terça-feira, 16 de julho de 2013

" A plenitude está na pequenez "

 

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«Dobrem-se, joelhos teimosos!»
William Shakespeare

O maior obstáculo à vida espiritual é a tentação de fabricarmos o nosso próprio Deus.

Uma coisa é conhecer os meus dons e cultivá-los. E outra, bem diferente, é presumir que os possuo todos. O desenvolvimento dos nossos próprios dons é uma tarefa do ser dotado. Foram-nos dados talentos naturais para que os desenvolvamos em favor dos outros. Cada um de nós recebeu qualquer coisa que se destina a tornar o mundo melhor para todos. Cozinhamos, cantamos, ensinamos e escrevemos, limpamos e organizamos de tantas maneiras "incomumente" comuns. Cada um de nós tem qualquer coisa que o resto do humanidade precisa.

Estou aqui para dar os meus dons ao mundo, para me comprazer nos dons que Deus me deu, sim, mas só se for para o bem dos outros. Cada um de nós é apenas um elo na cadeia que deve trazer toda a humanidade, e tudo na Criação, à plenitude. Aquilo que eu sou e tenho devo dá-lo ousadamente, completamente, para o bem do mundo. Se não reconhecer os meus dons, se não os desenvolver, não posso, de forma nenhuma, cumprir em mim o propósito pelo qual fui criada.

Ao mesmo tempo, é inteiramente destrutivo – acima de tudo, para mim própria – presumir que, pelo facto de eu ter um dom, tenho todos os dons, e que os demais não têm dom nenhum. Que o meu dom ultrapassa todos os outros, que me dá direitos que os outros não têm, que me autoriza a viver acima e para além do resto da raça humana. Isso é duma terrível arrogância. Destrói todos os nossos relacionamentos, quer humanos, quer divinos.

A arrogância corrói a nossa consciência do poder da interdependência e deixa-nos a morrer incompletos. Reduz a pó a criação dos outros. Até nos impossibilita de ver as nossas necessidades.

Sem capacidade de «dobrar os nossos joelhos teimosos » perante aqueles que são igualmente dotados, perdemos também a capacidade de dobrar os nossos joelhos perante o Criador, que fez de nós, de cada um de nós, um dos feixes de luz brilhante da beleza divina que, juntamente com todos os outros, reflete o esplendor que enche o mundo.

É a nossa necessidade uns dos outros que nos mostra a necessidade que temos de Deus. É a nossa profunda incompletude que grita todos os dias das nossas vidas para ser completada – pelos que nos rodeiam e por Deus.

Temos de rezar pela humildade, tão necessária para encontrar a nossa plenitude na nossa pequenez.
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Joan Chittister
In O sopro da vida interior, ed. Paulinas
Fonte:http://www.snpcultura.org/a_plenitude_esta_na_pequenez.html 16.07.13

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