terça-feira, 31 de março de 2015

" O Governo me apontou UMA ARMA "

Artigo ZERO HORA


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PEDRO MOREIRA
Editor de Zero Hora
pedro.moreira@zerohora.com.br

Cheguei a uma conclusão: o assalto que sofri há algumas semanas faz parte de um plano de desenvolvimento tramado pelos governos. 

Como se trata de um planejamento intrincado das autoridades, vou explicar a ideia desde a raiz ao fato em si. É (bem) possível que a minha história seja parecida com a sua.
Vivo na zona sul de Porto Alegre. A bolha imobiliária, criada a partir do crédito facilitado e da ganância do mercado, fez com que a minha família desistisse da possibilidade de comprar uma casa na área central da cidade.
 Não moro no Extremo Sul, mas é longe, e as opções de ônibus e lotação que me levam até lá (táxi é impensável) só passam a várias quadras de onde trabalho. Ou seja, além de depender de dois modelos de transporte que não cumprem horários e têm boa parte da frota defasada, preciso caminhar, frequentemente à noite, por um trecho relativamente longo. E o caminho que tenho de vencer para pegar o transporte público é mal iluminado e sem qualquer resquício de policiamento. Em dois anos e meio que caminho à noite pela Avenida Ipiranga, da esquina com a Erico Verissimo até a Borges de Medeiros, vi duas ou três viaturas da Brigada Militar fazendo ronda.
Me parece óbvio, então, que o plano do Estado é me convencer a comprar mais um carro. Não basta o “carro da família”, partilhado. Preciso ter um só para mim, para garantir que eu não tenha de caminhar um quilômetro no escuro e sem policiamento.
 Com isso, serei um bom cidadão e ajudarei a girar a roda da economia do país: gastarei com o novo veículo boa parte do meu salário e economias, pagarei juros às financeiras nas parcelas do que não conseguir arcar à vista, gastarei com seguro, gasolina, IPVA, revisão. Gerarei empregos nas montadoras, nas companhias de seguros, nas financeiras, nos postos de gasolina, na Petrobras.
 Ajudarei os cofres públicos com o valor dos impostos sobre todos esses novos gastos.
No instante em que fui abordado, por volta das 22h30min de uma quarta-feira do início de fevereiro, muita coisa passou pela minha cabeça. No momento seguinte, quando o bandido tirou a arma da cintura e a apontou para mim, só me restou torcer para que o pior não ocorresse. Pensando depois, percebi que o ladrão _ alguém que provavelmente não teve grandes oportunidades na vida e viveu ao lado da criminalidade desde criança _ faz parte dessa engrenagem idealizada em gabinetes. Preciso acreditar que é tudo planejado, só pode ser isso. Porque, se não for, é muita incompetência.?

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