sábado, 30 de agosto de 2014

" A CIência Cognitiva "

Fronteiras do Pensamento 2014 propõe reflexão sobre o processo de empatia entre seres humanos

Em artigo, psicóloga Carolina Lisboa comenta temas discutidos pelo especialista em ciência cognitiva

                     por Carolina Lisboa
Vinda do canadense Paul Bloom ao Fronteiras do Pensamento 2014 propõe reflexão sobre o processo de empatia entre seres humanos Bruno Alencastro/Bruno Alencastro
Foto: Bruno Alencastro / Bruno Alencastro
A vinda do psicólogo canadense Paul Bloom a Porto Alegre como um dos palestrantes do Fronteiras do Pensamento nos convida à reflexão acerca do processo de moralidade e empatia em seres humanos. Bloom estuda, dentre outras temáticas, aspectos inatos e aprendidos do processo de desenvolvimento da moralidade em bebês e crianças.
Uma habilidade central para a discussão sobre moralidade é a empatia. Palavra bonita que no senso comum se confunde com simpatia, o termo empatia origina-se, no século 19, do alemão einfühlung, cujo significado se referia a uma projeção da predisposição interna de um observador em resposta à percepção de um objeto estético. Posteriormente, Edward Titchener, psicólogo britânico, usou o termo em inglês empathy, enfatizando que seria possível conhecer a consciência de outra pessoa através da imitação interior ou de um esforço da mente. Pesquisas atuais atestam que a empatia é um aspecto que garante a adaptação saudável dos indivíduos, principalmente através da construção de vínculos seguros e relações positivas.
Pesquisadores como Paul Bloom têm observado que características como altruísmo, compaixão e bondade são instintivas, porém não indiscriminadas. Ou seja, em experimentos, este psicólogo observou que, em geral, nos compadecemos e conseguimos ser mais empáticos com a dor de pessoas próximas e/ou indivíduos específicos do que com a dor de pessoas com as quais não nos identificamos ou que fazem parte de um grupo maior de pessoas. É importante salientar que, além de serem simpáticos ao sofrimento dos outros, os indivíduos precisam se colocar efetivamente no lugar do outro e olhar o mundo através dos olhos dessa outra pessoa.
Tarefa nada fácil, a empatia é um fenômeno emocional, mas predominantemente cognitivo. Bloom estuda e discute a capacidade empática a partir de processos de cognição social. As cognições sociais são os pensamentos orientados para as interações e, neste processo, os seres humanos constroem categorias na sua mente classificando situações, objetos e pessoas a fim de se orientarem no mundo. Bloom analisa as emoções e os comportamentos frente a estímulos aversivos, para compreender casos de exclusão social como racismo e bullying, por exemplo. Parece paradoxal, mas pode-se afirmar que os preconceitos e exclusões sociais têm origem nesse processo adaptativo social saudável que é a construção de estereótipos e generalizações. Tendemos a excluir ou nos afastarmos do que nos é estranho/diferente (aversivo), o que dificulta a empatia nesses casos.
Os jovens da chamada Geração Me ou Geração Y - foco de estudos conduzidos no grupo de pesquisa que coordeno - destacam-se em inteligência, raciocínio lógico e elevada autoestima, porém mostram na clínica psicológica elevado grau de sofrimento psíquico. Os estudos mostram também uma acentuada dificuldade empática desses jovens adultos, assim como traços narcisistas e baixa tolerância à frustração.
O contexto atual caracteriza-se por uma significativa valorização do individualismo, sendo ainda mais desafiador para as pessoas serem empáticas. O que deve ser estimulado nos indivíduos é a capacidade de inferir sobre os pensamentos e sentimentos da outra pessoa, sem necessariamente sentirem o mesmo que esta. Em um mundo globalizado que deveria aproximar e identificar mutuamente as pessoas, observam-se cada vez mais problemas de desrespeito às individualidades.
Talvez o mais difícil seja olhar para nós mesmos e reconhecer nossas próprias emoções. Aceitar as diferenças e a complexidade humana é também essencial. O desafio é grande, mas essa dinâmica de emoções, racionalidade e moralidade é que nos faz humanos. Urie Bronfenbrenner, psicólogo russo, enfatizou que a Ciência Psicológica deve estar a serviço de “fazer seres humanos humanos” (no inglês: making humans being human). Por um mundo menos simpático e mais empático.
PAUL BLOOM (1963), psicólogo canadense, é Ph.D. em Psicologia Cognitiva pelo MIT e professor de Psicologia e Ciência Cognitiva em Yale. Suas pesquisas exploram como crianças e adultos percebem o mundo físico e social, tendo como foco de estudo as questões de linguagem, moralidade, religião, ficção e arte. Sua mais recente publicação, Just Babies: The Origins of Good and Evil, ainda não publicada no Brasil, rejeita a visão de que nossa moral surge de sentimentos viscerais e de questões inconscientes. Para Bloom, é a razão que rege as descobertas morais.

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