sexta-feira, 28 de março de 2014

" O lado positivo da rivalidade "

                                                    Diana Corso

" ... a competição com os outros não é necessariamente algo ruim: ela pode nos levar a aperfeiçoar nossos talentos ".
No esporte,o jogo limpo,mais conhecido como fair play ,garante uma bela disputa,vitórias justas,derrotas dignas.
A vida seria bem mais fácil se isso vigorasse sempre.Mas nem sempre conseguimos ser tão construtivos.
Na contramão disso,costumo sentir inveja por rivais imaginários,em geral escritores em todos os sentidos,sequer sabem da minha existência.
Quando encontro textos escritos por eles,almejo-lhes o fracasso ou a mediocridade.Se o escrito for incriticável ,fico mordida,reconheço a derrota e conduzo - o de mau grado,ao merecido pódio.Caso haja qualquer brecha para pensar que eu faria melhor,ou mesmo,suprema glória ,que já escrevi de forma mais interessante sobre isso,eis a vitória esperada.
Em língua inglesa essa rivalidade tem um nome é : < nemesis > Esse é o nome da personagem mitológica responsável pelo controle da soberba , e a personificação da vingança.
Em inglês,diz-se que um h erói tem sua Nemesis quando possui um inimigo admirável ,como professor Moriarty é para Sherlock Holmes.
É uma inveja recreativa.Tanto que ela praticamente não surge em minha atividade profissional,a psicanálise.Os baixos pensamentos se confinam à escrita ,meu trabalho das horas vagas.Meus Nemesis - escritores servem para escoar minhas rivalidades.São como o time adversário para um torcedor fanático.
Quem tem irmãos praticou essa competição de forma saudável ao longo da vida,sem se dar conta.A disputa fraterna é construtiva, os rivais nos ressaltam as fraquezas.Sem isso,qualquer um se acha o queridinho da mamãe,mas o nascimento de um irmãozinho costuma lembrar que o reinado é passageiro.Quando se tem irmãos mais velhos,serão um parâmetro ,um ideal.Como eles,meus escritores-rivais certamente ajudam a aperfeiçoar a escrita.
Muitos dirão que há lugar para todos,e que a prioridade da vida interior é questionar conceitos e valores,sem medir-se com ninguém.Porém ,não há como negar que fazemos parte de vários grupos.Na sociedade individualista,nossa condição de seres sociais não tem muito prestígio.Ignoramos com prazer os laços que nos atam aos semelhantes e ancestrais.Cada um de nós gosta de se imaginar um lobo solitário,um self made man, figura adorada do capitalismo, que não deve nada a ninguém.Quanto a mim,deixem-me com meus Moriartys, graças a eles posso pretender ser uma espécie de Sherlock .

Diana Corso é psicanalista e autora do Livro Fadas no Divã.Escreve há dois anos para a Revista Vida Simples.

Nenhum comentário:

Postar um comentário