segunda-feira, 16 de junho de 2014

" Baixaram a bola da CIÊNCIA BRASILEIRA "


O neurocientista Miguel Nicolelis reclamou do pouco tempo reservado ao "chute simbólico" com o exoesqueleto na transmissão da abertura da Copa do Mundo, nesta quinta-feira (12). O chute em uma bola de futebol foi dado por um paraplégico que usava o equipamento, um robô comandado pelo cérebro.
_______________________

Artigo Zero Hora

 
MARCELO TRÄSEL
Pesquisador e professor de comunicação na PUCRS
Uma das atrações mais esperadas na abertura da Copa do Mundo de 2014 era a apresentação do exoesqueleto desenvolvido pelo cientista brasileiro Miguel Nicolelis, que permitiria a um paraplégico dar o chute inicial do primeiro jogo.
 
 Ele de fato fez um paraplégico se levantar e dar um pontapé numa bola de futebol no Itaquerão. Mas quase ninguém viu esse marco da ciência _ pelo menos, não ao vivo, porque a Rede Globo o exibiu por apenas alguns segundos, em meia tela, para mostrar o ônibus da Seleção Brasileira chegando ao estádio no mesmo momento.

Nicolelis havia dado a impressão, em suas entrevistas, de que o tal chute ocorreria no início do jogo, não que seria apenas um acontecimento paralelo à beira do gramado enquanto J.Lo, Pitbull e Claudia Leitte erravam o playback do tema da Copa do Mundo. Existe a possibilidade de que ele tenha recebido promessas e estas tenham sido descumpridas. Também houve boatos de que a Fifa teria impedido o chute no centro do campo por medo de o peso do aparelho prejudicar o gramado.

De qualquer forma, a ausência de cerimônia com que esse enorme passo do engenho brasileiro foi tratado, primeiro, pela organização da festa de abertura e, depois, pela principal emissora do país, simboliza com perfeição o espaço que damos à ciência no imaginário nacional. Até 2012, o Brasil investia cerca de 1,3% do PIB em pesquisa e desenvolvimento de tecnologia, bastante menos do que a média dos países da OCDE, que era de 2,3%. Conforme estudo da ONG Battelle, em 2014 o país deve investir os mesmos 1,3% de 2012, bem mais do que os 0,6% da Argentina, mas ainda longe dos 3,6% da Coreia do Sul, ou dos 2% da China.

As cerimônias de abertura da Copa, das Olímpiadas e outros eventos do gênero servem não apenas para mostrar um país, mas também para projetar um ideal, o desejo de uma sociedade para o futuro.
 
 
O Brasil, na Copa de 2014, poderia ter projetado se tornar também uma potência mundial em pesquisa e produção de tecnologia, mas preferiu continuar sendo apenas uma potência esportiva e cultural _ o país do futebol e do Carnaval.
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário