quinta-feira, 25 de junho de 2015

" Inflação e PIB elevam turbulência "


Projeções do Banco Central mostram piora de indicadores econômicos até o fim do ano

Alta de preços deve ser de 9%, o dobro da meta estipulada.E a estimativa para o crescimento do país mira ainda mais o terreno negativo


Por: Cadu Caldas
25/06/2015 - 05h48min
Projeções do Banco Central mostram piora de indicadores econômicos até o fim do ano  Ronald Mendes/Agencia RBS
O recuo das estimativas foi puxado por uma expectativa menor de crescimento do setor industrialFoto: Ronald Mendes / Agencia RBS
É bom apertar o cinto. A turbulência econômica que o país enfrenta deve ficar ainda mais forte nos próximos meses. O alerta foi dado justamente por quem pilota o avião. Em relatório trimestral divulgado ontem, o Banco Central (BC), responsável pelo controle da inflação, revisou as próprias estimativas e admite que a alta nos preços em 2015 deve chegar a 9%.
A projeção, bem superior ao teto da meta estipulada pelo governo, de 6,5% – sendo que o centro é 4,5% ao ano –, mostra que a travessia pela “tempestade quase perfeita” formada no horizonte pode durar mais do que o esperado. Pela primeira vez, o BC tem uma expectativa mais pessimista sobre o comportamento dos preços do que analistas do mercado financeiro – comumente criticados pelo governo pelo excesso de ceticismo em relação às medidas adotadas pela equipe econômica do Planalto. O último boletim Focus, divulgado na segunda-feira passada, indica projeção de avanço de 8,9% até dezembro.


O cenário projetado para este ano é de estagflação, quando há aumento dos preços ao mesmo tempo em que a atividade econômica se retrai, o pesadelo de qualquer ministro da Fazenda. A estimativa do BC reforça a retração, para 1,1% do Produto Interno Bruto (PIB) – se confirmado, a maior contração em 25 anos.
Entre os fatores que levam à projeção negativa, as denúncias de corrupção da Operação Lava- Jato, a demora para a publicação do balanço da Petrobras, a crise hídrica no Sudeste, as incertezas no cenário político e o risco de um racionamento de energia, agora descartado, afetaram os investimentos.
Enquanto o Planalto encara 2015 como um “ano de transição” e já fala em sinais de retomada da economia no segundo semestre, o BC afirma esperar melhora apenas em 2016, discurso adotado por boa parte do empresariado. A promessa da instituição é trazer a inflação para o centro da meta de 4,5% no próximo ano. O principal instrumento do BC para conter as pressões inflacionárias é a taxa básica de juro da economia, que avançou de 11% ao ano, em outubro do ano passado, para 13,75% ao ano em junho, maior patamar em quase nove anos. A expectativa do mercado financeiro é de que a taxa termine 2015 em 14,25% ao ano.


Aperto no salário para conter preços
Diretor de Política Econômica do BC, Luiz Awazu Pereira da Silva, ao comentar o novo Relatório Trimestral de Inflação, sinalizou que o órgão não tem limite para subir o juro e que a “moderação salarial” é elemento-chave para a estabilidade de preços.
Questionado sobre falhas na política de controle da inflação no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, Awazu afirmou que o Copom atua sempre de maneira técnica e que a instituição começou a elevar o juro em abril de 2013. Posteriormente, o BC fez uma parada temporária nesse processo durante o período eleitoral de 2014.
A retração econômica, que já vem afetando empregos na indústria e na construção civil há alguns meses, chega agora com mais força ao comércio. De acordo com o último levantamento do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, a indústria de vestuário fechou 7,3 mil postos de trabalho no Brasil no acumulado de janeiro a maio. O comércio como um todo demitiu 159,3 mil pessoas nos primeiros cinco meses do ano. No Rio Grande do Sul, o cenário é semelhante.






Forte no emprego, comércio demite

Apesar de ainda manter o título de região com menor índice de desemprego, a Grande Porto Alegre já começa a sentir com mais força os efeitos da recessão no mercado de trabalho. O percentual da população em idade ativa sem emprego deu um salto de 6,2% para 7,8% entre maio de 2014 e maio de 2015. É como se em um ano tivessem desaparecido cerca de 34 mil postos de trabalho – o equivalente a toda população de Caçapava do Sul, para dar uma dimensão do problema.
Não preocupa apenas o número de vagas fechadas, mas o ritmo com que isso vem ocorrendo nos últimos meses. Depois de se manter praticamente estável no ano passado, mesmo com a desaceleração, o mercado de trabalho dá agora claros sinais de desgaste. Especialistas costumam se referir a índices de emprego como uma espécie de “último vagão” no trem da economia porque quando o comboio sai dos trilhos é o que sente a turbulência por último. Com baixo crescimento, inflação alta e juro salgado, o descarrilamento era questão de tempo.
Em maio, 148 mil pessoas ficaram desocupadas na Grande Porto Alegre, de acordo com a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), divulgada ontem pela Fundação de Economia e Estatística (FEE). São 14 mil desocupados a mais em 30 dias. O número reflete dois movimentos distintos, explica a economista e pesquisadora da FEE Iracema Castelo Branco: o fechamento de 12 mil postos e a entrada de 2 mil pessoas no mercado de trabalho, principalmente jovens entre 16 e 24 anos e profissionais acima de 60.
– O desaquecimento da economia no último ano impactou o emprego de chefes de domicílio, obrigando outras pessoas da família a retornar ao mercado de trabalho – afirma.
Gerdau adota layoff no Estado
O que mais inquieta é o fechamento de postos na indústria. O aumento de 3 mil vagas em maio é positivo, mas reflete base de comparação muito baixa depois da dispensa de milhares de trabalhadores em abril, com empresas adotando férias coletivas e layoff.
– Desemprego no comércio reflete crédito restrito e queda no rendimento. Na indústria, a questão é mais estrutural, depende de investimento e produtividade – afirma Anselmo Santos, professor do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho do Instituto de Economia da Unicamp.
No Estado, depois da General Motors, em Gravataí, a Gerdau confirmou no início da semana que cem trabalhadores da unidade metalúrgica de Charqueadas, na região metropolitana de Porto Alegre, vão entrar em regime de layoff pelo período mínimo de cinco meses a partir de 13 de julho. A suspensão da produção atingirá cerca de 20% da capacidade da fábrica, que fornece aços especiais, principalmente para indústrias automotivas. A licença remunerada atinge operários das áreas de laminação, forjaria, mecânica, aciaria e logística.
Em Sapucaia do Sul, a Siderúrgica Riograndense, também do Grupo Gerdau, colocou 300 trabalhadores em regime de férias coletivas por 10 dias.
Energia deve subir 43,3% no ano
Apontados como os principais vilões da inflação no curto prazo, os preços administrados devem ter alta de 13,7% em 2015. A estimativa foi apresentada ontem pelo Banco Central, por meio do Relatório Trimestral de Inflação (RTI). A previsão anterior, de março, era de 11%. A tarifa de energia elétrica deve subir 43,3% neste ano, ante alta de 38,3% da projeção de março.
Da mesma forma, o BC levou em conta a estimativa de alta do preço do botijão de gás para 4,3% neste ano ante 3% da ata e de 1,2% do RTI passado. Para chegar a esses percentuais, o BC considerou a hipótese de variação de 9,3% do preço da gasolina em 2015 ante 9,1% da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) e de 8,4% do relatório trimestral anterior.

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