em sistema de urgências!
Em discurso após o massacre de Connecticut, Barack Obama defendeu "medidas significativas" para impedir novas tragédias. Falta abraçar a luta contra o acesso fácil dos cidadãos a armas de fogo
O discurso
do presidente Barack Obama após o massacre de Newtown, em Connecticut,
cumpriu seu papel de confortar as vítimas. Obama teve até dificuldade em conter
suas lágrimas diante de uma tragédia de tamanha gravidade. O presidente deveria
agora enfrentar a questão que permeia as matanças ocorridas nos últimos anos nos
Estados Unidos: o fácil acesso dos cidadãos americanos a armas de fogo. Disse
Obama: "Temos de nos unir e tomar medidas significativas para impedir tragédias
assim (...), independentemente do jogo político". A frase é uma referência
indireta à necessidade de um debate no país sobre o controle de armamentos,
ainda um grande tabu. Trata-se, porém, de uma manifestação tímida diante de um
problema que precisa ser abordado o quanto antes pela Casa Branca e pelo
Congresso. Cinco dos 12 massacres com o maior numero de vítimas na história dos
Estados Unidos ocorreram nos quatro anos do primeiro mandato de Obama. O
presidente certamente não gostaria de repetir a dose em seus próximos quatro
anos no comando do país.Em julho, Obama também discursou logo após um
atirador matar 12 pessoas e ferir mais de 30 em um cinema em Aurora, no
Colorado. Naquela ocasião, a cautela do presidente, poucos meses antes da
disputa eleitoral, foi ainda maior. Ele disse apenas que tomaria "todas as
medidas possíveis para garantir a segurança de nosso povo", sem detalhar o que
pretendia fazer. Cinco meses depois, o drama se repete com gravidade ainda
maior, o que talvez tenha forçado Obama a elever o tom de sua indignação. A
verdade é que as matanças se multiplicam, e nada é feito de efetivo. Basta
lembrar o episódio da escola de Columbine, também no Colorado, em 1999. Dois
estudantes mataram 13 pessoas e se suicidaram em seguida. Columbine provocou um
grande debate nacional sobre como restringir o porte de armas, mas nem mesmo
naquele Estado houve alguma mudança na legislação.
O lobby em favor das armas é um dos mais
poderosos dos Estados Unidos. Seu principal representante é a Associação
Nacional do Rifle (NRA, em inglês), uma entidade com mais de 4 milhões de
integrantes que já teve como porta-voz o ator e diretor Charles Heston
(1923-2008). A NRA tem influência sobre congressistas tanto do Partido Democrata
como Republicano e vem conseguindo barrar qualquer medida que desestimule a
população a ter uma arma em casa. Com o apoio do líder democrata no Senado,
Harry Reid, a associação impediu a inclusão de uma cláusula no pacote da reforma
de saúde que permitiria aos planos de saúde cobrar uma taxa adicional para quem
fosse dono de uma arma de fogo. O direito de qualquer cidadão possuir uma arma
está previsto na Constituição desde 1791, após a aprovação da Segunda Emenda. Só
há 27 emendas desde a promulgação da Carta americana, em 1789. Alterar uma delas
é tão excepcional que isso só aconteceu uma vez. A 18ª, que instituiu em 1919 a
proibição do comércio de álcool no país, foi revogada 14 anos depois por outra
emenda, a 21ª. Os americanos veem sua Constituição como algo que não pode ser
mudado a toda hora. Mas essa hora pode já ter chegado no caso da Segunda
Emenda.
Obama precisará vencer a resistência de boa
parte da sociedade a tocar nesse assunto. O Instituto Gallup realiza há décadas
uma pesquisa com a mesma pergunta: “Em geral, você acha que leis a respeito da
venda de armas deveriam ser mais severas, menos severas ou mantidas como
estão?”. Em 1990, quase 80% dos americanos consideravam que as leis deveriam ser
mais rigorosas, proibindo, por exemplo, o porte de armamentos pesados, como
rifles automáticos. Logo após o massacre de Aurora, em julho, esse porcentual
era de 44%; ou seja, há mais gente que defende leis menos rigorosas ou nenhuma
alteração no quadro legal.
A queda da fatia dos defensores de leis mais
severas não sofreu nenhuma grande mudança de rota após um massacre. O caso de
Columbine até elevou o porcentual e interrompeu a linha de queda, mas a
tendência foi retomada depois. Não chegou nem mesmo a ser influenciada pela
matança de Virginia Tech, o mais sangrento de todos os massacres recentes
americanos (32 mortos, em 2007), e pelos disparos contra a deputada Gabrielle
Giffords, em Tucson, no Arizona, em janeiro de 2011. Obama tem contra si um
lobby fortíssimo pelas armas de fogo e uma certa indiferença da população em
restringir o seu comércio. Se não partir para uma discussão às claras sobre o
assunto, certamente voltará a segurar suas lágrimas diante da notícia de um novo
massacre.
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Fonte:
http://revistaepoca.globo.com/Mundo/noticia/2012/12/eua-precisam-enfrentar-o-problema-do-porte-de-armas.html
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