Em artigo, psicóloga Carolina Lisboa comenta temas discutidos pelo especialista em ciência cognitiva
por Carolina Lisboa
Foto: Bruno Alencastro / Bruno Alencastro
A vinda do psicólogo canadense Paul Bloom a Porto Alegre como um dos palestrantes do Fronteiras do Pensamento nos convida à reflexão acerca do processo de moralidade e empatia em seres humanos. Bloom estuda, dentre outras temáticas, aspectos inatos e aprendidos do processo de desenvolvimento da moralidade em bebês e crianças.
Uma habilidade central para a discussão sobre moralidade é a empatia. Palavra bonita que no senso comum se confunde com simpatia, o termo empatia origina-se, no século 19, do alemão einfühlung, cujo significado se referia a uma projeção da predisposição interna de um observador em resposta à percepção de um objeto estético. Posteriormente, Edward Titchener, psicólogo britânico, usou o termo em inglês empathy, enfatizando que seria possível conhecer a consciência de outra pessoa através da imitação interior ou de um esforço da mente. Pesquisas atuais atestam que a empatia é um aspecto que garante a adaptação saudável dos indivíduos, principalmente através da construção de vínculos seguros e relações positivas.
Pesquisadores como Paul Bloom têm observado que características como altruísmo, compaixão e bondade são instintivas, porém não indiscriminadas. Ou seja, em experimentos, este psicólogo observou que, em geral, nos compadecemos e conseguimos ser mais empáticos com a dor de pessoas próximas e/ou indivíduos específicos do que com a dor de pessoas com as quais não nos identificamos ou que fazem parte de um grupo maior de pessoas. É importante salientar que, além de serem simpáticos ao sofrimento dos outros, os indivíduos precisam se colocar efetivamente no lugar do outro e olhar o mundo através dos olhos dessa outra pessoa.
Tarefa nada fácil, a empatia é um fenômeno emocional, mas predominantemente cognitivo. Bloom estuda e discute a capacidade empática a partir de processos de cognição social. As cognições sociais são os pensamentos orientados para as interações e, neste processo, os seres humanos constroem categorias na sua mente classificando situações, objetos e pessoas a fim de se orientarem no mundo. Bloom analisa as emoções e os comportamentos frente a estímulos aversivos, para compreender casos de exclusão social como racismo e bullying, por exemplo. Parece paradoxal, mas pode-se afirmar que os preconceitos e exclusões sociais têm origem nesse processo adaptativo social saudável que é a construção de estereótipos e generalizações. Tendemos a excluir ou nos afastarmos do que nos é estranho/diferente (aversivo), o que dificulta a empatia nesses casos.
Os jovens da chamada Geração Me ou Geração Y - foco de estudos conduzidos no grupo de pesquisa que coordeno - destacam-se em inteligência, raciocínio lógico e elevada autoestima, porém mostram na clínica psicológica elevado grau de sofrimento psíquico. Os estudos mostram também uma acentuada dificuldade empática desses jovens adultos, assim como traços narcisistas e baixa tolerância à frustração.
O contexto atual caracteriza-se por uma significativa valorização do individualismo, sendo ainda mais desafiador para as pessoas serem empáticas. O que deve ser estimulado nos indivíduos é a capacidade de inferir sobre os pensamentos e sentimentos da outra pessoa, sem necessariamente sentirem o mesmo que esta. Em um mundo globalizado que deveria aproximar e identificar mutuamente as pessoas, observam-se cada vez mais problemas de desrespeito às individualidades.
Talvez o mais difícil seja olhar para nós mesmos e reconhecer nossas próprias emoções. Aceitar as diferenças e a complexidade humana é também essencial. O desafio é grande, mas essa dinâmica de emoções, racionalidade e moralidade é que nos faz humanos. Urie Bronfenbrenner, psicólogo russo, enfatizou que a Ciência Psicológica deve estar a serviço de “fazer seres humanos humanos” (no inglês: making humans being human). Por um mundo menos simpático e mais empático.
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