Com mais de 4 milhões de acesso no
Youtube, o filme argentino La Educación
Prohibida (Twitter: @edprohibida) está se tornando uma grande referência
para todas aqueles não satisfeitos com o sistema educacional atual.
Dirigido por Germán Doin Campos, um jovem de
apenas 24 anos, o filme é inspirado em contradições que ele mesmo foi observando
e registrando durante seu recente processo educativo.
Para nós brasileiros, o filme é muito
pertinente, não apenas por serem as realidades culturais e socioeconômicas
argentinas muito parecidas às do Brasil, mas porque seu foco recai sobre uma
realidade ocidental e latina da educação vigente.
O filme é bem longo, dura 2 horas e meia. Tem
um enredo um pouco repetitivo e às vezes intelectualmente infantil. Mesmo assim,
é interessante por contestar algo tão básico como a educação padrão
atual.
Para quem não tem tempo ou não gosta tanto
assim do assunto para assistir a um filme por mais de 2 horas, me atrevi a fazer
um pequeno resumo para os leitores deste blog. O resumo inclui algumas
interpretações minhas (me segurei, mas não consegui apenas descrever o que
assisti).
Segundo o filme, a sistema atual de educação
gera uma série de problemas sociais e psicológicos nas pessoas. Isso se dá por
conta de um dogma, estabelecido ao longo do tempo, que pressupõe que só podemos
quantificar o quanto aprendemos sobre um assunto através de exames e
notas.
Essa forma de medir o aprendizado gera enormes
conflitos cognitivos nas crianças e nos adolescentes, por impor um exagerado
grau de competição entre eles. Invariavelmente, SEMPRE se termina comparando o
melhor com o pior, de forma que SEMPRE, alguém vai ter que se sentir diminuído
frente aos demais. Deste modo, como regra, SEMPRE haverá ganhadores e
perdedores. Como consequência disso, o rendimento escolar acaba determinando a
qualidade de uma pessoa na sociedade e seu acesso a muitos cargos e funções
(privadas ou públicas).
Assim, considera-se um fracassado aquele que
não consegue entrar ou terminar uma boa faculdade ou que não consegue encontrar
um bom emprego (um emprego que pague bem). Por outro lado, considera-se uma
pessoa de sucesso aquela que consegue tirar boas notas, terminar muitos estudos
e obter um bom emprego (que pague bem).
Na realidade, o sistema está simplesmente
medindo o quão adaptável uma pessoa se torna ou não ao próprio sistema. Quem não
se encaixa é praticamente descartado à força. Assim, o sistema educacional atual
gera pessoas “de sucesso” que se autoenganam desde jovens, forçadas a estarem
felizes com coisas que não as fazem realmente felizes. Terminamos por gerar
classes dominantes formadas por pessoas frustradas.
Gostei muito do comentário do Professor Pablo
Lipnizky, do colégio colombiano Mundo Motessori (no minuto 9 do filme):
“Todo mundo fala de paz, mas ninguém
educa para a paz.
As pessoas educam apenas para a
competição
e a competição leva à
guerra.”
O mais paradoxal disso tudo é que todas as
iniciativas educacionais de governos e escolas se dizem educar para a igualdade,
a cooperação, a liberdade, a paz, a solidariedade, etc. Mas na realidade, a
estrutura básica do sistema educativo ocidental promove justamente o contrário:
a competição, a desconfiança, o desrespeito, a violência emocional, o
individualismo, etc.
Por quê isso? Bem, segundo o filme, talvez por
causa da origem do sistema educacional atual. Nascido na Prússia do século 18, a
educação infantil obrigatória foi criada propositalmente inspirada no modelo
militar. O objetivo era gerar uma massa de pessoas obedientes e competitivas,
dispostas a ir para à guerra a qualquer momento. E para facilitar sua
administração, as escolas se desenvolveram à imagem e semelhança de uma fábrica
ou até mesmo de um presídio, com sirenes, filas e castigos diversos por “mal
comportamento”.
Ou seja, o sistema educacional vigente reflete
antigas estruturas políticas ditatoriais no lugar de apontar para uma sociedade
democrática de fato. Infelizmente, esse foi o modelo que se espalhou pela Europa
e depois pelas Américas. E aqui estamos agora, com este problema enorme nas
mãos.
Assim, fracassados somos todos os que
compactuamos direta ou indiretamente com esta verdadeira máquina de subjugar
crianças e adolescentes inocentes.
Parabéns a todos que produziram e colaboraram
com o filme. Fica aqui meu grãozinho de areia ao divulgá-lo .
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