sábado, 30 de agosto de 2014

" Mau Desempenho "

 

Mantega culpa cenário externo pela queda de 0,6% do PIB

Ministro também citou a seca e o alto número de feriados como motivos para a retração

 
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse, nesta sexta-feira, que o resultado do PIB – que registrou queda de 0,6% no segundo trimestre – ficou aquém do esperado. De acordo com ele, a queda da economia brasileira se deu pelos baixos resultados da economia internacional e problemas internos como os efeitos da seca e o grande número de feriados.
– Falta mercado e isso leva a uma tendência de desaceleração das economias emergentes. A economia internacional não causou os impactos esperados – disse.
Análise de Marta Sfredo: só a lavoura já não salva
A Fazenda fez uma simulação dos impactos da economia internacional, do número reduzido de dias úteis e da seca sobre o PIB que, segundo ele, dão uma noção do peso destas variáveis sobre a economia brasileira.
 
O impacto do baixo crescimento da economia internacional sobre o PIB foi de menos 0,6 ponto porcentual. Só o Fed, cuja atuação levou o câmbio a R$ 2,45, tirou do PIB brasileiro um crescimento de 0,2 a 0,3 ponto porcentual.
 
 O número reduzido de dias úteis tirou de 0,2 a 0,3 ponto porcentual do PIB no segundo trimestre.

Ministro acredita que a economia voltará a crescer no 3º trimestre
 
Mantega ressaltou que o cenário internacional está melhorando e que o PIB deve voltar a crescer no terceiro trimestre.
 
– De qualquer forma, estes impactos não vão se repetir no terceiro trimestre. Estados Unidos e União Europeia já estão se recuperando e a seca já foi absorvida. Já causou seu impacto no segundo trimestre – disse Mantega.
O ministro comentou também que a política monetária restritiva adotada pelo BC para combater a inflação deve gerar um impacto negativo de 0,7 ponto porcentual do PIB em termos anualizados.
 
– Mas a liberação de compulsórios pelo Banco Central deve ajudar a recuperação da economia. O crédito começou a melhorar em função do controle da inflação – explicou
Ele também ponderou que a seca que atingiu o País no começo deste ano, que afetou expectativas de investimentos e elevou custos de energia para empresas, não vai causar mais impactos negativos entre julho e dezembro.

 
Mau humor nos números

Indicadores econômicos em baixa reduzem confiança, mas tendência é de recuperação ao menos discreta

Crescimento cada vez menor e inflação que só em alguns meses dá sinais de bom comportamento estão entre fatores que preocupam de empresários a trabalhadores sobre o futuro imediato do Brasil

23/08/2014 | 15h01
Indicadores econômicos em baixa reduzem confiança, mas tendência é de recuperação ao menos discreta Ronaldo Bernardi/Agencia RBS
Spieweck investiu para ampliar produção, mas pedidos não apareceram no mesmo volume Foto: Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
A onda de indicadores que mostram a economia em ritmo lento neste ano, seguindo a trilha do fraco crescimento do país desde 2011, aumenta a atenção para o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre que será divulgado pelo IBGE na próxima sexta-feira. Nos últimos dias, especialistas passaram a considerar a probabilidade de que o previsível resultado negativo entre abril e junho seja agravado por uma revisão para baixo dos números dos três primeiros meses do ano.
Leia as últimas notícias de Zero Hora
Cresceu a hipótese de que o crescimento quase nulo de 0,2% — mas ainda positivo — seja recalculado para uma retração. Caso se confirmarem dois trimestres seguidos de recuo no PIB, o Brasil teria passado a primeira metade de 2014 em recessão técnica — conceito definido por dois trimestres sucessivos de redução da atividade econômica.
Mesmo que as previsões mais pessimistas não se confirmem, a atividade em marcha lenta, avaliam economistas, é o resultado da crescente perda da confiança de empresários e consumidores, alimentada por uma série de fatores. O quadro que desanima quem produz e quem compra tem vários elementos: baixa produção industrial, juro alto, inflação acumulada, endividamento das famílias, custo da energia decolando, investimentos em infraestrutura que ficaram só no anúncio e, para fechar um círculo que se realimenta do próprio pessimismo, pacotes do governo federal que não surtem efeito, travados por falta de confiança.
Para completar, o quadro eleitoral joga mais gasolina na fogueira da incerteza. Se há um consolo nesse ambiente desanimador é o fato de que, mesmo analistas que projetam recessão e crescimento inferior a 1% em 2014 preveem que a economia bateu no fundo do poço. A tendência para o restante do ano e 2015 é de recuperação, mesmo que em patamares tímidos.


Sindicato analisa jornada flexível
O que começou com sentimentos — perda de confiança e pessimismo — já reflete em dimensões mais concretas: queda na produção, redução nas vendas e, ao menos no Rio Grande do Sul, afetou o nível de emprego. Dados de julho do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério de Trabalho, mostraram que no mês passado houve 6.390 mais demissões do que contratações. Chamado de "saldo negativo na geração de empregos", significa que há mais vagas fechando do que abrindo. Mesmo na média do Brasil, o resultado inquieta: o saldo ainda é positivo, de 11.796 contratações a mais do que demissões, mas é o menor dos últimos 15 anos.
Na última sexta-feira, a divulgação da arrecadação do governo federal acentuou o cenário: com queda de 1,6%, foi a menor para julho nos últimos quatro anos. Os indicadores reais começaram a se encontrar com os que apontavam, desde o fim de 2013, piora no humor de empresários e consumidores. Analistas ponderam que, mesmo que representem algo abstrato, esses indicadores de otimismo ou pessimismo costumam antecipar ciclos da economia e têm poder de potencializar momentos extremos de euforia ou, como agora, de depressão.
— Essas percepções retroalimentam tendências. Quando uma empresa está confiante, a postura é mais otimista quanto a investimentos e contratações. Quando está em baixa, age como um freio — explica Aloisio Campelo, superintendente-adjunto de ciclos econômicos da Fundação Getulio Vargas (FGV).
O indicador de confiança da Confederação Nacional do Indústria (CNI), por exemplo, parou de piorar em agosto, após chegar em julho ao mais baixo nível da série histórica, por ser o setor que há mais tempo sente o desaquecimento da economia.
Para Marcelo Azevedo, economista da CNI, as sondagens de confiança têm o condão de antever ciclos da economia e permitir que empresários programem ou posterguem investimentos, acelerem ou coloquem um pé no freio da produção por medirem um estado de ânimo que envolve uma avaliação do futuro.
Entre a dúvida e a esperança, os sindicalistas admitem a flexibilização da jornada para preservar empregos. Luis Carlos Ferreira, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias do Sul, avalia que o segundo semestre será melhor. Em Gravataí, a GM voltou neste mês a produzir aos sábados, mas uma grande empresa de autopeças negocia suspensão temporária de contratos de trabalho.
— Somos sensíveis ao momento — afirma Edson Dorneles, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Gravataí.
Só metade das vagas ocupadas
A fábrica planejada para estar bombando padece com 40% de ociosidade. Em razão da necessidade de a economia brasileira avançar em produtividade para ser mais competitiva, o empresário Werner Spieweck, proprietário da Omnitec, de Canoas, imaginava que os equipamentos de automação industrial que produz teriam grande procura. A gradual desaceleração nas fábricas e expectativas nada otimistas para os próximos meses fizeram as encomendas desabar.
— Tenho 15 funcionários, mas deveria ter entre 25 e 30. Com a estrutura que temos, poderíamos faturar o dobro ou o triplo — calcula.
Com as vendas em baixa, as compras de insumos como aço e componentes eletrônicos também diminuíram. Investimentos que Spieweck planejava foram postergados e custos, como treinamento, cortados. O reflexo desse momento da economia, entende, realimenta o círculo vicioso. Como as fábricas pararam de investir, o resultado logo adiante será uma perda ainda maior de competitividade.
— Montar uma indústria forte é dificílimo. Desmontar é uma barbada — compara o empresário.


*Estadão Conteúdo

Nenhum comentário:

Postar um comentário