O noticiário, seguidamente, informa os
mais variados atos de intolerância, no Brasil e no mundo, no que parece ser uma
perigosa e crescente ‘onda’ de ódio e preconceitos. Uma ‘onda’ assustadora, que
pode por em risco nosso futuro comum, ou pelo menos, a convivência pacífica
entre uns e outros.
Seria de se esperar que, com o advento de um
novo século, fosse iniciado um novo período de tolerância e de respeito ao
outro, quem quer que seja. No entanto, lamentavelmente, não é isto que se
observa. Na prática, está evidente o crescimento de uma onda global de
intolerância, de preconceitos e de absoluta rejeição aos que, de algum modo, são
diferentes. Esta ‘onda’ de intolerância é crescente na Europa, no Oriente Médio,
na Ásia e também Brasil.
A cada dia vemos novos e, cada vez mais,
raivosos discursos, textos, artigos, declarações e etc, que são evidentemente
racistas, preconceituosos e intolerantes.
No Brasil, aparentemente, crescem as posições
hostis aos indígenas e quilombolas, aos movimentos sociais e populares. Não são
poucos os que defendem a “erradicação” das favelas, do controle de natalidade
(dos pobres evidentemente) e da criminalização dos movimentos sociais.
Nas escolas públicas brasileiras, 87% da
comunidade – sejam alunos, pais, professores ou servidores – têm algum grau de
preconceito contra homossexuais. O dado faz parte de pesquisa divulgada
recentemente pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da
Universidade de São Paulo (FEA-USP).
Uma pesquisa feita pelo Centro de Referência e
Treinamento em DST/Aids, em São Paulo, mostrou que 70% dos homossexuais
entrevistados já sofreram algum tipo de agressão. Destaque-se que, em 2011,
foram constatados ao menos 278 assassinatos relacionados à homofobia.
Mascaramos o nosso racismo fazendo de conta que
somos um país que se orgulha da miscigenação, mas de cada dez pobres, sete são
negros. Uma pesquisa do instituto Datafolha , de nov/2008, identificou que 93%
dos entrevistados reconheciam que existia racismo no Brasil, mas apenas 3%
declararam seu preconceito contra negros. Ou seja, apenas os outros são
racistas…
Ninguém nasce intolerante, preconceituoso,
racista, homofóbico, misógino supremacista, antisemita, islamofóbico, etc. Estas
são atitudes que aprendemos desde o berço, herdadas da intolerância, aberta ou
camuflada, de nossos antepassados. Se não tivermos capacidade crítica de
compreender nossos próprios preconceitos e superá-los, iremos, certamente,
reproduzir o modelo, também contaminando o berço de nossos descendentes.
Mesmo a intolerância religiosa está em franco
crescimento, sabotando todos os esforços em prol do ecumenismo e do diálogo
interigrejas.
E, aproveitando-se do ultraconservadorismo
religioso, também cresce a homofobia e a misoginia. A homofobia é óbvia e
pública, mas a misoginia é mais mascarada e hipócrita. Muitas vezes ao destacar
a ‘importância’ da mulher no estrito papel de filha, esposa e mãe, expõe o
subtexto patriarcal da manutenção das mulheres em posições subordinadas ao
homem, quer seja esposo, pai ou, até mesmo, sacerdote.
Neste mesmo sentido, como ‘fruto’ da violência
machista, mais da metade das jovens entre 16 e 20 anos já sofreu algum tipo de
agressão física ou moral pelos namorados.
Todo intolerante, de qualquer tipo, é alguém
que acredita estar absolutamente certo, do que quer que seja e, portanto, todos
os que pensam ou são diferentes estão absolutamente errados. Simples
assim.
Intolerância e violência caminham juntos e, por
isto, muito sangue já foi derramado a partir desta lógica perversa e,
infelizmente, tudo indica que muito sangue ainda irá correr.
Muitos desafios se apresentam neste novo
século, com destaque para as mudanças climáticas, aquecimento global,
hiperconsumo, esgotamento de recursos naturais, crise alimentar, refugiados
ambientais, etc.
São desafios globais, que devem ser enfrentados
por todos indistintamente e, mais do que nunca, precisamos uns dos outros,
valorizando o que nos une e desprezando o que nos distancia. É preciso, mais do
que nunca, romper com a visão maniqueísta do nós versus os outros.
Se não nos esforçarmos para sermos melhores do
que nossos antepassados, os novos desafios deste século serão muitos maiores e
mais poderosos do que todos nós.
* Henrique
Cortez, henriquecortez@ecodebate.com.br
coordenador editorial do Portal Ecodebate
coordenador editorial do Portal Ecodebate
Nenhum comentário:
Postar um comentário