quinta-feira, 25 de junho de 2015

" E se fosse o seu filho ??? "

Artigo Zero Hora


KELLY MATOS
Jornalista, repórter e apresentadora da Rádio Gaúcha
kelly.matos@rdgaucha.com.br

Era quarta-feira da semana passada quando o Luciano Potter avisou-me que faria uma entrevista com o advogado Jader Marques, na Rádio Atlântida. 

Sugeriu que eu ouvisse porque imaginou que eu me interessaria pelas histórias. E assim o fiz.
 
Passados alguns minutos, o advogado falava sobre um caso que horrorizou o Estado ano passado: a morte de um menino de 11 anos, em Três Passos.

 Como você deve saber, os principais suspeitos de planejar e executar a morte da criança eram (são) o pai e a madrasta.

 De cortar o coração. De fazer a gente chorar. Para quem não lembra, o advogado do pai do menino era o Jader, esse que estava sendo entrevistado.
 Foi quando falavam disso, que alguém levantou uma discussão. Afinal, como alguém consegue defender um possível assassino de uma criança? Perguntaram:

         _ O senhor não se comove? E se fosse o seu filho?
Interessante. O advogado rebateu. Devolveu a mesma questão, porém inverteu o ponto de vista.
_ E se o seu filho fosse o pai do menino?

Eu não lembro qual foi a resposta. Mas considerei interessante o exercício de inverter a percepção sob a qual observamos um fato. E se fôssemos nós os pais do opressor? Que tipo de tratamento lhe desejaríamos? Que lhe fosse oferecido o direito de se defender? A vida que lhe resta na cadeia? Ou a pena de morte como solução?


Digo isso porque toda a vez que oferecemos aos nossos ouvintes, na Rádio Gaúcha, um debate sobre a maioridade penal (a redução foi aprovada por esmagadores 21 votos a seis em comissão da Câmara), recebemos mensagens como: “E se fosse a sua filha abusada por um desses pivetes?” “Queria ver se fosse seu filho morto!” ou a clássica “Leve o bandido para casa!”.

Pois bem. Invertamos a ótica: e se o seu filho adolescente fosse acusado por um crime? Suponhamos que pego pela polícia com determinada quantidade de drogas. Você, estupefato, num esforço para compreender o que houve. Que tipo de pena ele merece? A prisão, claro! 

Que apodreça (misturado com adultos) no Presídio Central. Que vá para lá mesmo, onde escorrem fezes pelas paredes! Onde os detidos saem pós-graduados. Em criminalidade, claro.

Ou quem sabe a pena de morte? Olha como funciona na Indonésia! Sim, eu quero que meu filho morra. Fuzilado, de preferência. Alguém?

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