Artigo Zero Hora
NELSON JOBIM
Jurista, ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal
Nos anos 80, o tema foi a democratização.
Hoje, a questão é a eficiência do Estado democrático na gestão da coisa pública.
Carecemos de um projeto de desenvolvimento discutido por todos e consistente com a realidade internacional.
O tema é a “governabilidade”.
Sem solucionarmos o problema político, não teremos condições de enfrentar a formulação de um projeto de desenvolvimento compartido.
Governabilidade entendida como decisões:
a) tomadas em tempo oportuno frente a eventos ou estado de coisas;
b) com aceitação social (apoio ativos, aquiescência, conformidade passiva);
c) eficientes (efeitos que alterem ou modifiquem estados de coisas);
d) coerentes no tempo (ausência de efeitos, visados ou não, que sejam contraditórios).
A governabilidade não se reduz a um problema técnico ou gerencial.
É problema político que envolve a relação entre a representação política e as bases sociais.
Por isso, as questões institucionais adquirem outra dimensão de importância, uma vez que a compatibilidade entre a representação política e as bases sociais dependem de tais mecanismos.
Não se desconhecem as questões econômicas e sociais como variáveis importantes na produção de soluções políticas. O que se afirma é a importância das questões institucionais no complexo político-social.
Um dos primeiros temas são os partidos políticos: facilidade para sua criação e permissividade de sua participação no sistema.
Do bipartidarismo autoritário passamos para um pluripartidarismo irresponsável, que inviabiliza a formação de maiorias consistentes que apoiem um programa de governo.
Temos que superar a decisão do STF para avançarmos sobre uma cláusula de barreira, pela qual um partido não terá representação no Congresso se não tiver obtido um percentual mínimo de votos. Sem o enfrentamento dessa questão, e outras que elencaremos, o Brasil não conseguirá deixar de ser uma democracia com alto grau de debilidade gerencial de governo.
Hoje, a governabilidade é mero um discurso que procura justificar a ocupação clientelista do Estado.
O quadro é incompatível com um projeto de país.
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