sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

" 2014 segundo os 1500 sábios "

 

Nassim Nicholas Taleb já disse: não cruzes um rio se tem, em média, um metro de profundidade. Embora a afirmação se referisse a depositar capital e esforços em um único dado que pode cobrir variações locais enormes, a referência vale também para as predições genéricas sobre o futuro: o que mais nos preocupa sobre o amanhã não é a “média”, o habitual (bom ou mau) que já conhecemos, mas sim o desastroso ou afortunado que desconhecemos. O que emerge. Às vezes, o lugar do protagonista menos esperado. Ou, o esperado, mas fora de escala.

Sob o critério anterior, as dez tendências que enfrentará o mundo no ano que virá, reveladas por especialistas do World Economic Forum, falam muito mais no nosso presente estabelecido que do novo que pode trazer o futuro. Obtidas na média das opiniões de 1500 sábios reunidos pela Rede de Conselhos da Agenda Global dessa mesma instituição, tem a virtude de provir de 80 grupos que reúnem esses formadores de opinião pertencentes às áreas empresariais, governos, universidades, organizações internacionais e a sociedade. E como sempre acontece o mesmo. Os especialistas não costumam ser experientes antecipando o futuro: sabem demais sobre que se consideram importante cada um em sua respectiva área. Seu prestígio e renda se baseiam nisso. Que este último seja assim não é de menos. Como já definiu com tanto brilho o escritor norte-americano Upton Sinclair: It is difficult to get a man to understand something, when his salary depends on his not understanding it”. E, se o salário de alguém depende de não antecipar futuros que coloquem em risco seu salário e o de seus funcionários, não o antecipará.

As dez tendências que enfrentará o mundo no ano que virá, reveladas por especialistas do World Economic Forum, falam muito mais no nosso presente estabelecido que do novo que pode trazer o futuro.
Portanto os especialistas reconhecidos têm mais a perder ou errar (ou ao reconhecer que não sabem o que acontecerá), consequentemente, suas previsões costumam ser conservadoras. Essa sobrecarga de informação “relevante” também os leva a não ter em vista elementos marginais que funcionam como gatilhos de mudanças “inesperadas”.Ou seja, aqueles que respondem a padrões habituais, por que, se o passado desse receita de futuro, a história seria uma trilha constante em meio de um vale, e não o caminho da alta montanha que realmente é.

De todas as formas, como trabalham para “abordar os problemas mais urgentes de nosso tempo e seu objetivo é oferecer novas ideias e soluções”, não é demais saber quais são essas tendências, porque tal lista representa a visão de uma elite global sobre os assuntos que consideram relevantes no curto e médio prazos. São os seguintes:

1. Tensões sociais crescentes no Oriente Médio e o Norte da África.
2. Desigualdades crescentes de riqueza.
3. Desemprego persistente.
4. Intensificação das cyberameaças.
5. Inércia com relação às mudanças climáticas.
6. Perda de confiança nas políticas econômicas.
7. A ausência de valores na liderança.
8. A expansão da classe média na Ásia
9. A importância crescente das megalópoles.
10. A difusão cada vez mais acelerada da desinformação online.

Alguma surpresa? A afirmação, do já falecido historiador Eric Hobsbawm, de que o século XXI poderia de uma centúria em que a combinação da alta mobilidade global, estados falidos e cada vez mais uma maior concentração do poder de fogo em armas compactas até o ridículo, levaria à reaparição de mercenários-condottieris, operando como task forces de ações rápidas, é ainda mais recente. O que fazer então? Há uma receita. Se se trata de balanças de conta-corrente, o sucesso ou o fracasso de um novo carro ou smartfone, para antecipar algo útil é necessário obter a máxima quantidade de informação numérica possível, revisá-la sob todos os ângulos e com todas as projeções. Mas se se trata com coisas realmente importantes, grandes assuntos, como o caso das guerras, mega investimentos em mineração, alianças internacionais, candidatos à presidência e casamentos, a intuição e o pressentimento, esse output do melhor computador de qualia existente no universo, segue sendo a ferramenta mais útil para desentranhar um 2014 que já nos bate na porta.
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*Rodrigo Lara é editor adjunto da edição internacional de AméricaEconomia.
Fonte: http://americaeconomiabrasil.com.br/

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