sexta-feira, 14 de março de 2014

" O tapete voador "

Artigo- Zero Hora

 
É profundamente
lamentável que
se tente abreviar
a infância
OSVINO TOILLIER*
 
A infância é reconhecidamente a fase poética da vida, quando se permite viver as emoções sem as convenções sociais que atropelam mais tarde o adulto. É o tempo da plenitude, da lua quebrada, da fantasia, de querer brincar em cima das nuvens, do tapete voador, enfim, o reino da fantasia e da imaginação.

A humanidade levou muito tempo para reconhecer o status da infância e lhe dar o devido respeito e valor. Jardim de Infância, inspirado na concepção do Kindergarten, de Froebel, é a expressão perfeita para contemplar o mundo mágico do tempo do brincar (e nada mais sério do que uma criança brincando!), de criar brincadeiras, de (re)inventar o mundo, de rir à toa, porque a vida é bela, a maldade não existe, que se refugia em monstros e bandidos. Aqui é o paraíso do faz-de-conta.
A racionalidade do adulto atrapalha a infância, porque inventa tempos para a criança, programando aprendizagens para as quais não está pronta, porque quer brincar. É criminoso fazer isto com a infância, porque não tem como recuperar o tempo perdido.
Tenho acompanhado com tristeza e apreensão as tensões de direções de escola com dificuldades de convencer pais, que insistem que a criança deve ser matriculada no 1º ano, por diversas razões, que não coadunam com a avaliação pedagógica.
É profundamente lamentável que se tente abreviar a infância, comprometendo a criança com a rotina que precisa dar conta de atividades cognitivas que exigem equilibração, no dizer de Piaget.
A vida é tão repleta de cobranças e demandas, que é inconcebível seja a criança demandada precocemente, quando deveria poder dedicar-se a atividades lúdicas, em nível de jardim de infância, idade em que se desenvolvem estruturas mentais decisivas para as futuras etapas de aprendizagem.

Desconfio de que há razões ocultas na pressão de muitos adultos para forçar o ingresso precoce no 1º ano, quando deveria haver pacto pela proteção à infância, de respeito sagrado à criança, cuja maturidade deveria ser o sinalizador e não a absurda pressão que gera tensões, quando o momento deveria ser marcado pela alegria do ingresso no universo mágico da escola.

Que tal essa etapa da vida escolar voltar a ser mágica, com direito ao tapete voador, embora os materiais na mochila já sinalizem nova etapa, mas sempre com a magia de quem aprende brincando?


*Vice-presidente do Sinepe/RS

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