quarta-feira, 31 de agosto de 2016

" Mitologia do " golpe " é um excesso de desonestidade intelectual "

 ALEXANDRE SCHWARTSMAN

    FOLHA DE SP - 31/08



A mitologia do "golpe" se ampara na ideia de que as "pedaladas" se justificariam para manter o crescimento e o emprego. 

Reconhece, portanto, a ilegalidade da ação (a vilipendiada Lei de Responsabilidade Fiscal proíbe operações de crédito entre o governo e seus bancos), mas argumenta se tratar de política com fins nobres: impedir a recessão e garantir que a população permanecesse ocupada.


Há vários problemas com o argumento. A começar pela contumaz noção de que fins justificam os meios, possibilitando a destruição do aparato institucional em nome de presumidos ganhos imediatos. 

Mesmo que estes se materializem —o que está longe de ser verdade—, não raro as consequências para a capacidade de expansão de longo prazo são desastrosas, em linha com nossa experiência recente.



Diga-se, aliás, que o objetivo, vendido como nobre, era bem mais mundano, a saber, ganhar uma eleição, nem que à custa de "fazer o diabo", posição tornada explícita ao longo do processo.



Isto dito, há sérias dúvidas acerca da adequação dessa política. Em primeiro lugar porque, conforme discutido mais vezes do que seria saudável neste espaço, em 2013 e em 2014, quando se usou e abusou desse expediente, estava mais do que claro que o problema da economia brasileira não era a falta de demanda originária da crise internacional (já então o mundo crescia bem mais do que nós), mas sim os sérios gargalos do lado da oferta, incluindo o mercado de trabalho.



Naquele contexto, aumentar gastos iria simplesmente agravar nosso desequilíbrio externo (e o agravou, trazendo o deficit em conta-corrente de US$ 75 bilhões para US$ 105 bilhões) e elevar ainda mais a inflação, apesar dos controles de preços, o que também ocorreu.



Junte-se a ambos esses desequilíbrios o forte aumento da dívida pública no período e fica claro que a política econômica da época, além de ineficaz para elevar o crescimento, era também nitidamente insustentável para qualquer economista que não fosse signatário do manifesto de apoio à presidente às vésperas da eleição.



Não faz tampouco sentido o raciocínio (se cabe aqui a expressão) que atribui ao excesso de responsabilidade fiscal a queda da presidente.



Em primeiro lugar porque, sendo a política anterior insustentável, não havia alternativa que não passasse pela correção dos desequilíbrios fiscais. Ao contrário, a crise que resultaria da manutenção da Nova Matriz, hoje uma pobre órfã, faria a atual parecer não mais que mera desaceleração econômica.



Mais importante, porém, a modestíssima contração fiscal que se materializou em 2015 dificilmente justificaria a queda observada do PIB. Ajustado ao padrão sazonal, o produto encolheu cerca de 6% entre o quarto trimestre de 2014 e o primeiro de 2016 (quase R$ 100 bilhões a preços do primeiro trimestre deste ano). Já o consumo do governo no mesmo período caiu menos do que 2%, ou R$ 5,5 bilhões no mesmo período.



Conforme notado por Samuel Pessôa, não há valores plausíveis para o multiplicador fiscal que justifiquem tamanho colapso econômico.



Trata-se, na verdade, de mais um episódio da notória desonestidade intelectual dos keynesianos de quermesse a serviço de um projeto político. Se há algo de bom no atual governo, é a certeza de que eles estão longe da condução da política econômica.

" Sobre Comércio e " desindustrialização prematura "

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 MARCOS TROYJO

  FOLHA DE SP - 31/08

Se analisarmos com cuidado a história dos países que mudaram de patamar nos últimos 70 anos, como Alemanha, Japão, China, Coreia do Sul e Chile, é praticamente impossível ver uma trajetória de crescimento sem pelo menos 40% do PIB daquele país resultante das somas de importações e exportações.


No Brasil, desde que fomos descobertos por Cabral até 1999, com exceção dos ciclos da monocultura de exportação, como o ciclo da borracha, do café ou da cana-de-açúcar, é muito raro encontrar um momento do PIB brasileiro que apresente 25% oriundos de comércio exterior.



A primeira e óbvia constatação é que na recente história da economia global o Brasil não integrou o grupo de países que elegeu o comércio exterior como principal plataforma de crescimento.



E, num foco mais contemporâneo, adotamos, desde o primeiro governo Lula, um "retrofit" das antigas teses de substituição de importações.



Se nos 1940 e 1950 a palavra forte era nacionalização da indústria, nestes últimos anos, esse conceito foi substituído por uma filosofia que chamo de "local-contentismo". Trata-se de uma ênfase muito forte nas políticas industriais de substituição de importações, mas não necessariamente com nacionalização da indústria. Pelo contrário, tal retrofit foi muito amistoso ao capital estrangeiro.



Toda a estratégia brasileira de compras governamentais, oferecimento de benefícios fiscais e tentativa de criação de cadeias de produção do setor industrial esteve associada ao papel das estatais e das instâncias governamentais em seus três níveis. O Estado desempenhou papel de grande formador da demanda para que empresas de outros países viessem ao Brasil e aqui estabelecessem suas operações produtivas, portanto gerando empregos e impostos locais.



O problema é que, na medida em que o Brasil optou por não se esforçar na busca de acordos de comércio, nem se integrar às cadeias globais de produção, as atividades industriais que aqui se instalaram não apenas passaram a competir com os similares nacionais, como também tiveram como objetivo exclusivo o mercado brasileiro.



Ninguém vinha montar uma fábrica no Brasil para fazer do país uma plataforma de exportação para terceiros mercados. Eles vieram sobretudo para explorar o mercado brasileiro, que é muito protegido comercialmente e, portanto, paga um sobrepreço para quem se instala aqui.



Essa é uma das razões pelas quais o Brasil se tornou o quinto maior destino de investimento direto do mundo durante esse período Lula-Dilma.



Ou seja, tivemos, de fato, uma política industrial que atraiu investimentos, só que não necessariamente pelas melhores razões. As prioridades foram o atendimento de demandas reprimidas, mirando o universo do consumo interno, e não fazendo o Brasil por meio do seu próprio mérito um elo dessas cadeias mais globais de produção.



E isso só contribuiu para que nosso comércio exterior de maior valor agregado e, particularmente, do setor industrial, definhasse.



Essa política favoreceu o que alguns economistas, em especial Dani Rodrik, de Harvard, chamam de "desindustrialização prematura".



Uma coisa é o que aconteceu com Londres ou Paris, ou outros grandes centros urbanos na Europa que se converteram ao longo do século de ramos industriais para praças de serviços e entretenimento. Houve, nesses casos, um processo de maturação bastante clara.



Alguns desses setores de serviços e entretenimento se converteram em locação para a quarta revolução industrial, com empregos em pesquisa e desenvolvimento voltados para tecnologia e para a indústria.



No caso do Brasil, não cumprimos essa fase. Aqui não existe, em dimensão semelhante à dos EUA, um "rust belt" (cinturão de ferrugem) —uma região de indústria pesada e manufatureira. Nós tínhamos que fazer com que a indústria ocupasse uma parcela ainda maior no PIB brasileiro e uma fatia ainda maior das nossas exportações.



Acabamos, no entanto, regredindo ao longo do tempo. Outro elemento a também contribuir pra esse processo foi nossa volta a uma situação semicolonial de comércio com a Ásia, e particularmente com a China.



A China hoje é nosso principal parceiro. Mas nossas exportações estão concentradas em poucos produtos básicos. Com as importantes vantagens comparativas que mantemos nas commodities agrícolas e minerais, pelas quais os chineses têm grande apetite, cai o interesse dos empresários em investir na indústria.



É muito mais barato ou, pelo menos foi durante uma época, tentar o outsourcing a partir do mercado chinês. Isso contribuiu demais para a nossa desindustrialização. De modo que nós estamos agora no meio do caminho.



Recentemente as exportações da indústria aumentaram por causa da desvalorização do real frente ao dólar. Nós ganhamos competitividade via câmbio. No entanto, o câmbio é apenas um dos muitos pilares que temos de aperfeiçoar para dar ao Brasil competitividade exportadora industrial.



Em nossa interação com o mundo, privilegiamos muito mais nossas ambições políticas no âmbito externo do que um maior pragmatismo econômico. O resultado disso tudo é que aquilo que nós podemos considerar segundo e terceiro pilares da competitividade —acesso a grandes mercados e facilitação da participação do Brasil nas cadeias internacionais de agregação de valor— não foram privilegiados nesse período mais recente.



Não dá para fazer um "copiar e colar" de modelos asiáticos, mas com eles podemos aprender. A Coreia do Sul abraçou substituição de importações e criação de campeões nacionais. Mas não o fez para garantir fatias do mercado interno ao empresariado local, e sim para promover exportações, aumentar a competitividade do capital nacional em relação a terceiros mercados.



Essa é a grande diferença com o modelo que aplicamos no Brasil. Os sul-coreanos se aproveitaram de um interesse geopolítico dos Estados Unidos e da Europa para fazer algumas concessões pontuais a países asiáticos. Isso também é verdade, numa escala ampliada, em relação à estratégia adotada pela China.



E aí vem a pergunta: será que ainda dá tempo para o Brasil? Temos nesse próximos dois anos e meio de reforçar marcos regulatórios e segurança jurídica. Avançar nas concessōes e privatizações.



Se olharmos o mapa-múndi, seria muito difícil encontrar um país que consegue equilibrar, por um lado, potencial exportador da cadeia agroalimentar, agromineral e em algumas áreas de alta tecnologia, como é o setor aeronáutico, e, por outro, mercado interno de grande proporção.



O Brasil é grande e, no limite, tamanho ainda importa. No rumo certo, ficaremos ainda maiores.



Economista, diplomata e cientista social, dirige o BRICLab da Universidade Columbia em NY, onde é professor-adjunto de relações internacionais e políticas públicas.

" Roda Viva "

MONICA DE BOLLE

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ESTADÃO - 31/08

Dilma não tem condições técnicas, morais, éticas para liderar o Brasil, mas não será removida por essas razões


“A gente vai contra a corrente

Até não poder resistir

Na volta do barco é que sente

O quanto deixou de cumprir”,

Chico Buarque, Roda Viva

Coube à roda viva que chacoalha o destino pra lá e pra cá que essa coluna tivesse de ser escrita às vésperas do resultado final do processo de impeachment de Dilma Rousseff. Dilma, Chico Buarque em destaque, tentou ir contra a corrente no discurso de sua defesa, mas deixou muito a cumprir.

 A fala inicial até que não foi ruim, apesar de recheada de apelos emocionais e tentativas de contar a história da destruição econômica de seu governo de outro modo. Contudo, nas perguntas e respostas, a presidente arrogante, aquela que não reconhece os danos imponderáveis de seu voluntarismo obstinado, reapareceu. São quase 12 milhões de desempregados, 3,2 milhões a mais do que em 2015. Os que ainda podem se considerar afortunados por ter trabalho estão recebendo 3% menos do que recebiam no ano passado, descontada a inflação. Mais do que a implosão das contas públicas, é esse o legado nefasto de Dilma.

Que fique claro, não é pela péssima gestão econômica que ela está sendo julgada, tampouco por ter participado, de forma direta ou indireta, do pior escândalo de corrupção do País. Esse é o desatino. Dilma não tem condições técnicas, morais, éticas para liderar o Brasil, mas não será removida por essas razões. Será removida porque infringiu leis, as principais leis do arcabouço fiscal brasileiro. Por mais que essas infrações sejam gravíssimas, há um quê de perplexidade no ar, pois a roubalheira generalizada e os atos de podridão moral foram praticados pelo PT e por seus fiéis aliados nos últimos 14 anos – aqueles que se preparam para assumir a liderança definitiva do País pelos próximos dois anos.

Alguém já se esqueceu dos áudios protagonizados não só pelos arautos do petismo, como também pelos assessores mais próximos de Temer? Não há mocinhos ou mocinhas no bangue-bangue tupiniquim, como revelou a Lava Jato. É por esse motivo que o impeachment, ainda que seja o caminho menos pior para o Brasil nesse momento, deixará feridas abertas, difíceis de cicatrizar. Não é possível compará-lo ao que se seguiu à remoção de Collor.

Qual o futuro do governo de Michel Temer nesse contexto, governo interino que já gastou capital político nada desprezível para garantir o impeachment de Dilma Rousseff? Muitos acham que a interinidade terá sido o período mais difícil. Arrisco outra reflexão. A interinidade serviu para que Temer e parte do PMDB consolidassem a remoção necessária daquela que talvez tenha sido a pior dirigente que o Brasil já teve. Agora virá a cobrança, o preço, o pedaço de carne shakespeariano. Rodamoinho, roda pião. Rodarão ministros para que se arme o velho Centrão.

Sem o Centrão as reformas não passarão, a animação dos mercados haverá de se estancar de repente, inequivocamente. As cobranças de parlamentares da base aliada, as pressões que Temer enfrentará colocarão em xeque sua capacidade de articulação nas primeiras horas pós-impeachment. Sinais do que está por vir estiveram presentes na fala de Dilma, nas diversas ocasiões em que a presidente afastada aproveitou para afirmar que perderá o trabalhador com a reforma da Previdência, que perderá a população com a proposta de criação de um teto para os gastos, uma vez que o governo não mais poderá arcar com o mesmo nível de despesas para a saúde e a educação – áreas onde gasta-se muito e entrega-se tão pouco. Contudo, o que a população percebe não é a ineficiência, o desvio de recursos. É difícil convencer o povo dizendo que dá para fazer mais com menos, sobretudo quando quem o diz integrou os governos que dilapidaram a Petrobrás e o País.

Talvez as reformas passem, com concessões e diluições que não façam muito para melhorar o quadro fiscal de médio prazo. Talvez o plano de privatização a ser anunciado em breve seja capaz de trazer algum investimento para o País, melhorando um pouco as perspectivas de retomada da economia. Talvez Temer forme seu Centrão. Talvez, não.

“A gente quer ter voz ativa

No nosso destino mandar

Mas eis que chega a roda viva

E carrega o destino pra lá”.

*Economista, pesquisadora do Peterson Institute For Internacional Economics e professora da Sais/Johns Hopkins University

" E, se ela voltar ? "

 CELSO MING

ESTADÃO - 31/08

SENADO CASSA DILMA ROUSSEFF


Seria preciso ver, em primeiro lugar, com que base política a presidente Dilma seria chamada a governar


O cenário pode ser fortemente improvável, mas a pergunta tem lá sua importância: qual seria a política econômica dos dois próximos anos e pico se a presidente Dilma conseguisse o número mínimo de votos no Senado (28) e fosse reconduzida à Presidência da República?

Pelas críticas contundentes à política econômica do presidente em exercício Michel Temer, feitas segunda-feira no Senado, fica subentendido que, em caso de retorno, Dilma optaria, a seu estilo, por um modelão heterodoxo de condução da economia.


Dilma Rousseff, em seu julgamento.
Não dá para descrever o que seria isso. Depois de tudo o que deu errado, não faria sentido imaginar que a presidente Dilma restabeleceria a Nova Matriz Macroeconômica, baseada no consumo artificial e no aumento da dívida pública. Mas, pelas declarações, ficou claro que do seu novo cardápio não constaria uma PEC que, por 20 anos, restringisse o aumento das despesas públicas à correção pela inflação passada, como a que tramita no Congresso. Seja o que for, em que estado ficariam as contas públicas?

Pelo ataque aos projetos de reforma da Previdência e das regras trabalhistas que vêm sendo estudados pelo governo de Michel Temer, também parece claro que um novo período Dilma postergaria quanto pudesse essas reformas.

Mas a questão mais importante extrapola a simples escolha das diretrizes macroeconômicas. Seria preciso ver, em primeiro lugar, com que base política a presidente Dilma seria chamada a governar. Depois de tudo o que aconteceu, ela não poderia contar com o PMDB liderado pelo seu agora desafeto, Michel Temer. Também não contaria com o PSDB e o DEM.

Até mesmo o PT já avisou em dois documentos recentes (O futuro está na retomada das mudanças, de fevereiro, e Resolução sobre Conjuntura, de maio) que, na avaliação do partido, a política econômica defendida por Joaquim Levy e Nelson Barbosa é excessivamente neoliberal e inaceitável, marcada pela “submissão aos imperativos do capital rentista”.

Como antevê graves dificuldades políticas para o restabelecimento de um nível mínimo de confiança, Dilma já adiantou que, além de convocar um plebiscito que antecipasse as eleições para um novo presidente da República, costuraria um pacto de governabilidade. Mas até mesmo para um projeto desses seria preciso condições políticas prévias, que muito dificilmente poderiam ser reunidas após o enorme desgaste produzido pelo processo do impeachment.

Não fosse por outras razões, a enorme dificuldade para garantir condições políticas de governo sugere que um eventual retorno da presidente Dilma produziria uma tempestade perfeita, principalmente se viesse acompanhada da alta do dólar no mercado internacional induzida pela alta de juros nos Estados Unidos e por novas denúncias demolidoras que viessem da Operação Lava Jato.

É um cenário que nem o PT quer ajudar a desenhar, pelo estrago que produziria nos seus projetos para as eleições de 2018.

CONFIRA


O desemprego continua aumentando e não dá sinais de redução. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua apontou para o trimestre móvel terminado em julho um índice de desocupação de 11,6%, que alcança 11,8 milhões de brasileiros. Dado mais alentador é o do rendimento médio real recebido pelo trabalhador, que manteve estabilidade em relação ao trimestre móvel terminado em fevereiro. Ainda não é possível enxergar o início da virada. O momento continua sendo de causa e efeito se reforçando. O desemprego reduz o consumo, que reduz a produção, que aumenta o desemprego.

terça-feira, 30 de agosto de 2016


Ele disse que sessão nesta terça será para concluir debates e discursos.
Para ministro, se for preciso, debates entrarão pela madrugada.

Laís Lis e Fernanda CalgaroDo G1, em Brasília
A votação final do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff deve ficar para quarta-feira (31), segundo o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski, que preside o julgamento. A expectativa é que a sessão desta terça (30) seja destinada para os debates entre acusação e defesa e para as falas de senadores.
Lewandowski disse que pretende “impreterivelmente” terminar a fase de oradores nesta terça-feira. Ele afirmou ainda estar disposto a entrar madrugada, mas desde que seja para concluir a fase de debates nesta terça-feira. Com isso, a votação final deve ficar para quarta.
“Hoje eu pretendo impreterivelmente terminar essa fase dos oradores. Se for possível, mas creio que o tempo não permitirá, eu pretendo fazer o julgamento hoje, mas eu creio que o julgamento terá que ficar para amanhã”, disse.
O Palácio do Planalto esperava que o processo tivesse uma definição já na madrugada de quarta.
Como Michel Temer tem uma viagem marcada para a China para participar da Cúpula do G20, a expectativa era a do governo era de que ele já viajasse empossado.
Encerrado o interrogatório da petista na segunda, o julgamento será retomado na manhã desta terça-feira (30) com a fase de debates entre acusação e defesa. Cada parte terá uma hora e meia para apresentar os seus argumentos. Em seguida, há possibilidade de réplica e tréplica, de uma hora cada. A advogada Janaína Paschoal já disse que pretende abrir mão da réplica, retirando, assim, a possibilidade de tréplica.
Logo depois, terá início a fase de discursos dos senadores. Cada um terá até 10 minutos, o que deve fazer com que a sessão se estenda por muitas horas. Se os 81 senadores decidirem usar o tempo máximo, a previsão é que, só esta fase, dure 13 horas e meia.
Votação
Após a fase de discursos, Lewandowski terá que fazer a leitura do resumo do processo com as alegações da acusação e da defesa. Em seguida, dois senadores favoráveis ao impeachment de Dilma e dois contrários terão cinco minutos cada um para encaminhamento de votação.
A votação é no painel eletrônico e, para confirmar o impeachment, são necessários 54 votos a favor do afastamento de Dilma.
30/08/2016 10h38 - Atualizado em 30/08/2016 11h30

'Impeachment    é          remédio 

A defesa da presidente afastada irá falar em seguida.

Do G1, em São Paulo
Abrindo a fase de debates do julgamento de Dilma Rousseff no Senado, a advogada Janaína Paschoal, que representa a acusação, disse nesta terça-feira (30) que o "impeachment é um remédio constitucional, ao qual nós precisamos recorrer quando a situação se revela especialmente grave, que é o que aconteceu".
Rebatendo a tese da defesa, de que o processo pode ser considerado um golpe, caso haja condenação, a advogada reafirmou que ele segue todos os ritos legais. "Para que o povo brasileiro tenha consciência tranquila de que nada fora do que é legal e do é legítimo está sendo feito nesta oportunidade."
Janaína pediu desculpas à presidente afastada por "ter lhe causado sofrimento" e chegou a chorar no fim do discurso.
'Grande fraude'
Segundo ela, que se colocou como "defesora do Brasil", o afastamento de Dilma não foi cogitado por "probleminhas contábeis", mas porque ela fez dos brasileiros "vítimas de uma grande fraude". "Esta grande fraude foi, de maneira muito preciosa, apontada pelo procurador do Ministério Público, Ivan Marx."

A advogada criticou o uso que a defesa de Dilma fez doparecer de Ivan Marx, alegando que durante o julgamento foi mostrado apenas um trecho do texto, que diz que as "pedaladas fiscais" no Plano Safra não foram operação de crédito nem crime. "A parte em que ele escreveu que houve fraude nas 'pedaladas', esta não é citada", disse Janaína. Segundo ela, o procurador poderia ter sido chamado para depor, mas não foi.
Janaína Paschoal alegou que a fraude e a maquiagem das contas públicas permitiram o aumento de gastos. Segundo ela, as pessoas acreditaram na continuidade dos programas sociais, como o Fies e o Minha Casa, Minha Vida, "não só porque a presidente mentiu, mas porque os balanços mentiam. A fraude foi completa, a fraude foi na fala e a fraude foi documental. Isso é ou não é um estelionato eleitoral? Eu entendo que sim."
Denúncia
Em seu discurso, a advogada falou ainda sobre a denúncia, que tinha inicialmente três pilares: omissão de Dilma diante do petrolão; as "pedaladas fiscais"; e os decretos de créditos suplementares editados em desconformidade com a meta. Segundo ela, o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), aceitou apenas a parte das "pedaladas" e os decretos de créditos suplementares.

"Se esta denúncia tivesse sido feita pela orientação do senhor presidente da Câmara teria sentido que ele rejeitasse parte significativa da acusação? O senhor Eduardo Cunha afastou tudo o que dizia respeito a petrolão. O senhor Eduardo Cunha afastou tudo o que dizia respeito aos fatos anteriores a 2015. Mas interpretou-se aquela primeira decisão a afastar tudo o que dizia respeito ao BNDES, inclusive no ano de 2015", afirmou.
Ela rebateu o argumento da defesa de que o processo é um golpe porque foi iniciado pelo presidente da Câmara. "Ontem [segunda-feira] eu fiquei surpresa com a acusação de que teria havido um complô entre os denunciantes, o Presidente da Câmara dos Deputados e partidos de oposição. Chegou-se ao absurdo de dizer que o Presidente da Câmara dos Deputados teria – se eu entendi – redigido a exordial ou ditado a exordial. Eu fiquei pensando: teria sentido o Presidente da Câmara ter preparado uma exordial que, no minuto seguinte, ele simplesmente retaliaria?"
Nesta segunda-feira, a presidente afastada fez um discurso em sua defesa e foi interrogada por senadores.
"Não fosse a decisão do presidente da Câmara, a defesa não teria nenhum argumento para sustentar aqui. Entendem que o presidente não tem legitimidade. Por outro lado, aquela decisão primeira [antes de qualquer alteração], eles se apegam com unhas e dentes. Ou bem o homem tem legitimidade ou o homem não legitimidade. O que não dá para compreender é que a um só tempo o homem seja a expressão do golpe e o limite da legalidade."
Responsabilidade fiscal
Janaína Paschoal, advogada da acusação, afirma que "é coerente" o governo de Dilma ser contra a responsabilidade fiscal, pois seu partido, o PT, votou contra a Lei de Responsabilidade Fiscal. "É quase coerente, dentro da incoerência de sempre."

A advogada defendeu que o acompanhamento de metas fiscais seja feita bimimestralmente, e não apenas no final do ano. Segundo ela, já existem reuniões a cada dois meses com a presidente afastada.
De acordo a advogada, o Tribunal de Contas da União (TCU) não mudou regras, e a defesa não pode alegar que estaria sendo aplicada a retroatividade da lei.
Apoio popular
Janaína Paschoal disse que o processo de impeachment "é do povo". "É não só dos movimentos sociais que nos apoiaram, mas esse processo é de cada um dos brasileiros que se manifestou e deu forças para conseguíssemos chegar até aqui."

Janaína falou sobre a importância do Poder Legislativo e disse que prefere falar em República, e não democracia, porque a primeira palavra significa "aquilo que é de todos". "Ao trazer este pleito, de afastamento da senhora presidente da República, estou renovando a confiança que tenho nesta Casa."
"Foi Deus que fez que, ao mesmo tempo, várias pessoas percebessem o que estava acontecendo no país" e se organizassem para iniciar o processo do impeachment, afirmou a advogada.
Próxima etapa
O advogado de Dilma, José Eduardo Cardozo, irá falar após o discurso de Janaína Paschoal. Depois, estão previstas réplica e tréplica de 1h cada. Com isso, a fase de debates entre os advogados deve durar, ao todo, 5h.

Após o debate entre os advogados, terá início a fase de manifestação dos senadores sobre o processo. Cada um terá até 10 minutos para discursar, o que deve fazer com que a sessão se estenda por muitas horas. Caso os 81 senadores decidam se pronunciar pelo tempo máximo, a previsão é de que, só esta fase, dure 13 horas e meia.