior, porque afasta-a das outras pessoas.

Lembrei disso quando a Iraci entrou tateando no consultório, acompanhada de uma família amorosa que não escondia afeto e preocupação com a ansiedade dela.

Aos 84 anos, com uma cabeça rápida e bem- humorada, tivera o diagnóstico de um pequeno tumor pulmonar havia seis meses, e relutara durante este tempo contra uma indicação cirúrgica que ela rechaçava com um argumento simplista: como não sentia nada, a agressividade do tratamento proposto não se justificava.

Pressionada pela revelação de que a lesão crescera numa nova tomografia, ela foi trazida, transbordante de medo, para ouvir uma segunda opinião.

Revisados os exames, rimos um pouco com a informação de que jamais tragara durante mais de 40 anos de fumo ininterrupto. Quando a repreendi dizendo do absurdo de fumegar durante tantos anos e nunca aproveitar o bom de fumar, ela deu uma risada espontânea que, tive a impressão fugaz, colocou um brilho pálido nos olhos azulados e mortos.

A justificativa da ausência de sintomas pelo pequeno tamanho da lesão, e que era exatamente por isso considerada tão boa candidata ao tratamento cirúrgico, pareceu remover uma tonelada de dúvidas e, na medida em que a consulta avançou, as mãos pareceram mais soltas, pararam de alisar nervosamente o vestido, e entraram na conversa como bengalas das palavras.

Quando ela espontaneamente anunciou que estava pronta para ser operada, nos despedimos, e abraçados, ela me disse: “Gostei tanto do Sr.! Que pena que não pude lhe ver!”

E eu respondi, provocativo: “Pois eu pude, e gostei do que vi!”

Ainda abraçados, ela completou: “Então vamos nos querer do meu jeito. E nunca subestime o que percebem aqueles que não podem ver!”

Quando ela saiu, os passos pareciam mais firmes e seguros. Havia a leveza de quem descarregara o peso da indecisão. No caminho de volta para casa haveria mais luz. Daquele tipo que, inalcançável aos olhos, só se acende com plenitude nos coração dos cegos.
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* J.J. Camargo é cirurgião torácico e chefe do Setor de Transplantes da Santa Casa de Misericórdia

Fim de Ano Feliz,2012 - para 2013 [ Dráuzio Varella ]

 




A complexidade da vida adulta desvia nossa atenção e nos impede de reconhecer a felicidade que está perto



Feliz Natal e próspero Ano-Novo, dizem as mensagens de fim de ano. Recebi mais de 50 com dizeres semelhantes, algumas carregadas de reflexões filosófico-literárias; outras, insuportavelmente poéticas.



Como a palavra próspero é sem graça e de significado incerto -por sorte empregada apenas nesta época do ano-, vou me concentrar nos desejos mútuos de felicidade natalina que pontuam as relações sociais a partir da segunda quinzena de dezembro.



A felicidade não é um estado de espírito ao alcance da mão, é ave de voo ágil que nos visita quando bem entende. É arrebatadora, porém voluntariosa e fugidia. À menor distração, ao admirar-lhe a beleza da plumagem, bate asas para sítios distantes, deixando a nostalgia em seu lugar.



Felicidade que chega com tudo, disposta a passar dias inteiros em nossa companhia, é privilégio exclusivo da infância. Só nessa fase da vida conseguimos acordar e ir para cama tomados por uma alegria sem fim.



Anos atrás, escrevi um livro infantil sobre esse tema: "De Braços para o Alto". Nele, descrevi as férias numa fazenda, aos sete anos, em companhia de oito primos quase da mesma idade.



Nascido num bairro cinzento, em que as sirenes das fábricas ditavam a rotina das ruas, de um dia para outro fui transportado para o mundo dos campos a perder de vista, dos passarinhos, cavalos, florestas, rios e cachoeiras, gado no pasto e futebol no gramado em frente à sede da fazenda, todo fim de tarde.



Acordávamos com os primeiros raios de sol, já excitados para planejar as atividades do dia, enquanto as tias serviam o café da manhã.



Depois, encilhávamos os cavalos, montávamos e saíamos enfileirados como nos filmes de faroeste. Pelados, mergulhávamos nos rios, nadávamos na lagoa e sentíamos o impacto da água fria que despencava entre as samambaias da cachoeira, na sombra da mata. À noite, sob a luz do lampião, líamos gibis e escutávamos a conversa dos adultos em volta do fogão à lenha e as histórias de terror que o tio José contava.



Dormíamos num quarto enorme, com colchões espalhados pelo chão. Quando todos se calavam, eu resistia ao sono, para pensar nas aventuras que me aguardavam no dia seguinte. Em minha lembrança, foi a primeira vez que convivi com a felicidade plena, persistente e duradoura, substituída por uma tristeza dolorida que me fez chorar quando as férias terminaram.



Na vida adulta, a felicidade é caprichosa como a mulher mais desejada. Inútil aguardar que venha a nós, é preciso persegui-la com afinco e estar atento para não deixá-la passar despercebida no meio das atribulações cotidianas, porque o menor descuido é capaz de afugentá-la por tempo indeterminado. Ela é inimiga dos afoitos que a cortejam com intenções imediatas; para entregar-se, exige dedicação extrema, sabedoria, desprendimento, perspicácia e, sobretudo, paciência.



A diferença fundamental entre a felicidade da criança e aquela do adulto não está na intensidade da sensação de prazer que toma conta da alma, exalta as cores do mundo e faz a vida pulsar forte, exuberante, mas na duração desse estado. Os momentos felizes dos adultos duram menos porque são interrompidos pelas preocupações com a lida diária, por pensamentos negativos resultantes dos desencontros das relações humanas e pelo medo causado por experiências traumáticas.



A complexidade da vida adulta desvia nossa atenção e nos impede de reconhecer a felicidade que está por perto, limitação que a transforma em bem transcendental, sempre distante, dependente de acontecimentos grandiosos e improváveis que sequer conseguimos definir quais seriam.



É essa incapacidade de lidar com o presente que nos faz colocá-la num ponto futuro ou relegá-la ao passado remoto. Costumo duvidar das recordações de momentos idílicos vividos anteriormente; na maioria das vezes, não passam de armadilhas da memória, faculdade da mente especializada em editar fatos passados para retirar deles o conteúdo nefasto.



Depois dessas considerações tão filosófico-literárias quanto os postais de boas-festas mais bregas que recebi, caríssimo leitor, só me resta agradecer a atenção e desejar-lhe feliz Ano-Novo.
Passar a vida a lamentar a felicidade perdida é apanágio de velhos chatos, fadados a terminar seus dias na solidão.
                                                        < médico oncologista * >




 

O que espero e o que desejo a cada um no ano que vai nascer

 

(*) Ucho Haddad

Cresci ouvindo, nas inúmeras viradas de ano, “adeus ano velho, feliz ano novo”. Não gosto de despedida, pois sempre fica um risco de tristeza no coração. Isso me incomoda até mesmo quando me despeço de alguém que não merece a minha preocupação. Assim, mais uma vez deixarei de dizer “adeus ano velho” na estreia de 2013, pois aprendi a ser resiliente. Direi, sim, feliz ano novo!

Há quem queira esquecer rapidamente 2012, mas quero guardá-lo em lugar visível para que possa consultar, vez por outra, tudo o que me chateou, incomodou, atrapalhou, me entristeceu. Quem sabe consigo driblar os tropeços e não repetir os mesmos erros. Se em 2012 não tivesse acontecido tudo o que aconteceu, por certo não teria crescido mais um pouco. Aprende-se nos erros, nos equívocos, nos enganos, nas apostas erradas, nos negócios mal feitos, nos projetos inacabados, nos amores que falham.

Aquele que erra ao menos uma vez na vida aumenta a chance de acertar. É o que busco todos os dias, acertar, mas isso às vezes escapa do desejo. Errar, afinal, é humano. Como sempre digo e repito, sou o melhor produto dos meus próprios erros. Erra quem tenta acertar. Errei por este motivo: acertar. O acerto ocorre quando as chances de erro dão uma trégua, uma volta no quarteirão, quando tiram um cochilo inesperado, quando saem de cena, quando se cansam de atentar.
 

Também não direi “que tudo se realize no ano que vai nascer”. Primeiro porque, homem de fé que sou, continuo acreditando que o Senhor sempre me coloca sempre no melhor caminho, por mais incômoda que seja a paisagem. Conformismo? Não, pois se assim fosse não teria escolhido o ofício de jornalista. Conformismo não encontra espaço no meu pensamento, no meu dicionário.

Assim, tudo o que tiver de acontecer “no ano que vai nascer” acontecerá. Prefiro apostar na sequência da vida e fazer a minha parte, como faço todos os dias, todos os instantes.

Muito dinheiro no bolso muitas vezes nos leva a errar. Quero dinheiro suficiente para acertar, o maior número de vezes possível. Sem ser para dar e vender, saúde quero, sim, para continuar na luta diária que abracei desde cedo. Defender o Brasil e os brasileiros. E para isso é preciso saúde, até mesmo, fosse possível, recebida e comprada.

Aos solteiros, aos casados, aos indecisos, aos que ainda não sabem, aos que têm certeza, aos enrolados, aos enamorados, aos apaixonados… Sorte no amor, muita sorte no amor. É no amor que teimosamente acredito.

Que no ano novo você acerte errando o menos possível. Se errar, paciência, não desista de acertar. Que queira o possível, por mais impossível que possa parecer, pois assim tudo há de se realizar no ano que vai nascer.

Que no ano novo você tenha dinheiro para acertar, não para errar. Que lute por seus ideais, esforce-se para fazer dos sonhos realidades viáveis. Que você tenha saúde para acertar, que acerte ao máximo para ter saúde.

Solteiro, casado, indeciso, sem saber, com certeza, enrolado, enamorado, apaixonado… Ame, ame sempre!

Ame para acelerar sua existência, para sentir sem sentido. Ame para levar o perfume que se foi, para conhecer o lado possível do impossível.

Ame para descobrir a ilógica da razão, para querer sem querer. Ame para ter a visão múltipla de um ponto único, para fazer a leitura dinâmica de uma só palavra.

Ame para radiografar o abstrato, para ouvir o ruído do silêncio. Ame porque amar é deixar a realidade invadir o sonho.

Ame para acertar, mesmo que você erre. Ame para não errar. Ame, porque amar é o tudo que se realiza, agora e sempre.

Ame com ou sem dinheiro no bolso, porque amar não tem preço. Ame, porque amar é fazer o coração ter saúde pra dar e vender.

Ame por amar. Ame para ser feliz em 2013, ame para ser feliz sempre, em dois mil e sempre.

Ame, simplesmente ame, pois amar é a melhor receita de vida.
 
* Jornalista.

A Casa Dos Sonhos, Cláudia Laitano



Tem dessas casas que a gente olha de fora e se imagina dentro – como dono. Pode ser um pequeno sobrado escondido numa praia remota, uma construção sólida em uma rua cheia de árvores na cidade ou mesmo um palácio de dimensões continentais no lugar mais caro do mundo. (Certa vez, visitando o Museu Rodin, em Paris, me ocorreu que se eu fosse uma aristocrata francesa do século 18, ou uma escultora atormentada do início do século 20, era exatamente ali que eu teria escolhido morar – o que deve ser mais ou menos o equivalente imobiliário de uma paixão platônica pelo Brad Pitt.)

Essas fantasias de janelas de frente para o mar, palácios rococós e cabanas no topo de uma montanha povoam todo um bairro imaginário de lugares onde nunca vamos morar. Enquanto aquela casa que se encaixa no lote de realidade que nos coube viver é regida pela lógica dos financiamentos, das prestações, das reformas emergenciais e dos vizinhos barulhentos, a casa dos sonhos permanece imaculada no reino das abstrações, sem infiltrações do caráter perecível de tudo o que o homem constrói com tijolos.

 


Alguns poucos terão a sorte de poder comprar, construir ou mesmo herdar a sua casa dos sonhos, mas basta o caminhão da mobília descarregar seus pertences na casa imaginada para que ela imediatamente se evapore como fantasia para reencarnar como bem imobiliário. O alicerce da casa dos sonhos é o desejo ainda não realizado.

Casas e apartamentos nos conquistam mais ou menos como as pessoas: um tanto pela razão, outro tanto pelo arrebatamento. Nem todas as casas grandes e bonitas nos atraem, assim como nem todas as construções antigas e malcuidadas perdem seu encanto. É possível, portanto, percorrer uma rua desconhecida olhando para cada construção como quem explora um salão de baile cheio de pretendentes.

A beleza sempre é um elemento a ser levado em conta, mas só os muito tolos escolheriam um lugar para morar olhando apenas para a fachada. Para despertar nosso desejo de intimidade e convivência é preciso que a casa nos ofereça algo que ultrapassa a mera dimensão dos cômodos e o prestígio da vizinhança.

Algumas casas capturam nossa atenção porque são simpáticas e acolhedoras de um jeito particularmente anacrônico. Nenhum sinal de reforma recente, nenhum item da moda na decoração, nenhum arranjo de plantas que pareça receber cuidados profissionais. São casas em que não me imagino como dona, mas como visita de alguém que sempre estaria me esperando.

Porque nem todas as casas dos sonhos estão instaladas naquele futuro cheio de possibilidades onde pretendemos construir o espaço físico que melhor nos reflete e traduz. A casa dos sonhos, às vezes, não é exatamente um endereço, mas uma geolocalização existencial: um lugar de onde a gente saiu e para onde sempre sabia que poderia voltar.

Artigos- Montserrat Martins *



                                         Te cuida, 2013!

Esperança é a chave para começar o ano novo e para a própria felicidade, sem ela não vamos a lugar algum. No caso de 2013, ela tem de ser contextualizada, para não parecermos ingênuos, porque todos os prognósticos são no mínimo cautelosos: recessão europeia, China “pisando no freio” no seu crescimento, o Brasil sendo desafiado a continuar se mantendo fora da crise e da recessão.

Esperança não parece ter a ver com as frias realidades da economia, ou do “mercado”, como queiram. Mas tem. Questão interessante é o lado psicológico da economia, hoje admitido abertamente pelos especialistas, pois o próprio temor de gastar já induziria à recessão a ser evitada. Para manter o mercado interno aquecido não basta fazer o “tema de casa” econômico, é necessário ainda dar atenção à “psicologia de massas” da opinião pública e suas expectativas, para evitar as ondas de pessimismo.

Nesse sentido, foi eficaz a empatia com o povo do então presidente, em 2008 e 2009, usando expressões como a de que a crise aqui seria só uma “marolinha”, o que os inte- lectuais ironizaram na época.

Não sei quais os seus dilemas pessoais, então vamos falar dos nossos problemas conjuntos, que acabam influindo na sua vida pessoal também. Aliás, fala sério, você não achou mesmo que o mundo ia acabar em 2012, mesmo gostando de fatos “espetaculares” para sacudir o marasmo. Pois a entrada de 2013 traz as mesmas expectativas dos anos anteriores, não há mágicas nem tragédias anunciadas à vista, mas pode ser um ano muito duro, ou um ano que proporcione mudanças promissoras. Algumas das melhores análises do que nos espera em 2013 seguem sendo as de bons intérpretes dos fatos dos últimos anos, sobre a situação global e a local.

Ninguém vai bater à sua porta com “manuais para explicar o mundo”, mas quem tenta entender isso nos traz algumas pistas. Bibiana Medialdea Garcia e colegas espanhóis nos brindaram em fins de 2011 com “Quiénes son lós mercados y cómo nos gobiernam”, explicando aos leigos como funciona hoje o mercado financeiro – o que realmente comanda hoje a economia global.

Na versão brasileira, um cientista político acessível aos leigos é André Singer. Em seu livro sobre o lulismo, ele descreve “a fissura entre o capital financeiro e o capital industrial” no seio da crise, na qual vê o governo em uma coalizão produtivista em confronto com uma “coalização rentista”, quer dizer, capital produtivo versus especulativo.

O paradoxo do fim de 2012 é interessante, porque o crescimento do PIB foi mínimo, mas o da renda familiar foi melhor. Para o economista Marcelo Neri, do Ipea, “o Brasil não vai tão bem como o povo”, enquanto em outras nações costuma ocorrer o contrário. Nos faltam infraestrutura, competitividade, faltam educação e um desenvolvimento sustentável que coíba a devastação das riquezas naturais. A esperança está viva, já esteve pior – quando o país ia bem e o povo ia mal –, e ela diz “Te cuida, 2013!”.

*MÉDICO PSIQUIATRA, BACHAREL EM CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS

Saideira,de Nilson Souza




Prezado Dois-Mil-e-Doze, sei que estás de saída, mas acho que ainda dá tempo prum mate de despedida. Já que o mundo não terminou, como previram os maias, vamos repassar os fatos dignos de aplausos e vaias. Pulemos janeiro e fevereiro – como sempre, teve verão, Carnaval, com homenagem especial ao saudoso Rei do Baião, mas o país só acordou no seu berço esplêndido, lépido e faceiro, depois que o cara da Fifa nos sentenciou um bom chute no traseiro.

Foi uma revolta geral, o ministro do Esporte chegou a vociferar um novo Independência ou Morte, mas logo caiu na real: não dá para brigar com quem comanda a torcida, então o melhor mesmo é liberar a bebida. Pelo menos a CBF trocou, finalmente, de chefe. Teixeira jogou a toalha e abriu espaço para o homem da medalha.

E a pátria mãe gentil ingressou célere pela Avenida Brasil. Paramos extasiados, na contramão da esperança, para ver Nina, Carminha e Tufão num enredo de vingança. Teve novela, eleição e o tal do mensalão – todo mundo grudado na televisão. Era um debate geral pela atenção do telespectador: de um lado o relator, do outro o revisor, parecia um Gre-Nal. Com farpa de todo lado e muito juridiquês, terminou com ex-ministro condenado ao xadrez. Teve poesia e prosa, teve fraude e peculato, mas quem dominou o fato foi mesmo Joaquim Barbosa.

E Lula, goste ou não goste, se exaspere e o peito estufe, se enredou com o Maluf e com a tal Rosemary, mas elegeu outro poste. Ainda assim faltou luz, de Brasília ao Maranhão, e de apagão em apagão, vamos carregando a cruz. Mudou a legislação: ficha limpa é obrigatória e o acesso à informação dá outro rumo à história. Mas não apaga da memória tanta gente que partiu para os chamados Campos Elísios: Millôr, Hebe, Niemeyer, dona Canô – e uma escolinha inteira de Chico Anysios.

Ninguém fica pra semente, seja justo ou pecador, nem passa impunemente pelo crivo acusador do mais implacável dos tribunais – a artilharia das redes sociais. Caiu, por exemplo, na Comissão da Verdade aquela moça que leiloou a virgindade. Cachoeira entrou calado e saiu mudo, mas acabou enjaulado e só então resolveu contar tudo. Demóstenes Torres falou, mas não convenceu nem evitou a cassação – perdeu, como Bruno e Macarrão.

Na questão ambiental, aconteceu o seguinte: nada na Rio+20 e, com mais vetos do que votos, o novo Código Florestal.
E o nosso herói nacional? Difícil essa eleição: tem juiz de tribunal, tem lutador de voz fina, tem seleção feminina, tem ginasta, tem judoca, todos pintados de ouro, tem goleiro de final, tem veterano e calouro, tem também o artilheiro que marca o gol salvador, tem o Mundial do Timão, tem uma nova Seleção, sem Mano e com Felipão.

                                                  Até mais, querido ano, obrigado pela emoção.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Feliz por nada,de Martha Medeiros

Crônica retirada do Livro
Feliz Por Nada, de Martha Medeiros
LPM Editores

Geralmente, quando uma pessoa exclama Estou tão feliz!, é porque engatou um novo amor, conseguiu uma promoção, ganhou uma bolsa de estudos, perdeu os quilos que precisava ou algo do tipo. Há sempre um porquê. Eu costumo torcer para que essa felicidade dure um bom tempo, mas sei que as novidades envelhecem e que não é seguro se sentir feliz apenas por atingimento de metas. Muito melhor é ser feliz por nada.
Digamos: feliz porque maio recém começou e temos longos oito meses para fazer de 2010 ano memorável. Feliz por estar com as dívidas pagas. Feliz porque alguém o elogiou. Feliz porque existe uma perspectiva de viagem daqui a alguns meses. Feliz porque você não magoou ninguém hoje. Feliz porque daqui a pouco será hora de dormir e não há lugar no mundo mais acolhedor do que sua cama.
Esquece. Mesmo sendo motivos prosaicos, isso ainda é ser feliz por muito.
                        Feliz por nada, nada mesmo?
Talvez passe pela total despreocupação com essa busca. Essa tal de felicidade inferniza. "Faça isso, faça aquilo". A troco? Quem garante que todos chegam lá pelo mesmo caminho?
Particularmente, gosto de quem tem compromisso com a alegria, que procura relativizar as chatices diárias e se concentrar no que importa pra valer, e assim alivia o seu cotidiano e não atormenta o dos outros. Mas não estando alegre, é possível ser feliz também. Não estando "realizado", também. Estando triste, felicíssimo igual. Porque felicidade é calma. Consciência. É ter talento para aturar o inevitável, é tirar algum proveito do imprevisto, é ficar debochadamente assombrado consigo próprio: como é que eu me meti nessa, como é que foi acontecer comigo? Pois é, são os efeitos colaterais de se estar vivo.
 
Benditos os que conseguem se deixar em paz. Os que não se cobram por não terem cumprido suas resoluções, que não se culpam por terem falhado, não se torturam por terem sido contraditórios, não se punem por não terem sido perfeitos. Apenas fazem o melhor que podem.
Se é para ser mestre em alguma coisa, então que sejamos mestres em nos libertar da patrulha do pensamento. De querer se adequar à sociedade e ao mesmo tempo ser livre. Adequação e liberdade simultaneamente? É uma senhora ambição. Demanda a energia de uma usina. Para que se consumir tanto?
 
 
A vida não é um questionário de Proust. Você não precisa ter que responder ao mundo quais são suas qualidades, sua cor preferida, seu prato favorito, que bicho seria. Que mania de se autoconhecer. Chega de se autoconhecer. Você é o que é, um imperfeito bem-intencionado e que muda de opinião sem a menor culpa.
                                                          Ser feliz por nada talvez seja isso.

O Que você deseja ? de Ivan Martins *

                                      Pensando em

Uma pergunta difícil antes que 2013 comece

Adoro finais de ano. Presentes, planos, festas, tudo me cai bem. Mesmo a correria e as aglomerações que incomodam tanta gente, a mim agradam. Fico com a sensação de estar vivendo um período extraordinário. É como se o ano todo se condensasse em meia dúzia de dias, carregados de urgência e de expectativa. Uma parte de mim volta a viver sentimentos de criança. Talvez seja isso, na verdade, que explique o meu contentamento: ele deve ser uma manifestação secreta de nostalgia.

Ao lado desse sentimento familiar, tem aparecido, nos últimos finais de ano, uma sensação inteiramente nova – a de que é preciso fazer planos. Com a corrida final para o Ano Novo, começo a ser invadido pelo sentimento de que é imperativo, de alguma forma, planejar o ano seguinte, mesmo que seja em linhas gerais. Uma pergunta complexa – o que eu quero para mim? – se esgueira sob a porta nesses dias e se instala no meio da minha sala. Exige que eu lide com ela.

Até recentemente eu não sentia isso. Sempre tive a sensação de que a vida era um grande improviso e que planejar era uma forma de trapaça. Não gostava, e ainda tendo a não gostar, de artificialidades, e o planejamento me parecia uma delas. Meu lema no amor e na vida era que as coisas tinham de acontecer com naturalidade. Olhava com uma ponta de desdém para as pessoas minuciosas que se obstinavam em arquitetar a conquista de coisas, posições e pessoas. Sentia que elas não tinham entendido a essência espontânea da vida, que eu já captara.

                                                                 Como eu disse, essa sensação mudou.
Embora eu continue acreditando que as coisas que nos dizem respeito acontecem com naturalidade – não por uma questão de destino, mas sim por afinidade e talento – fui obrigado a admitir que a vida às vezes requer um empurrãozinho. Mesmo as coisas que nos cabem requerem esforço e planejamento.

Antes de fazer planos, porém, é preciso responder àquela pergunta difícil: o que eu desejo para mim? Quando a gente tem 20 anos não sente que precisa respondê-la. Há tanta coisa acontecendo, são tantas as novidades que escolher parece quase uma estupidez. A gente quer tudo e pronto. Aos 40 anos não é mais assim. Aos 50, escolher torna-se inevitável, mas, ainda então, muitos não conseguiram responder à pergunta essencial: o que eu desejo para mim?
Outro dia eu fui ver um show de fado, o primeiro da minha vida. A cantora era uma jovem portuguesa chamada Carminho. Ela era linda, cantava com tamanha intensidade, eu me emocionei como não acontecia há muito tempo. Fiquei lá, sentado no escuro, cheio de sentimentos exaltados, enquanto ela falava de saudades, lágrimas, amor. Saí do espetáculo amolecido e feliz. Por alguns momentos, enquanto eu guiava de volta para casa, tive a sensação de que quase tudo estava em seu lugar – e que eu sabia, perfeitamente, o que era necessário mudar, e como fazê-lo.

Com essa historieta pessoal, tento dizer que as emoções fazem parte do nosso processo de escolha. Descobrir o que fazer da vida, ou o que se deseja dela, não é o mesmo que resolver um problema matemático. Precisamos da luz dos nossos sentimentos para nos guiar. Vendo e ouvindo a cantora de fado eu consegui, por momentos fugazes, mas essenciais, refazer a ligação com o adolescente que eu era. Ele decidiu quem o homem adulto seria. Essa trilha de emoção que voltou para trás é a mesma que levará para frente. No meu caso, uma trilha essencial de identidade que tem a ver com personalidade, família, geração, classe, bairro... Para descobrir o que eu desejo, foi preciso me lembrar do que eu queria quando tudo começou. A cantora de fado me pôs no caminho.

Quando 2013 começar, portanto, pretendo estar pronto, ou quase. Com alguns planos, pelo menos. Sabendo mais ou menos em que direção eu quero ir. Feliz pela possibilidade de começar de novo. Contente com o fato de que o caminho à frente responde aos anseios do garoto que eu já fui. Disposto a fazer força e empurrar para que as coisas aconteçam. Sabendo que não é mais possível fazer tudo. Tendo a certeza, sobretudo, de que não adianta ficar parado, esperando. A vida não nos espera.
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* IVAN MARTINS É editor-executivo de ÉPOCA (Foto: ÉPOCA)

Nosso lugar no conjunto dos seres

 



Leonardo Boff*
A ética da sociedade dominante no mundo é utilitarista e antropocêntrica. Quer dizer: falsamente considera que o conjunto dos seres da natureza somente possui razão de existir na medida em que serve ao ser humano e que pode dispor deles a seu bel-prazer.
Continua acreditando que o ser humano, homem e mulher é o centro do universo e rei e rainha da criação.

Mal sabe que, nós humanos, fomos um dos últimos seres a entrar no teatro da criação. Quando 99,98% de tudo já estava pronto, surgimos nós. O universo, a Terra e os ecossistemas não precisaram de nós para se organizarem e ordenarem sua majestática elegância e beleza.
 

 
Cada ser possui valor intrínseco, independente do uso que fazemos dele. Ele representa uma emergência daquela Energia de fundo, como falam os cosmólogos, ou daquele Abismo gerador de todos os seres. Tem algo a revelar que só ele o pode fazer. E nós a escutar e a celebrar o que nos disser.

Nós entramos no processo da evolução quando esta alcançou um patamar altíssimo de complexidade. Então irrompeu a vida e como subcapítulo da vida, a vida humana, consciente e livre. Por nós o universo chegou à consciência de si mesmo. E isso ocorreu numa minúscula parte do universo que é a Terra. Por isso nós somos aquela porção da Terra que sente, ama, pensa, cuida e venera. Somos Terra que anda, como diz o poeta e cantador indígena argentino Atauhalpa Yupanqui.

A nossa missão específica, nosso lugar no conjunto dos seres, é o de sermos aqueles que podem ver a grandeur do universo, escutar as mensagens que cada ser enuncia e celebrar a diversidade dos seres e da vida.

E porque somos portadores de sensibilidade e de inteligência temos uma missão ética: de cuidar da criação e sermos os guardiães dela para que continue com vitalidade e integridade e com as condições de ainda evoluir já que está evoluindo há 4,4 bilhões de anos.

Cumpre, portanto, reconhecer e respeitar a história de cada ser da criação, vivo ou inerte. Existiram antes de nós e por milhões e milhões de anos sem nós. Por esta razão devem ser respeitados como respeitamos as pessoas mais idosas e as tratamos com respeito e amor. Eles também tem direito ao presente e ao futuro junto conosco.
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* Teólogo. Escritor. Ecologista.
Fonte: http://leonardoboff.wordpress.com/2012/12/28/nosso-lugar-no-conjunto-dos-seres/