segunda-feira, 27 de abril de 2015

" O Ajuste sob pressão "

Editorial Zero HORA


O apoio externo ao plano de recuperação das contas públicas liderado pelo ministro da Fazenda poderia contagiar, mesmo que parcialmente, setores que se rebelam contra o ajuste. 

O Brasil passa a conviver com uma situação estranha, em que investidores internacionais manifestam crença na determinação do senhor Joaquim Levy, enquanto lideranças nacionais conspiram contra o projeto. Setores empresariais e do sindicalismo, políticos em cargos executivos e legislativos e outros segmentos torcem contra os esforços em favor do equilíbrio e desafiam politicamente o governo. Cria-se uma situação que contraria os próprios apelos feitos, a partir do ano passado, em nome do equilíbrio das contas, como condição de consenso inegociável para a retomada do crescimento.


Não surpreende, nesse contexto, que até mesmo a base de sustentação do governo refute o ajuste fiscal, sob os mais variados argumentos. Mas é paradoxal que o partido que está no poder tenha mobilizado parte de suas lideranças para expressar repúdio às propostas de cortes de despesas e maior racionalidade na aplicação dos recursos. O que se fragiliza nessa situação não é apenas o ministro, mas todo o Executivo, a partir da presidente da República. 

Representantes dos trabalhadores acusam perdas, assim como áreas produtivas antes privilegiadas por concessões pontuais via desonerações tributárias, e amplia-se o leque dos descontentes. Juntam-se aos críticos governadores e prefeitos decididos a pressionar a União a reformular o modelo de rolagem das dívidas.

Se todos tentarem impor seus interesses, na defesa de demandas muitas vezes justas, é evidente que nada será feito no sentido de corrigir as falhas cometidas pelo governo, que tratava suas contas de forma desleixada. Todos pagam hoje o preço dessa imprevidência e todos terão de arcar com os custos relativos da correção de rumo. Não se concebe que, sob pressão de todo lado, a Fazenda abra o precedente de privilegiar determinada área, como a representada pelos governadores de Estados excessivamente endividados.

O Brasil não cresceu no ano passado e deve conviver com a estagnação também em 2015. O empenho do ministro para reverter esse quadro merece a confiança também dos brasileiros, porque não há mais como adiar a execução das medidas propostas. Não é uma questão de escolha, mas a imposição de uma realidade.

Desfigurar o plano de austeridade seria conspirar contra o que precisa ser feito para que o país reencontre o crescimento.

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