domingo, 26 de abril de 2015

" O Clube da Maldade "

Artigo Zero Hora

Flávio Tavares
FLÁVIO  TAVARES
Jornalista e escritor

A tal “delação premiada” será um prêmio à miserável condição humana? Ou é a versão jurídica daquela velha e hipócrita sentença de que os meios (perversos) justificam os (nobres) fins?
Faço-me estas perguntas ao acompanhar a Operação Lava-Jato e ver diretores de empresas (da Petrobras ou de grandes empreiteiras) confessando seus crimes, contando detalhes, apontando cúmplices e comparsas, como se a estratégia, ou finalidade, da vida empresarial fosse o suborno e a corrupção. Quando depõem na CPI, filmados pela TV, mostram-se altivos e sabichões _ sabem o que ninguém sabe e, assim, são os únicos detentores da verdade. Por outro lado, com pose de humildes e arrependidos, empurram a culpa a outros, como se eles fossem apenas simples executores, tais quais aqueles pistoleiros do Nordeste obedientes às ordens do “sinhô coroné”.
Mas, quem são os “sinhô coroné” dessa engrenagem de muitos anos, mantida pelo conluio de empresários privados e políticos, e que desde o século passado alimenta a corrupção em diferentes governos?
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Agora, oito réus foram condenados no processo judicial pelo superfaturamento das obras da refinaria Abreu e Lima. No emaranhado do escândalo, trata-se da fatia menor que levou a descobrir o assalto maior. Nele, ao se defenderem, os dois artífices da engrenagem mostram a quem serviam. O ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, disse que, ao roubar, “cumpria exigências impostas” pelo Partido Progressista (PP), que o indicou para o cargo. O “doleiro” Aberto Youssef, que “legalizava” a fraude, alegou que “servia ao financiamento de um projeto político de poder”.
Ou seja, roubavam para o Rei Maior, o poder político, através do poder econômico. Eram íntimos da cúpula financeira do trio PT-PMDB-PP e de outros partidos. O butim do assalto financiava campanhas eleitorais, mas também os enriquecia pessoalmente.
Os dois artífices da fraude vão “devolver” à Petrobras mais de 70 milhões de dólares depositados no Exterior. Quanto terão ainda por lá em nome de terceiros?
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O ex-gerente de tecnologia da Petrobras, Pedro Barusco, porém, superou todos os superlativos ao contar minúcias da sordidez que praticava. Como se relatasse uma história de fadas aos netos, confessou publicamente à CPI que já em 1997 (no governo do PSDB de Fernando Henrique) recebia propinas de uma empresa holandesa. Para ele, foi o período áureo. Após 2004 (com Lula da Silva) “a corrupção se institucionalizou” e o butim se repartia entre os partidos da base alugada. Mesmo assim, Barusco amealhou para si próprio mais de 100 milhões de dólares, dos quais “devolverá” 97 milhões (de dólares) depositados na Suíça, “para sentir-se aliviado”.
Essas espantosas revelações voluntárias não esconderão algo ainda mais brutal e inconfessável? Nos tempos da ditadura direitista, a delação arrancada sob tortura era “premiada” ainda com mais tortura, no pressuposto de que quem sabia algo devia saber ainda mais…
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Agora, os “premiados” delatam seus cúmplices, os quais por sua vez denunciam outros cúmplices, desnudando o clube da maldade. Sim, um clube, (ou cartel, na linguagem apropriada) em que as licitações se combinam entre as empresas “concorrentes”, numa falsidade total destinada a obter vantagens e enriquecer às pressas.
Paulo Roberto e Youssef encabeçam os oito agora condenados no menor dos processos do escândalo. O ex-diretor, preso em casa até outubro, ficará em “regime aberto” e em dois anos talvez esteja solto, beneficiado por “bom comportamento”. Idem com o “doleiro”, mesmo preso em “regime fechado”.
Não basta apenas ter um juiz firme e justo quando a lei, eficaz mas imoral, no fundo, alimenta o clube da maldade.

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