terça-feira, 22 de julho de 2014

" Epígrafes "

                                   LUIZ PAULO VASCONCELLOS



Depois de longo e tenebroso inverno – embora ainda estejamos no inverno – volto a escrever sobre arte. A minha praia é o teatro – todo mundo sabe disso –, mas às vezes gosto de arriscar alguns palpites nas outras áreas, sem que, com isso, aspire mudar o mundo.
 
Na coluna de hoje, muito do que vai aí embaixo se aplica tanto à arte do drama quanto à música, às artes plásticas, à literatura, à dança e ao cinema.
 
São frases – epígrafes – que costumo colecionar para me inspirar, mas, principalmente, quando ainda dava aulas, para provocar meus alunos. Começo citando uma de Galileu Galilei: “Toda concepção nasce da análise”. Considerando a pós-modernidade de hoje, em que tudo nasce do nada, a observação do grande astrônomo é fundamental.

Outra frase que mexe com a minha cabeça: “Nós não somos livres. E o céu ainda pode cair sobre nossas cabeças.
 
O teatro foi criado, antes de tudo, para nos revelar essas verdades”. Não é um primor de sutileza? Seu autor é Antonin Artaud. Afinal, todas as artes foram criadas para nos livrar de alguma coisa, da mediocridade, da mesmice, dos dogmas religiosos, do medo e da culpa. Ao lado da de Artaud, acrescento esta de George Bracque, que citei numa outra coluna e provocou alguns simpáticos debates: “A arte perturba; a ciência tranquiliza”.

Mais algumas que revelam outras e muitas verdades: “Existem três verdades: a minha verdade, a tua verdade e a verdade” (Peter Brook); “A vida bate e estraçalha a alma. A arte nos lembra que você tem uma” (Stella Adler); “O drama, como a sinfonia, não ensina ou prova nada” (John M. Synge); “O poeta tem a terrível tarefa de mostrar o que não pode e não deve ser mostrado” (Ariane Mnouchkine); “Se eu não pudesse escrever, nos momentos de euforia seria guerrilheiro, e nos de passividade, mágico. “Ser poeta inclui as duas coisas” (Joan Brossa); “A digestão é a ação mais excitante de um solitário” (Gonçalo M. Tavares); “É possível falhar de muitas formas, mas ter sucesso só é possível de uma única forma” (Aristóteles).

Tem mais três que deixei para o fim porque são as minhas preferidas. Uma é do poeta Rainer Maria Rylke, que diz: “É demais ter dois olhos”. E a outra é do ator Ralph Richardson: “Representar é a arte de evitar que um grupo de pessoas permaneça tossindo”. A terceira é do poeta e crítico Ferreira Gullar: “A arte existe porque a vida não basta”. Precisa mais?

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