segunda-feira, 15 de julho de 2013

" O governo monitora todo mundo "

 Zero Hora  



Quais foram as dúzias
de atentados evitados
pelo monitoramento


massivo de bilhões
de pessoas?

CASSIANO FUGA CUNHA*
No Brasil quando você leitor liga para um telefone grampeado pelas polícias, Abin, Ministério Público etc., com ou sem autorização judicial, suas ligações passam a ser monitoradas. O Estado brasileiro somente não monitora todas as ligações por falta de pessoal. A mesma regra se aplica às "comunicações telemáticas" que era o termo utilizado nos anos 70 para e-mail, internet ou redes sociais.

Nos Estados Unidos, o problema de pessoal foi resolvido pela contratação de empresas terceirizadas de mão-de-obra (outsourcing). Para analisar o material colhido nas escutas os norte-americanos empregam milhares de pessoas, contornado a limitação física que ainda protege os brasileiros do seu próprio governo. Andrew Snowden era funcionário de uma dessas terceirizadas. Ao que parece, por vislumbrar o cúmulo a que se chegou a intromissão na privacidade de todo mundo (literalmente), inclusive na sua, caro leitor, ele largou seu bom emprego no Havaí para denunciar a arapongagem made in USA.

O inglês Eric Arthur Blair, veterano da Guerra Civil Espanhola que escrevia sob o pseudônimo de George Orwell, anteviu o mundo no século 21 em dois livros essenciais: A Revolução dos Bichos, publicado em 1945, e 1984, escrito em 1948. No prefácio de A Revolução dos Bichos, Orwell anteviu o debate atual: "Se abrirmos mão da liberdade em prol da segurança vamos perder a liberdade e não iremos obter a segurança". Onde a segurança se para viajarmos de avião somos desnudados por um escâner digital? Quais foram as dúzias de atentados evitados pelo monitoramento massivo de bilhões de pessoas? Será que o combate ao terrorismo para evitar a morte de centenas ou milhares de pessoas, como ocorreu no 11/9, justifica a intromissão criminosa na vida de todos os habitantes da terra que usam um telefone ou computador (7 bilhões de pessoas)?

O futuro de Andrew Snowden pode ser a cadeia, como ocorre com Bradley Manning, soldado que vazou os documentos do Wikileaks; o asilo político, como ocorre com Julian Assange, que os publicou, ou a liberdade, como ocorreu com Daniel Ellsberg, que vazou os documentos do Pentágono sobre a Guerra do Vietnã, em 1971, e que desencadeou uma cadeia de eventos que resultou no escândalo de Watergate. O juiz do caso extinguiu o processo sem exame do mérito, acolhendo uma preliminar da defesa. Ele deu sorte. Já Mark Felt, o agente do FBI apelidado de Garganta Profunda, morreu em paz em 2008, após ter sua identidade revelada por insistência dos netos, que viam o avô como um herói.

O futuro de Andrew Snowden pode ser qualquer uma das alternativas acima. Já o nosso futuro pode estar descrito no livro 1984, que por sinal foi um dos livros que teve o maior aumento de vendas no site amazon.com. Boa leitura.



* Advogado

Nenhum comentário:

Postar um comentário