A angústia dos pacientes deve servir de alerta para autoridades e profissionais que imaginam ser possível esperar por soluções para daqui a dois anos. Pacientes, sejam beneficiários de convênio ou usuários do sistema único, precisam de atendimento para já, para hoje.
Basta uma visita ao setor de emergência dos hospitais (como vem fazendo a série Repórter na Saúde, publicada desde domingo por Zero Hora) para se perceber o quanto o governo e as entidades médicas, envolvidos num debate sobre importação de profissionais ou ampliação dos cursos de Medicina, estão distantes da apresentação de soluções reais para os problemas imediatos vividos pelo setor. Só esta semana tivemos dois exemplos.
Na terça-feira, a reportagem constatou que apenas um pediatra atendia todos os usuários do Sistema Único de Saúde que procuravam o Hospital Dom João Becker, o principal de Gravataí. Ontem, a série focalizou o drama da estudante e beneficiária de plano privado de saúde Juliane Lobato Flores. Com suspeita de meningite, ela amargou cinco horas na espera do Hospital Mãe de Deus, na Capital, entre segunda e terça-feira, até receber atendimento. Detalhe: Juliane é estudante de Medicina na Universidade Católica de Pelotas. Ao ser liberada, ela afirmou que "todo estudante de Medicina deveria passar por uma emergência para saber como lidar com os pacientes".
O caso de Juliane é uma prova de que ficaram para trás os tempos em que atendimento na rede privada era garantia de agilidade em comparação com o disponível nas unidades do Sistema Único de Saúde (SUS). Esse quadro, como assinala o Hospital Mãe de Deus na reportagem de ZH, decorre do aumento substancial do número de beneficiários de planos de assistência médica com ou sem odontologia nos últimos anos. Segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar, vinculada ao Ministério da Saúde, essa cifra saltou de 32 milhões em 2003 para 47,9 milhões em 2012 _ um incremento de 33% em 10 anos. Esses números indicam que, no final do ano passado, 24,7% dos brasileiros já contavam com algum tipo de cobertura por plano privado de saúde. Em três Estados da federação _ São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo _, esse percentual já era superior a 30%. Ainda segundo o Mãe de Deus, em cidades como Porto Alegre os beneficiários de planos privados já superam os 50%.
Os problemas enfrentados pelos que contam com plano privado de saúde evidenciam-se nos números de reclamações contra as grandes operadoras. De junho de 2011 a maio deste ano, as queixas de usuários cresceram em quase 100%. Isso mostra que, como em todas as esferas do varejo e dos serviços, os brasileiros que aderem a planos de saúde também estão ciosos de seus direitos e querem atendimento de qualidade. Tudo isso deveria servir de alerta para autoridades e profissionais que porventura flertem com a ideia de que será possível esperar por soluções para daqui a dois anos. Pacientes, sejam beneficiários de convênio ou usuários do sistema único, precisam de atendimento para já, para hoje. Essa é a essência contida no conceito de atendimento médico de urgência e de emergência. E as necessidades não se concentram entre os que vivem longe das metrópoles ou nas periferias das grandes cidades. Sem gestão adequada, nem o sistema universal de saúde nem os planos complementares prestarão o serviço de que os usuários necessitam.
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