sábado, 21 de março de 2015

" Transparência pela metade "

Editorial ZERO HORA 


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Depois de 80 dias no comando da administração, o governador José Ivo Sartori finalmente divulgou a situação financeira do Estado. É a reafirmação do que todos os gaúchos já sabiam: um déficit insuperável apenas com as medidas de contenção e cortes de gastos anunciados. Embora tenha batizado a ação de Caravana da Transparência, o governo ainda deve informações e não deixa claro que providências está tomando para evitar o desastre, que seria consumado por eventual atraso no pagamento de servidores e fornecedores. Os vencimentos do funcionalismo público são, não só pela questão social, mas também econômica _ pela repercussão em cadeia nas atividades produtivas do Estado _ uma prioridade, mesmo em situações de emergência. Esse é um dos pontos essenciais do debate em torno das limitações financeiras do Estado.
Outro aspecto decisivo para a compreensão do que vem ocorrendo é necessidade de dar a mais absoluta transparência ao enfrentamento da crise, ou a inquietação não atingirá apenas os servidores, seus familiares e seus credores. Não parece ser o que vem ocorrendo. Numa aparente tentativa de maquiar a realidade, o governador chegou mesmo a desmentir informações de seu secretário da Fazenda sobre o uso dos depósitos judiciais. Sob o pretexto de não criar uma crise de ansiedade, Sartori só contribui para fomentá-la quando tergiversa na comunicação, explicita desencontros com o gestor das finanças e, em decorrência, perde parte da confiança conquistada quando da sua eleição.
É óbvio que o governador não teria como resolver problemas crônicos do Estado em tão pouco tempo, e não é o que se cobra dele. O que os gaúchos esperam é que, além da emergência tática, com cortes e racionalização de despesas, o governador indique que trabalha também com estratégias de médio e longo prazos. Se não for assim, se não considerar logo a hipótese de liderar reformas estruturais profundas, o chefe do Executivo continuará, como seus antecessores, raspando cofres para atender às folhas de pagamento de ativos e inativos.
Para recuperar sua capacidade de investimento, o Rio Grande do Sul precisa mais do que ajustes. O senhor José Ivo Sartori ainda não atendeu às expectativas dos contribuintes sobre os caminhos que pretende seguir. Limitar-se a arrochar gastos e expressar boas intenções é pouco para a resolução de um impasse histórico, cujo enfrentamento tem sido negligenciado sistematicamente por nossos governantes. É hora de rejeitar a herança da inércia e do imobilismo.

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