quarta-feira, 25 de março de 2015

" Um TIRO NO PRÓPRIO PISO "

Artigo Zero Hora


TOMÁS PINHEIRO FIORI
Professor FACE/PUCRS, coordenador do Núcleo de Desenvolvimento Regional (NDR ), Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser
 
Há pouco mais de um ano escrevi, como venho fazendo há quatro anos, em defesa da valorização do Piso Salarial do Rio Grande do Sul como política de distribuição de renda, coerente com a nossa riqueza relativamente superior à média brasileira e cujo impacto se concentra em regiões mais pobres do Estado. Defendi, em um estudo publicado em 2013, que o montante de trabalhadores potencialmente beneficiados é muitas vezes menor do que o alardeado milhão de empregados, de forma que o piso, sozinho, não pode gerar inflação e nem desemprego, mas tampouco acelerar o crescimento. No entanto, o seu impacto psicológico pode ser desastroso!
No afã de valorizar sua política, o governo Tarso tornou ainda mais difícil o diálogo com os empresários e, nos seus últimos dois anos, parece ter abandonado o trabalho do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social para usar o canetaço. O patamar do Piso Regional em 30% acima do Salário Mínimo Nacional só fazia sentido em 2001 pela imensa defasagem que o Mínimo havia sofrido ao longo das três décadas anteriores. Com a grande (e justa) valorização real dos últimos 12 anos, não há nenhuma razão econômica para defender a volta do Piso do RS àquele patamar de superioridade. O PIB per capita do RS, por exemplo, foi apenas 16% superior à média brasileira em 2013, ano de referência para os reajustes de 2015.
Todos nós desejamos que os trabalhadores ganhem muito mais, mas não se trata disso. Ainda que a trajetória longa da economia brasileira seja extremamente positiva, a expectativa do empresário hoje é negativa. O empreendedor observa o crescimento econômico baixo, a alta da Selic, dos combustíveis, da energia e, agora, um aumento de dois dígitos no Piso, que vence a barreira psicológica dos mil reais. Nesse contexto, desestimula-se o novo investimento privado e a tomada de riscos, tão importantes para o crescimento econômico. Ao “pesar a mão”, o governo perdeu o diálogo, abandonou qualquer parâmetro econômico razoável e, certamente, prejudica a formalização da mão de obra com alto risco de demissões, principalmente no trabalho doméstico, que vem conquistando tantos direitos merecidos. Em suma, dá “um tiro no próprio Piso”!

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