domingo, 19 de abril de 2015

" Cala-te , Lula ! ! !

domingo, abril 19, 2015

 SACHA CALMON



CORREIO BRAZILIENSE - 19/04
A presidenta Dilma Rousseff viajou hoje de Brasília a São Paulo com dois objetivos: fazer exames médicos de rotina pela manhã e encontrar-se, depois, com seu mentor político, que a escolheu em 2008 como sucessora à frente do país, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O encontro gerou uma enxurrada de interpretações variadas e comentários políticos no país, já que as relações pessoais e políticas entre Dilma e Lula — ainda dono de um enorme poder de mobilização e de uma notável capacidade de influência na sociedade e no PT — são sempre objeto de análise pormenorizada na imprensa brasileira. Há um dado inquestionável: é a primeira vez que eles se veem a sós e com tempo desde que começou o ano, isto é, desde que Rousseff iniciou seu segundo mandato, e o encontro se viu rodeado tanto de segredo oficial (não constava na agenda presidencial até a noite desta quinta-feira, quando uma atualização confirmou a reunião às 13h30) como de repercussão na imprensa brasileira.
O Instituto Lula divulgou duas fotos do encontro no fim da tarde, mas não foram informados oficialmente a duração, o motivo determinante da reunião ou os termos e temas da conversa. Entre as diferentes interpretações que abundam na imprensa brasileira, contudo, uma se destaca: Dilma foi ver seu mentor em busca de apoio para enfrentar as crises que a deixam de mãos atadas e que resultam em um segundo mandato turbulento e difícil.

São várias as frentes que acossam a presidenta do Brasil. A mais evidente é a crise econômica que abala o país: os dados divulgados na quinta-feira pelo Banco Central indicam que o PIB encolheu 0,12% em 2014. O relatório acrescenta que a economia brasileira flertará com a recessão ao longo de 2015. Não ajuda o fato de que o Governo, por meio do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, recrutado para conter o gasto público, prometa cortes para equilibrar as contas. Um sintoma das incertezas econômicas que se abatem sobre o país está no fato de que o dólar ter atingido hoje a cotação de 2,84 reais, o valor mais alto desde 2004. Tampouco ajuda o fato de que no horizonte, possam surgir limitações na disponibilidade da água e de eletricidade durante vários dias.
Além do aspecto econômico, Dilma enfrenta a um labirinto político:se declarou abertamente hostil ao Governo a Câmara de Deputados, presidida por Eduardo Cunha, do PMDB, um partido de ideologia pouco clara e de composição heterogênea. Inimigo político de Dilma, Cunha manobra há semanas para colocar deputados contrários à presidenta em postos-chave como comissões parlamentares de inquérito e comissões legislativas.
Para completar, há o escândalo da Petrobras, atravessada por uma rede de corrupção que pouco a pouco vem à luz, deixando um rastro de contratos milionários fraudulentos e superfaturados, maletas de dinheiro escondidas em contas na Suíça e empresas em conluio com ex-altos cargos especializados em aceitar subornos. Na semana passada, Dilma destituiu a cúpula da petroleira em uma tentativa de estancar a sangria do descrédito que vitima a maior empresa brasileira e maior empresa pública da América Latina. Mas o vazamento de informações sobre a rede de corruptos não para e ameaça continuar durante meses.
Nesta quinta-feira, foi a vez de os ex-ministros Antonio Palocci (Governos Lula e Dilma) e José Dirceu (Governo Lula), já condenado pelo escândalo do mensalão, aparecerem entre os nomes implicados no esquema de corrupção da Petrobras em depoimento vazado do doleiro Alberto Youssef. Como parte de seu acordo de delação premiada com o Ministério Público, Youssef disse que intermediou pagamento de propina das empresas Camargo Corrêa e Mitsui Toyo ao PT por meio de Dirceu e do tesoureiro petista João Vaccari Neto. Já Palocci seria a "ligação" entre PT e o executivo da Toyo Setal Júlio Camargo, também delator da Operação Lava Jato.
Como consequência de tudo isso, a popularidade de Dilma derrete. No domingo, o jornal Folha de S. Paulo publicou uma pesquisa mostrando que a popularidade da presidenta caiu de 42% a 24% em apenas três meses. É o pior resultado dos vários Governos do PT e o pior para um presidente brasileiro desde Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, em 1999.
Mudar essa situação é, para Dilma, um imperativo. E essa pode ser uma das causas que a tenham levado a pedir ajuda ao seu mentor, para que se comprometa mais com manifestações populares e com comícios que galvanizem (como só Lula sabe fazer) o espírito do Partido dos Trabalhadores ou para que ajude a destrancar o ferrolho de um Congresso adverso à base de influência e muita habilidade. Por isso a presidenta, segundo a imprensa brasileira, procura o ex-presidente, que não perdeu sua popularidade, que conserva boa parte de seu prestígio internacional e que não deixa de gostar de posar como salvador quando o navio está afundando.
Existem dezenas de vídeos circulando nas redes sociais cuja autenticidade é inegável. São falas de Lula e algumas de Dilma relativas ao Foro de São Paulo, organização que reúne os governos de esquerda (filocomunistas) das Américas do Sul e Central. Num vídeo, Lula realça que o Brasil, por ser a maior economia da região, teria maiores responsabilidades perante os demais países de esquerda do continente e passa a enumerar os empréstimos e financiamentos brasileiros.

A contratação internacional, de resto secreta (crime de responsabilidade), entre Cuba e Brasil (aluguel de médicos) e a construção do Porto de Mariel, de graça, a expensas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) enquadram-se nessa linha. Tampouco houve uma palavra sequer de Dilma a respeito dos ataques à liberdade de imprensa na Argentina e as atrocidades de Maduro contra as liberdades democráticas e direitos humanos na Venezuela. A cumplicidade é total entre os governos comunistoides falidos, renitentes e irresponsáveis da atrasada América Latina.

O senador Cunha Lima, da Paraíba, estado pequeno, mas de larga e longa tradição política, abriu caminho no Congresso para investigar os fundos de pensão das empresas estatais, aparelhados pelo PT e por ele manobrados. Saberemos de coisas escabrosas na Previ (Banco do Brasil), na Funcef (Caixa Econômica), Centrus (Banco Central), Petros (Petrobras), "et caterva", doações e desvios de verbas de publicidade, além de patrocínios fajutos. Mas não apenas isso. Para exemplificar, leiam as agruras dos funcionários operosos dos Correios (ECT), que já foi, antes do PT, considerado o terceiro melhor serviço postal do mundo. O Postalis - fundo de pensão -, formado parcialmente por descontos em folha dos funcionários, está com um rombo de R$ 6,5 bilhões. Má gestão? Claro que sim. Mas não só. Por ordem de Lula, a serviço do Foro de São Paulo, o Postalis aplicou o suado dinheiro em títulos públicos venezuelanos e argentinos, que não valem nada e estão inadimplentes. Há aplicações até em ações das empresas de Eike Batista, no momento em que já estava em declínio. A troco de quê? Há que se perguntar.

Lula, há poucas semanas, praticou a irresponsabilidade de convocar o exército de Stédile (MST) para enfrentar o nosso povo nas manifestações de rua, legítimas e democráticas. É o mesmo Lula do Foro de São Paulo, o mesmo que disse ter preguiça de ler um livro sequer. É o nosso Lenin, mas sem a altura histórica do líder russo; não passa de um agitador envaidecido de sua importância na história do país, a cada dia menor pelas atitudes impatrióticas.

Espanta-nos a mansidão das instituições brasileiras ante as últimas atitudes desse senhor, claramente conspiratórias, passíveis de enquadramento no Código Penal. É hora de levá-lo à delegacia de polícia. A condição de ex-presidente não lhe dá imunidade, é um cidadão comum. Ele está insuflando a luta de classes e fazendo apelos à violência.

A Constituição da República, que a todos obrigada, no Art. 5º, inciso XLIV, ao tratar dos Direitos e Garantias fundamentais dispõe: "Constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático". Assegura ainda o direito de propriedade no inciso XXII do mesmo Art. 5º. O que faz o MST do sr. Stédile e seu exército, segundo Lula, se não invadir, ocupar e destruir propriedades alheias com facões, foices e espingardas, além de desfilar por ruas e estradas preconizando a propriedade coletiva da terra e o socialismo, atentatórios ao Art. 170 da Constituição e sua clara opção pela livre iniciativa e o direito de propriedade? Noutra passagem, a Constituição veda a utilização por partido político, no caso o PT, de organização paramilitar, ou seja, o exército dos sem-terra do comandante Stédile (Art. 7º, § 4º).

Passou da hora de convocar o sr. Lula a explicar o que significou a ameaça de colocar nas ruas o exército do sr. Stédile, pois é princípio fundamental da República Federativa do Brasil o Estado Democrático de Direito, com esforço no pluralismo político e nos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa (Art. 1º da CF). Qualquer socialismo, como o da Venezuela e o do sr. Stédile, é contrário aos princípios que nos regem. Somos um país leniente. À guisa de comparação, somente por ter ilegalmente espionado o partido democrata, Nixon renunciou para fugir do impeachment, por perjúrio. Berlusconi ficou meses preso. Em Portugal, o ex-primeiro-Ministro José Sócrates responde a processo judicial. Aqui, o sr. Lula faz e fala o que quiser e fica por isso mesmo.

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