Nunca se viveu tanto nem se teve tanto acesso à informação;
há motivos de sobra para ser otimista
Em
países ricos e supostamente civilizados há um grande temor da morte por ataque
terrorista ou por desastre aéreo, mesmo que a probabilidade seja irrisória.
Enquanto isso, o que realmente mata é muito mais próximo e mundano. Acidentes de
automóvel, hipertensão, câncer, diabetes e doenças cardiovasculares podem ser
diminuídos com um pouco de bom senso e a eliminação de maus hábitos. Mas isso dá
trabalho, é mais confortável se alienar ou se acomodar e crer no
improvável.
Nunca se viveu tanto nem se teve acesso à
informação em tamanha profundidade. Desde o Iluminismo que se constatou não ser
possível o progresso em ambientes sem acesso universal ao conhecimento.
Sócrates, Kant e Newton são exceções em sociedades com grandes proporções de
analfabetos e místicos.
O século 20 não seria o mesmo se Einstein
tivesse nascido em Uganda. A internet, apesar de todos os seus defeitos,
proporcionou um salto evolutivo sem comparação na história. Ainda há muito a
progredir, mas existe cada vez menos ignorância. No entanto, o misticismo e a
superstição esotérica, alimentados por uma paranoia infundada e por formas
diversas de autoajuda, só crescem em todo o mundo.
É curioso perceber que, em meio a tantos
avanços científicos, ainda façam sucesso lendas de alquimia, contos medievais e
a imagem de uma vidinha pacata nas comunidades tradicionais. Um viajante no
tempo saído de séculos passados acreditaria, corretamente, que teríamos perdido
a razão ao reclamarmos tanto em uma época de liberdade, igualdade e fraternidade
sem par. Como não comemorar quando a saúde, a educação e a democracia estão mais
próximas do que nunca do universal?
Informação, já diziam, é poder. A ignorância
não é uma bênção, e o conhecimento não é reversível. Mas qualquer aprendizado
gera novas responsabilidades. Muitos consideram a carga de tantas decisões
grande demais para que seja aceita sem a proteção de uma figura paterna, seja na
forma de um rei, Deus, especialista ou professor.
O temor quanto ao desconhecido é um reflexo
instintivo de um "homo" que se recusa a ser "sapiens". Reforçado pelo
catastrofismo marqueteiro da mídia, pelo teor apocalíptico das religiões que
perderam a transcendência e pela pregação fatalista das instituições falidas,
uma espécie de miopia voluntária se desenvolve quanto às possibilidades que o
futuro próximo pode trazer.
Há motivos de sobra para ser otimista, uma vez
que a revolução tecnológica mal começou. Em garagens e galpões espalhados pelo
mundo, inventores atrevidos trocam informações e compartilham tecnologias,
criando novos debates e fomentando uma capacidade inventiva que seria
inacessível a governos inteiros há pouco tempo.
Inspirados pelo exemplo de Bill Gates em seu
combate à malária e de Craig Venter na sua busca pelo sequenciamento do genoma
humano, muitos deixam de lado as forças do destino e começam a ver o futuro como
um desafio, acessível, maleável e próximo. Recusam-se a aceitar qualquer
fatalidade e interferem nele corajosamente.
O cenário é promissor. Isto é, se conseguirmos
vencer, de uma vez por todas, as forças do ocultismo travestidas de mistérios da
fé.
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Colunista da Folha
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