Gosto de ler novidades sobre
educação. Outro dia, fiquei impressionado com uma entrevista do educador inglês
Ken Robinson, autor do livro Elemento-Chave e crítico da escola tradicional. Ele
diz que o sistema educacional atual mata a criatividade, pois está organizado
para levar os alunos à universidade como se isso fosse o ideal supremo de
felicidade. Não é, garante. Um curso superior nem sempre assegura a profissão
sonhada. O importante, na sua visão, é que as pessoas façam aquilo que gostam de
fazer, divertindo-se e sentindo-se confortáveis. Cada um deve encontrar o seu
“elemento-chave”. Se você ama aquilo que faz, explica, está em seu elemento.
Como saber se a atividade escolhida é realmente aquilo que lhe dá
prazer? – perguntou-lhe o entrevistador. E é na resposta a esta pergunta que
quero me deter neste comentário. Robinson diz que uma das formas mais práticas
de descobrir isso é analisar o seu senso de tempo: “Se você faz alguma coisa de
que gosta, uma hora pode passar em cinco minutos. Se você faz o que não gosta,
cinco minutos se tornam uma hora e você passa a semana apenas esperando pelo
sábado e pelo domingo”.
Não poderia ser mais didático. Mesmo nesta era
da urgência e da ansiedade em que vivemos, a percepção do tempo transcorrido
continua sendo um sinalizador eficiente de satisfação ou angústia. Coisa boa é
não ver o tempo passar – embora, paradoxalmente, seja ruim constatar que passou
mais depressa do que gostaríamos.
A história dos medidores de tempo
conta que o homem primitivo notou que sua sombra era enorme ao amanhecer, ia
diminuindo à medida que o sol subia e crescia novamente ao final da tarde (na
pré-história do conhecimento, era o sol que se movia). Foi assim que nossos
bisavós das cavernas se deram conta de que o tempo passava e de que era possível
calcular sua jornada diária pelo planeta. Da ampulheta ao relógio atômico foi um
passo, até mesmo porque os fabricantes de relógios certamente amam o que fazem e
também eles – por mais irônico que pareça – não veem o tempo passar quando estão
concentrados nas minúsculas engrenagens e nos números digitais.
Meu
ofício é escrever. Gosto muito do que faço. Quando começo a juntar letrinhas,
muitas vezes me perco na floresta das palavras formadas e nem percebo o
implacável movimento das sombras. Meu elemento-chave é a construção de textos
como este, que só tem sentido quando o leitor chega ao final e conclui que não
perdeu o seu tempo.
De qualquer maneira, obrigado pelos seus cinco
minutos de atenção. |
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