terça-feira, 29 de julho de 2014

" O Calote Argentino "

                      Editorial Zero Hora


O Mercosul tem um teste decisivo para a sua relevância política e econômica, no encontro desta terça-feira em Caracas.
 
Os cinco presidentes dos países que compõem o bloco estão sendo desafiados a debater, entre outras questões da economia regional, os efeitos de um eventual calote que a Argentina aplicaria em seus credores. A dívida argentina, questionada na Justiça, é assunto controverso. Tanto que, diante da deliberação da Suprema Corte americana, que determinou o pagamento do governo aos credores, a Casa Branca e o FMI têm sugerido cautela e persistência numa até agora pouco provável negociação.
 
Há temor generalizado com as consequências que uma radicalização, de qualquer uma das partes, traria para a região e para os parceiros comerciais.

É inquestionável, sob o ponto de vista das normas internacionais para cumprimento de contratos, que dívidas devem ser quitadas nos prazos estipulados.
 
No caso argentino, a polêmica envolve os chamados fundos abutres, que não teriam participado de uma negociação de reestruturação da dívida com o governo, a partir de 2005.
 
O debate foi contaminado por posições ideológicas que, sobrepondo-se aos questionamentos legais, opõem os que são contra e a favor dos fundos ou do governo de Cristina Kirchner. Essa é uma discussão que não contribui para a solução do impasse.
 

O que o Mercosul deve buscar, para comprovar a razão da sua existência, é um esforço conjunto que contribua para o fim do imbróglio, porque o tema não está restrito aos interesses do vizinho. O bloco não se reúne há mais de ano e vem tendo sua importância questionada.
 
 A crise argentina é uma oportunidade única de demonstração de unidade dos cinco parceiros e da capacidade de reação a uma questão grave . O confronto entre a Argentina e seus credores não se presta a aparentes neutralidades, que seriam falsamente cômodas, mas improdutivas para todos. O ambicionado protagonismo do Mercosul _ e do Brasil em particular _, tão fragilizado, nos últimos anos, pelos desencontros políticos dentro do próprio mercado comum tem em Caracas uma chance que não pode ser desperdiçada.


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