quarta-feira, 24 de junho de 2015

" Mais Do Que Um Ato De Contrição "

Editorial Zero Hora

Editqua
A crítica do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Partido dos Trabalhadores foi, no mínimo, desconcertante: “A gente só pensa em cargo, só pensa em emprego, só pensa em ser eleito, ninguém trabalha mais de graça”. Em complemento, o homem que saiu do poder como presidente mais popular da história do país, chicoteou-se a si próprio: “Eu, que sou uma figura proeminente do PT, tenho 69 anos, estou cansado. Estou falando as mesmas coisas que falava em 1980″.

O desabafo de Lula foi feito na última segunda-feira, no seminário “Novos desafios da democracia”, promovido pelo seu próprio instituto, que acaba de entrar na alça de mira da Operação Lava-Jato por suas relações com empreiteiras envolvidas no escândalo da Petrobras. Mais: o ex-presidente fez esse ato de contrição partidário e pessoal no momento em que o governo da presidente Dilma Rousseff enfrenta sérias dificuldades, com a economia estagnada, problemas na base parlamentar e popularidade em queda. O próprio Lula, avaliado pelo Instituto Datafolha como provável candidato à reeleição, aparece abaixo do candidato oposicionista Aécio Neves.
O momento ruim do governo tem a ver com a Operação Lava-Jato, mas deve-se muito mais aos estragos na economia, causados pela política equivocada de gastos desmesurados para financiar um projeto de poder. É esse projeto que o próprio Lula está questionando agora, numa tentativa quase desesperada para recuperar a própria imagem e do partido que ajudou a fundar com a bandeira da ética, da integridade e da igualdade.
Neste momento de perplexidade e contradições, ganha atualidade uma sentença do ex-deputado Ulysses Guimarães: não é o poder que corrompe o homem _ o homem é que corrompe o poder.

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