domingo, 24 de agosto de 2014

" Confiança Abalada "




EDITORIALZero Hora


Sucessão de números negativos altera o ânimo de quem produz e de quem consome e desafia projetos dos presidenciáveis.



A combinação de indicadores e de atitudes de quem produz e consome forma um cenário pouco promissor para a economia brasileira. Os dados estatísticos, mesmo que informem o que já passou, iluminam também as condutas de quem pretende investir, comprar ou planejar ações de médio e longo prazo. E os indicadores do ano até agora não são bons para a performance econômica em geral e para questões específicas como inflação, contas públicas, juros, contas externas e consumo interno. Pretendentes à Presidência da República se defrontam com uma realidade que os números explicitam mensalmente e passam a ser desafiados por uma constatação incômoda: há, claramente, uma perda gradual de confiança por parte dos empresários e também da população em geral.

Os números são incontestáveis. A indústria reduziu o ritmo, o consumo pode ter chegado ao limite e, o que mais preocupa, a criação de emprego começa a perder fôlego. Por muito tempo, o maior trunfo da economia, exaltado pelo governo, foi a geração de vagas, em todos os setores. Áreas consideradas decisivas para a manutenção dessa tendência, como a automobilística, refreiam a produção, com menos encomendas, e começam a demitir. É abalado um pilar da política econômica, sustentado basicamente pelo fortalecimento do mercado interno, via crédito abundante e outros estímulos, como redução de preços de bens duráveis, com a desoneração tributária. Perdem efeito as ações muito mais táticas do que estratégicas, que representam esforços pontuais, na tentativa de estimular o consumo e transmitir a sensação de estabilidade.

Os resultados não são os almejados. A percepção média de que é preciso cautela faz com que as amostragens de investimentos revelem apreensão, com o adiamento de projetos, por parte do setor produtivo. Na outra ponta, do consumo, indicadores do comércio sugerem um refluxo na capacidade de endividamento da população. A inflação, igualmente no limite da meta estabelecida pelo próprio governo, mantém uma preocupante estabilização em níveis que, sob quaisquer pontos de vista, afastam-se do que seria razoável. É assim que os preços ascendentes, especialmente de produtos de primeira necessidade, corroem o poder de compra das famílias de mais baixa renda e, também nesse caso, comprometem projetos pessoais e abalam confianças.

Observadores de conjuntura chegam a traçar um cenário menos preocupante para 2015 para o ritmo da economia, mas o próximo ano reserva o impacto de correções de preços, bem acima da média histórica, para combustíveis e energia. Há exagero nos que, a partir desses dados, põem o Brasil no pior dos mundos. Mas é preciso atentar para os sinais que são emitidos pelo conjunto de indicadores, pelos impactos mais imediatos e pelas reações que provocam no ânimo de todos. O país contabiliza avanços importantes que não podem ser desperdiçados, e uma das missões dos presidenciáveis é a de transmitir com clareza o que pretendem fazer para que a economia volte a crescer com estabilidade e em níveis compatíveis com suas potencialidades.

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