sexta-feira, 30 de junho de 2017

A cara oculta dos millennials: inseguros e viciados em trabalho
millenials
Mulher experimenta seu novo Galaxy S8. REUTERS

Adeus ao respeito aos protocolos e à visão da experiência como capacidade. Bem vindo a sentir-se indispensável e mártir

Nós, os millennials, pioneiros na revolução tecnológica que mudou tudo, criamos uma nova forma de nos relacionar, transformamos os hábitos de consumo e também nossa atitude em relação ao trabalho. Entre hashtags e retuítes, transferimos a insegurança e o narcisismo que dizem termos para o nosso ambiente profissional. Diferentemente das gerações anteriores, para as quais a experiência demonstrava capacidade, e o mais importante eram a hierarquia e os protocolos, agora muitos dos jovens entre 19 e 30 anos questionam as regras, empreendem e se sentem autênticos mártires do seu trabalho. Consideram-se indispensáveis, e 57% deles precisam que seus chefes e seus companheiros estejam conscientes do seu compromisso e esforço, a tal ponto que se sentem culpados por tirar férias. Estas são algumas das conclusões do estudo Os Mártires do Trabalho, publicado pela organização Project: Time Off, com a participação de quase 6.000 profissionais em tempo integral.

Embora nosso compromisso com o emprego seja uma característica comum às gerações anteriores, há algo que nos diferencia dos baby boomers e da Geração X: nosso egocentrismo. Tomás Chamorro, professor de psicologia profissional nas Universidades de Londres e Columbia, diz que, nos anos 1950, 12% dos alunos do ensino médio concordavam com a seguinte afirmação: “Sou uma pessoa importante”; na década de 1990, esse índice subiu para 80%. “É absolutamente factível que essas diferenças sejam atribuídas a diferentes níveis de narcisismo. Achar-se o centro do mundo, insubstituível e que ninguém pode fazer seu trabalho é uma percepção errônea da realidade e dá sinais do senso de grandiosidade tão característico dos millennials”, afirma Chamorro.

Quando levamos essa situação emocional ao mercado trabalhista, começa o drama. “Estamos pondo esses garotos em ambientes corporativos que não estão lhes ajudando a aprender a cooperar nem a superar a necessidade de recompensa instantânea”, afirma o autor de livros sobres os millenials, Simon Sinek numa entrevista. Nós, millennials, somos mais de 140 caracteres do que de emails detalhados, e isso também se reflete em nosso ofício. Crescemos na sociedade do imediatismo: compramos na Amazon, e o pacote chega ao dia seguinte, vemos Game of Thrones de uma só vez, paqueramos via Tinder, sem ter nenhum trabalho. “Vocês podem conseguir tudo o que quiserem na hora, tudo, menos a satisfação profissional e as relações significativas. Esses processos são lentos, serpenteantes, incômodos e desordenados”, observa Sinek. Não sabemos administrar a espera e, quando nos obrigam a ela, surge em nossa cabeça um enorme #WTF, e nos sentimos intranquilos e pequenos.

Laura Ponsa, de 27 anos, millennial convicta e publicitária com emprego há um ano, sente-se completamente identificada com essa situação. "Cresci achando que depois de estudar eu poderia escolher onde trabalhar, e com a crise me custou muito mais do que eu imaginava encontrar um emprego com boas condições”, diz. “Depois de assinar o contrato, eu nem sequer tinha perguntado pelas minhas férias, simplesmente foi algo em que não pensei. Quando soube que teria um mês, achei muito. Até agora, vinha emendando um contrato no outro e não tive tempo nem dinheiro para descansar.”

Seu compromisso em cumprir pressões – autoimpostas, admite – algumas vezes a levou a se sentir mal por pedir dias de folga, mas ela salienta que não se considera narcisista. “Eu achava que minha chefa pensaria que eu estava me esquivando e não era suficientemente boa.” Katie Denis, responsável pelo estudo que retrata os millennials como mártires, explica essa sensação: “Muitos procuravam trabalho durante a recessão, e agora têm mais medo de perderem o emprego; para eles o normal é se desenvolver numa economia frágil”. Afirma que tiramos menos férias porque nos sentimos inseguros e temos medo de que assim pareçamos ser facilmente substituíveis. “20% temem que isso lhe custe o emprego”, afirma Denis.

Os nativos digitais queremos “gerar impacto” – nos sentirmos úteis, deixarmos um rastro, sermos imprescindíveis –, o wi-fi é a nossa fonte de vida, e hiperventilamos se a bateria das nossas telas cai a menos de 10% e ainda nos faltam horas para chegar em casa. Nossos interesses contrastam com os de nossos pais, membros da Geração X e do baby boom, quando as necessidades tinham mais a ver com subsistir, tentar viver melhor ou simplesmente ter vida pessoal. “Tivemos tudo, e tivemos mais fácil, não precisamos nos preocupar em sobreviver, e isso nos deixa muitíssimo tempo para pensar e nos afogar em uma ansiedade vital que não sabemos administrar”, diz Laura Ponsa.

Embora nosso presente pareça ruinoso, há solução e, segundo Sinek, boa parte dela está nas mãos da indústria. “Agora temos a responsabilidade de compensar o déficit e de ajudar esta geração assombrosa a construir sua confiança, a aprender a serem pacientes e a desenvolverem suas habilidades sociais”, conclui. Enquanto isso, nós, os millennials, tuitamos, compartilhamos vídeos virais e esperamos com inquietação nossa dose diária de curtidas para apaziguar essa coisa que mexe com a gente cada vez que subimos uma foto no Instagram. Também somos críticos e comprometidos, e a geração mais preparada e com mais desemprego da história. Os nativos digitais representarão 70% da força de trabalho do mundo em 2025, mas, para conseguir esses empregos, parece que nos propusemos a sacrificar nosso descanso e a bateria de todos os nossos dispositivos móveis.
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Reportagem por  M. Victoria S. Nadal- Madrid
Fonte:  http://brasil.elpais.com/brasil/2017/04/05/economia/1491401697_499027.html?rel=mas - Acesso 29/06/2017

RUY FAUSTO

NOVOS CAMINHOS NA POLÍTICA BRASILEIRA

Entrevista com Ruy Fausto
Professor emérito de Filosofia da USP
Para Ruy Fausto, sigla deve se articular com outras frentes e partidos,
como o PSOL, nas eleições 
do ano que vem
É de esquerda e critica o chavismo, trotskismo, maoísmo e o marxismo. Repudia todas as formas de populismo, totalitarismo e adesismo – às quais tem dado o nome de “patologias da esquerda”.
Aos 82 anos, o professor emérito de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP) Ruy Fausto, radicado na França, transformou o artigo que publicou na edição da revista piauí [clique aqui para ler este artigo] de outubro passado no livro Caminhos da Esquerda: elementos para uma reconstrução (Editora: Companhia das Letras), a ser lançado em 3 de julho.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Fausto defende o fim da hegemonia do PT no campo da esquerda e a formação de uma frente única progressista para a eleição presidencial de 2018 com, por exemplo, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) e o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ).
Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
ESTADÃO - Há uma hegemonia de direita?
Ruy Fausto: No mundo, há uma ofensiva grande da direita que surgiu, principalmente, com o fim da União Soviética. Assusta-me muito, particularmente, a extrema direita, que tem uma linguagem muito violenta. Tem ainda a situação brasileira, com o PT, que acabou fortalecendo a direita. A política petista trouxe maior distribuição de renda, mas também houve uma corrupção absolutamente intolerável. Ainda assim, nada justifica o impeachment (da presidente cassada Dilma Rousseff), que foi um desastre. Mas a direita se lançou nessa aventura, conseguiu e isso permitiu que eles levantassem a cabeça. A corrupção foi um discurso bem apropriado pelos movimentos de direita.
Como o senhor avalia as críticas ao que o PT fez enquanto ocupou o governo?
Ruy Fausto: Um partido de esquerda que se pretende democrático tem de ter lisura administrativa absoluta. Há uma política de “fins justificam os meios”. A lição que se tira no PT hoje é: “nós não fomos suficientemente oportunistas”. Isso é um desastre total e tem intelectual saudando isso aí. Certamente faltou um mea-culpa. Nesse sentido, os melhores são o Tarso Genro (ex-governador do Rio Grande do Sul), o José Eduardo Cardozo (ex-ministro da Justiça no governo Dilma). O PT vai continuar a existir. Mas o caminho é de queda, para haver uma renovação.
Lula seria um bom candidato?
Ruy Fausto: Acho que não. Primeiro, acho muito difícil que ele concorra, a situação jurídica é muito difícil. Eu não desejo a condenação do Lula, embora ache difícil ele conseguir evitar isso. Desejo, sim, que ele possa legalmente se candidatar, mas não acho que, nas condições atuais, ele seria um bom candidato para a esquerda. Acho que os melhores nomes podem vir do PT, do PSOL, ou mesmo da sociedade civil.
O senhor acredita que a esquerda deveria sair unificada em 2018?
Ruy Fausto: Sim, é essencial que se crie uma frente única de esquerda, fazer uma espécie de fórum desses movimentos independentes. Não é para ter uma ruptura total com o PT, mas a hegemonia não pode mais ser dele, no campo da esquerda. Isso também não significa que a gente vá ganhar em 2018. A gente tem de ter uma boa campanha. E, aí, surgem possíveis nomes. O Fernando Haddad (ex-prefeito de São Paulo), por exemplo, é bom sujeito, competente, não é corrupto. Outro nome é o Marcelo Freixo, que me parece um sujeito bom. Acho que talvez o Fernando Haddad possa sair como candidato ou como vice. Às vezes, um dos melhores do PT com um dos melhores do PSOL poderia funcionar.
Mas Fernando Haddad não conseguiu se reeleger em São Paulo e Marcelo Freixo também não foi eleito prefeito no Rio na eleição do ano passado...
Ruy Fausto: O Haddad, eu não estive aqui (no Brasil) durante toda a sua gestão na Prefeitura, mas tenho a impressão de que fez um bom governo. Ele teve uma péssima campanha, foi muito atacado e avaliou mal os movimentos das ruas. Já o PSOL é até meio de extrema esquerda. Há muito essa ideia de que se deve ir mais à esquerda – como se a luta política fosse uma espécie de escala. Você pode até dizer isso, mas redefina a esquerda. Enfim, o PSOL tem seu mérito por ter criticado a corrupção e as alianças sem escrúpulos do PT, mas ainda é de extrema esquerda. Alguns flertam com chavismo e castrismo. Mas, na verdade, é um partido muito variado.
Existem ainda outros nomes que surgem: o ex-governador e ex-ministro Ciro Gomes (PDT), o Guilherme Boulos, líder do MTST, e mesmo a ex-ministra Marina Silva (Rede).
Ruy Fausto: A Marina, eu respeito a biografia, mas seu programa econômico não é bom e ela não se move muito bem na política. O Ciro é um sujeito que fala muitas verdades, mas fala demais. O Boulos não conheço de perto. Ele certamente faz um trabalho muito importante na periferia, mas ainda tem um discurso muito bolivariano, e acho que isso tem de mudar. Devemos priorizar um programa mais democrático.
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Fonte: O Estado de S. Paulo – Política – Domingo, 25 de junho de 2017 – Internet: clique aqui.
Reportagem por  Marianna Holanda

quinta-feira, 29 de junho de 2017


BC sugere à Lava Jato ação conjunta em acordos com bancos sob suspeita

Rodolfo Buhrer/Reuters
Antonio Palocci (front), former finance minister and presidential chief of staff in recent Workers Party (PT) governments, is escorted by federal police officers as he leaves the Institute of Forensic Science in Curitiba, Brazil, September 26, 2016. REUTERS/Rodolfo Buhrer ORG XMIT: BRA103
O ex-ministro Antonio Palocci prometeu revelar nomes de bancos que participaram de corrupção
O Banco Central indicou aos procuradores da Operação Lava Jato que está disposto a compartilhar com eles informações sigilosas de bancos sob suspeita, e poderá oferecer ao Ministério Público um lugar na mesa quando chegar a hora de negociar acordos com instituições financeiras sob investigação.

Na sexta (23), dois diretores do BC se reuniram com integrantes da força-tarefa que conduz as investigações da Lava Jato em Curitiba para discutir mudanças na medida provisória que ampliou os poderes da instituição para investigar os bancos, editada pelo governo e enviada ao Congresso no início do mês.

A medida provisória vinha sendo discutida havia pelo menos sete anos, mas foi recebida com críticas pelos procuradores, que viram nela uma tentativa do governo de obstruir o caminho dos investigadores num momento em que novos delatores ameaçam fazer revelações sobre o envolvimento de bancos com os esquemas de corrupção descobertos pela Lava Jato.

O ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, que negocia um acordo com a Lava Jato, disse ao juiz federal Sergio Moro no início de abril que um banqueiro o procurou em 2010 oferecendo ajuda para movimentar recursos ilícitos destinados à campanha de Dilma Rousseff à Presidência.

Palocci prometeu a Moro que revelaria nomes em outro momento e desde então negocia os termos de sua colaboração com a Lava Jato. Nesta segunda (26), o juiz condenou o ex-ministro a 12 anos de prisão e expressou dúvidas sobre sua disposição de colaborar com a Lava Jato.

A medida provisória que amplia os poderes do BC cria condições para que bancos sob suspeita forneçam informações sobre irregularidades em troca da redução de penas no âmbito administrativo, negociando acordos de leniência semelhantes aos que a Odebrecht e os donos da JBS negociaram recentemente.

Embora a medida só trate de infrações de caráter administrativo que o BC deve fiscalizar, a lista é tão ampla que em muitos casos elas se confundem com crimes que cabe à Polícia Federal e ao Ministério Público apurar, e não há previsão de que essas instituições participem das negociações do BC com os bancos.
Além disso, a medida provisória permite que o Banco Central mantenha em sigilo informações cuja divulgação considere uma ameaça à estabilidade e à solidez do sistema financeiro, o que deixou os procuradores contrariados.

No encontro de sexta, ficou combinado que os dois lados farão estudos sobre as 97 propostas de alteração da medida provisória apresentadas no Congresso e voltarão a conversar depois para buscar consenso em torno de emendas que o governo poderá apoiar. Nesta semana, os diretores do BC se encontrarão com assessores do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

MODELO

Uma das ideias em discussão é copiar o modelo adotado pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), órgão do Ministério da Justiça que fechou dez acordos com empreiteiras investigadas pela Lava Jato. O Ministério Público foi chamado a participar dos acordos na fase final da negociação em todos os casos.

A legislação atual já obriga o BC a comunicar indícios de crimes que surjam durante investigações. Mas os procuradores temem que o BC mantenha indícios sob sigilo por causa da preocupação com a estabilidade dos bancos e querem que as regras dos acordos de leniência deixem claro como as informações serão compartilhadas.