quarta-feira, 18 de junho de 2014

" Meditação passo a passo "


Com concentração no momento presente e respiração consciente, é possível meditar até quando caminhamos


 Amanda Zacarkim

 

 
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Já pensou em meditar caminhando entre um compromisso e outro?
 
Se você está cansado de andar apressado entre os compromissos do dia, saiba que a solução para esse dilema moderno não está em fazer tudo mais rápido ou em gerenciar melhor a vida. Isso pode ajudar, claro, mas, pelo menos no caminho entre uma tarefa e outra, há um jeito mais simples de evitar a ansiedade: meditar. Meditar andando. "Quando praticamos a meditação andando, chegamos a todo momento. Nosso verdadeiro lar é o momento atual. Nele, nossas queixas e preocupações desaparecem e descobrimos a vida", diz em seu livro Meditação Andando o monge vietnamita Thich Nhat Hanh, grande divulgador da prática. O que ele quer dizer é que, quando andamos, devemos simplesmente andar e contemplar o momento presente. Claro que, se estivermos num parque ou numa linda praia deserta, a prática fica mais fácil. Mas o grande desafio é levar essa prática para as ruas movimentadas da cidade e aos corredores do trabalho. Conheça praticantes experientes que explicam como chegar lá - sem tropeços.

Primeiro passo

No começo, treinar com grupos em lugares calmos ajuda bastante. A monja budista Coen explica que andar com mais pessoas tem lá suas vantagens. "O ser humano tem tendência a ser preguiçoso e deixar as coisas sempre para o outro dia. Quando estamos em grupo, ele serve como um apoio, um incentivo para a prática". Coen conduz dezenas de pessoas na meditação andando que faz no Parque da Água Branca, em São Paulo, um fim de semana por mês. Mas, se você não tem um grupo de prática nem um parque por perto, pode usar outros espaços, como a sala da sua casa, o quintal ou pátio do prédio onde você mora. "O importante é perceber que nossa vida está no lugar onde estamos e não naquele para onde vamos - ela está onde nossos pés estão".

Foi isso que perceberam os monges budistas há cerca de 2 mil anos nos mosteiros: durante os intervalos das meditações sentadas eles saíam para andar e, assim, aliviar as pernas, que ficavam muito tempo paradas. E viram que, durante a caminhada, também era possível aquietar a mente - que é o objetivo da meditação.

Respiração consciente

Antes de sair batendo perna por aí, saiba que existem alguns conselhos preciosos para a meditação andando dar certo. A postura é importante: mantenha sempre o quadril encaixado e a coluna ereta. Com o corpo relaxado, preste atenção na respiração - ela é um elo entre o corpo e a mente. Durante a caminhada, um exercício simples é, ao inspirar, dizer para si mesmo "inspirando" e, ao expirar, dizer "expirando". Outra técnica é contar os passos dados a cada movimento respiratório. Não tente controlar nem se esforçar. Deixe seus pulmões dizerem o tempo e a quantidade de ar que precisam para um caminhar suave e confortável. E observe quantos passos você dá enquanto seus pulmões se enchem e quantos passos dá enquanto esvaziam. A duração da inspiração não tem que ser a mesma da expiração. Evite conversar, para não dispersar.

Mas o que fazer com os pensamentos que pipocam o tempo inteiro? "Os pensamentos surgem, você os observa e depois volta para o momento presente", disse Coen. "A impressão que as pessoas têm é que a gente desliga do resto, mas é o oposto: sentimos a presença de tudo, com todos os canais de percepção abertos, mas sem julgar".

Desacelerar o passo

Thich Nhat Hanh diz que, como os bebês, precisamos aprender a andar de novo - de maneira mais vagarosa, com mais alegria e naturalidade. "Se prestar atenção, poderá observar todas as preocupações e ansiedades das pessoas impressas no chão enquanto andam. Nossos passos são em geral pesados, cheios de apreensão e medo", diz o monge. Um jeito de reeducar cada passada é ficar atento ao contato dos pés com o solo. Existe até uma imagem poética para essa interação: caminhar como se estivesse beijando a terra com os pés.

Não importa tanto a velocidade dos passos: você pode andar lentamente, pé ante pé, e sua cabeça estar num tumulto, ou andar mais rápido e sentir prazer nisso. O importante é estar consciente. "Não devemos ser tão rígidos, por isso existe o caminho do meio. Uma das minhas melhores caminhadas aconteceu quando não me preocupava com nada, nem com a respiração nem com os passos - apenas desfrutando minha caminhada, aquele momento", diz o monge Phap Nhan, da comunidade Thich Nhat Hanh do mosteiro de Maple Forest, nos Estados Unidos.


Para saber mais
Meditação Andando, Thich Nhat Hanh, Vozes
Caminhos Para a Paz Interior, Thich Nhat Hanh, Vozes
Paz a Cada Passo, Thich Nhat Hanh, Rocco
Comunidade de meditação do mestre Thich Nhat Hanh na França, www.plumvillage.org

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