Entrevista com
a psicóloga Valeria Giamundo sobre as
consequências
deste fenômeno na infância
Separações e divórcios, de acordo com
inúmeros estudos, são os eventos mais "estressantes" para a vida de uma pessoa,
atrás apenas da morte de um parente próximo.
Os danos que esses eventos causam são
irrevogáveis e podem ocorrer mesmo depois de muito tempo, especialmente em
crianças, com efeitos que vão desde problemas sociais a dificuldade em manter
laços duradouros.
Afirmou à Zenit, em entrevista publicada ontem,
a Dra. Valeria Giamundo, psicóloga e psicoterapeuta, que nos últimos vem
desenvolvendo estudos sobre o desenvolvimento de um modelo de tratamento para
crianças e adolescentes na elaboração da separação dos pais. Abaixo está a
segunda parte da entrevista.
***
Existem regras de comportamento que
podem orientar os pais na gestão dos filhos durante a separação?
Dra. Giamundo: De acordo com
especialistas, para proteger a criança, os pais devem observar três princípios
fundamentais:
1) assegurar as condições de continuidade das
situações mais pragmáticas, como os ritmos do sono e das refeições, os
compromissos extra-curriculares, etc ..;
2) garantir a previsibilidade, ou dar à criança
a capacidade de prever determinados eventos, para aprender a antecipar o que vai
fazer;
3) garantir a confiabilidade, dando pontos de
referência afetiva para os filhos, para que se sintam realmente amados e
apoiados em suas necessidades de crescimento pessoal.
A família alargada é uma questão muito
debatida nos últimos anos. Muitos filmes tratam do assunto e, muitas vezes,
mostram que superado os problemas, há sempre um Happy End . Na realidade, como
as crianças percebem essa mudança?
Dra Giamundo: A transição da
família unida para a família separada é muitas vezes acompanhada pela formação
de novos núcleos familiares, e isto requer um maior esforço de adaptação para a
criança.
A capacidade de aceitar e integrar em uma nova
configuração famíliar depende da sensibilidade dos pais e da integração gradual
no novo núcleo: eles não devem impor um tempo e uma maneira que não leve em
conta as características individuais dos filhos.
Se a criança não aceitou a separação dos pais,
pode sentir o novo parceiro como um intruso e sua experiência de abandono pode
ser acompanhada por sentimentos de traição ou de exclusão.
O conhecimento e a presença do novo parceiro
deve ser gradual e discreta, com um cuidado especial para evitar a "armadilha"
da competição e da provocação. Se o pai/mãe que "sofreu" a separação não aceitar
a idéia do novo companheiro, a criança ficará presa no conflito de lealdade, e a
possibilidade de construir um bom relacionamento será impedida.
Um Happy End, portanto, parece muito
difícil ....
Dr. Giamundo: Pelo contrário,
os resultados dependem das atitudes dos pais e de seus respectivos companheiros.
O final feliz é possível, mas se deve trabalhar. Não apenas com a intervenção
profissional, mas refiro-me à vontade do pai em questinar-se, em participar
ativamente e com maior consciência do complexo processo de separação.
Qual é a função dos psicólogos nestes
casos?
Dr. Giamundo: O profissional
deve primeiramente explorar a possibilidade de uma reconciliação, mas se não
houver condições que favoreçam a reunificação, sua função será a de facilitar a
elaboração do evento; estimular no adulto a consciência das muitas implicações
que este evento possa ter sobre a família, tanto em um nível emocional – como no
psíquico concreto - organizativo.
E no que diz respeito ao tratamento da
criança ?
Dr. Giamundo: No caso da
criança, a intervenção deve centrar-se na compreensão, na aceitação, no
processamento da separação dos pais.É importante ajudá-la a reconhecer as
emoções geradas, incluindo sentimentos de raiva e frustração, ambivalência
afetiva ou senso de culpa, porque as crianças muitas vezes se sentem
responsáveis pelo evento. Nesse sentido, nos últimos anos eu tenho aplicado a
terapia de grupo, que provou ser particularmente eficaz para crianças.
Como funciona essa
terapia?
Dr. Giamundo: As crianças
enfrentam os problemas relacionados à separação em grupos homogêneos por idade,
de 4 ou 5 participantes. Eles compartilham o sofrimento, se confrontam e se
apoiam mutuamente. A criança olha para o problema com mais coragem, aproveitando
as experiências dos outros. O papel do terapeuta é estimular o confronto
recíproco, ajudando a expressar o próprio estado de animo e a encontrar novas
soluções para facilitar a adaptação. Para ter sucesso, porém, o tratamento das
crianças deve ser acompanhado por intervenções de apoio à figura dos pais.
Quem procura a senhora: os pais por
espontanea vontade ou os pais a pedido dos filhos?
Dr. Giamundo: Normalmente os
pais procuraram aconselhamento para si ou para seus filhos. Na melhor das
hipóteses - estou me referindo a esses pais que são particularmente sensíveis e
atentos - a consulta é procurada em um estágio anterior ao da separação, para
ser guiado e orientado no processo: para entender, por exemplo, como comunicar
aos filhos, como propor a mudança, reorganizar o ritmo de vida e assim por
diante.
Mas quando o acompanhamento profissional é
requisitado numa fase posterior, as motivações que estão por trás são
relacionados as dificuldades para administrar o desconforto da criança, isto é,
os pais notaram que são incapazes por si só de aliviar o sofrimento de seu filho
.
Quais são os mais comuns?
Dr. Giamundo: Um caso que muitas vezes se ouve é o de crianças, com idade a partir de 10 anos, que pedem aos pais para lhes fornecer ajuda profissional externa.
Dr. Giamundo: Um caso que muitas vezes se ouve é o de crianças, com idade a partir de 10 anos, que pedem aos pais para lhes fornecer ajuda profissional externa.
Estes, são casos em que se registra maior
sofrimento, porque as crianças perceberam que o desconforto não é mais
solucionável com a ajuda dos pais; mas também são os casos que têm um
prognóstico mais positivo, já que a consciência do desconforto é combinado ao
desejo de superá-lo, e a motivação para a mudança facilitará a recuperação de
uma condição de serenidade e equilíbrio.
-------------------------------
Por Britta
Dörre
Nenhum comentário:
Postar um comentário