sexta-feira, 18 de abril de 2014

" Rede de omissões na tragédia de Três Passos "

Zero Hora,

Rosane de Oliveira


Os furos na rede de proteção que deveria garantir a integridade do menino Bernardo Uglione Boldrini transformaram-se em um rombo monumental diante da informação de que a madrasta Graciele Ugulini já teria tentado matar a criança por asfixia e que esse fato seria de conhecimento do Ministério Público de Três Passos e do Conselho Tutelar de Santa Maria. Cairia por terra o argumento do juiz Fernando Vieira dos Santos de que tudo foi feito de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
A informação sobre a suposta tentativa de assassinato apareceu em uma troca de e-mails entre o advogado Marlon Balbon Taborda, e o MP. O Conselho Tutelar de Santa Maria também foi comunicado da situação e nada fez. Mesmo que não fosse um caso da sua região, cabia ao conselho acionar seus pares em Três Passos para proteger Bernardo.
Antes de surgir a informação sobre a suposta tentativa de assassinato por asfixia, relatada pelo advogado com base no depoimento de uma babá, o juiz disse que tentou reatar os laços com a família, como manda o ECA. De fato, a regra é tentar preservar os laços familiares, mas não quando a criança está correndo risco de vida nas mãos de uma psicopata e de um pai omisso.
O advogado diz que a polícia esteve na casa do médico, mas que ele estaria internado. A se confirmar que a polícia foi alertada e não fez nada, amplia-se a lista dos que poderiam ter evitado a tragédia e se omitiram.
A promotora Dinamárcia Maciel entrou com o pedido de transferência da guarda para a avó materna no dia 31 de janeiro deste ano. Foi depois dessa solicitação que o juiz chamou o pai e a criança e caiu na conversa de madalena arrependida do médico. Bernardo pediu socorro de todas as formas que foi capaz na limitação dos seus 11 anos. Não foi ouvido.
Por todas as informações que surgiram nos últimos dias, não é exagero dizer que estamos diante de uma versão gaúcha da crônica de uma morte anunciada, obra-prima do escritor Gabriel García Márquez. Aos 87 anos, Gabo morreu ontem, deixando milhões de órfãos de seu realismo fantástico, que, em casos como o de Bernardo, foi superado pela realidade.
 
 
 

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