domingo, 1 de dezembro de 2013


GENERAIS DE ESTIMAÇÃO Com Figueiredo (E),esteve na Agricultura e no Planejamento

E uma nova reforma tributária?

Claro que dá, tem de ter governo.

E não tem?

Hoje, o sistema ficou tão emaranhado que não tem como fazer. Está havendo um grande esforço na direção do ICMS, deveríamos fazer o acordo final. Os ganhos de produtividade seriam enormes.

Se há consenso, por que é tão difícil?

Porque contraria alguns interesses. É assim mesmo, tem de convencer a todos.

O senhor se referiu aos governos aos quais serviu como “regime autoritário”. Sabia o que se passava nos porões na época, não?

A administração civil era absolutamente independente, nunca houve qualquer interferência de nenhum jeito. Uma vez perguntei ao presidente Médici se havia (Delfim não pronuncia a palavra tortura), e ele me respondeu que não havia nada, só disse ‘tem uma guerra’.

E o senhor acreditou?

Acreditei. O Médici era mais sério do que parece.

Hoje o senhor sabe que havia?

Hoje todo mundo sabe. Na verdade, primeiro que o AI-5 não implicava que você torturasse alguém, isso é uma bobagem. Não tinha ninguém autorizado a maltratar alguém sob a guarda do Estado. Se alguém fez isso, deve ser punido.

SÍMBOLOS DE UMA ÉPOCA O ministro do“milagre”e o carro pré-crise do petróleo
Hoje o senhor é interlocutor da presidente Dilma, na época presa e torturada. Vocês falaram sobre isso?

Não, nunca conversei sobre isso. Ela é uma pessoa vivida, nós temos de aproveitar a Dilma, que tem características muito interessantes.

O senhor sempre foi muito discreto sobre sua vida privada...

(interrompendo) E continuo.

Como o senhor teve um neto há pouco, o Rafael, conversa sobre isso com a presidente Dilma, que gosta de falar do Gabriel, o neto dela?

Você continua acreditando na imprensa, nunca tive conversas pessoais com a presidente. Quando ela me honra com um convite, vou e discutimos sobre futebol (risos). Ela é do Internacional, mas no regime autoritário eram todos do Grêmio.

O senhor teve um problema sério de saúde em 2010...

(interrompendo) Tive um probleminha (Delfim ficou internado por 60 dias, dos quais 18 em coma em 2010).

Está se cuidando melhor?

Eu sempre me cuidei, não teve nenhuma mudança fundamental.

E o senhor tem problema com exercícios físicos...

Eu detesto, mas acho que todo mundo detesta.

Mas não faz bem para a saúde?

Isso resta provar. Estatisticamente não está provado que quem faz esporte dure mais. Ou ao menos não há prova confiável de que quem faz exercício dure mais.

O senhor tem saudade da biblioteca de 300 mil volumes doada à USP?

Poxa... Mas eu tenho uma sala lá, ainda está sendo montada. Esta semana, mandei buscar dois livros do ministro da Economia da Argentina.

Como vê o julgamento do mensalão?

Cumpriu seu papel. Em que lugar do mundo você tem um processo com a abertura que teve aqui? Com a sociedade brasileira assistindo todas as tardes, interrompendo o crescimento, para assistir a um julgamento. A impressão que eu tenho é que a maioria não sabe o que foi julgado. Cada um dá seu palpite. Terminou como tinha de terminar.
Na sala de Delfim, uma parede exibe charges do tempo em que era ministro,
enquanto no aparador ganha destaque a foto do neto Rafael, de dois anos

Quais as perspectivas de um Estado na situação financeira do Rio Grande do Sul, agora sem alívio na dívida?

Foi uma grande medida essa do governo de terminar com a ênfase nessa mudança. Talvez na letra não violasse, mas no espírito violava a Lei de Responsabilidade Fiscal. Todos os níveis de governo precisam encontrar formas de acertar as finanças. O problema do Rio Grande é muito antigo, o que aumenta as dificuldades. Admiro muito o governador Tarso Genro, que me honrou com sua amizade, mas não acredito que seja possível que os Estados continuem esperando da União algum reforço muito importante. A União, ela mesma, está hoje em situação muito delicada.

O Estado tem buscado novos financiamentos. É boa opção?

O espaço para o endividamento tem um limite, e você já atingiu esse limite. Você não consegue sequer honrar as condições para manter um nível de endividamento existente. É muito difícil encontrar saída no endividamento, é uma coisa provisória. Você tem de comparar o endividamento com a renda do Estado, na verdade tem de ter um controle do endividamento perante a renda do Estado, que já é muito grande.

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marta.sfredo@zerohora.com.br
Reportagem por MARTA SFREDO
Fonte: ZH on line, 01/12/2013

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