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Há exatamente um ano, vi funcionários de uma empreiteira enfiando brocas nas colunas de concreto do Olímpico. Serão enfiadas nesses buracos as bananas de dinamite que irão implodir o estádio. Mas o Olímpico continua de pé.
Há um ano, Luís Henrique Benfica e eu levamos Alcindo ao estádio para as despedidas. O maior centroavante da história do Olímpico, o maior goleador, o mais completo de todos os ídolos tricolores relembrou gols históricos e se despediu.
Voltei sozinho uma semana depois, quando vi os operários esburacando as paredes, olhei um quero-quero solitário, sentei nas sociais e fiquei pensando: daqui a alguns dias, implodem o Olímpico. Mas adiam e adiam a implosão do Olímpico. Nem um colorado radical seria capaz de articular tamanha crueldade.
Passo todos os dias, na ida e na volta para a Zero, pelo que sobrou do Olímpico. Na ida, vejo todo o lado leste-sul, pela Cascatinha. Ali, durante um tempo, uma máquina com mandíbulas de dinossauro mordia as paredes e cuspia pedaços de concreto no chão.
A máquina foi levada embora. Ficaram as arquibancadas carcomidas. O Olímpico é um Coliseu com morte anunciada. A feiura do que sobrou das arquibancadas parece expor partes íntimas do estádio, como se se esforçassem para degradá-lo moralmente.
Sou testemunha do Olímpico no purgatório. À noite, quando retorno para casa, vejo os tapumes que escondem parte do estádio, no lado norte, da Carlos Barbosa. É a tortura de ver o Olímpico sendo preparado para a implosão que não acontece.
No dia em que levamos Alcindo, lembrei que um de meus Gre-Nais inesquecíveis foi aquele do início dos anos 70 em que distribuíram sacos de papel com tinta turmalina e papel picado para a torcida. Deveríamos jogar a tinta azul em pó para o alto quando o time entrasse em campo.
Era uma imitação do pó de arroz do Fluminense. Mas choveu. Os sacos estouravam antes, quando eram distribuídos para a torcida, e eu saí todo azul do estádio. Não lembro quanto foi aquele jogo e isso não importa.
Na era dos estádios assépticos, faz bem lembrar do tempo em que uma arquibancada produzia essas magias – por mais malucas que fossem as ideias que tornavam um estádio monumental.
Quanto tempo levará para que um dia a Arena tenha uma alma, como a que assegura a eternidade ao Olímpico?
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