Diana Corso
" ... a competição com os outros não
é necessariamente algo ruim: ela pode nos levar a aperfeiçoar nossos talentos
".
No esporte,o jogo limpo,mais
conhecido como fair play ,garante uma bela disputa,vitórias justas,derrotas
dignas.
A vida seria bem mais fácil se isso
vigorasse sempre.Mas nem sempre conseguimos ser tão construtivos.
Na contramão disso,costumo sentir
inveja por rivais imaginários,em geral escritores em todos os sentidos,sequer
sabem da minha existência.
Quando encontro textos escritos por
eles,almejo-lhes o fracasso ou a mediocridade.Se o escrito for incriticável
,fico mordida,reconheço a derrota e conduzo - o de mau grado,ao merecido
pódio.Caso haja qualquer brecha para pensar que eu faria melhor,ou mesmo,suprema
glória ,que já escrevi de forma mais interessante sobre isso,eis a vitória
esperada.
Em língua inglesa essa rivalidade
tem um nome é : < nemesis > Esse é o nome da personagem mitológica
responsável pelo controle da soberba , e a personificação da
vingança.
Em inglês,diz-se que um h erói tem
sua Nemesis quando possui um inimigo admirável ,como professor Moriarty é para
Sherlock Holmes.
É uma inveja recreativa.Tanto que
ela praticamente não surge em minha atividade profissional,a psicanálise.Os
baixos pensamentos se confinam à escrita ,meu trabalho das horas vagas.Meus
Nemesis - escritores servem para escoar minhas rivalidades.São como o time
adversário para um torcedor fanático.
Quem tem irmãos praticou essa
competição de forma saudável ao longo da vida,sem se dar conta.A disputa
fraterna é construtiva, os rivais nos ressaltam as fraquezas.Sem isso,qualquer
um se acha o queridinho da mamãe,mas o nascimento de um irmãozinho costuma
lembrar que o reinado é passageiro.Quando se tem irmãos mais velhos,serão um
parâmetro ,um ideal.Como eles,meus escritores-rivais certamente ajudam a
aperfeiçoar a escrita.
Muitos dirão que há lugar para
todos,e que a prioridade da vida interior é questionar conceitos e valores,sem
medir-se com ninguém.Porém ,não há como negar que fazemos parte de vários
grupos.Na sociedade individualista,nossa condição de seres sociais não tem muito
prestígio.Ignoramos com prazer os laços que nos atam aos semelhantes e
ancestrais.Cada um de nós gosta de se imaginar um lobo solitário,um self made
man, figura adorada do capitalismo, que não deve nada a ninguém.Quanto a
mim,deixem-me com meus Moriartys, graças a eles posso pretender ser uma espécie
de Sherlock .
Diana Corso é psicanalista e autora
do Livro Fadas no Divã.Escreve há dois anos para a Revista Vida
Simples.
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