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MOISÉS MENDES
Os empreiteiros da máfia da Petrobras estão presos há cinco meses. Há quem ache um excesso, como o ministro Gilmar Mendes, do Supremo. Há quem diga, nos e-mails que recebo, que eles são a parte frágil dos roubos.
Há até quem assegure que, sem diretores corruptos na estatal, não existiria empreiteiro corruptor, porque tudo seria honesto e legal.
E há os que estão certos de que empreiteiro corrupto é uma invenção dos últimos anos, provocada por alguma mudança genética no caráter dos herdeiros da OAS, Mendes Júnior, Odebrecht, Andrade Gutierrez, Engevix, Camargo Correa, Queiroz Galvão etc.
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Dos e-mails que recebi sobre os roubos, um é especial, porque está acima de palpites e aparentes subjetividades. Uma leitora conta o drama do irmão, engenheiro desde a década de 50 de uma das mais tradicionais empreiteiras investigadas na Lava-Jato.
Na segunda metade dos anos 60, o engenheiro procurou o chefe. Flagrara atividades ilícitas quando o grupo realizava obras no Rio Grande do Sul. Foi rebaixado de função e mandado para uma oficina da empresa para definhar profissionalmente.
Diz o e-mail: “Só soubemos disso há pouco, alguns dias antes de ele falecer, quando nos relatou que sempre teve vergonha de trabalhar nessa empresa, embora o prestígio que ela gozava no país”.
Era como se o homem se desculpasse com os familiares por ter sido incapaz de se livrar de um dos grupos só agora flagrados roubando.
Quantos afundam no mesmo dilema, sem força e sem apoio para denunciar a gangue que, se sabe, foi apenas aperfeiçoada? Quantos empresários honestos não conseguem disputar mercado com os delinquentes presos em Curitiba?
Conto o drama do engenheiro porque pedi licença à autora do e-mail. A Lava-Jato talvez evite, daqui a alguns anos, o mesmo constrangimento aos engenheiros agora em formação. Torcemos para que se livrem da desonra de trabalhar para saqueadores declarados.
A corrupção grossa só existe porque há quadrilhas de corruptores. Os servidores públicos são seus mandaletes.
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Os empreiteiros não envergonham apenas seus engenheiros. Seus empregados merecem outros patrões. Os corruptores presos, se não pegarem cadeia após o julgamento (e talvez não peguem), não merecem voltar a conviver com operários, auxiliares administrativos, vigilantes, boys e o pessoal da oficina.
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