Imagine um mundo sem jornais. Não apenas sem um jornal, como Zero Hora. Imagine Porto Alegre sem Zero Hora, Correio do Povo, O Sul, Jornal do Comércio, Diário Gaúcho, Metro. Imagine o Rio Grande do Sul sem suas dezenas de jornais locais. Imagine o Brasil sem a Folha de S.Paulo, o Estadão ou o Globo. Imagine o mundo sem The New York Times.
Nos últimos anos, jornais em geral têm encolhido – em receita publicitária, em assinantes do papel. E têm SE encolhido também. Em fóruns especializados, o “fim dos jornais” virou assunto recorrente na última década. Mas
na semana passada, em São Paulo, os 130 periódicos membros da Associação Nacional de Jornais estabeleceram o momento da virada. Durante o 10º Congresso Brasileiro de Jornais, sob o lema “Ruptura, Inovação e Avanço”, lançaram um movimento histórico. Uniram-se para mostrar o que já é realidade: inserido num novo mundo, o jornal mudou.
Primeiro, este movimento inaugura um estado de espírito, o de não aceitação do encolhimento do meio jornal. Segundo, mostra sua relevância, expressa nos pontos abaixo. Terceiro, convoca os principais publicitários, agências e anunciantes a se unirem a este momento – estava presente em São Paulo a nata do mundo da publicidade brasileira. Quarto, está lançando ações concretas para o mercado, como uma plataforma de internet chamada Digital Premium, onde será possível negociar, num único local, campanhas nos sites de vários jornais brasileiros, e como o Marketplace de jornais, uma ferramenta que permitirá, em 2015, simular a compra de anúncios impressos em dezenas de veículos.
Confira alguns dados:
- No Brasil, 73 milhões de pessoas leem jornais impressos. 50 milhões leem notícias pela internet. Em todo o mundo, 2,5 bilhões de pessoas leem jornais impressos e 800 milhões buscam informações em plataformas digitais.
- Nunca se consumiu tanta informação no mundo. E nunca se consumiu tanto jornal: porque jornal, hoje, está ressignificado. Não é só papel. Também está no laptop, no tablet, no celular, nas redes sociais. A audiência, portanto, tem sido subestimada ao se considerar somente o número de exemplares impressos. A abrangência se multiplicou, com as novas plataformas. Entre janeiro e junho deste ano, por exemplo, o acesso ao conteúdo dos quatro maiores jornais brasileiros via telefone celular aumentou 430%.
- Em 2012, segundo dados da ANJ, as assinaturas digitais nos sites jornalísticos cresceram 128% em relação ao ano anterior.
- Pesquisa do governo federal aponta que os jornais são o meio de mais credibilidade: 53% dos entrevistados dizem confiar sempre ou muitas vezes nos jornais.
- A atenção de quem lê jornal é maior: 62% dos que leem jornal não fazem outra atividade ao mesmo tempo. Isso quer dizer que a mensagem publicitária tem uma chance muito menor de dispersão do que em outros meios, como TV, rádio e internet. Público de jornal, segundo pesquisa do Ipsos Marplan, é o que mais presta atenção aos anúncios – e o que mais se lembra da publicidade vista.
- Jornais certificam: uma vez que a informação é publicada num jornal, seja no papel ou no site, ela se espalha pelas redes sociais como informação verdadeira.
A existência de jornais não é apenas uma questão empresarial desta ou daquela marca. É um problema da sociedade como um todo. Jornais independentes aprofundam e sustentam a democracia. Jornais defensores da verdade são, historicamente, os baluartes da liberdade de expressão. Jornais plurais estimulam o debate e garantem espaço a todas as vozes na discussão de temas relevantes. Jornais comprometidos com a justiça social investigam e denunciam esquemas de corrupção, o crime organizado, o funcionalismo público incompetente, violações de direitos humanos. Jornais de qualidade educam, entretêm, estimulam a cultura. Jornais saudáveis financeiramente conseguem manter um time de colunistas e jornalistas que faz a diferença. Jornais de qualidade ajudam o leitor a melhorar sua vida, apoiam uma comunidade no seu desenvolvimento, mudam o curso da História. Em suas páginas, uma sociedade se enxerga, trava embates, discute soluções e caminhos.
A campanha “Jornais em movimento”, lançada terça-feira em São Paulo, foi um momento histórico para a comunicação do país. A morte da indústria de jornais, disse Ken Doctor, analista da indústria de mídia e autor de Newsonomics, foi anunciada de forma exagerada. E o leitor, o que tem a ver com tudo isso? Quanto mais fortes forem os jornais, mais qualidade terá seu conteúdo: mais investigação, melhores colunistas, melhor serviço.
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