O Brasil passa a dispor de regras de convivência no mundo virtual que já
estão inspirando outros países. O Marco Civil da Internet, aprovado pelo
Congresso e sancionado pelo Executivo, configura uma espécie de Constituição
para um ambiente que, pela sua complexidade, exigia normas próprias. Apesar da
manobra política ocorrida no Senado, que aprovou de forma simbólica e em tempo
recorde o projeto, para que o governo pudesse exibi-lo como troféu no Encontro
Multissetorial Global sobre o Futuro da Governança da Internet, em São Paulo, a
nova legislação é oportuna. São esclarecidos, finalmente, muitos pontos até
agora obscuros, entre os quais dois são da maior relevância.
O primeiro é o que consagra a internet como espaço aberto à liberdade de
expressão. O segundo é o que estabelece o princípio da neutralidade, pelo qual
os provedores de conexão ficam obrigados a tratar de maneira igual _ e sem
diferenciação de custos para os usuários _ toda informação que trafega na web,
sem privilégios que obstaculizem a concorrência e a inovação. Usuários de
internet passam a ser tratados sem privilégios e sem diferenciação. Definem-se
direitos e deveres que democratizam o acesso à rede e ampliam as possibilidades
de criação e inovação. Os usuários não poderão ser enquadrados por categoria
social e econômica. Horizontaliza-se ainda mais um instrumento a serviço do
protagonismo de todos, sem hierarquias.
O Brasil avançou tanto no debate que levou à elaboração do Marco Civil, que
nações muito mais avançadas no uso da web e no desenvolvimento de tecnologias já
anunciaram que dispõem agora de referências a serem copiadas. Algumas questões
pontuais merecem destaque. Sigilo e privacidade são assegurados nos mesmos
moldes da legislação que já protege informações trocadas por telefone e em
correspondências físicas. Os provedores dependerão de decisão judicial para
retirar conteúdos da rede, com exceção dos relacionados a sexo, como imagens
divulgadas sem autorização dos diretamente envolvidos, que deverão ser excluídas
a partir do pedido dos ofendidos.
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regras na internet |
Ressalte-se que a liberdade de expressão exige também na internet, como já
ocorre em quaisquer formas de relações pessoais, o uso responsável dos meios
disponíveis, sejam analógicos ou virtuais. A sociedade passa a ser a maior
responsável pela vigilância de seus próprios atos, para que a liberdade seja
exercida na sua plenitude. O que o Marco Civil representa de fato é a definição
de padrões de convívio, para que a internet tenha seu alcance ampliado na
produção e disseminação de informação e conhecimento, nos seus mais variados
formatos. O que o Brasil conquistou é, em síntese, um conjunto de leis para o
aperfeiçoamento do exercício da cidadania.
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