Na
semana passada, escrevi artigo criticando colocações de dom Odilo Pedro Scherer
a respeito da submissão de uma universidade confessional ao quadro dos ditos
valores católicos, com seus dogmas e preconceitos.
Insisti que uma universidade não é simplesmente
uma propriedade privada, mas uma autorização do Estado.
É o Estado brasileiro que legitima o diploma
dado por toda e qualquer universidade. Nada mais normal, então, que elas sigam
injunções que o Estado democrático compreende como fundamentais para uma
formação universitária adequada, como o respeito ao livre pensamento e ao
desenvolvimento do senso crítico.
Note-se que, em momento algum, disse que
valores religiosos não devem ser objetos de debate e conhecimento no interior de
uma universidade.
Na verdade, disse que uma universidade não pode
sub-meter sua liberdade de pesquisa e de crítica a conjunto algum de valores
religiosos, muito menos de interesses ligados ao mercado ou a interesses do
próprio Estado.
Nossos alunos devem conhecer valores
religiosos, já que eles são elementos maiores para a formação da cultura e da
experiência do pensamento. Não entenderemos como pensamos o tempo, a identidade,
a relação com o corpo, o poder, o outro, assim como não entenderemos os limites
e potencialidades de nossas formas de pensar, sem passarmos pelo impacto que
discussões teológicas tiveram no pensamento.
No entanto nossos alunos têm a necessidade de
conhecer bem valores de todas as religiões, e não apenas de uma específica, com
suas leituras peculiares.
Por exemplo, se nossos alunos, desde o ensino
médio, conhecessem as discussões teológicas muçulmanas talvez tivéssemos menos
absurdos circulando, quando é questão de tentar compreender as sociedades
árabes. O mesmo vale para a tradição judaica. Talvez entenderíamos melhor
aqueles que queremos, custe o que custar, colocar sob a rubrica de atrasados e
irracionais.
Mas, para tanto, não precisamos de cursos de
teologia ou de formação religiosa. Precisamos de cursos de história das
religiões e de seus sistemas de pensamento.
Não é verdade que fé e saber andam juntos. Mais
de 400 anos para que a igreja perdoasse Galileu deveria servir, ao menos, para
alguns terem mais humildade quando falam sobre tal relação.
No entanto é verdade que o saber reconhece como
há algo na fé que demonstra como ele começou, de onde ele veio e quais são seus
pontos de quebra. Por isso, um conhecimento sobre a história das religiões é uma
aquisição fundamental para toda formação crítica.
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