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DAVID COIMBRA
Meu filho já deveria ter largado o bico. Seis anos de idade, francamente. Ele sabe disso, tanto que, neste ano, decidiu que entregaria o bico para o Papai Noel. Desde novembro vem falando:
No Natal, vou dar o bico para o Papai Noel. Eu vou.
Noel. Eu vou. Bem. Contratei um Papai Noel. Um ótimo Papai Noel. Eu mesmo quase acreditei que fosse o próprio, vindo direto do Polo Norte com seu trenó voador. Quando ele chegou à porta, batendo sino, meu guri saiu correndo pela casa:
O bico! Tenho que achar o bico!
De fato, mal o Papai Noel entrou, ele lhe estendeu o bico: – Ó.
Depois, encheu o Papai Noel de perguntas. Sobre o clima da Lapônia, sobre a velocidade das renas, sobre o salário dos duendes que trabalham na fábrica de brinquedos. A festa prosseguiu, depois que o Papai Noel se foi, e o meu guri se distraiu com os brinquedos novos, sobretudo com um mínion, ele adora os mínions. Então, chegou a hora de dormir.A hora do bico. Nesse momento, acometeu-o uma violenta síndrome de abstinência.
– O bico! – implorava, aos prantos.
– Quero o bico! Liga pro Papai Noel! Liga pro celular dele! Tentei consolá-lo sugerindo que pensasse nos brinquedos que havia recebido. Que tentasse esquecer do bico.
– Mas eu não consigo esquecer! – Ele gritava.
– Não consigo esquecer! – E, olhando para mim com os olhos rasos d’água, pediu:
– Pai, me ensina a esquecer! Me ensina a esquecer.
Suspirei.
Disse que ia tentar. Que aprender a esquecer talvez seja o mais importante da vida, porque a vida é feita de perdas. Que, às vezes, é fundamental deixar de lutar, aceitar a derrota e seguir em frente, porque lá adiante tudo será novo e diferente e, decerto, melhor.
– Em certas ocasiões, a gente tem que desistir, meu filho. Simplesmente desistir. Porque, depois que a gente desiste, começa a esquecer, e vai esquecendo, vai esquecendo, até que um dia aquilo não faz mais falta e a gente olha e nem quer mais.
Ele esfregou os olhos.Aprumou-se na cama:
- Eu vou desistir do bico, pai. – Isso. Isso...
– Porque é bom esquecer.
Eis a verdade. É bom esquecer
Meu filho já deveria ter largado o bico. Seis anos de idade, francamente. Ele sabe disso, tanto que, neste ano, decidiu que entregaria o bico para o Papai Noel. Desde novembro vem falando:
No Natal, vou dar o bico para o Papai Noel. Eu vou.
Noel. Eu vou. Bem. Contratei um Papai Noel. Um ótimo Papai Noel. Eu mesmo quase acreditei que fosse o próprio, vindo direto do Polo Norte com seu trenó voador. Quando ele chegou à porta, batendo sino, meu guri saiu correndo pela casa:
O bico! Tenho que achar o bico!
De fato, mal o Papai Noel entrou, ele lhe estendeu o bico: – Ó.
Depois, encheu o Papai Noel de perguntas. Sobre o clima da Lapônia, sobre a velocidade das renas, sobre o salário dos duendes que trabalham na fábrica de brinquedos. A festa prosseguiu, depois que o Papai Noel se foi, e o meu guri se distraiu com os brinquedos novos, sobretudo com um mínion, ele adora os mínions. Então, chegou a hora de dormir.A hora do bico. Nesse momento, acometeu-o uma violenta síndrome de abstinência.
– O bico! – implorava, aos prantos.
– Quero o bico! Liga pro Papai Noel! Liga pro celular dele! Tentei consolá-lo sugerindo que pensasse nos brinquedos que havia recebido. Que tentasse esquecer do bico.
– Mas eu não consigo esquecer! – Ele gritava.
– Não consigo esquecer! – E, olhando para mim com os olhos rasos d’água, pediu:
– Pai, me ensina a esquecer! Me ensina a esquecer.
Suspirei.
Disse que ia tentar. Que aprender a esquecer talvez seja o mais importante da vida, porque a vida é feita de perdas. Que, às vezes, é fundamental deixar de lutar, aceitar a derrota e seguir em frente, porque lá adiante tudo será novo e diferente e, decerto, melhor.
– Em certas ocasiões, a gente tem que desistir, meu filho. Simplesmente desistir. Porque, depois que a gente desiste, começa a esquecer, e vai esquecendo, vai esquecendo, até que um dia aquilo não faz mais falta e a gente olha e nem quer mais.
Ele esfregou os olhos.Aprumou-se na cama:
- Eu vou desistir do bico, pai. – Isso. Isso...
– Porque é bom esquecer.
Eis a verdade. É bom esquecer
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