* J.j. CAMARGO É CIRURGIÃO
TORÁCICO
E CHEFE do Setor de
Transplantes
da Santa Casa de Misericórdia
O comunicar , lá na infância, cheio de
pompa e solenidade, o que planejava ser, não tinha idéia do quanto aquilo era
apenas um inocente exercício de fantasia delirante.Isso tudo naquela
fase
da vida em que não distinguimos o que
queremos e o que fazemos de conta,e, na dúvida, acreditamos nos
dois.
Mas era muito bom anunciar, que queria ser
o Doutor Cássio só para utilizar um modelo visível que reforçasse a c
redibilidade dos propósitos.
O Cássio ,na sua fidalguia e
disponibilidade, era um generoso exemplo para ser secretamente copiado,nem que
fosse só para impressionar as pessoas e , se descobriu depois,podia servir como
desculpa,ainda que meio esfarrapada ,para justificar as desastradas operações
nas bonecas de minha irmã.
Mas toda a fantasia que
se preze deve ser dinâmica e depende de glamourização constante para que
sobreviva ao descaso dos que se divertem em ridicularizar.Foi assim que um
dia,de tanto ouvir falar de um tal Dr Antunes [ Fulano está mal, mandaram chamar
o Dr Antunes "!] ..., o modelo mudou de nome,e comuniquei com gravidade para o
meu avô: " estou decidido ,eu quero é ser o Dr Antunes"!
Meu avô ainda comentou alguma coisa sobre
a importância da fidelidade aos amigos,mas a conversa não se alongou, afinal era
apenas um pirralho de seis anos, traindo um modelo fantasioso e
clandestino.
Vinte e cinco anos depois,conheci o Dr
Antunes, já velhinho, com dois nódulos pulmonares secundários a um tumor de
rim,que operara anos antes.Durante os dez dias em que convivemos ,me deliciei
com as maravilhosas história de uma vida dedicada à medicina no interior, onde
ele fora médico de todos os males,corajoso,competente ,destemido e respeitado
pela sua comunidade.Descobri encantado que por pura intuição eu acertara em
cheio na escolha da minha silenciosa idolatria.
Quando nos sentamos para as recomendações
de alta, ele insistiu em saber o quanto me devia e repeti que não lhe cobraria
nada, afinal éramos colegas, e quase não acreeditei que tinha dito aquilo
assim, como se fôssemos iguais.
DIante da insistência que ele estava
aposentado, que era muito rico e queria muito compensar o atendimento gentil que
tinha recebido, não tive outra saída e lhe contei o quanto ele, sem saber, dera
asas aos meu sonho de menino e que, por isso, ali o único devedor era
eu.
O prolongado abraço foi interrompido pela
entrada do clínico desavisado que, ao surpreendê-lo lacrimejando ,disse : " nãp
chore , o seu caso é muito bom.Tenha confiança"!
Meio chorando ,meio rindo, ele respondeu :
" pelo que o meu doutor aqui me contou, eu tenho certerza que acabei de ser salvo". !!!
"NOTA DA BLOGUEIRA< Bernadete de Andrade> já não se faz médicos como estes... o comércio,e
a vulgarização da medicina,impôs,uma cooperativa,de medíocres...
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